Teocracia Fundamentalista Evangélica do Brasil
Sejam todos bem-vindos(?) ao novo Brasil do fundamentalismo mais abjeto e asqueroso. Um novo país onde a mãe perde a guarda da filha adolescente porque a iniciou em seu credo, no candomblé. Um novo país onde os conselhos tutelares foram tomados por fundamentalistas e extremistas teocráticos que odeiam outros credos e lutam abertamente contra eles. Um novo país onde a justiça acata pedidos absurdos mas que se adequam aos seus preceitos nada republicanos.
Agora, a luta dessa gente cheia de ódio e preconceito que se infiltrou e tomou as entranhas do estado brasileiro é contra o candomblé e credos similares. Mas não se enganem, em breve será contra as instituições espíritas e suas atividades mediúnicas. E depois contra católicos e outros cristãos não pentecostais.
Quando a sociedade perceber, não existirá mais estado laico e a liberdade religiosa passará a ser definitivamente uma lenda e um sonho…
A notícia está disponível em: https://noticias.uol.com.br/…/mae-perde-guarda-da-filha…
Publicado no Facebook em 07 de agosto de 2020.
Em torno de um “Espiritismo da Libertação”
Gostaria de frisar as enormes “afinidades eletivas” entre a Teologia da Libertação (entendida como momento reflexivo do Cristianismo de Libertação) e a compreensão do cristianismo abraçada, de um modo ou de outro, por um espiritismo progressista.
Poder-se-ia dizer que ambos –a Teologia da Libertação e o Espiritismo Progressista– apostam numa construção societária inspirada na ética comunista do cristianismo primitivo, tal como descrito, por exemplo, nos Atos (2:44-45): “Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um.”
Por outro lado, é inspirador para os espíritas progressistas acusar nos escritos dos teólogos da libertação e na prática das comunidades eclesiais de base, uma compreensão da vivência da espiritualidade como necessariamente relacionada à transformação do “pecado estrutural” do capitalismo, produtor de injustiças sociais (lembrando que disso derivaram, por exemplo, o MST e o PT).
Eis o horizonte inspirador de um espiritismo que se quer progressista e, nisso, assume como tarefa buscar um modo de relacionamento mutuamente emancipador com as camadas populares de trabalhadores e trabalhadoras, superando o já tão criticado “assistencialismo” do movimento espírita tradicional e mesmo seu elitismo cultural.
Enfim, por aí vai-se longe.
Mas por último gostaria de frisar outro ponto importante: é que o espírito ecumênico que vigora no Cristianismo de Libertação deve contar com a participação cada vez mais decidida do contingente espírita, pois parece que, assim como aposta Leonardo Boff, Kardec e outros, a via da religião do futuro será o ecumenismo e, nisso, a presença do espiritismo prestaria um contributo fundamental ao mesmo passo que, dialogicamente, se enriqueceria com a experiência das outras denominações cristãs, todas ativamente engajadas na produção de uma sociedade de justiça, pós-capitalista.
Assim sendo, sem querer apostar muito ou lutar por conceitos, mas gostando de fazê-lo em nome mesmo da festa criadora da escrita, pode-se despontar um “Espiritismo da Libertação”, fruto dessa lufada de ares novos hoje possível graças à des-graça da situação sociopolítica brasileira (e mundial!) em que caímos nos últimos anos.
Por Tovar Júnior
Publicado no Facebook em 05 de agosto de 2020
Os espíritas não têm – e nem precisam ter – respostas sobre tudo
Por que devemos terceirizar nossas opiniões, nossos valores e nossa capacidade de julgamento?
“Guardai-vos dos falsos profetas que vêm ter convosco cobertos de peles de ovelha e por dentro são lobos. Conhecê-los-ei pelos seus frutos.” Mateus, cap. VII. vv. 15 a 20
“O que o espiritismo diz sobre o novo coronavírus?”, “o que o espiritismo pensa sobre queda de avião?”, “o que o espiritismo afirma sobre crianças índigos?”, “como o espiritismo interpreta os tsunâmis?”, “o que o espiritismo fala sobre política?”, “previsões espíritas sobre 2020”, “como o espiritismo vê os LGBTs?”.
