O patrão quando manda embora

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joao grilo O inominável, em mais uma demonstração de completa incapacidade de compreensão da realidade que o cerca, afirmou, em novo vídeo ao vivo, que: “O patrão quando manda embora não é por maldade, é porque a pessoa não está trabalhando, está dando prejuízo, ou quer contratar alguém melhor.” Tal frase foi dita num contexto em que o líder da quadrilha miliciana ora instalada no governo federal tentava explicar que para aumentar o nível de emprego no país seria necessário reduzir direitos dos trabalhadores. Para o energúmeno presidente, emprego e direitos são coisas incompatíveis e, portanto, são justificáveis as “reformas” legais que buscam reduzir direitos trabalhistas. A farsa argumentativa dessa gente torpe é facilmente desmontada por meio dos números de desemprego alcançados pelo Brasil no final de 2014, quando chegou-se ao número de 4,8% de desemprego, menor índice da história brasileira, quando nenhuma das atuais reformas ainda existia. Se foi possível alcançar índices tão baixos de desemprego com todos os direitos trabalhistas ainda vigentes, logo não são esses direitos os culpados pelo desemprego. A dicotomia emprego x direitos, repetida pelo inominável miliciano, é falsa e atenta contra a razão, os fatos e a dignidade do trabalhador. No mais, como diria João Grilo, numa versão moderna do clássico de Suassuna, a fala do presidente eleito pela farsa e pelo ódio apenas corrobora a incompetência da elite empresarial nacional, que, além de explorar o trabalho de forma cruel, é incapaz de gerir seus negócios sem o apoio do estado capitalista. O Brasil talvez precisasse duma burguesia melhor, mais capaz. Mas o que o país precisa mesmo é de superar o sistema capitalista de produção e acabar com a sociedade de classes. A notícia original saiu no site 247. Publicado originalmente no Facebook em 10/1/2020.

2019 termina assim

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rosas Triste ver nossa sociedade passando por experiência tão horrenda e dramática. O que esse texto-lamento de Benedito Costa nos traz é a constatação que falhamos na nossa humanidade. O que estamos fazendo com as pessoas do nosso país? Cadê o “ninguém solta a mão de ninguém”? E nós, espíritas, tão ciosos em ensinar máximas evangélicas aos sábados, falar com mortos às quartas e distribuir cestas básicas ao fim dos meses, o que estamos fazendo afinal para a transformação da realidade do mundo? 2019 termina assim.   Campartilhamento de um relato de Benedito Costa em 2/1/2020 no Fecebook.

Meu vizinho decidiu não viver mais. Deixou mulher e filho. Tinha menos de 40 anos. Trabalhava com Uber após uma demissão que o deixou na lama.

Certamente, as pessoas dirão: “ah, mas não foi só por isso!”. Eu gostaria de frisar o “só por isso”. Em relação aos suicidas, o primeiro pensamento que vem é o da covardia e depois o do pecado. Continuamos enterrando os suicidas fora dos campos santos.

Fui com ele até meu trabalho, em novembro. Conversamos bastante, durante os 40 minutos da viagem. Ele, como eu, fora demitido sem receber nada de uma empresa. Assim como eu, teve ex-colegas de trabalho que foram defender os patrões, frente a um juiz claramente patronal. Assim como eu, não foi amparado pela justiça trabalhista e assim como eu teve de pagar as custas processuais. Há dois anos.

E as pessoas dirão: “ah, mas a justiça trabalhista tava cheia de gente vivendo às custas das causas; gente vagabunda”. Amigo leitor, nem eu nem meu vizinho somos vagabundos. Trabalhamos desde muito jovens.

Assim como eu, ele ficou depressivo. Assim como eu, foi parar no hospital muitas vezes (este, ano, no meu caso, umas dez vezes, sendo uma delas cinco dias de UTI). Assim como eu, muitos de seus amigos sumiram. Assim como eu, ele perdeu a dignidade que o mercado dá a quem tem um emprego regular, salário, os “direitos trabalhistas” que a justiça atual insiste em retirar. Assim como eu, ele ouvia “você precisa levantar da cama”. Assim como centenas de milhares de brasileiros vitimados pelo sistema nos últimos anos.

Somos 24 milhões de brasileiros na informalidade, fazendo Uber, entregando Ifood, catando latinhas, o que para o jornalismo da Globo é empreendedorismo. São milhões sem fundo de garantia, sem férias, décimo-terceiro — e o jornalismo, a despeito dos gritos dos pequenos lojistas, mostra que as vendas cresceram. Uma mera comparação com os números do ano passado mostram que não. Não crescemos, não vendemos, e alimentamos um mercado com “empreendedores sem patrão”.

A uberização deixa a sociedade instável. Sem poder de compra, sem fundo, sem nada, com os ganhos flutuantes, não há como planejar… E alguém dirá: “ah, mas basta trabalhar bastante, que o Uber dá, sim”. Meu! Trabalhe 15, 18 horas num dia! É voltar ao começo da industrialização!

Diferentemente de mim, que tenho amparo, meu vizinho não teve. Diferentemente de mim, ele não conseguiu trabalho. Foi um processo para o chão, para o buraco, para o escuro para ele.

