A guerra como espelho da falência moral da humanidade

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Imagem gerada por inteligência artificial.

Gastão Cassel* – EàE SC

A existência de guerras, em qualquer tempo ou lugar, é uma prova contundente de que a evolução moral e espiritual da humanidade não é uma conquista individual, mas um trabalho coletivo que ainda engatinha. Allan Kardec, em O Livro dos Espíritos, explica que a guerra nasce do predomínio dos instintos mais primitivos sobre a razão esclarecida, sendo, portanto, uma manifestação da inferioridade moral de um povo ou de uma época.

A guerra expõe, de forma brutal, que os vícios da ambição, do orgulho e do egoísmo ainda comandam as estruturas sociais. Por isso, pode-se dizer, sem medo de errar, que a guerra é a expressão mais terrena que existe — um retrato do homem ainda distante da plenitude espiritual que deveria perseguir.

Ao observarmos as guerras contemporâneas — como a que devasta a Ucrânia, o conflito em pleno curso entre Israel e Irã, e, sobretudo, o genocídio perpetrado por Israel na Faixa de Gaza — percebemos que, por trás de discursos nacionalistas ou religiosos, movem-se interesses econômicos que buscam redesenhar a geopolítica do capitalismo pós-industrial. Em plena sociedade da informação, com bigtechs controlando dados, comportamentos e fluxos de capital, vemos bilionários e corporações gigantes agindo como peças-chave de projetos políticos desumanos e devastadores. Enquanto bilhões de pessoas anseiam por paz e dignidade, poucos concentram poder para decidir sobre a vida e a morte de multidões.

Essa realidade revela a falência moral de uma civilização que já domina tecnologias capazes de erradicar a fome, democratizar o conhecimento e promover a fraternidade, mas que ainda se deixa aprisionar por velhos instintos de dominação e destruição. Vemos, inclusive, um retrocesso civilizatório alarmante: especialmente nos últimos anos, assistimos a lideranças como a dos Estados Unidos sob Donald Trump tripudiarem a ONU e desmontarem práticas diplomáticas que durante décadas serviram de pilares para o equilíbrio e a paz entre as nações.

O Espiritismo nos ensina que o progresso intelectual caminha mais rápido que o progresso moral, e aí reside o grande desafio do nosso tempo: equilibrar a evolução técnica com o cultivo da ética, da solidariedade e do amor ao próximo. Nenhuma guerra nasce de corações pacificados. Nenhuma guerra resiste onde floresce a fraternidade.

Enquanto houver drones, mísseis e bombas sendo lançadas, soldados marchando e populações massacradas, precisaremos admitir que ainda estamos longe de sermos uma humanidade regenerada. A verdadeira paz não será fruto de reformas individuais isoladas, mas de ações comunitárias organizadas, políticas e solidárias que se levantem, com coragem e consciência, contra a barbárie. Este é o chamado que a hora presente nos faz: transformar o mundo que herdamos, para legar às gerações futuras uma Terra onde a fraternidade não seja um ideal distante, mas uma realidade viva.

Sobre o autor – Gastão Cassel é jornalista e publicitário, membro do Espíritas à Esquerda de Santa Catarina.

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