Não é incomum ver –com muita tristeza– afirmações para esse tipo de perguntas, do tipo: “quem está morrendo de coronavírus é por que não está vibrando no amor”, “morreu todos juntos no avião por que os irmãozinhos eram romanos que jogavam cristãos na fogueira e estavam resgatando coletivamente um débito de vida passada” ou “LGBTs estão pagando débitos de vidas anteriores”.
Com a crueldade de corações bem distantes das vivências do evangelho de Jesus e com a profundidade de um pires, negando todo o rigor metodológico de Kardec, esses são apenas alguns dos exemplos de textos, vídeos no Youtube, palestras e mais uma porção de convites à desinformação (fakenews) que alguns espiritas andam divulgando.
Enquanto escrevia esse artigo, chegou mais uma dessas tristes pérolas. Perguntado sobre corrupção e política, um famoso palestrante espírita e que, por coincidência, também é juiz, tergiversou, enrolou e se manteve em cima do muro, local confortável para alguns desses famosos.
Ora, qualquer cidadão (e não precisa ser religioso, as vezes é até melhor que não seja), com o mínimo de senso ético, será contra qualquer tipo de corrupção dentro ou fora da política, inclusive aquela diária, travestida de “jeitinho brasileiro”, como furar fila, estacionar em local proibido ou mesmo, usurpando a fé e a fragilidade das pessoas, oferecer palestras, workshops, treinamentos, respostas milagrosas, cobrando caro por isso.
Para começo de conversa, o espiritismo não diz nada sobre as questões acima. Quem diz são espíritas que, baseados em suas ideologias (eu também tenho as minhas) e visões de mundo, interpretam, na maioria das vezes, de maneira bem catastrófica, punitivista e sensacionalista.
Como diz Paulo Freire: “Não existe imparcialidade. Todos são orientados por uma base ideológica. A questão é: sua base ideológica é inclusiva ou excludente?”
Por que devemos terceirizar nossas opiniões, nossos valores e nossa capacidade de julgamento?
O espiritismo não acredita em gurus, escolhidos, profetas, pelo contrário, nos incentiva, constantemente, a uma fé racional e ao estudo constante.
Espírita nenhum, que estuda e pratica os ensinamentos dos espíritos, acredita em profecias, psicografias proféticas e mensagens aterrorizantes. Nós não somos uma “experiência” de Deus, tampouco, suas marionetes.
Indagados sobre isso, os espíritos responderam à Kardec:
“Devem, além disso, considerar-se suspeitas, logo à primeira vista, as predições com época determinada, assim como todas as indicações precisas, relativas a interesses materiais.”
Os espíritas não sabem todas as coisas, muito menos os espíritos. Os espíritos são as almas dos seres humanos que já perderam o corpo físico. A exemplo do que observamos na humanidade encarnada, o conhecimento que eles têm é correspondente ao seu grau de adiantamento moral e intelectual. A morte é uma passagem para a vida espiritual e não dá valores morais ou de inteligência a quem não os tem.
Para o espiritismo, a evolução envolve aspectos distintos e plurais, com infinitas trajetórias possíveis. Não é um processo linear, não há um caminho certo. A evolução não é apenas individual, mas do grupo de pessoas, encarnadas e desencarnadas, ao qual se está ligado. Evoluir implica em mudar a mentalidade e a massa crítica do grupo social.
Segundo os ensinamentos dos espíritos, evoluir significa modificarmos alguns comportamentos, por meio das sucessivas experiências (e vidas), ultrapassando limites pessoais, desenvolvendo potencialidades e ampliando a nossa capacidade de fazermos para os outros aquilo que gostaríamos que os outros nos fizessem. Jesus é o nosso modelo e guia.
