Gostaria de frisar as enormes “afinidades eletivas” entre a Teologia da Libertação (entendida como momento reflexivo do Cristianismo de Libertação) e a compreensão do cristianismo abraçada, de um modo ou de outro, por um espiritismo progressista.
Poder-se-ia dizer que ambos –a Teologia da Libertação e o Espiritismo Progressista– apostam numa construção societária inspirada na ética comunista do cristianismo primitivo, tal como descrito, por exemplo, nos Atos (2:44-45): “Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um.”
Por outro lado, é inspirador para os espíritas progressistas acusar nos escritos dos teólogos da libertação e na prática das comunidades eclesiais de base, uma compreensão da vivência da espiritualidade como necessariamente relacionada à transformação do “pecado estrutural” do capitalismo, produtor de injustiças sociais (lembrando que disso derivaram, por exemplo, o MST e o PT).
Eis o horizonte inspirador de um espiritismo que se quer progressista e, nisso, assume como tarefa buscar um modo de relacionamento mutuamente emancipador com as camadas populares de trabalhadores e trabalhadoras, superando o já tão criticado “assistencialismo” do movimento espírita tradicional e mesmo seu elitismo cultural.
Enfim, por aí vai-se longe.
Mas por último gostaria de frisar outro ponto importante: é que o espírito ecumênico que vigora no Cristianismo de Libertação deve contar com a participação cada vez mais decidida do contingente espírita, pois parece que, assim como aposta Leonardo Boff, Kardec e outros, a via da religião do futuro será o ecumenismo e, nisso, a presença do espiritismo prestaria um contributo fundamental ao mesmo passo que, dialogicamente, se enriqueceria com a experiência das outras denominações cristãs, todas ativamente engajadas na produção de uma sociedade de justiça, pós-capitalista.
Assim sendo, sem querer apostar muito ou lutar por conceitos, mas gostando de fazê-lo em nome mesmo da festa criadora da escrita, pode-se despontar um “Espiritismo da Libertação”, fruto dessa lufada de ares novos hoje possível graças à des-graça da situação sociopolítica brasileira (e mundial!) em que caímos nos últimos anos.
Por Tovar Júnior