Bolsonaro está fazendo as jornalistas de direita descobrirem que machismo não é mimimi

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Todos ficamos horrorizados com as declarações e insinuações dos elementos da familícia em relação à jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo.

Muitas de suas colegas da grande imprensa, corretamente, manifestaram-se indignadas contra tal postura do clã miliciano.

Entretanto, esse posicionamento, por tão novo e específico, soa mais à hipocrisia corporativista do que exatamente à luta feminista.

Cynara Menezes, do blogue Socialista Morena, traz-nos algumas reflexões sobre essa “novidade feminista” entre as jornalistas da grande imprensa que, não podemos jamais esquecer, protagonizou os ataques misóginos à presidenta Dilma Rousseff e participou ativamente do golpe perpetrado contra seu governo.

Ou, como disse a própria Cynara em seu texto, o mundo dá voltas, mesmo que existam os que propaguem o terraplanismo…

Vale a leitura.

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Bolsonaro está fazendo as jornalistas de direita descobrirem que machismo não é mimimi.

Cynara Menezes – Socialista Morena (Veja publicação original e completa aqui) O mundo dá voltas, e não é porque agora existe gente que acredita ser a Terra plana que ele irá parar de girar. Há um aspecto convenientemente pouco comentado no golpe jurídico-midiático que derrubou Dilma Rousseff em 2016: a misoginia. Dilma se tornara, em 2010, a primeira mulher presidenta do Brasil, após uma campanha suja em que chegou a ser chamada de ‘assassina de criancinhas’ pela mulher do rival, José Serra. Digo presidenta? Pois: o primeiro ato de machismo contra Dilma na imprensa comercial foi se recusarem a reconhecer o termo, perfeitamente dicionarizado tanto em língua portuguesa quanto em língua espanhola. […] Na posse de Dilma para o segundo mandato, Miriam Leitão e Cora Rónai, do jornal O Globo, se divertiram zombando do vestido e até do ‘andar’ da presidenta. […] Parece incrível, mas são as mesmas jornalistas que agora mostram indignação e surpresa com esta triste figura ocupando o lugar que já foi de Dilma. ‘Onde está a reação das instituições?’, bradava a colunista Vera Magalhães, do Estadão, sobre as insinuações de Bolsonaro em relação à repórter Patricia Campos Mello, da Folha, atacada pelo mitômano Hans River na CPMI das Fake News. Nem parecia a mesma Vera que chamava de ‘mimimi’ as queixas de mulheres da esquerda sobre machismo e que participou ativamente do golpe que fragilizou as instituições democráticas do país –e agora cobra ‘reação delas’. Que instituições, querida? Thais Herédia, da CNN Brasil, se espantava: ‘Como chegamos até aqui?’ É sério que jornalistas com anos de profissão nas costas foram tão ingênuas para não prever como seria um governo Bolsonaro, que já dava mil pistas de quem era durante os 28 anos em que foi parlamentar? Até a Madonna sabia e vocês não? […] O presidente de extrema direita conseguiu curar do antifeminismo furioso até Rachel Sheherazade. Quem te viu… […] O mais absurdo dessa história é que, alvo do preconceito de gênero, as jornalistas de direita continuam a se insurgir contra… as feministas. ‘Cadê as feministas?’, provocam, cada vez que sua indignação seletiva é ativada por algum sinal de machismo, mas apenas no campo adversário, a esquerda. Como se o machismo, exatamente como defende a esquerda, não fosse estrutural da sociedade. Parem de cobrar das feministas ação contra o machismo que vocês mesmas ajudaram a levar ao poder. Nós sempre estaremos lá, do lado das vítimas, nunca dos algozes. Não é porque mulheres se alinharam a machistas para golpear outra mulher que iremos abandoná-las quando se tornarem vítimas deles. Mas não deixa de ser uma lição e tanto. Publicado no Facebook em 21/02/2020.