O espiritismo não faz milagres, nem prodígios. Propicia aos seres humanos o conhecimento de algumas leis espirituais, também leis da natureza, causadoras de muitos fatos, considerados extraordinários, apenas por desconhecimento de sua origem. Ensina o ser humano a usar esses conhecimentos no exercício da sua transformação moral, por meio de um entendimento melhor dos ensinos de Jesus.
Percebam que temos muito trabalho pela frente, dentro e fora do movimento espírita: disputando narrativas, denunciando abusos cometidos por representantes espíritas, eliminando velhos paradigmas, construindo pontes em vez de muros, ensinando, didaticamente, conceitos de bem viver e justiça social e, sobretudo, resgatando os preceitos de amor e diálogo de Kardec, esquecidos pelos pseudomédiuns midiáticos, pelos dirigentes fanáticos e pelos expositores ensimesmados.
Por Franklin Félix para o Blogue “Diálogos da fé” da CartaCapital
Compartilhado no Facebook em 04 de agosto de 2020.
O bolsoespiritismo é vergonhoso e deixará profundas marcas na história do movimento espírita
Um famoso ator global, muito ligado ao movimento espírita conservador e reacionário, manifestou, mais uma vez, suas dificuldades morais e cognitivas em episódio recente e já bem conhecido da campanha do dia dos pais duma grande empresa de cosméticos.
A celebridade bolsoespírita –que agora se diz arrependida e contrária ao miliciano genocida que ajudou a eleger– disse: “é o dia dos pais, não o dia das trans”[1]. E não se limitou a isso. Quis também dar um ar intelectualizado às suas toscas e insensatas colocações, tentando teorizar sobre a “Escola de Frankfurt”[2]:
“Como todo comunista eles não tinham pressa: a ideia era criar uma série de movimentos ou ativismos, que ‘comessem’ as democracias por dentro, com a gradual erosão de seus valores.
Uma dessas propostas era a pasteurização das identidades de gênero, a destruição da família tradicional, pedra angular do Manifesto Comunista, a estigmatização da religião, resultando daí, por corolário, a destruição do sistema capitalista.
Os vários ativismos, a transsexualização como dado ‘moderno’ de comportamento sexual, a criação das ‘novas famílias’ em substituição da família ‘careta’; a divisão da sociedade em oposições radicais e antagônicas, e, lastbutnotlast, a diminuição da população através da assexualização da juventude.”
Sim, essas tolices infundadas –porque mostram completo desconhecimento da “Escola de Frankfurt”– e preconceituosas –porque se alinham ao que de pior existe na sociedade humana, como os asquerosos pastores televisivos– expõem de forma cabal a afronta a todas as propostas de amor, respeito e acolhimento das obras kardecistas e dos ensinos de Jesus contidos nos textos evangélicos.
Não se pretende aqui, a partir desse fato singular que foi a citada campanha do dia dos pais, ovacionar ou apoiar tal ou qual empresa, pois se sabe bem que todas elas usam esse tipo de posicionamento exclusivamente para conquistar mais mercado e ampliar seu lucro a partir da exploração dos trabalhadores, todos os trabalhadores: sejam heterossexuais, LGBTs, homens, mulheres, negros, brancos, índios etc. No sistema capitalista, nenhum detentor dos meios de produção age para beneficiar a sociedade e todas as suas medidas e campanhas visam a ampliar o estoque do capital em cima dos ombros suados e cansados dos trabalhadores, até que se esgotem e sejam substituídos.
O destaque dado aqui, portanto, é o do alinhamento do bolsoespiritismo ao que há de mais reacionário, conservador e hipócrita na sociedade brasileira, mostrando que, talvez, o movimento espírita ainda não tenha chegado ao fundo do poço moral, apesar dos contundentes esforços dos seus muitos representantes, como médiuns, dirigentes e palestrantes, além, claro, de celebridades globais.
