A pandemia e as comunicações mediúnicas

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“Os médiuns levianos e pouco sérios atraem, pois, espíritos da mesma natureza; por isso é que suas comunicações se mostram cheias de banalidades, frivolidades, ideias truncadas e, não raro, muito heterodoxas, espiriticamente falando. Certamente, podem eles dizer, e às vezes dizem, coisas aproveitáveis; mas, nesse caso, principalmente, é que um exame severo e escrupuloso se faz necessário, porquanto, de envolta com essas coisas aproveitáveis, espíritos hipócritas insinuam, com habilidade e preconcebida perfídia, fatos de pura invencionice, asserções mentirosas, a fim de iludir a boa-fé dos que lhes dispensam atenção. Devem riscar-se, então, sem piedade, toda palavra, toda frase equívoca e só conservar do ditado o que a lógica possa aceitar, ou o que a doutrina já ensinou. As comunicações desta natureza só são de temer para os espíritas que trabalham isolados, para os grupos novos, ou pouco esclarecidos, visto que, nas reuniões onde os adeptos estão adiantados e já adquiriram experiência, a gralha perde o seu tempo a se adornar com as penas do pavão: acaba sempre desmascarada.”

KARDEC, Allan. “O livro dos médiuns”, parte II, cap. XX, item 230.

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Nesses tempos difíceis de pandemia do novo coronavírus, que tem levado desespero, dor e morte ao mundo, os espíritas têm sido bombardeados com mensagens mediúnicas diversas.

E, muitas delas, infelizmente, fazem referências a uma possível transição planetária e a julgamentos morais de doentes e mortos.

Primeiro, associar essa pandemia à transição planetária é de uma insipiência racional extrema, haja vista a grande quantidade de outras pandemias que já assolaram o planeta na sua história e a falta de relação com qualquer mudança significativa da postura humana diante do outro.

Por exemplo, a maior pandemia do século XX, a gripe espanhola (um subtipo do vírus Influenza A/H1N1) ocorrida no final da década de 1910, matou mais de 50 milhões de pessoas pelo mundo. No Brasil, estimam-se mais de 35 mil mortos. O mundo tinha acabado de viver o horror da I Guerra Mundial e, duas décadas depois, viveu um horror ainda maior: a II Guerra Mundial. Ou seja, não foi a pandemia mortal que barrou a sandice cruel do homem, mostrando que esse tipo de situação catastrófica da saúde não é capaz, por si só, de fazer o homem melhor.

O segundo ponto, o do julgamento moral de mortos e doentes, é muito cruel. Muitas dessas mensagens insinuam, covardemente, que os infectados são aqueles que não tinham “boa sintonia” ou corpos “incompatíveis com a vibração do amor”.

Apenas parem com isso! Por favor, médiuns, parem!

Isso é simplesmente um horror moral disfarçado por palavras melífluas para punir ainda mais os doentes dessa pandemia, incutindo-lhes uma culpa inexistente.

Tais mensagens são fruto da inconsequência mediúnica e da falta de racionalidade na hora da crítica daquilo que se recebe.

Na verdade, parece que os problemáticos moralmente não são os doentes da pandemia, mas os doentes da alma que espalham esse tipo de lixo moral e intelectual pelas redes sociais.

Publicado no Facebook em 3/4/2020.

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