Demofobia

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paulo guedes Demofobia é o ódio ao povo, ao pobre. Demofobia é o que o sinistro da economia, o investigado pelo TCU. Paulo Guedes por graves suspeitas de golpe no sistema financeiro, demonstra a cada dia em suas declarações estapafúrdias e inconsequentes. Num país minimamente decente, esse asqueroso e incompetente senhor estaria demitido e indiciado por vários crimes. Mas, no novo país governado por fascistas e milicianos, esse asqueroso e incompetente senhor representa o elã dessa gentalha. Triste é ver pelas redes sociais alguns espíritas afamados defendendo esses escroques, que hoje falam abertamente em seu projeto de aumento da desigualdade social e levantam a bandeira da demofobia sem quaisquer escrúpulos ou constrangimentos. Manter a empregada doméstica dependente das doações de cesta básica do centro espírita faz parte desse projeto demofóbico e arrogante. Para o movimento espírita progressista, a ideia central é levar a empregada doméstica e todos os demais desvalidos da nossa sociedade a serem completamente livres dessa barganha imoral, que busca manter o status quo social duma elite rapace, chamada “caridade”. Olha no que deu o espiritismo… Publicado no Facebook em 13/2/2020

A necropolítica em estado puro

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necropolítica O (des)governo de milicianos e corruptos, que tem na morte seu foco primacial de política pública, a necropolítica bolsonarista, renuncia a impostos, na ordem de R$ 10 bilhões por ano, de empresas que produzem e vendem agrotóxicos. Isso mesmo que você leu: empresas que envenenam os alimentos que chegam à mesa do brasileiro e destroem sua saúde ganham isenções de impostos do governo federal. Um prêmio pela morte e pela doença do brasileiro. Para comparação, o orçamento do seu maior programa habitacional, o “Minha Casa, Minha Vida”, terá disponível para investimentos em 2020 o pífio valor de R$ 2,7 bilhões, o menor de sua história. O orçamento total previsto para o Ministério do Meio Ambiente tocar suas ações contra os ataques ao meio ambiente nacional também será de R$ 2,7 bilhões. Isso inclui as ações contra as queimadas na Amazônia, a destruição do Pantanal e da Mata Atlântica, dentre outras importantes ações desse órgão federal. O programa de construção de cisternas do governo federal, que leva água à população sertaneja, hoje sob responsabilidade do Ministério da Cidadania, prevê executar em 2020 o valor de R$ 129,3 milhões, sendo que, em 2019, esse valor foi de apenas R$ 67 milhões. Ainda para comparação, o valor que o SUS (Sistema Único de Saúde) gastou com tratamento de pacientes com câncer em 2017 foi de R$ 4,7 bilhões. Não é mais possível que a sociedade brasileira continue a suportar tamanha delinquência e necrofilia. E é inadmissível que espíritas apoiem essa catástrofe política nacional. #ForaBolsonaro

As notícias:

Renúncia de impostos de venenos e o orçamento previsto para o meio ambiente. Orçamento do “Minha Casa, Minha Vida”. Programa Cisternas Publicado no Facebook em 12/2/2020

Apenas uma carta

O camarada Elton Rodrigues escreveu na página do Coletivo Espírita Anísio Spínola Teixeira uma carta com reflexões acerca dos caminhos da esquerda e que é reproduzida a seguir. Vale a leitura. carta

