Uma aula de racismo estrutural

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Print retirado do processo digital
Juíza declara em sentença que homem negro é criminoso ”em razão da sua raça” – (foto: Reprodução)

Uma juíza da Primeira Vara Criminal de Curitiba (PR), Inês MarchalekZarpelon, afirmou em sua sentença:

“Sobre sua conduta social nada se sabe. Seguramente integrante do grupo criminoso, em razão da sua raça, agia de forma extremamente discreta […]”

Sim, é isso mesmo que você leu, como se pode verificar na imagem fac-similar da postagem.

É o exemplo escancarado daquilo que se chama racismo estrutural. Esse tipo de racismo vai bem além das ofensas racistas proferidas pela dondoca ao porteiro do prédio ou pelo mauricinho do bairro nobre ao entregador. Ele é mais cruel e mais sub-reptício, porque se apresenta por meio das estruturas e instituições privadas e públicas que impedem o acesso de negras e negros aos serviços oferecidos à sociedade em geral.

Sua manifestação vem por meio duma justiça que não se envergonha de criminalizar alguém apenas por conta da sua cor da pele; duma polícia que insiste em matar deliberadamente e preferencialmente pretas e pretos das comunidades periféricas das grandes cidades brasileiras; dum sistema produtivo que impede a justa remuneração e a ascensão dos que não são fenotipicamente parecidos com a elite deslumbrada e criminosa; duma educação que insiste em minorar o papel dos negros na formação da economia e da cultura nacional; dum sistema de saúde que não se importa em deixar negros morrerem nas filas de atendimento ou nos corredores hospitalares; enfim, vem por meio dum estado que não se esforça em superar esses problemas históricos e crônicos.

A punição a essa juíza de nome complicado, que ilustra sua origem elitista e provavelmente sem referências populares da realidade brasileira, deve ser exemplar. Caso contrário, o racismo estrutural, apesar de real, estará legitimado pelo poder judiciário nacional.

Aliás, enquanto juízes, procuradores e demais operadores do direito forem esses representantes dessa elite rapace, com seu nomes estranhos e impronunciáveis, o Brasil dos vieiras, silvas, pereiras, santos e silveiras será sempre a vítima dessa estranha gente completamente alienada da realidade que a envolve.

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Publicado no Facebook em 12 de agosto de 2020.

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