As máscaras da economia

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A pandemia do novo coronavírus fez o Brasil ver-se agora diante duma triste realidade: um país que já produziu navios, plataformas de petróleo e satélites de comunicação não consegue sequer produzir ventiladores pulmonares para UTIs e máscaras de proteção respiratória.

Por conta da falta desses produtos, a União, alguns entes federados subnacionais e empresas privadas tentaram importar alguns desses itens médicos, principalmente da China, mas tiveram suas cargas retidas em portos e aeroportos espalhados pelo mundo, com a justificativa de que os países que retiveram as cargas também necessitavam dos produtos para superar suas próprias dificuldades diante da pandemia.

Afora o grave problema de desabastecimento desses produtos no mercado justo nesse momento de crise na saúde, esse fato revela uma escolha infeliz que vem sendo feita pelos sucessivos governos brasileiros: há em andamento um projeto de desindustrialização da economia nacional e a indústria brasileira já não é sequer capaz de produzir… máscaras de pano.

O problema da desindustrialização da economia iniciou-se a partir da segunda metade dos anos 1980 e continuou piorando sistematicamente até os dias de hoje, com ligeira melhora durante a transição do milênio. Ou seja, já se vão cerca de 35 anos de contínua queda da participação da indústria nacional na formação do PIB brasileiro, conforme se pode ver no gráfico que acompanha essa postagem.

Até mesmo os pouco mais de 13 anos de governos progressistas não foram capazes de superar esse problema. Ao contrário, esse período acentuou o processo de apequenamento da participação da indústria na economia nacional.

Em 2018, a indústria brasileira alcançou seu mais baixo índice de participação no PIB desde 1948: 11,3%!

É claro que esse processo de desindustrialização do país, que já dura mais de três décadas, é um reflexo do papel do Brasil no quadro da economia mundial. O Brasil tem-se tornado apenas um fornecedor de matérias-primas para a economia global, sendo alijado da possibilidade de desenvolvimento da sua indústria.

Ao capital internacional não interessa ter um país com tão vasto território e farta mão de obra tendo outro papel que não o de fornecedor de itens econômicos primários. Como disse recentemente um professor da UFRJ, referindo-se à indústria do agronegócio, a “situação é tão alarmante que o fertilizante é produzido fora e o produto agropecuário também é beneficiado fora. Nossa missão nessa cadeia é cada vez mais emprestar o solo e o sol”. E, importa frisar, o Brasil é um dos maiores jogadores do mercado mundial do agronegócio, e nem nesse mercado o país consegue participação significativa da sua indústria.

O Brasil tem feito há décadas sua escolha: apequenar-se economicamente, destruindo sua indústria, sua ciência e sua pesquisa e privilegiando o fornecimento de mercadorias primárias, como minérios, grãos e animais.

E, no momento em que se precisa duma indústria para fornecimento de itens tão simples e de baixa tecnologia como máscaras de pano e ventiladores pulmonares, o país não tem mais condições industriais de prover essa demanda emergencial e passa a depender exclusivamente da importação desses produtos.

Todas as consequências e dramas hoje vividos são reflexos de escolhas políticas feitas pela própria população brasileira. Escolhas que vão desde a eleição de governos populistas que se omitiram sobre ou auxiliaram a desindustrialização da economia, até a eleição dum governo fascista que retira direitos do trabalho, da educação e da saúde do povo brasileiro.

Publicado no Facebook em 4/4/2020.

Leia mais sobre a desindustrialização brasileira.

Vídeo sobre o comentário do professor da UFRJ, José Carlos Pinto, acerca do problema da indústria nacional:

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