Por Gastão Cassel, Espíritas à Esquerda SC
O filme Je suis Karl, lançado recentemente no catálogo da Netflix, traz mais uma vez para as telas o debate sobre movimentos neofascistas e seus métodos para cooptar e fanatizar jovens. A produção alemã e tcheca, dirigida por Christian Schwochow, ambienta-se na Europa e tem como pano de fundo a fobia aos imigrantes com fortes elementos de supremacia branca.
O enredo conta a história da jovem estudante Maxi que teve a mãe e dois irmãos mortos em um atentado a bomba. Ela é abordada por um jovem sedutor, Karl, que a convida para um seminário de verão cujo lema é “assuma o controle”.
A organização de Karl assedia a juventude com um discurso sobre segurança erguido sobre a xenofobia e sobre a proposta de destruição do sistema como um todo, já que este “não faz nada por nós”. O seminário tem todos os requintes de um culto, com depoimentos testemunhais (alguns falsos, inclusive), muita música temática, discursos extremistas e o compromisso coletivo de ocupar vagas nos legislativos e postos de docência para minar o sistema.
Outra característica da organização é que ela se diz “nem de direita, nem de esquerda” para dizer que são conceitos ultrapassados. Mas defendem a pena de morte, a expulsão de imigrantes e falam até em “raça superior” quando um suposto rapper aparece cantando: “Foda-se a sociedade e suas regras que nos causam desconforto. Nossa raça é superior. Falamos do fundo do coração. Raça Branca Primeiro”.
O uso das redes sociais como forma e método de difusão dos discursos de ódio também é escancarado no filme. O próprio nome do filme faz alusão às hashtags #eusou #somostodos largamente usadas mundo afora. Tudo é midiatizado, inclusive atentados, como os que matam a família da personagem Maxi, são planejados pelo grupo para culpar imigrantes islâmicos e gerar mártires de pele clara.
O repertório estético e discursivo de sedução dos jovens é igual ao de qualquer seita ou religião obtusa: apelos afetivos, vitimização, chamados a fazer a diferença e assumir o controle, repulsa a um sistema como um todo, destruição de referências e criação da noção de pertencimento pelo discurso, vestimentas, símbolos e gestuais.
Em resumo, é um filme muito atual. Fala de coisas que vemos no nosso quintal nas milícias físicas ou digitais, nos métodos bolsonaristas, nas más igrejas neopentecostais (que não são todas). É o discurso da “escola sem partido”, da desconfiança sobre o sistema eleitoral e das instituições democráticas.
O filme é um alerta sobre facilidade de como o neonazismo e o neofascismo se apresentam e operam. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
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