Apenas uma carta

Elton Rodrigues – Coletivo Espírita Anísio Spínola Teixeira Camaradas, irmãs e irmãos, escrevo essa carta aos que almejam uma real transformação do movimento espírita. Hoje, talvez mais agudo do que qualquer outro momento da história pós-ditadura do espiritismo brasileiro, há uma divisão entre os que defendem o status quo e os que querem mudanças significativas na sociedade. Realizando um recorte e visualizando de mais perto o grupo dos insatisfeitos veremos, nitidamente, estratificações multivariadas. Reflexões sobre como alcançar tão sonhada união entre essas estratificações é antiga, e pouco conseguimos avançar nessa área. Muitas teorias, muitos textos e poucas ações reais. Não quero ser mais um falando sobre a importância da união dos progressistas, para o freio das ideias e práticas conservadoras, sem sugerir formas para que esse objetivo seja alcançado. Gostaria de indicar sugestões para que os espíritas progressistas, dos que se localizam ao centro até aos mais radicais – na melhor interpretação da palavra, possam trabalhar juntos. 1) É necessário que haja amadurecimento intelectual de todos sobre o termo radical. Ser radical, por exemplo, não significa que este grupo deseja a luta armada. Análises superficiais, sobre a história das lutas da esquerda mundial, não ajudam em uma possível aproximação. 2) Defender a importância das eleições não significa que há passividade ou ingenuidade. Como proposta de reflexão, imaginemos o Congresso Nacional atual sem as bancadas dos partidos mais à esquerda. O estrago seria bem maior. 3) O estudo é importante, mas não podemos ficar apenas nas reflexões históricas buscando contextualizações com o tempo presente. O mundo não mudará apenas com análises. É necessária e fundamental a aproximação com o povo, com os trabalhadores urbanos e rurais! E como fazer essa aproximação?
  1. a) Só conseguiremos abrindo espaços. O movimento deve ser nosso. Não adianta achar que depois de várias horas de trabalho, de engarrafamento, de alimentação fugaz, o povo, em grande número, terá forças para novos deslocamentos, buscando estudos aprofundados sobre a luta contra o capitalismo.
  2. b) Nós é que devemos buscar o povo! Favelas, mangues, ruas, onde o povo estiver, temos que estar. Apoiando, ouvindo, auxiliando no que for possível. E sem catequizar!
  3. c) A aproximação sempre será profícua se estiver atrelada ao afeto. Afeto verdadeiro. Acredito que esse seja o ponto mais importante.
4) É necessária a criação de grupos de estudos que estejam atrelados à prática no mundo. Não adianta ficarmos apenas mergulhados nos textos, é necessário praticar – testando – aquilo que parece lógico. Será que funciona na vida real? Se não funciona, tem como melhorar a tática? Como? Enfim, será na prática que veremos que os desejos, os acertos e os erros dos progressistas, em seus diversos estratos, estão mais próximos do que imaginamos. Nosso inimigo maior é o mesmo, mas não venceremos essa guerra colocando todas as nossas forças para enfrentá-lo diretamente sem o apoio popular. Nosso objetivo deve ser o povo! Sem o povo não conseguiremos modificar nada. E quais são os anseios do povo, vocês sabem? Temos que ouvir mais e falar menos. Temos que trabalhar mais e divagar menos. E quando o debate surgir, não há espaço para melindres infantis. A luta é coletiva e, nesse caso, o esforço por alcançarmos a tão sonhada equiparidade social deve ter maior destaque do que as birras e outras atitudes infantis. Vamos lutando, companheiros e companheiras, na construção das raízes que possibilitarão a real transformação do movimento espírita, e da própria sociedade, pelas gerações futuras. Publicado no Facebook em 11/2/2020.

Os vendilhões do templo

vendilhoes templa O movimento espírita conservador e interessado, bem representado por federações e grandes casas espíritas, tem-se especializado na promoção de eventos sempre pagos pelo público, desvirtuando sua finalidade primacial que é o atendimento aos que mais necessitam. E o pior, além de preços por vezes inalcançáveis para o público em geral nesses eventos de e para a elite espírita, muitos dos afamados médiuns, palestrantes e dirigentes têm-se tornado verdadeiros mercadores da fé, usando o espaço da casa espírita para arrebanhar clientes para o seu lucrativo negócio de atendimento psicológico, terapêutico e de outras bizarras formas de atendimento, além do absurdo nicho de mercado da orientação de autoajuda –o “coach” espiritual–, fazendo da casa espírita seu local privilegiado de propaganda. É preciso colocar o dedo nessa ferida, pois a casa espírita e suas estranhas federações são hoje local de comércio e de astúcia profissional. O coletivo “Espíritas à esquerda” coloca como uma de suas premissas para quaisquer dos seus eventos a inscrição gratuita. E recomenda a todos que o procuram a se afastarem dessa estranha gente que ganha dinheiro em cima da miséria alheia e falando em nome do espiritismo. Em crítico texto sobre isso, o camarada Franklin Félix faz uma reflexão sobre essa mancha que se espraia feito um carcinoma moral no âmago do movimento espírita. Não se conseguiu identificar a autoria da imagem que acompanha essa postagem. Quem souber, favor informar para que se possa dar o crédito merecido. A íntegra do texto de Felix está aqui. Publicado no Facebook em 5/2/2020.