Era um cara estudado. Em nossa conversa, vi que comungávamos de uma mesma visão de mundo: éramos e continuamos sendo contra um governo miliciano, assassino, que retira as poucas conquistas que tivemos nas últimas décadas.

Como eu, ele via que estamos perdendo tudo: a natureza, a saúde, a educação formal (e, eu diria, a informal), a paz. Os números de feminicídios e assassinatos da população LGBT aumentaram. As invasões de terras indígenas, quilombolas e de terreiros aumentaram.

E há quem diga que meu vizinho tirou a vida por ser fraco, por ser covarde, por não ter tido esperança, por não pensar no filho.

Era um cara sorridente, amável. Deixei minha casa aberta. Faço isso com pouquíssimas pessoas. Eu creio que poderia ter estendido a mão mais firme.

Num ano que começou com a frase “ninguém solta a mão de ninguém”, ele percebeu que isso era impossível porque ninguém segurava a mão de ninguém. Assistimos passivamente a todas as perdas, à iniquidade, à violência estatal, à violência urbana e fizemos muito pouco.

Meu vizinho não teve a ajuda da Justiça, da religião (preocupada com as coisas da “alma”, enquanto precisamos de feijão e pagar o colégio dos filhos), dos amigos, da família.

Bom, em memória dele, dessa vez não posso terminar o ano com frases bonitinhas e feitas. Estou bem triste.

Mas espero que 2020 seja um ano de luta, para que heróis como ele permaneçam vivos.

2019 foi foda! Mas 2020 tende a ser pior!

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liberdade 2019 2010 Adoramos brincar de Polliana e desejar feliz Ano Novo sem pensar no quanto é inócuo tal desejo. Na boa, não há nenhum dado objetivo que indique o tal “feliz 2020”. Questão de Fé? Pode ser. Mas a minha fé é RACIOCINADA. A fé cega nos trouxe ao CAOS EM 2019. Aliás, a fé cega tem permitido o afloramento do pior do espírito humano. E tem justificado, ao longo de toda a história, uma infinidade de barbaridades, cometidas em nome de Deus ou do capital ou da ideologia dominante, dependendo de qual fé cega se professe. Viramos o ano com um caos ambiental sem precedentes, sem solução à vista e sem tempo hábil para reverter seus efeitos; Crises humanitárias (fome crônica e guerras) e geopolíticas (golpes e intervenções nas soberanias nacionais) espalhadas por todo o globo ou todo o plano, para os terraplanistas; Uma nova guerra fria, agora TRI-polar, com três potências imperialistas (EUA, China e Rússia) com o dedo no gatilho; No meio do fogo cruzado, países pobres, pilhados pelos impérios em suas riquezas efetivas e potenciais e manobrados ao sabor dos humores do Deus Mercado e dos Senhores da guerra; A ascenção do neonazismo em diversos países, inclusive o nosso, promovida, estimulada ou, no mínimo, tolerada pelos próprios agentes que o combateram na segunda guerra mundial, dependendo dos interesses em jogo, caso a caso. Como falar em Feliz Ano Novo para uma humanidade envelhecida em seus valores e embrutecida nos seus métodos? Como acreditar num mundo de Malalas e Gretas, com figuras como Trumps e Bannons ocupando postos-chave nos centros de decisão do planeta? Como acreditar que sairemos bem dessa encruzilhada da história, quando vidas não importam mais que dinheiro e poder? Quando somos todos cobaias num laboratório onde se testa o limite da sobrevivência da própria espécie no planeta? O pior é ver que isso tudo não é ficção nem teoria da conspiração. O Brasil, de povo dócil e manipulável, ignorante e inerte, com oposição perdida como um cego em tiroteio, é um laboratório onde foi testado e aprovado o método. É a prova cabal da toxicidade dessa fórmula. Temos extrema-direita, fundamentalistas cristãos, milicianos, sistema judiciário e narcotraficantes “juntos e ao vivo”, comemorando, no poder, o Réveillon do Armageddon. E desejamos Feliz Ano Novo? Ano Novo, por si só, é uma construção do imaginário. Uma formalidade para marcar o tempo. Deveríamos nos preocupar em marcar épocas. E épocas novas não se definem pela marcha do tempo, mas por mudanças significativas no conjunto de conhecimentos acumulados, que têm implicações no desenvolvimento da tecnologia, tanto quanto na compreensão da natureza e na própria consciência da condição moral, ética e social humana, que se reflete nas atitudes, valores e relações entre os indivíduos, as culturas, os povos e as nações. Vivemos tempos difíceis, com tendências claras a piorar. Desejar Feliz Ano Novo não é suficiente. Ter “Fé em Deus” e achar que tudo vai se resolver num passe de mágica ou uma “intervenção divina” é uma auto-ilusão perigosa e preguiçosa. Fazer do mundo um lugar melhor é tarefa nossa! Esta FÉ CEGA é faca amolada e vai nos conduzir ao CAOS e à extinção, seja por omissão covarde ou por ações efetivas de autodestruição. Uma FÉ RACIOCINADA nos levaria a resultados melhores. É o tipo de fé que o próprio princípio inteligente perfeito, criador e organizador do universo, que podemos chamar de Deus, Tupã, Alá, Natureza ou o que for (fica ao gosto do freguês, isso também não é importante), depositou na espécie humana, quando a colocou como inquilina neste planeta. É isso mesmo que estou dizendo: O CRIADOR TEVE FÉ NA ESPÉCIE HUMANA! E a dotou de três ferramentas-chave: CONSCIÊNCIA DE SI MESMA, INTELIGÊNCIA E LIVRE ARBÍTRIO. A FÉ RACIOCINADA nos leva a deduzir, com o uso da lógica, que temos um problema comum a resolver: CONSTRUIR AS CONDIÇÕES MATERIAIS DE SUSTENTAÇÃO PERMANENTE E HARMONIOSA NO PLANETA, tanto entre os indivíduos da espécie quanto entre estes e as demais espécies e o próprio planeta. Em termos científicos, garantir a sustentabilidade; para os mais “fervorosos”, fazer da Terra uma das “muitas moradas da casa do Pai”. Mas esta construção tem um longo caminho e muitos requisitos a cumprir, que vão do respeito e observância às regras de “manutenção da casa” e convivência pacífica, harmoniosa e produtiva com os demais “inquilinos” do planeta, até a superação das mazelas morais e éticas, individuais ou coletivas, da própria espécie humana, superando os “defeitos básicos” do egoísmo, usura, avareza, inveja (veja a lista completa na Bíblia, no Alcorão, no Talmude, nos Vedas, no Bhagavad Gita e similares) e seus efeitos diretos: a exploração humana, a escravidão, a miséria, as doenças, a ignorância, a fome, os preconceitos de toda ordem, a concentração de riquezas etc. Nada disso se resolve rezando. A oração é apenas uma ferramenta para aproximar a pessoa do seu criador e recarregar as baterias para a AÇÃO A DESENVOLVER. AÇÃO é a palavra-chave. Não se constrói com inércia uma humanidade justa e unida na consciência de si mesma, o que também pode ser chamada de COMUNISMO OU REINO DE DEUS, ao gosto do freguês. No fim, Construir uma Sociedade sem Classes ou uma Sociedade baseada no amor ao próximo, superar o capitalismo ou evoluir espiritualmente pela supressão do egoísmo, são formas diferentes de dizer a mesma coisa, com jargões de grupos que ainda não entenderam que lutam lado a lado. É preciso lutar e trabalhar interna e externamente para construir uma consciência de que individualidades não sobrevivem permanentemente em detrimento das coletividades. Não se acaba com a miséria explorando o homem; não se superam a fome e as doenças investindo em armamentos e destruindo o planeta; não se vence as violências sem educação e cultura. São as ATITUDES que tomamos diante das mazelas, a indignação ativa diante do sistema vigente, que nos definem como indivíduos e como coletividades. Em última análise, definem se sobreviveremos como espécie ou se seremos uma APOSTA PERDIDA. Voltando ao Assunto, melhor será desejar FELIZ ATITUDE NOVA PARA TODOS.
Renato Savalli – 1/1/2020 – Publicado originalmente no Facebook.