Todas as famílias, sejam de qual tipo for, devem ser respeitadas e acolhidas. Ser pai ou mãe significa algo muito além do que a mera contingência da presença de determinado sexo biológico no corpo, pois hoje se tem conhecimento da complexidade que envolve as questões de gênero, que não se resumem à fisiologia e se estendem por diversos outros campos do conhecimento humano.
O movimento espírita precisa urgentemente promover esse tipo de debate dentro de suas instituições. É preciso quebrar essa postura retrógrada que ainda insiste em sujar as propostas espíritas com esse bolorento discurso de ódio conservador.
Publicado no Facebook em 02 de agosto de 2019.
Ref.:
[1] https://www.tvprime.com.br/…/ator-carlos-vereza-solta-o…
[2] https://www.facebook.com/carlos.vereza.33/posts/1028179914264482
Esquerda e fundamentalismo
As esquerdas e seus fundamentalismos passionais são, por vezes, cansativos e deprimentes.
A página “Espíritas à esquerda” já foi acusada de ser “cirista” ou de ser “esquerda cirandeira” quando fez críticas ao PT e ao Lula. Já foi acusada de ser “lulopetista” quando fez críticas a Ciro Gomes e ao seu PDT. Já foi acusada de ser “reacionária” quando fez críticas ao movimento identitário descolado da luta de classes. E agora, surpreendentemente –ou não!–, é acusada de ser “fascista” e “lulopetista” (de novo?) porque pede às esquerdas atenção às posições políticas de… Felipe Neto, aquele que disse estar entre Ciro e Amoêdo.
Seria apenas engraçado se não fosse trágico, porque revela um fundamentalismo passional incompatível com as posições racionais que se esperam de quem se diz de esquerda.
Enfim, é vida que segue. E, à revelia das crises e dos melindres de quem quer que seja –lulopetistas, psolistas, ciristas e até mesmo “filipistas”–, a página continuará a se posicionar sempre criticamente em relação a fatos, personalidades, partidos e acontecimentos que tenham impactos políticos.
Não há aqui nenhum –absolutamente nenhum!– compromisso com partidos ou figurões das esquerdas. O compromisso da página é com a ideia de transformação da sociedade desigual em que se vive no Brasil, portanto, discute-se, critica-se e posiciona-se com a total liberdade que se espera num espaço autenticamente de esquerda.
Publicado no Facebook em 01 de agosto de 2019.
Um país virando pó
Onde houver alguma demanda, aí estará o deus-mercado, com sua mão bem visível, a suprir tais necessidades. E da oportunidade de mercado retirará todo o lucro possível, explorando os recursos humanos e naturais que atendam ao seu único objetivo.
Não é diferente com o mercado de drogas. Como há demanda, e muita, certamente o dono do negócio, aquele que detém os meios de produção necessários à sua viabilidade econômica, não é o favelado, não é o jovem negro da comunidade, pois esse é apenas mais um explorado ao limite da liberdade ou da morte para azeitar a engrenagem de tão rico e lucrativo mercado.
É assim que funciona o capitalismo. E enquanto a polícia ataca e mata o “pequeno-burguês” do mercado das drogas, o pequeno traficante das quebradas, o lucro, os grandes investimentos, o mercado, enfim, está nas mãos dos grandes produtores e comerciantes, que se vestem bem, têm carros e propriedades caros e usam de meios inusitados para fazer prosperar seu mercado ilegal, inclusive aviões presidenciais, desde que seus ocupantes sejam, por exemplo, milicianos bem conhecidos.
Enquanto a riqueza de tão lucrativo mercado enche as burras dos engravatados, os demais sofrem a repressão inclemente do aparelho estatal apropriado, garantindo assim que os lucros continuem nas mãos dos mesmos engravatados de sempre. Ou seja, a polícia é parte da engrenagem desse narcomercado.
E o que se vê nesse (des)governo, a partir da denúncia vergonhosa do uso do avião presidencial para o tráfico internacional de drogas, é a confirmação daquilo que dele já se esperava, afinal, uma equipe montada a partir de amigos e comparsas ligados às milícias fluminenses não se poderia mesmo ter outro resultado. Mas também evidencia ao povo brasileiro que o crime organizado se instalou definitivamente na cúpula do governo federal.
