“Nunca senti uma dor tão grande”, conta professora sobre exclusão de centro espírita após transição de gênero

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atena roveda
Atena Roveda participou do III ENEE por vídeo conferência.

No dia 13 de julho de 2024, Brasília sediou o III Encontro Nacional da Esquerda Espírita, reunindo diversos palestrantes comprometidos com a integração dos princípios espíritas e a luta por justiça social. Dentre os destaques, a palestra de Atena Roveda – por meio de videoconferência – sobressaiu-se pela profundidade de suas reflexões e pelo tocante depoimento pessoal sobre sua experiência de exclusão numa casa espírita.

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Atena Roveda participou do III ENEE por vídeo conferência.

Inclusão e justiça social no espiritismo

Atena Roveda, professora, ativista social, escritora, pensadora espírita e suplente de vereadora em Porto Alegre pelo PSOL, abriu sua palestra destacando a importância da inclusão e da justiça social dentro das práticas espíritas. Ela citou Allan Kardec para reforçar seu ponto de vista, afirmando que “a verdadeira caridade é aquela que se estende a todos, sem distinção de raça, credo ou condição social”. Roveda enfatizou que o espiritismo, por sua natureza humanitária e progressista, deve ser um catalisador de mudanças sociais que promovam a igualdade e a justiça.

Ao longo de sua fala, Atena argumentou que a caridade, embora fundamental, precisa ser complementada por ações que visem a transformar as estruturas sociais injustas. Citando Léon Denis, ela declarou: “Não basta aliviar o sofrimento; é necessário também atacar as causas que o produzem”. Para Roveda, os espíritas têm a responsabilidade moral de se engajar em lutas sociais e políticas que visem à construção duma sociedade mais justa e fraterna.

Depoimento pessoal de exclusão

Um dos momentos mais emocionantes da palestra foi o depoimento pessoal de Atena Roveda sobre sua própria experiência de exclusão numa casa espírita. Ela relatou como, devido à sua condição de mulher transexual, suas opiniões políticas e seu engajamento em causas sociais, foi afastada duma instituição espírita que frequentava. “Foi um período doloroso”, confessou Atena, “mas também foi um momento de grande aprendizado. Percebi que, infelizmente, há ainda muitos preconceitos e resistências dentro do próprio movimento espírita.”

Esse relato pessoal tocou profundamente os presentes, evidenciando a necessidade urgente de maior abertura e inclusão dentro das instituições espíritas. Atena destacou que o espiritismo, sendo uma doutrina de amor e caridade, deve acolher e respeitar a diversidade de pensamentos e ações que visam ao bem comum.

Espiritualidade e ativismo

Roveda concluiu sua palestra enfatizando a conexão intrínseca entre espiritualidade e ativismo. Para ela, a prática espírita deve necessariamente envolver-se com as questões sociais e políticas de seu tempo, buscando sempre promover o bem-estar e a dignidade de todos. “O Reino de Deus, como nos ensinou Jesus, é construído aqui e agora, através de nossas ações em prol da justiça e da fraternidade”, afirmou Atena, citando o evangelho.

A palestra de Atena Roveda no III Encontro Nacional da Esquerda Espírita foi um chamado poderoso para que os espíritas se engajem mais profundamente nas lutas por justiça social e inclusão. Sua combinação de argumentos teóricos e experiência pessoal trouxe à tona a necessidade de uma prática espírita mais aberta, acolhedora e comprometida com a transformação social.

Assista a íntegra da palestra de Atena Roveda:

 

2 COMENTÁRIOS

  1. É triste e desanimador que uma doutrina que se manifesta pela liberdade e expansão da consciência, esteja sendo impregnada de “lideranças” que cultivam o que ha de pior no pensamento humano e social. Não dá pra frequentar esses ambientes errados de hipocrisia e exclusão. Desde 2018 ao ver o fascismo impregnar o centro que frequentava me afastei. Muito desanimador.

    • bom, o que vi e vivenciei no centro que frequentei por mais de 20 anos não me surpreende…e, olha, que lutei, mostrei, li,questionei, fiz trabalhos, leituras, instiguei…no ano citado, veio à tona o que há de mais sórdido, sujo, preconceituoso dentro do movimento… ainda ontem encontrei uma antiga colega que me disse: porque não voltas ?
      respondi: porque questiono, não sou de aceitar “explicações” mofadas, eivadas de preconceitos, e pra mim a teoria tem que casar com a prática… ou entendeu ou se fez.

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