O camarada Elton Rodrigues escreveu na página do Coletivo Espírita Anísio Spínola Teixeira uma carta com reflexões acerca dos caminhos da esquerda e que é reproduzida a seguir. Vale a leitura.
Apenas uma carta
Elton Rodrigues – Coletivo Espírita Anísio Spínola Teixeira
Camaradas, irmãs e irmãos, escrevo essa carta aos que almejam uma real transformação do movimento espírita.
Hoje, talvez mais agudo do que qualquer outro momento da história pós-ditadura do espiritismo brasileiro, há uma divisão entre os que defendem o status quo e os que querem mudanças significativas na sociedade. Realizando um recorte e visualizando de mais perto o grupo dos insatisfeitos veremos, nitidamente, estratificações multivariadas.
Reflexões sobre como alcançar tão sonhada união entre essas estratificações é antiga, e pouco conseguimos avançar nessa área. Muitas teorias, muitos textos e poucas ações reais. Não quero ser mais um falando sobre a importância da união dos progressistas, para o freio das ideias e práticas conservadoras, sem sugerir formas para que esse objetivo seja alcançado. Gostaria de indicar sugestões para que os espíritas progressistas, dos que se localizam ao centro até aos mais radicais – na melhor interpretação da palavra, possam trabalhar juntos.
1) É necessário que haja amadurecimento intelectual de todos sobre o termo radical. Ser radical, por exemplo, não significa que este grupo deseja a luta armada. Análises superficiais, sobre a história das lutas da esquerda mundial, não ajudam em uma possível aproximação.
2) Defender a importância das eleições não significa que há passividade ou ingenuidade. Como proposta de reflexão, imaginemos o Congresso Nacional atual sem as bancadas dos partidos mais à esquerda. O estrago seria bem maior.
3) O estudo é importante, mas não podemos ficar apenas nas reflexões históricas buscando contextualizações com o tempo presente. O mundo não mudará apenas com análises. É necessária e fundamental a aproximação com o povo, com os trabalhadores urbanos e rurais!
E como fazer essa aproximação?
- a) Só conseguiremos abrindo espaços. O movimento deve ser nosso. Não adianta achar que depois de várias horas de trabalho, de engarrafamento, de alimentação fugaz, o povo, em grande número, terá forças para novos deslocamentos, buscando estudos aprofundados sobre a luta contra o capitalismo.
- b) Nós é que devemos buscar o povo! Favelas, mangues, ruas, onde o povo estiver, temos que estar. Apoiando, ouvindo, auxiliando no que for possível. E sem catequizar!
- c) A aproximação sempre será profícua se estiver atrelada ao afeto. Afeto verdadeiro. Acredito que esse seja o ponto mais importante.
4) É necessária a criação de grupos de estudos que estejam atrelados à prática no mundo. Não adianta ficarmos apenas mergulhados nos textos, é necessário praticar – testando – aquilo que parece lógico. Será que funciona na vida real? Se não funciona, tem como melhorar a tática? Como?
Enfim, será na prática que veremos que os desejos, os acertos e os erros dos progressistas, em seus diversos estratos, estão mais próximos do que imaginamos.
Nosso inimigo maior é o mesmo, mas não venceremos essa guerra colocando todas as nossas forças para enfrentá-lo diretamente sem o apoio popular. Nosso objetivo deve ser o povo! Sem o povo não conseguiremos modificar nada. E quais são os anseios do povo, vocês sabem?
Temos que ouvir mais e falar menos.
Temos que trabalhar mais e divagar menos.
E quando o debate surgir, não há espaço para melindres infantis. A luta é coletiva e, nesse caso, o esforço por alcançarmos a tão sonhada equiparidade social deve ter maior destaque do que as birras e outras atitudes infantis.
Vamos lutando, companheiros e companheiras, na construção das raízes que possibilitarão a real transformação do movimento espírita, e da própria sociedade, pelas gerações futuras.