Os novos e fugazes aliados
Ontem à noite, 18 de maio, um famoso “youtuber”, o jovem Felipe Neto, em entrevista dada no programa “Roda Viva” da TV Cultura de SP, fez algumas declarações que mostram seu deslocamento do campo político da direita em direção ao centro.
Dentre as diversas falas, destacam-se o reconhecimento do processo de retirada do poder da presidenta Dilma Rousseff como um golpe político, apesar do apoio dado pelo jovem influenciador durante o processo golpista em 2016; a crítica ao conceito de meritocracia propalado por liberais e, também, por progressistas iludidos; e seu claro posicionamento contrário ao energúmeno miliciano que hoje preside, com sua quadrilha, essa infeliz nação.
Interessa ao campo político progressista, representado pelos diversos partidos que hoje se posicionam entre a centro-esquerda e a esquerda, esses novos e instáveis parceiros na difícil luta contra o fascismo.
Não, o inimigo do meu inimigo não é meu amigo. Definitivamente não. A #GloboGolpista, por exemplo, apesar de todo seu esforço recente em denunciar o fascista corrupto, jamais estará ao lado do campo progressista na luta pelas conquistas sociais dos trabalhadores, quiçá na luta pela transformação profunda da sociedade, superando a exploração e a miséria.
Mas esse fogo-fátuo político, que é capaz de gerar um pouco de luz no pântano asqueroso em que chafurda esses atores sociais, é uma força que não pode ser desperdiçada nesse momento de crise profunda da situação social, política e econômica do país. Toda força contrária deve ser usada para derrubar a quadrilha genocida no poder.
Mas… não se pode deixar iludir pelo discurso pseudoprogressista dessa gente. Felipe Neto, Globo et caterva, como já dito, jamais apoiarão projetos políticos que tragam benefícios e conquistas reais à sociedade brasileira. E ilustra bem esse fato a fala do jovem “youtuber” reacionário, agora travestido de progressista, quando perguntado sobre seu posicionamento político: “Tento viver entre o Ciro e o Amoedo […] tento viver, na medida da razoabilidade, entre os dois polos”.
Não há razoabilidade “entre dois polos”. Capital e trabalho jamais se conciliaram na história das sociedades. Esse discurso é, na verdade, um posicionamento envergonhado, e astuto, em prol do capital e contra o trabalhador. Um típico posicionamento de quem não consegue sair de “cima do muro”, que se coloca como o “isentão”, mas apoia retirada de direitos trabalhistas, reduções de aposentadoria e de dignidade da velhice, corte de verbas do SUS e da educação em favor do financiamento da dívida pública, dentre outros diversos e graves problemas.
Sim, interessa esse apoio nesse grave momento de luta contra um vírus mortal e um verme fascista. Cabe, entretanto, manter olhos e ouvidos abertos pois, na primeira oportunidade, esse grupo, hoje envergonhado, estará mais uma vez levantando bandeiras liberais e contrárias aos interesses do trabalhador, apoiando partidos e candidatos que defendem o capital contra o trabalhador.
É necessário que o campo progressista saiba usar esse apoio, mas com o cuidado de não ser usado para projetos políticos reacionários e liberais, que buscam apenas ampliar a exploração do trabalhador e do povo brasileiro.
Ou, como ensinou Jesus:
“Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas.”
Jesus, em Mateus 10, 16.