Razão, emoção, espírito…

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A temperança é uma das quatro virtudes cardinais, caracterizada pelo domínio de si e pela moderação dos desejos.

Nos últimos anos o Brasil tem-se convulsionado e o tecido social em seu fino entrelace ameaça romper-se com consequências imprevisíveis. Em momentos assim urge evocarmos a temperança, essa virtude anda em falta, nas mentes e corações que se deixam levar pela enxurrada de informações bombardeadas diariamente ao sabor dos interesses de pessoas e grupos.

O mais novo capítulo dessa história, é o furo de reportagem do The interceptBr, sobre os bastidores da operação Lava Jato, operação que vem influenciando as decisões políticas no país nos últimos 5 anos. Diante das evidências de conluio entre os procuradores do Ministério Público da Lava Jato e o ex-juiz Moro, responsável pelo julgamento dos acusados despertou fortes emoções.

Por um lado, os defensores do ex-presidente Lula, que sempre afirmaram que ele era inocente e preso político, entraram em euforia, por outro lado os defensores do ex-juiz Moro entraram no modo ódio à máxima potência. Observando o comportamento de ambos os lados, veio-me à mente a imagem da temperança, palavra do vocabulário filosófico, mas também carta dos arcanos maiores do Tarô. Em ambos os campos, tanto da filosofia quanto da tarologia, temperança tem o significado de equilíbrio, serenidade, domínio sobre si mesmo, moderação dos desejos.

A sociedade brasileira está sob ataque, vem sendo bombardeada por informações, verdadeiras e falsas, é sempre bom lembrar, em especial na política, com graves consequências na vida de milhões de pessoas. O momento pede temperança, vamos sair da euforia e do ódio desmedido e buscar um ponto de calma e de equilíbrio para encontramos um caminho até a luz porque a noite já se faz longa demais e as pessoas estão doentes.

A negação da realidade é um dos mecanismos de defesa, contra o sofrimento e o trauma, mais comuns entre os seres humanos. A realidade da cisão provocada pelos que realmente detêm muito poder e nenhum escrúpulo adoeceu seriamente o povo brasileiro. O medo se estabeleceu e com ele veio à tona o que há de pior no ser humano, associado à uma epidemia de obsessão espiritual, em função da baixa vibração que a desesperança, a impotência e o ódio fomentaram.

Conclamo os espíritas e não espíritas, todos e todas que desejam encontrar um caminho que retire a sociedade brasileira dessa trilha para o abismo, a evocação do espirito da temperança, a calma e o equilíbrio diante do caos, só os que se pacificarem interiormente manterão a sanidade. Nada de euforia nem de ódio insano com os vazamentos das conversas entre juiz e procuradores da Lava Jato, vamos analisar os fatos à medida em que eles vierem à tona e a partir daí nos posicionarmos, sem revanchismos, sem tripudiar em cima do outro, nem ironizar seus anseios e esperanças.

As pessoas se apegaram a seus heróis por sentirem medo, desesperança e descrença, esse estado de ânimo do povo brasileiro foi, em minha opinião, orquestrado, não foi ao acaso, foi um projeto daqueles que pensam que mandam no mundo para usurparem as riquezas e deixarem a devastação e a lama para os brasileiros. A técnica é dividir para dominar, só com muita temperança seremos capazes de perceber isso e reverter este cenário.

Muitos podem odiar Lula e deveriam se perguntar a razão interna de tanto ódio, porque o ódio é um veneno que mata quem o sente. Mas mesmo para essas pessoas que o odeiam, ele está tendo um comportamento digno de ser observado. Eu assisti à sua primeira entrevista após a prisão e algumas coisas me chamaram atenção: eu vi um homem de cabeça erguida e não uma vítima; sua fala é de quem tem sede de justiça, mas não de vingança; às vezes indignado, mas sem ódio; calmo e ponderado, defendendo-se sem atacar.

Entretanto tenho lido e ouvido muitas pessoas que acreditam na sua inocência e são seus defensores se mostrarem cheios de ódio e desejo de vingança, e passaram, a partir do desmascaramento da Lava Jato, a tripudiar daqueles que nela acreditaram. Será que esse é o caminho? Será que isso não nos torna aquilo que combatemos? A ignorância deve ser esclarecida, os equívocos compreendidos e corrigidos.

Calma, serenidade, ponderação, equilíbrio, reconciliação e amor talvez sejam os antídotos para sairmos dessa longa noite. Porque por mais longa que seja uma noite ninguém segura o alvorecer.

Essa foi a coluna Dialogando com Isabel Guimarães

Publicado no Facebook em 15 de junho, 2019.

Leia a coluna anterior clicando aqui.

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