Está bombando em audiência o filme Não Olhe Para Cima, lançado esta semana pela Netflix. É uma comédia que não faz rir ou, pelo menos, gera um riso nervoso. Porque é tão realista que chega a exagerar na caricatura dos personagens, mas é impossível não comparar os personagens com muitos seres da vida real.
O filme trata de negacionismo científico, mas trata também de como as elites do Planeta se relacionam com ele, e como a humanidade está afogada e submissa a um jogo de imagens, narrativas e ilusões.
A trama começa com a descoberta por dois astrônomos (Leonardo Di Caprio e Jennifer Lawrence) de um enorme cometa que vai colidir com a Terra em alguns meses e, certamente, vai causar a extinção todas as espécies. Mas a presidenta do EUA (Meryl Streep) está preocupada com as eleições e não quer dar notícias ruins, e escancara o negacionismo.
A história vai agregando figuras conhecidas do nosso cenário, como a cantora celebridade que faz com que a relação com seu namorado seja mais relevante do que o fim do mundo, ou os apresentadores de TV que tentam dar “leveza” à notícia do fim das espécies para não aborrecer ou espantar audiência.
O mais impressionante e escandalosamente real é o empresariado que vê uma “oportunidade” no apocalipse para gerar riqueza (para eles). E a relação com Elon Musk (dono da Tesla) ou Jeff Bezos (dono da Amazon) e suas viagens espaciais certamente não é mera coincidência.
Quem deseja um filme “cabeça” vai se decepcionar, porque a opção do diretor Adam McKay é uma metáfora da grosseria, da superficialidade, das aparências. Mas o curioso é que, mesmo os personagens caricatos e estereotipados, ainda parecem “suaves” diante de Trumps, Bolsonaros e Orbáns que são reais demais.
O filme tem passagens muito engraçadas, mas causa mais desconforto do que vontade de rir. As referências a um apocalipse iminente evocam nossa crise climática e anunciam a estratégia das elites capitalistas: simplesmente abandonar o Planeta depois de sugá-lo até a última gota.
Veja o trailer oficial
É o estereotipo da elite do atraso do Brasil e seus representantes no poder, graças aos pobres de direita.