O blogue “Biblioteca Base” disponibiliza para baixar a obra completa do historiador marxista britânico Eric Hobsbawm: “História do marxismo”. AQUI segue o endereço para descarregar os arquivos dos 12 volumes. Abaixo, também, breve resenha da obra feita por Carlos Nelson Coutinho.
História do marxismo de Eric Hobsbawm (completa)
Vol. 1 – O marxismo no tempo de Marx
Vol. 2 – O marxismo na época da Segunda Internacional, parte 1
Vol. 3 – O marxismo na época da Segunda Internacional, parte 2
Vol. 4 – O marxismo na época da Segunda Internacional, parte 3
Vol. 5 – O marxismo na época da Terceira Internacional – a Revolução de Outubro, o austromarxismo
Vol. 6 – O marxismo na época da Terceira Internacional – da Internacional Comunista de 1919 às frentes populares
Vol. 7 – O marxismo na época da Terceira Internacional – a URSS da construção do socialismo ao stalinismo
Vol. 8 – O marxismo na época da Terceira Internacional – o novo capitalismo, o imperialismo, o terceiro mundo
Vol. 9 – O marxismo na época da Terceira Internacional – problemas da cultura e da ideologia
Vol. 10 – O marxismo na época da Terceira Internacional – de Gramsci à crise do stalinismo
Vol. 11 – O marxismo hoje, parte 1
Vol. 12 – O marxismo hoje, parte 2
Publicado no pagina EàE em 15/1/2020
Resenha de Carlos Nelson Coutinho
Uma das maiores comprovações do valor científico do materialismo histórico, da teoria marxista da sociedade, é sua capacidade de aplicar-se a si mesmo: como todas as manifestações do pensamento humano, também o marxismo é fruto de constelações históricas concretas. E revela sua vitalidade porque evolui, se enriquece e se modifica na tentativa incessante de compreender e responder adequadamente aos novos problemas colocados pela evolução histórico-social.
Ainda são poucas, ao que eu saiba, as tentativas de elaborar uma história global do marxismo à luz do próprio marxismo. As amplas e importantes monografias sobre períodos e autores concretos, independentemente do seu eventual valor autônomo, são um material preparatório indispensável, mas não anulam a necessidade dessa história global; uma história que, por ser marxista, não pode se limitar a reproduzir a evolução das ideais, mas deve também indicar as raízes sociais dessas ideias e sua influência concreta nos movimentos políticos e sociais que nelas se inspiram.
Tão-somente uma história desse tipo pode indicar a resposta para uma questão decisiva: o marxismo foi capaz, em suas inúmeras ramificações e “escolas”, em suas várias etapas e correntes, de se conservar ao mesmo tempo fiel aos princípios básicos do materialismo histórico e à complexidade de uma realidade dinâmica e em permanente evolução?
Para uma concepção dogmática do marxismo, uma história assim concebida seria impossível. Marx e Engels (e Lênin) já teriam formulado um corpo doutrinário completo e acabado, que caberia aos novos marxistas apenas “aplicar” à realidade; tudo o que aparentemente diverge desse pretenso corpo acabado – definido, ademais, de modo estreito e dogmático – não passaria de “revisionismo”, de abandono ou traição do verdadeiro “marxismo” (ou “marxismo-leninismo”); e, por conseguinte, estaria fora de uma história do marxismo enquanto tal.
A posição que Eric J. Hobsbawm e seus colaboradores assumiram na programação e realização dessa “História do marxismo” (da qual é publicada agora o primeiro volume) diverge fundamentalmente dessa posição dogmática.
A presente “História” parte da existência de uma “pluralidade” de leituras do marxismo; mas, ao mesmo tempo, mostra como a teoria marxista conserva um núcleo unitário em meio às necessárias concretizações e variações. Por isso, Hobsbawm tem a preocupação de não convocar para a redação dos diversos capítulos da obra (projetada para quatro volumes) apenas marxistas, digamos, de uma mesma orientação. E já essa variedade de abordagens indica ao leitor a abertura dialética de um pensamento que, longe de se contentar com a mera repetição escolástica dos seus “clássicos”, revela-se tanto mais fiel aos ensinamentos dos mesmos quanto mais é capaz, ao mesmo tempo, de se manter fiel à realidade histórica em seu incessante devir.
Dando espaço em sua “História” ao que poderíamos chamar de “pluralismo” marxista, Hobsbawm não pretende dizer que todas essas “escolas” e correntes têm o mesmo valor de cientificidade ou a mesma fidelidade ao marxismo. Ao admitir o fato real do pluralismo nas investigações marxistas, não se está admitindo um relativismo vulgar ou um ecletismo anticientífico. O que se está é constatando um outro fato real que, também no interior do marxismo, a busca da verdade não pode fugir à explicitação ampla e democrática de um debate aberto, de um livre confronto de ideias.