Desigualdade social segundo a questão 806

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sancho panca desigualdade 806 -É lei da natureza a desigualdade das condições sociais? ‘Não; é obra do homem e não de Deus.’
  1. a) Algum dia essa desigualdade desaparecerá?
‘Eternas somente as leis de Deus o são. Não vês que dia a dia ela gradualmente se apaga? Desaparecerá quando o egoísmo e o orgulho deixarem de predominar. Restará apenas a desigualdade do merecimento. Dia virá em que os membros da grande família dos filhos de Deus deixarão de considerar-se como de sangue mais ou menos puro. Só o espírito é mais ou menos puro e isso não depende da posição social’.” Allan Kardec, “O livro dos espíritos”, parte III, cap. IX. Diante de tão clara assertiva, que diz que as desigualdades sociais são consequências da ação humana, é-se mister agir no sentido de superar tal alarmante chaga da sociedade. E, mais, os espíritas devem, por meio de suas instituições, associações, casas, centros e federações, buscar ser um vetor dessa superação. E não apenas com leituras e estudos, que são imprescindíveis, mas também com ações que favoreçam essa transformação duma sociedade desigual e injusta numa sociedade de justiça social, fraternidade e liberdade. Talvez os que sonham com essa mudança, como Kardec, Lennon e Quixote, sejam chamados de loucos ou utópicos, mas sem essa perspectiva de um mundo mais humano, afinal, o que seriam os homens? É esse o espiritismo com o qual se sonha: um espiritismo voltado ao consolo das chagas mais prementes da sociedade, justificando seu papel de consolador prometido, ao transgredir as premissas do religiosismo barato e do misticismo interessado, instigando e promovendo a consciência da necessidade de mudança social, pois só os homens conseguirão mudar sua própria condição de miséria e exploração. Publicado originalmente no Facebook Espíritas a Esquerda em 01/01/2020.