O especial de Natal do Porta dos Fundos é uma blasfêmia?

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Por que as lutas enfrentadas por Jesus não são colocadas como prioritárias pelos autodenominados cristãos? E por que, afinal, esses mesmos autodenominados cristãos importam-se muito mais com a forma do que com o conteúdo dos ensinos do seu líder maior? Onde estão, nas lides cotidianas dessa gente, as práticas da fraternidade, do acolhimento e da justiça?

Não, essa estranha gente está mais preocupada com a intimidade sexual alheia, e não com a prática da caridade. Essa estranha gente diz-se chocada com uma paródia cômica mas não se abala com a fome que grassa na sua cidade, no país e no mundo. Essa estranha gente escreve textões irados sobre o respeito à fé mas sequer entende o núcleo primacial da fé proposta por Jesus.

Ver espíritas de escol defendendo o horror fascista da censura e a barbárie da perseguição às artes e à cultura é um lembrete a todos de que o orgulho e o egoísmo são as chagas que fazem um indivíduo falir em sua tarefa pessoal de transformação evolutiva.

Nesse momento de terror social que a sociedade brasileira adentra, é preciso que todos, mulheres e homens, posicionem-se contrários a essa situação social de censura e perseguição construída pelo ódio e pelo projeto de poder fascista já posto. É preciso que a parte da sociedade ainda não cooptada pela mentira e pela farsa solte sua voz, apontando sem medo esses desvios que afastam todos dos sonhos de liberdade, fraternidade e justiça social.

A leitura do texto abaixo de Dora Incontri é mais um grito que se precisa ecoar dentro do movimento espírita contrário àqueles que se posicionam favoráveis à política do horror que se instala na sociedade em nome dum cristianismo incoerente e insensato.

Publicado no Facebook em 13/1/2020

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O especial de Natal do Porta dos Fundos é uma blasfêmia?

Dora Incontri – Jornal GGN

“A polêmica sobre o especial de Natal do Porta dos Fundos, a Primeira Tentação de Cristo, veiculado pela Netflix, segue firme. Eu mesma recebi de várias pessoas o convite para cancelar a assinatura do canal por conta da ‘blasfêmia’, cometida pelo grupo.

[…]

Apesar desses questionamentos, que o artista pode fazer a si mesmo, considero que a arte tem que ser livre sempre. Não podemos colocar limites, porque ela usa as armas que dispuser, que puder, para justamente desconstruir sacralidades, relativizar coisas absolutistas, usar reflexões provocativas, que nos levem a um estranhamento da realidade.

Assisti ao Especial de Natal e apesar de me considerar cristã e amar profundamente Jesus, não me senti em nada ofendida.

Primeiro, porque mesmo no campo teológico, histórico, houve e há inúmeras discussões sobre a figura de Jesus. Teria sido ele mais humano ou mais divino ou apenas humano? Teria conhecido as ‘tentações’ da carne? Estaria ele seguro de sua missão?

Outra coisa interessante que até muitos cristãos primitivos chegaram a considerar: o Deus do Velho Testamento era o mesmo Deus ensinado por Jesus? Um Deus guerreiro, punitivo, vingativo – que manda Abrahão matar seu filho, como prova de fidelidade – coisa aliás citada por Gregório no especial… Havia, por exemplo, os marcionitas, uma corrente de ‘heréticos’, – ou que foram assim considerados por divergirem do credo católico – que achavam que o Novo Testamento não deveria ser incorporado, ligado ou submetido ao Velho. Hoje vemos o acerto dessa proposição, quando evangélicos radicais citam mandamentos absurdos do Velho Testamento, que aliás, se opõem frontalmente à visão amorosa de Jesus.

Então, no reino da liberdade, que deve ser o horizonte que todos queremos para o mundo, não há nada que não possa ser discutido, questionado ou refutado.

[…]

Como anarquista, defendo a liberdade sempre. Se não gosto de algo, não vejo, desligo o canal e pronto.

Assim, não achei graça no Especial de Natal do Porta dos Fundos, mas lembrando Voltaire, defenderei até a morte, o direito de expressão da arte.”

A leitura do texto completo pode ser feita aqui.

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