Coletivo Espiritas à Esquerda
Em meados de 2016, o ano que ficou marcado pelo golpe contra a presidenta Dilma Rousseff, os grupos espíritas fervilhavam, como o restante do País, com as posições políticas opostas de seus participantes. A convivência fraterna, tão característica desses grupos físicos e virtuais, foi, pouco a pouco, sendo corroída pelos diferentes olhares políticos. E tudo isso se iniciou naquele já histórico junho de 2013, passando pela polarização extremada da campanha das eleições de 2014, pelo difícil ano político e econômico de 2015 e, finalmente, desaguando na mobilização golpista de 2016.
Não foi fácil para as relações familiares e sociais resistirem a tantas intempéries de caráter político, e os grupos espíritas também sucumbiram a esse vendaval.
Foi assim, nesse contexto de encontros e desencontros, que em março de 2016 um grupo de amigos espíritas de posições políticas progressistas, incomodados com a falta de liberdade e democracia presente nas suas casas espíritas, resolveu criar um espaço virtual para diálogos e debates sobre política e suas relações com as propostas espíritas. À época, foram criados um grupo de debates no aplicativo WhatsApp e uma página no Facebook, ambos chamados “Espíritas à esquerda”, para expor à comunidade espírita suas reflexões sobre política e espiritismo.
Em todo o País
O grupo foi crescendo e agregando novos membros. Espíritas de todo o País vinham à página expressar seu contentamento com esse tipo de posição progressista e passaram também a divulgar cada vez mais as análises espíritas e os posicionamentos políticos da página. Ao mesmo tempo que muitos declaravam sua decepção com a posição dos dirigentes espíritas espalhados pelo território nacional, dirigentes que defendiam abertamente posições políticas e sociais que afrontavam as propostas espíritas de amor e fraternidade. Grupos e páginas progressistas como essa se espalharam pelo País e pelo mundo.
A campanha eleitoral de 2018 foi um ponto de inflexão definitivo. Ela dividiu o País e, em particular, os espíritas, tornando a relação entre os desiguais quase inviável. De um lado ficaram os espíritas tradicionais, ladeados inclusive por nomes famosos nacionalmente, defendendo a LGBTfobia, o racismo, a pena de morte, a misoginia, a tortura e a necropolítica. Do outro lado ficaram os espíritas progressistas, que propagavam, baseados nos textos kardecistas e nos ensinos de Jesus, a mensagem da justiça social, da aceitação das diferenças e da igualdade de oportunidades.
Durante esses mais de três anos, os espíritas progressistas que foram unindo-se aos grupos virtuais demandaram continuamente um momento de reflexão conjunta e de encontro físico para estreitar as relações que se formavam. Foi assim que, durante o ano de 2019, o “Espíritas à esquerda” decidiu construir um momento de encontro fraterno entre esses espíritas progressistas, aproveitando a oportunidade para a necessária discussão acerca das relações entre espiritismo e política.
1º Encontro Nacional
Planejamos e executamos nosso projeto que passou a se chamar “I Encontro Nacional Espíritas à Esquerda”. A primeira e difícil decisão foi escolher a cidade que acolheria tal evento, e decidimos que uma capital nordestina, pela óbvia empatia política com o pensamento progressista, seria o local mais adequado. A primeira capital do Brasil foi então escolhida para ser a primeira a nos receber, e nela contamos com o importante apoio do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente no Estado da Bahia (Sindae-BA), que nos cedeu o seu auditório para esse momento. Nossa proposta foi muito bem recebida por diversos nomes que hoje representam o espiritismo progressista no Brasil e que aceitaram participar da programação de ótima qualidade para discutir a situação política do País à luz do espiritismo.
A partir da experiência adquirida nesse primeiro evento de caráter nacional, em que contamos com a presença de palestrantes de várias cidades e estados, planejamos o que seria o “II Encontro Nacional Espíritas à Esquerda”, em abril de 2020, dessa vez na UERJ, no Rio de Janeiro, para dar continuidade à divulgação das propostas espíritas progressistas e para aproximação e organização dos espíritas progressistas do Brasil. Mas, infelizmente, a pandemia da covid-19 obrigou-nos a cancelar o evento e adiá-lo indefinidamente.
Desde 2020, por conta da tragédia na saúde pública brasileira, o “Espíritas à esquerda” passou a realizar apenas atividades virtuais. Lançamos debates com temas de interesse da sociedade e dos espíritas progressistas, fizemos entrevistas com candidatos da esquerda a diversas prefeituras de capitais pelo Brasil, iniciamos um programa de formação teórica para melhor preparação dos espíritas progressistas sobre questões sociais e políticas e também iniciamos um novo programa de entrevistas com autores espíritas progressistas.
Na pandemia
Além das atividades ao vivo, como os debates, aulões do programa de formação e entrevistas, o “Espíritas à esquerda” continuou a crescer e a se expandir nas redes sociais. Hoje contamos com mais de 20 mil seguidores espalhados por Facebook, Instagram, Twitter e YouTube.
Hoje estamos presentes virtualmente em 17 estados brasileiros e em Portugal e contamos com uma coordenação nacional, com membros de diversas cidades do Brasil, responsável pela organização e planejamento das ações do que hoje é o Coletivo Nacional Espíritas à Esquerda.
Venha participar conosco desse projeto de transformação do movimento espírita.