Uma aula de racismo estrutural

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Juíza declara em sentença que homem negro é criminoso ”em razão da sua raça” – (foto: Reprodução)
Uma juíza da Primeira Vara Criminal de Curitiba (PR), Inês MarchalekZarpelon, afirmou em sua sentença: “Sobre sua conduta social nada se sabe. Seguramente integrante do grupo criminoso, em razão da sua raça, agia de forma extremamente discreta […]” Sim, é isso mesmo que você leu, como se pode verificar na imagem fac-similar da postagem. É o exemplo escancarado daquilo que se chama racismo estrutural. Esse tipo de racismo vai bem além das ofensas racistas proferidas pela dondoca ao porteiro do prédio ou pelo mauricinho do bairro nobre ao entregador. Ele é mais cruel e mais sub-reptício, porque se apresenta por meio das estruturas e instituições privadas e públicas que impedem o acesso de negras e negros aos serviços oferecidos à sociedade em geral. Sua manifestação vem por meio duma justiça que não se envergonha de criminalizar alguém apenas por conta da sua cor da pele; duma polícia que insiste em matar deliberadamente e preferencialmente pretas e pretos das comunidades periféricas das grandes cidades brasileiras; dum sistema produtivo que impede a justa remuneração e a ascensão dos que não são fenotipicamente parecidos com a elite deslumbrada e criminosa; duma educação que insiste em minorar o papel dos negros na formação da economia e da cultura nacional; dum sistema de saúde que não se importa em deixar negros morrerem nas filas de atendimento ou nos corredores hospitalares; enfim, vem por meio dum estado que não se esforça em superar esses problemas históricos e crônicos. A punição a essa juíza de nome complicado, que ilustra sua origem elitista e provavelmente sem referências populares da realidade brasileira, deve ser exemplar. Caso contrário, o racismo estrutural, apesar de real, estará legitimado pelo poder judiciário nacional. Aliás, enquanto juízes, procuradores e demais operadores do direito forem esses representantes dessa elite rapace, com seu nomes estranhos e impronunciáveis, o Brasil dos vieiras, silvas, pereiras, santos e silveiras será sempre a vítima dessa estranha gente completamente alienada da realidade que a envolve. Clique aqui para ler a notícia. Publicado no Facebook em 12 de agosto de 2020.

Da necessidade de um novo movimento espírita

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Imagina então para os espíritas, de forma geral, que viveram para ver que aquela figura que parecia tão simpática na casa espírita, que dava passes de olhinhos fechados e conversava com os “irmãozinhos infelizes” na mediúnica enaltece a tortura, faz “arminha” com as mãos, difunde mentiras e preconceitos na internet e apoia o crime organizado. Um horror, um horror. Por isso que esse movimento espírita fascista e reacionário já deu o que tinha para dar. Essas instituições faliram em suas propostas originais e tornaram-se apenas um arremedo daquilo que ensina o espiritismo. E um novo movimento surge, vigoroso e pujante, para buscar propagar valores de fraternidade e justiça social propostos pelos ensinos de Jesus e dos espíritos que auxiliaram Kardec. É o processo dialético da vida e das relações humanas: a velha estrutura precisa ruir com seus problemas e incoerências e dela, então, surgir uma nova realidade. Publicado no Facebook em 11 de agosto de 2020  

Permitido usar shortinho

Coluna Feminismos, por Elizabeth Hernandes

Espíritas à Esquerda é um dos muitos coletivos que ora estão propondo uma renovação no movimento espírita. Dentre os pontos a serem revistos, está o modo como o movimento tradicional trata a condição dos espíritos encarnados como mulheres.

Foto: Acervo pessoal

No espiritismo tradicional, a mulher é sempre CIS, no sentido “senso comum” citado por Joana Burigo[1]: “confortable in skin”, traduzido livremente como “confortável na própria pele”. Mas a história é longa e apenas esse termo já rende muita discussão. Segundo Burigo, o “cis” dos estudos de gênero não vem do acrônimo de uma expressão coloquial e sim do prefixo latino que significa “do mesmo lado”, sendo usado em outras esferas da linguagem e não apenas no contexto dos estudos de gênero.

