Por Elton Rodrigues
Camaradas, não é de hoje que a propaganda que parte dos poderosos dos meios de comunicação imprime um imaginário coletivo em torno do que seja a extrema-esquerda ou, também chamada, esquerda radical.
O esforço dos oligopólios da comunicação é tão grande, e eficiente, que mesmo dentro do grande grupo chamado “esquerda” encontramos a reverberação dos discursos criados e impulsionados por esses conglomerados. Até os nomes “esquerda moderada” e “esquerda radical” são discutíveis. Enquanto a adjetivação “moderada” indica razoabilidade, prudência, “radical” aponta violência, intransigência. Ou seja, simplificar as diferentes visões e métodos dos “dois” grupos nos termos “moderada e radical” não é sem motivo.
A campanha dos poderosos é rica em estratégias, mas possui um único objetivo: mitigar o desejo de mudanças da população. Essa cruzada é tão eficaz que muitos acreditam que as ideias que pululam em suas mentes são construções próprias, sem perceber que são manipulados. Como exemplo dessas construções, a partir do que é ditado para que todos permaneçam no jogo capitalista, temos: a defesa do capital e da propriedade privada em detrimento das pessoas; desejo -abafado- por maior poder aquisitivo para satisfazer o impulso consumista; preconceitos diante dos que almejam caminhos diversos daqueles que são considerados “vitoriosos na vida”; indignação diante das manifestações populares –esses geralmente defendem vidraças de bancos, mas ficam incólumes diante do sofrimento diário dos desvalidos-; afirmações do teor “manifestante é vagabundo”; defesa cega da meritocracia, utilizando casos isolados para exemplificar que todos podem atingir o sucesso (econômico, é claro); aceitação da falácia que o problema hídrico mundial se resolverá a partir de banhos mais curtos e não com uma nova maneira de gerir indústrias e a agropecuária; e, por fim, a aceitação cega da interpretação que a esquerda radical é formada por bárbaros violentos e por revolucionários avessos à ideia de religião e à existência de pacifistas.
Vejam, não estou me isentando dessa situação. Todos nós somos manipulados em algum grau –seja por encarnados ou desencarnados. Minha intenção é chamar atenção para esse fato, e não para apontar dedos com ar de superioridade. Dito isso, como enfrentar o problema da propaganda que exerce uma força considerável na mente dos que desejam mudanças positivas para a população?
O primeiro passo é derrubar alguns mitos bastante propagados pela direita e por alguns obnubilados da própria “esquerda moderada”. Existem muitos mitos, mas nesse texto iremos comentar apenas dois.
Primeiro: todo marxista é ateu ou materialista.
Ora, essa tentativa de atrelar marxismo e ateísmo é tão antiga que me sinto repetitivo em ter que falar sobre o tema com os camaradas. Por outro lado, faz-se necessário em tempos tão estranhos como esses.
Essa ideia foi bem trabalhada pelo governo dos EUA para justificar, diante do seu povo, sua posição belicosa em relação à União Soviética, no pós-guerra. Para saber mais sobre o assunto eu indico o ótimo livro de Noam Chomsky, “Mídia, propaganda política e manipulação”. Porém, vemos a tentativa de imputar aos marxistas tais visões em momentos bem mais recuados na história. Como exemplo, podemos citar a luta socialista na Irlanda. Diversos padres foram excomungados por ficarem do lado do povo, com as mesmas justificativas por parte da Igreja. Para maiores informações, leiam o artigo que escrevi para o Jornal Crítica Espírita, “Derrapando na propaganda antissocialista”[1].
Hoje, repetindo a mesma fórmula do passado, espíritas afirmam que não é possível encontrar um marxista espírita, pois todo marxista é ateu e materialista. É muito curioso encontrar tais afirmações em pleno século XXI, quando o acesso à informação foi expandido vertiginosamente, desde o período da Guerra Fria. Porém, para o espírita não é tão difícil explicar pessoas defendendo esses absurdos em 2020. Esses atavismos religiosos são evidenciados pela lei de reencarnação. Quem sabe se os que defendem essas insensatezes de agora, não foram os mesmos apologistas de uma igreja ortodoxa e descolada da realidade no passado?
Segundo: a extrema-esquerda é belicosa e ansiosa por uma revolução armada.
A partir dessa afirmação, se eu sou contra a violência, vou preferir aceitar o que o grupo “moderado” diz que dá para fazer e ficar quieto. Conclusão: eu interiorizo que não há possibilidades de luta, de conquistas que não sejam aquelas “permitidas” dentro do próprio jogo capitalista. Mas a dita extrema-esquerda não aceita a ideia que a luta deva permanecer dentro dos limites estabelecidos por aqueles que detêm o poder. Esses últimos não querem, obviamente, que os explorados construam estratégias e apontem para a supressão das estruturas econômica e social que oportunizam poucos privilegiados abusarem –em vários níveis– de um mar de despossuídos.
Existem 1.942 bilionários no mundo. Juntos, valem 6,8 trilhões de dólares[2]. Enquanto isso, a fome atinge 820 milhões de pessoas no mundo. Só na América Latina e Caribe, são 42,5 milhões de pessoas que passam fome[3]. Em 2015, a ONU afirmou que seria necessário cerca de 239 bilhões de euros por ano, até 2030, para erradicar a fome no mundo[4]. Façam as contas.
Algumas questões podem ser levantas com o exemplo supracitado.
1) O capitalismo deu certo?
2) Um sistema que permite 1.942 pessoas terem mais do que 60% da riqueza mundial é viável?
3) Existe maneira de acabar com a fome e a exploração dos pobres mantendo parcerias com os grandes capitalistas?
Não, não e não!
A extrema-esquerda luta para não mais existir esses absurdos!
Esse é o objetivo principal, e não fazer guerrilhas por aí.
Ser radical não significa gostar de armas, mas não aceitar as migalhas dadas pela burguesia, como se alguns poucos pontos na área social fossem o suprassumo da política voltada para o povo.
Por fim, qual a principal diferença entre a “esquerda moderada” e a “esquerda radical”?
A esquerda moderada tenta fazer algo dentro do jogo capitalista, acreditando que os ricos e poderosos irão abdicar de seus privilégios para o bem comum. Já a esquerda radical força o debate para além desse falso limite. A luta da esquerda radical é pela emancipação real do povo. E não haverá emancipação, para todos, dentro do sistema capitalista.
Irmãs e irmãos, que sejamos o sal da terra[5], levando a ideia do amparo espiritual, das vidas sucessivas, da comunicabilidade com os espíritos e de um Deus amoroso.
Que estejamos atentos à sugestão de Kardec e tenhamos um pensamento crítico dentro da doutrina espírita, mas, também, nos assuntos que estão em outras áreas do conhecimento. Pois, em verdade, não há separação entre espiritismo e secularidade, visto que o nosso adiantamento moral se dará apenas, e somente, em sociedade[6]. Assim, lutemos, camaradas, por uma sociedade mais justa para todos!
Que Jesus possa fortalecer a todos nesse momento de isolamento. Saibam que, mesmo distanciados fisicamente, estamos unidos pelo ideal espírita.
Preces e trabalho, camaradas.
Amanhã será melhor.