Nosso país está-se esfarelando em pó…
Publicado no Facebook 26 de junho de 2019.
Do primarismo à esperança
O presente momento nos conclama a afiar os olhares, porque é hora de colocar em prática as teorias assimiladas no Evangelho, e ter olhos de ver.
O globo oscila entre erros e acertos, deixando legados de ensinamentos a partir dos resultados palpáveis das escolhas humanas, entre o bem e o mal existem inúmeras variáveis; chamemos consequências, descobertas, aprendizados, e percebamos a evolução buscando a humanidade nestes ciclos históricos, ou seja, a divindade está aqui, mas nem sempre temos visto dessa forma.
Vendo este Brasil que se desnuda primário, recuperemos a trajetória interrompida para valorizarmos ainda mais os acertos, em benefício irrestrito à vida.
Não é possível falar em caminhada evolutiva no mundo material sem levar em conta os aspectos políticos dessa movimentação sociológica, antropológica, econômica, científica, espiritual.
De território colonizado a país civilizado, sofre o Brasil grandes assédios morais oriundos das marcas de predação profundamente retalhadas na representação psicossocial de sua construção formal. Mas a vontade do seu povo é elemento decisivo no avanço ou no retrocesso das mentalidades.
Quando Luís Inácio da Silva vestiu a pobreza de esperança, houve rugir de dentes nas profundezas dos oligopólios e as potestades se aproximaram para interferir, usando para isso forças armazenadas nas estruturas. Um único homem não poderia governar um país e modificá-lo na raiz secular, mas teve determinação suficiente para possibilitar a um povo, ascensão intelectual, que por mínima que possa ter sido, moveu placas internas nas bases do inconsciente coletivo.
Houve um tempo, e eu vivi para escrever sobre ele como testemunha, no qual o povo brasileiro não resumia sua vida e sua energia apenas à manutenção das necessidades primárias.
Este passo é demasiado significativo no resumo cultural e vibracional de um povo. Esta brecha de iluminação político-cultural permitiu que olhássemos com atenção especial para as mazelas históricas, e cuidássemos não apenas de aplacar as feridas abertas, mas evitar abrir feridas novas.
Os direitos humanos se tornaram respeitados. Chegando, inclusive, muito perto de possuir peso legítimo nos processos sociais complexos, merecendo investimentos públicos e incentivos. Neste desenrolar, minorias cresceram a representatividade e as energias contrárias a este perfil evolutivo articularam o retorno ao cenário condutor, utilizando os instrumentos que há cinco séculos aprenderam a manejar, coagindo e usurpando.
Eis que a base esteve mal alimentada, e o maná do conhecimento não saciou a contento as fomes ontológicas. As referências mais fortes ainda são as mais violentas. Os condutores do atraso sabem reabrir feridas identitárias e plantar medo, porque dominam as técnicas do obscurantismo, fanatismo e servilismo.
Queda política. Voltamos a acender o fogo a lenha e lamentar. Mas já não somos o mesmo povo de antes. Aquelas placas remexidas não voltarão ao lugar superado e a sede de futuro impulsionará uma movimentação mais firme, e o que não é possível prever com segurança ainda é a capacidade de retrocesso dos que estão no poder formal, pois são afeitos ao uso de recursos sanguinários e talvez, por isso, seja tempo de olharmos com mais intensidade para os caminhos passados, identificando os acertos entre os muitos erros.
A esperança ainda mora no Brasil.
Coluna Sociologia espírita por Ana Claudia Laurindo
Leia a coluna anterior clicando aqui.
Publicado no Facebook em 23 de junho de 2019.
Religião também é política
Sim, “religião também é política”. E deixamos aqui essa reflexão feita por Sheila Walker e Chucho Garcia em entrevista ao jornal quando do “1º Encontro de Povos de Terreiros Ègbé – eu e o outro”, realizado nos dias 15 e 16 de junho, em Belo Horizonte, MG.