Segundo se percebe nos textos e ações do espiritismo tradicional, uma mulher, além de ter pele de mulher e, supostamente, estar confortável nesta, também deve atender a certos pré-requisitos. A ela é solicitado, por gentileza, que seja esteio –moral, emocional, econômico e quantos esteios se façam necessários– do lar, do ambiente de trabalho, do centro espírita, do condomínio, da comunidade etc. Melhor ainda que seja a imagem da renúncia e do trabalho incansável, preferencialmente não remunerado. Que seja uma personagem abnegada, caridosa, modesta, recatada e silenciosa. A recompensa virá no futuro.

Ocorre que os espíritos encarnam e reencarnam na condição de mulher e parece que essas recompensas nunca chegam ou que o mérito nunca é suficiente. Seria a promessa do Reino válida apenas para quem reencarna no gênero masculino?

Esta coluna vai tratar de assuntos relacionados ao feminismo e ao feminino, na acepção construída por Márcia Tiburi[2]: “O que eu chamo de feminino? A construção dos ideais da masculinidade que pesam sobre as mulheres: maternidade, sensualidade, formas corporais, gênero, gestos, papéis. Eu penso a teoria feminista como um gesto feminista de desconstrução que tem que passar pela desconstrução do feminino. A liberdade real das mulheres –travestis, transhomens e todo mundo– surge desse processo. Por que as pessoas precisam ser femininas? Não precisam. Mas ‘quem’ precisa que outra pessoa seja feminina??? Esta é uma pergunta melhor… Já o feminismo, eu o defendo sempre. E assumo o meu como um desejo de dialogar com o mundo em defesa da singularidade de cada pessoa, no qual estejam inclusas mulheres em sua pluralidade radical.”

É isso. Essa coluna terá como objetivo apresentar artigos, crônicas, poesias, reflexões, questionamentos, entrevistas e o que mais for possível sobre “defesa da singularidade de cada pessoa, no qual estejam inclusas mulheres em sua pluralidade radical.”[2]

Será editada por uma especialista em ser mulher, que se esforça em permanecer do próprio lado.

A ideia surgiu de uma discussão no Coletivo Nacional Espíritas à Esquerda (e como se discute, em coletivo, né?). Entretanto, a pessoa convidada para editar a coluna (esta que ora vos escreve) não tem tempo para abraçar mais uma tarefa. Alguma mulher se identifica com isso?

Ocorre que as questões femininas são tão urgentes e diárias que… a coluna surge assim mesmo, sem tempo. E a urgência do momento foi ditada pela notícia acerca de um “Conselho de Mulheres” de um condomínio de bairro de classe média, em Brasília. Esse “Conselho” enviou correspondência a uma moradora, com uma “solicitação de vestuário apropriado”. O texto pede que a moça não use “vestes que não sejam bermudas ou roupas mais adequadas”. A justificativa é que a vizinha estava fazendo os casais se sentirem constrangidos.[3]

Esta notícia é um berro sobre a necessidade de estudarmos, discutirmos e praticarmos o feminismo.

Talvez alguém proponha uma passeata em frente ao prédio, com muitas mulheres usando shortinho. Talvez haja reações agressivas ou de apoio. O modo de agir dos Espíritas à Esquerda é sempre na linha do mestre Paulo Freire[4] e pode ser passeata quando for possível e decidido coletivamente. As mulheres desse tal “Conselho”, que se arrogam o direito de determinar como uma “outra” mulher deve-se vestir, precisam ser defendidas delas mesmas, em primeiro lugar e a melhor defesa é… estudo, reflexão, diálogo (dialética também, mas isso fica pra outro dia, quem sabe). Então nasce essa coluna: Permitido Usar Shortinho.

É necessário defender as mulheres que usam shortinhos e também as que não usam, pelo menos de dois em dois minutos, tempo médio de registro de agressões que se enquadram na Lei Maria da Penha[5].

Notas.