O que os espíritas sabem sobre ditadura militar e sofrimento?

Nesse texto sensível da Ana Cláudia para o Repórter Nordeste, ela nos fala sobre a necessidade de se conhecer o tenebroso momento histórico vivido pelo país durante a ditadura militar e a incoerência dos bolsoespíritas em relação a esse período.
ditadura militar

O que os espíritas sabem sobre ditadura militar e sofrimento?

Ana Claudia Laurindo Publicado originalmente em Repórter Nordeste Já falei sobre isso e volto a falar: entre todas as experiências que tive em reuniões mediúnicas, uma das mais marcantes vem de uma sequência semanal de comunicações de espíritos vitimados pelas práticas de tortura levadas adiante pelo governo do Brasil, no período reconhecido como ditadura militar. Eles eram trazidos para conversar comigo, pois naquela mesa o próprio dirigente recusava empatia a tais espíritos, costumando despejar seus próprios juízos de valor sobre a responsabilidade deles mesmos na sorte que os acolhera. Mas eu os ouvi com sensibilidade, sim. Conhecia a história, acreditava nela e acima de tudo, me solidarizava com os relatos de quem conheceu na carne que um dia vestiu, a tirania máxima da força. Muitos deles ainda não estavam em paz, apresentavam revolta e descrença, outros em estado de semi-demência se acreditavam ainda presos. A ética e a humanidade doída me impedem de relatar detalhes das torturas que lhes foram impostas, por seres que pareciam humanos, mas eram apenas soldados em uma guerra contra irmãos. Houve tortura promovida pelo estado brasileiro, que perseguiu e matou muitas pessoas por causa de escolhas políticas de caráter societário e humanitário, sim! Sou testemunha das comunicações mediúnicas de algumas destas vítimas, sim! E como cidadã brasileira e espírita, não pude jamais coadunar com as políticas de um presidente que louva o maior torturador reconhecido pela história oficial, o coronel Brilhante Ustra. […] Sigo agora, em questionamento aos nossos irmãos do meio espírita que apoiam Bolsonaro: o que vocês conhecem sobre a ditadura militar no Brasil? Aquilo que seus pais burgueses disseram, sobre um tempo de paz? O que vocês leram sobre o efeito letal dos atos institucionais emitidos pelo país no período dos governos militares? Como vocês conseguem continuar apoiando a morte de maneira tão escancarada? Já está na hora de vocês deixarem de repetir frases de efeito e mergulharem na leitura séria, para conhecerem mais sobre a verdadeira história da participação dos militares na sociedade brasileira. Espírita que não conhece contexto histórico e político do próprio país não está cumprindo a parte do ‘instruí-vos’, e talvez esta seja a razão do não alcance do ‘amai-vos’ com abrangência humanitária e universal.” Publicado no Facebook em 28/01/2020.