E fica a dica para os muitos que vêm à nossa página dizer que religião e política não se misturam ou, particularizando, que não deveríamos misturar o espiritismo à política.
Para nós, da página, e que isso fique BEM claro, não há como dissociar o espiritismo da realidade social em que vivemos, portanto, espiritismo É política na sua essência, espiritismo e política são indissociáveis. E mais, aqueles que pretendem pregar um suposto espiritismo apolítico fazem justamente a política sem consciência, sem buscar a reflexão sobre a realidade, portanto é a pior política possível para as pessoas trabalhadoras que sofrem a realidade da exploração cotidiana de seu suor e de sua alma.
Somos seres integrais e não há como pensar um espiritismo inócuo, apolítico e insosso. Espiritismo é para seres humanos, para trabalhadores, mulheres, pobres, homens, negros, LGBTs, índios, sem-teto, sem-terra, enfim, para os que vivem no mundo real, sofrem e precisam de consciência, organização e consolo.
Para nós, não há como ser diferente disso.
Texto do Portal Geledés.
Publicado no Facebook em 30 de junho de 2019.
Breve recorte sociopolítico
40 anos da morte de J. Herculano Pires. Para Herculano Pires, “o espírita tem, como cidadão, o direito e o dever de intervir na vida civil do seu país, de participar dos pleitos eleitorais, tanto votando como sendo votado.” E “criaríamos uma ilusão antiespírita se acreditássemos na possibilidade dessa abstenção política alvitrada por alguns confrades em diversas ocasiões.”
Ele lembra a imagem do rev. Stanley Jones, em Cristo e o Comunismo, de que o marxismo é o chicote do templo para expulsar os vendilhões. Mas que pode a humanidade torná-lo dispensável, bem como a qualquer corrente esquerdista revolucionária, se optar pelo caminho da espiritualidade, ou seja, se se afastar do “individualismo capitalista, que a tudo corrompe e desvirtua”.
Propõe Herculano o que chamou “movimento do Reino”. Uma resposta à situação incômoda vivida, segundo ele, pelo verdadeiro espírita em face das influências perigosas exercidas pela política e pelos partidos sobre espíritas e suas associações; uma solução intermediária entre dois extremos: transformar o movimento espírita em partido político, ou fundar um movimento político que arregimenta espíritas enquanto está à margem do espiritismo.
Este movimento do Reino, sem ser necessariamente integrado apenas por espíritas, mas por indivíduos com filiação política ou não, se constituiria por todos que aceitassem seus “objetivos sociais”, sua “reivindicação social e moral, com vistas ao estabelecimento de uma ordem mundial baseada na justiça, no equilíbrio, na fraternidade e no entendimento.”
Segundo Herculano, “teria de ser um movimento socializante, contrário ao individualismo capitalista”, e que “poderia começar pelo estabelecimento de um sistema cooperativista de natureza cristã, cujas unidades seriam as pedras fundamentais da nova ordem econômica.”
Se, por um lado, tornar o espiritismo uma derivação política de si mesmo embaraçaria ou prejudicaria de vez a execução de sua tarefa divina de trabalhar o coração dos homens, por outro, a dispersão dos espíritas pelos vários partidos políticos equivale, para Herculano, a uma demonstração de incoerência, de uma falta de objetivo político e social na própria doutrina espírita, que o têm.
Portanto, Herculano Pires propõe um caminho que, se bem refratário às manipulações demagógico-partidaristas de direita e de esquerda, faz questão de se afirmar socializante e contra o individualismo capitalista, que a tudo corrompe e desvirtua; caminho que, visando atingir uma nova ordem econômica mundial mediante um sistema cooperativista (e cristão), decerto já não aceita a denominação de capitalismo.
Utopia? Bem… Isso caberia numa longa conversa, que eu adoraria ter com Herculano, regada a café.