Espiritismo não combina com armas, pena de morte, violência e discurso de ódio

Mais um texto maravilhoso do nosso camarada Franklin Félix, no blogue “Diálogos da fé” na Carta Capital, que enfrenta os problemas que hoje grassam num movimento espírita que majoritariamente defende o ódio, a violência e a injustiça como prática política. Publicado no Facebook em 27/1/2020. espiritismo violencia armas

Espiritismo não combina com armas, pena de morte, violência e discurso de ódio

Franklin Felix – Carta Capital

A doutrina espírita, essencialmente educativa, tem como objetivo libertar e proclamar o reino de Deus – de justiça, amor e paz – para todos.

‘Jesus respondeu: amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento! Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas dependem desses dois mandamentos.’ Mateus 22:34-40

É raro o dia em que não recebo – de amigos/as ou anônimos, no privado ou público – mensagens de desencanto com o movimento espírita, com dirigentes, médiuns famosos ou palestrantes popstars. São sempre depoimentos muito doloridos, relatando perseguições, censuras e até expulsões.

Uma companheira partilhou que durante o passe – prática amplamente difundida entre os espíritas e que consiste na imposição de mãos, visando promover a doação de bioenergias de um indivíduo ao outro – o passista (que é a pessoa que aplica o passe) pediu a espiritualidade que ‘livrasse a irmãzinha das influências do comunismo’. Outra companheira desabafou que foi retirada de todos os trabalhos espirituais do centro espírita (que ela ajudou fundar) por conta de suas ideias sociais e progressistas. Um casal de amigos abandonou o centro espírita depois que foram impedidos pelos dirigentes de continuarem atuando na evangelização infantil (uma espécie de catecismo) para não influenciarem as crianças ‘com essas ideias esquerdistas antidoutrinárias’. Nós mesmos fomos expulsos da rádio espírita que fazíamos programa a mais de 13 anos por dizermos que o presidente – na época candidato – era machista, racista, LGBTfóbico e violento (continuamos afirmando e agora com mais motivos).

A sensação que tenho é que todos os violentos, hipócritas, cruéis, incluindo aí os religiosos, resolveram sair, de uma só vez, dos seus armários e tumbas. Estão se sentindo empoderados.

[…]

Uma das possibilidades que a doutrina espírita apresenta para o enfrentamento da violência é a educação em suas múltiplas interfaces. O espiritismo, essencialmente educativo, tem como objetivo libertar e proclamar o reino de Deus – de justiça, amor e paz – para todos/as, mas a sua missão não poderá ser realizada em um ambiente de acomodação e ‘paz’ que só atendem a alguns poucos.

[…]

As forças progressistas dentro da doutrina espírita serão o futuro de uma doutrina livre e que cada vez mais estará integrada com o povo e suas conquistas sociais.”

Íntegra da publicação original.

Comunismo e nazismo são opostos. Os comunistas guardam sonhos!

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Nesses estranhos e sombrios tempos, em que algozes pouco elaborados da própria esquerda tentam manchar a trajetória de Lênin, o artigo da deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) vem trazer um pouco de luz e seriedade ao debate. Publicado no Facebook em 25/1/2020.
lenin espiritas
Lenin, líder da Revolução Russa de 1917.

Comunismo e nazismo são opostos. Os comunistas guardam sonhos!

Talíria Petrone – Deputada federal do PSOL-RJ

Muita confusão e mentira no debate sobre Lênin e a Revolução Russa. Resolvemos elevar o nível da discussão. Hitler era de direita, anticomunista. As direitas, para fugir dessa ligação, tentam igualar comunismo e nazismo, quando são justamente opostos.

A Revolução Russa não é obra de um só homem. Foi um acontecimento histórico que marcou o século XX. A Rússia concentrava enormes contradições. Mantinha um regime absolutista com um czar, se industrializava e criava uma classe operária e uma enorme massa de camponeses famintos.

Em fevereiro de 1905, após a reação ao massacre de manifestação pacífica (domingo sangrento), o czar faz concessões. Instala um parlamento (Duma), permite partidos e põe fim à guerra com o Japão. Surgem os sovietes (conselhos populares). Estava plantada a semente da revolução.