(Cf. PIRES, Herculano J. O Sentido da Vida. In: Sociologia espírita, pp. 73/81. São Paulo: Paidéia, 2005.)
Por Sergio Aleixo em 09 de março de 2019.
Que faremos agora, Brasil?
“Mas é infâmia demais… Da etérea plaga Levantai-vos, heróis do Novo Mundo!”
Quando vi Caetano num vídeo feito no México, pálido e trêmulo, pedindo para que se tomassem providências para proteger os Wajãpis no Amapá, que estavam sendo atacados… vi que não podia falar de amenidades, hoje, nessa coluna. Aliás, não temos podido mais falar de amenidades, e eu não tenho me eximido de tocar nas feridas abertas. Qualquer pessoa que tenha a oportunidade e a força de escrever, de falar, de gritar, seja na rua, no Face, no Twiter, num blog ou meramente para os amigos, não pode se calar, não pode se isentar diante das calamidades a que estamos assistindo todos os dias.
As facadas que mataram o cacique dos Wajãpis são as mesmas que cortam a floresta. São parentes dos tiros que mataram Marielle, que teria feito 40 anos na semana passada. As facadas estão nas palavras do presidente (sic) que ameaçam um jornalista que está fazendo seu trabalho e mostrando ao mundo a sujeira do judiciário. As facadas não são as que ele supostamente levou, as que o livraram dos debates, as que não o fizeram sangrar e dadas por alguém que já está solto.
As facadas são as que sentimos todos os dias no peito, quando lemos sobre o desmonte do país, quando vemos que há um mês estão presos em São Paulo, por prisão política, Preta Ferreira e companheiros, por lutarem por um teto pelos sem teto…, quando lembramos de Lula preso no frio de Curitiba, quando está público e notório que sua condenação foi fruto de um ato inquisitorial.
[…]
Facadas são as que se afundam em nosso coração, ao vermos a ciência, as universidades, as artes, todo nosso patrimônio cultural, tão duramente construído, estar na mira de terraplanistas, que votam na ONU junto com as ditaduras mais retrógradas do planeta.
Estamos assistindo a um projeto de terra arrasada e a impotência dos que têm lucidez para enxergar isso está levando muito gente à desesperança, ao desespero, à depressão. Sou diariamente procurada por gente, que conheço ou não, para o desabafo do total desencantamento.
Pois aqui evoco Kardec, uma das minhas inspirações. No Livro dos Espíritos, há uma pergunta e uma resposta que se adequam muito bem ao momento presente:
– Por que no mundo, os maus exercem maior influência do que os bons?
– Pela fraqueza dos bons. Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos; quando quiserem, terão a preponderância.
Onde estão os brasileiros solidários, os humanistas, os que acreditam que é preciso respeitar a vida, praticar a justiça imparcial e diminuir a miséria, a violência e, acima de tudo, preservar o Brasil como nação soberana e unida? Estão intimidados, paralisados, atônitos? Por que não se faz uma grande frente democrática nacional, unindo políticos suprapartidariamente, artistas, intelectuais, juristas, movimentos sociais, religiosos progressistas e também militares que ainda tenham um pouco de amor à pátria, e se organiza uma resistência contra a barbárie? As diferenças agora não importam. O passado de dissenções agora não importa. É preciso uma ação emergencial, para nos deter à beira do abismo.
Mas para todos nós no dia a dia da desesperança, o que nos cabe fazer? A resistência diária é nos solidarizarmos mutuamente, trabalhar nas bases para socorrer, consolar, ajudar. Não desistirmos da música, da poesia, da arte, da prece, do amor e da companhia das pessoas que nos fazem bem. Porque precisamos reunir forças, permanecermos saudáveis psiquicamente, até que a tempestade passe e enxerguemos a luz no final de não sei quantos anos.”
Por Dora Incontri para o Jornal GGN em 29 de julho de 2019.
O Jornal De Todos os Brasis – O Jornalista Luís Nassif lidera equipe Do Jornal GGN.
Publicado no Facebook em 31 de julho de 2019.