Em 1914 a Rússia entra na I Guerra Mundial, perde metade das tropas e a fome se alastra. Declarada a guerra, a maioria do movimento socialista internacional adere ao nacionalismo e à guerra. Rosa Luxemburgo, Lênin, Alexandra Kollontai, Trótski e outros se mantêm contra a guerra.

Em fevereiro de 1917 eclode a Revolução na Rússia. A greve das mulheres tecelãs foi o estopim para o que foi chamada de Revolução de Fevereiro. Os soldados se recusam a reprimir as manifestações e no final de fevereiro um mar de trabalhadores e soldados ocupam a Duma.

Sem apoio, o czar é substituído por um governo provisório, liberal-burguês, que mantém o país na guerra. Do outro lado, os sovietes passam a se considerar o poder legítimo que emana do povo, forma uma Guarda Vermelha e emite ordens para as tropas. Vigora uma dualidade de poderes.

Lênin volta à Rússia do exílio com as ‘Teses de abril’, defendendo todo poder para os sovietes e como lema: ‘PAZ, PÃO E TERRA’. Em outubro, as teses de Lênin se tornam majoritárias e no dia 25 um grande movimento cerca a capital e o governo provisório cai, com pouquíssimas baixas.

As primeiras medidas foram o controle das fábricas pelos operários em regime de autogestão, a divulgação de todos os tratados secretos, a distribuição de terras aos camponeses, o pedido imediato de paz e o armistício, a declaração dos direitos nacionais dos povos minoritários.

As mulheres da Revolução foram responsáveis por inúmeros avanços na igualdade de gênero do país. Em 17, foi decretada a igualdade entre todos os cidadãos, o divórcio foi legalizado e mulheres tiveram o direito à terra. A Rússia foi o primeiro país do mundo a legalizar o aborto.

A Revolução era emancipatória, aprofundava liberdades existentes e criava outras. O congresso dos sovietes, após a Revolução, talvez seja o parlamento mais democrático da história. No livro ‘O estado e a revolução’, escrito em 1917, Lênin mira o fim do estado e a democracia plena.

A Revolução foi cercada pela aliança das potências capitalistas, os czaristas e latifundiários: o Exército Branco. Começa a guerra civil, milhares de pessoas morrem de ambos os lados. O Exército Vermelho, liderado por Trótski, vence e abre caminho para a República dos Sovietes.

Há erros na trajetória de Lênin e Trótski? Claro. Houve episódios de violência excessiva, Trótski iria reconhecer que sim, mais tarde. Mas é mentira o massacre de milhões, os confrontos principais eram episódios de guerra, que lamentavelmente a resistência czarista impôs ao país.

Muita gente fez confusão de Lênin com Stálin. Lênin morreu em 1924, não existiam gulags, por exemplo. A partir de 1926 cria-se uma Oposição Unificada no Partido Comunista da URSS, em que participava Krupskaia, companheira de Lênin, contestando a direção de Stálin.

Eu sou da IV Internacional, fundada em 1938. Stálin fecharia a III Internacional, de Rosa e Lênin, em 1942 para entrar na II Guerra. Em 1956, revelaram-se os expurgos e execuções ocorridos nos anos 30. A revolução foi traída e todo o comitê central bolchevique assassinado.

Pra quem quiser conhecer um pouco mais, sugiro a leitura de ‘Os dez dias que abalaram o mundo’ do jornalista estadunidense John Reed. Há também o filme ‘Reds’, que concorreu a três Oscar, incluindo o de melhor filme, que conta um pouco da vivência desse jornalista na Revolução.

Absurdo comparar Lênin a Hitler. Lênin está na história por declarar a paz, Hitler pela guerra. Lênin pelas obras de política e filosofia, Hitler pelo panfleto antissemita. Não faz sentido comparar a URSS com a Alemanha Nazista, pois foram os soviéticos que derrotaram o nazismo.

Homenagear Lênin não é culto à personalidade, ele repudiava isso. Seguimos o pedido de Krupskaia, sua companheira, em seu velório: ‘não deixem que o luto por Ilítch se transforme em veneração exterior à sua pessoa. Ele dava muito pouca importância pra tudo isso em vida’.

Sou militante ecossocialista. Lênin e a Revolução Russa ocupam lugar especial na tradição dos que lutam pela revolução da liberdade, igualdade, justiça e paz. Não aceitaremos a narrativa que criminaliza o comunismo. ‘Os comunistas guardam sonhos’. Os comunistas enxotam fascistas.”

A PUBLICAÇÃO ORIGINAL ESTÁ AQUI.

Nosso sonho: as experiências socialistas no mundo

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Nesse vídeo dos anos 1980, o cientista político estadunidense Michael John Parenti fala sobre como percebe as experiências socialistas no mundo.
Michael John Parenti
Foto Wikipedia
O socialismo, como proposta de transformação da organização da sociedade, pretende apenas levar pão aos famélicos, letra aos ignaros, casa aos desabrigados e, por fim, dignidade aos homens. Esse é o nosso sonho, que foi também sonhado por um cara muito gente boa que viveu há pouco mais de dois mil anos, e que dizia: “Senhor, quando te vimos com fome ou com sede ou estrangeiro ou necessitado de roupas ou enfermo ou preso, e não te ajudamos? Digo a verdade: O que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo” (Mateus 25,44-45). Vídeo legendado por Leandro de Souza Pereira.   Publicado no Facebook em 24/01/2020.

Resistência espírita: território do amor que pensa

 
Foto Gaudium Press
Quando aqueles que se julgam no topo da sapiência teológica se referem ao espiritismo como território de maldição, podem em nós instigar o exercício da benevolência, para seguirmos atuando amorosamente, sob a luz da compreensão de que existe uma diversidade de olhares e ângulos de visão, aumentando assim a imunidade às formas arcaicas de intolerâncias, em cunho religioso, principalmente. Porém, algumas reflexões nós precisamos fazer, pois além das coordenadas morais que nos movem, existem os contextos históricos e políticos que nos competem analisar, haja vista estarmos neles envolvidos. Até que ponto os espíritas eleitores e defensores do presidente percebem que somos todos alvos de intolerância religiosa por parte daqueles que empoderaram politicamente? Ao contribuírem com o percentual de votantes brasileiros que elegeu Bolsonaro, muitos jornadeiros do meio espírita omitiram o uso da lucidez, fortalecendo um projeto totalitarista de base antiga, que mergulhado na ignorância arrogante referenda a posse de Deus a uma vertente religiosa única, embora retalhada em representatividades: o evangelismo. Desde a nascente das intolerâncias, o espiritismo carrega a tarja de impuro ou maldito a ele imposta pelos segmentos arcaicos, que, com Bolsonaro na presidência, sentem-se não apenas representados, mas empoderados e sequiosos de aumentar a própria força, na luta por uma hegemonia evangélica no estado, que paulatinamente vai esquecendo a laicidade. Desde as vigílias pelo presidente e envolvimento maciço na divulgação de “fake news” para manipular os mais simples na construção de um mito que também é de mentira, hordas de pastores participaram do processo eleitoral como “principados e potestades” em um reino de fé cega, com objetivos visionários de enriquecimento e domínio cultural. Fascinados pela fanfarronice de ter “derrotado” um inimigo político fictício, os espíritas de direita continuam arrotando apoio ao algoz das liberdades. Quantas perseguições serão necessárias para que despertem? Um estado evangélico respaldará as bases da codificação espírita? Acaso acreditam que apenas os “espiritualistas” serão alvejados? Onde estará a razão dos representantes arcaicos deste segmento espírita conservador? Estará no mesmo lugar onde esqueceram a caridade e o senso humanitário? Por ora refletimos. Aos intolerantes, perdoamos. Mas amorosamente resistimos com Jesus e Kardec.

Por Ana Claudia Laurindo e  23/1/2020