[1] https://www.cartacapital.com.br/…/mulher-cis-e-a…/

[2] https://revistacult.uol.com.br/…/diferenca-entre…/

[3] https://g1.globo.com/…/vizinhas-mandam-mensagem-para…

[4] https://portalperiodicos.unoesc.edu.br/…/art…/view/10398

[5] https://dossies.agenciapatriciagalvao.org.br/violencia…/

Teocracia Fundamentalista Evangélica do Brasil

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Sejam todos bem-vindos(?) ao novo Brasil do fundamentalismo mais abjeto e asqueroso. Um novo país onde a mãe perde a guarda da filha adolescente porque a iniciou em seu credo, no candomblé. Um novo país onde os conselhos tutelares foram tomados por fundamentalistas e extremistas teocráticos que odeiam outros credos e lutam abertamente contra eles. Um novo país onde a justiça acata pedidos absurdos mas que se adequam aos seus preceitos nada republicanos.
Esse é o novo Brasil, da teocracia Fundamentalista Evangélica
Agora, a luta dessa gente cheia de ódio e preconceito que se infiltrou e tomou as entranhas do estado brasileiro é contra o candomblé e credos similares. Mas não se enganem, em breve será contra as instituições espíritas e suas atividades mediúnicas. E depois contra católicos e outros cristãos não pentecostais. Quando a sociedade perceber, não existirá mais estado laico e a liberdade religiosa passará a ser definitivamente uma lenda e um sonho… A notícia está disponível em: https://noticias.uol.com.br/…/mae-perde-guarda-da-filha… Publicado no Facebook em 07 de agosto de 2020.

Em torno de um “Espiritismo da Libertação”

Gostaria de frisar as enormes “afinidades eletivas” entre a Teologia da Libertação (entendida como momento reflexivo do Cristianismo de Libertação) e a compreensão do cristianismo abraçada, de um modo ou de outro, por um espiritismo progressista. Poder-se-ia dizer que ambos –a Teologia da Libertação e o Espiritismo Progressista– apostam numa construção societária inspirada na ética comunista do cristianismo primitivo, tal como descrito, por exemplo, nos Atos (2:44-45): “Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um.” Por outro lado, é inspirador para os espíritas progressistas acusar nos escritos dos teólogos da libertação e na prática das comunidades eclesiais de base, uma compreensão da vivência da espiritualidade como necessariamente relacionada à transformação do “pecado estrutural” do capitalismo, produtor de injustiças sociais (lembrando que disso derivaram, por exemplo, o MST e o PT). Eis o horizonte inspirador de um espiritismo que se quer progressista e, nisso, assume como tarefa buscar um modo de relacionamento mutuamente emancipador com as camadas populares de trabalhadores e trabalhadoras, superando o já tão criticado “assistencialismo” do movimento espírita tradicional e mesmo seu elitismo cultural. Enfim, por aí vai-se longe. Mas por último gostaria de frisar outro ponto importante: é que o espírito ecumênico que vigora no Cristianismo de Libertação deve contar com a participação cada vez mais decidida do contingente espírita, pois parece que, assim como aposta Leonardo Boff, Kardec e outros, a via da religião do futuro será o ecumenismo e, nisso, a presença do espiritismo prestaria um contributo fundamental ao mesmo passo que, dialogicamente, se enriqueceria com a experiência das outras denominações cristãs, todas ativamente engajadas na produção de uma sociedade de justiça, pós-capitalista. Assim sendo, sem querer apostar muito ou lutar por conceitos, mas gostando de fazê-lo em nome mesmo da festa criadora da escrita, pode-se despontar um “Espiritismo da Libertação”, fruto dessa lufada de ares novos hoje possível graças à des-graça da situação sociopolítica brasileira (e mundial!) em que caímos nos últimos anos. Por Tovar Júnior Publicado no Facebook em 05 de agosto de 2020

Os espíritas não têm – e nem precisam ter – respostas sobre tudo

Por que devemos terceirizar nossas opiniões, nossos valores e nossa capacidade de julgamento? “Guardai-vos dos falsos profetas que vêm ter convosco cobertos de peles de ovelha e por dentro são lobos. Conhecê-los-ei pelos seus frutos.” Mateus, cap. VII. vv. 15 a 20 “O que o espiritismo diz sobre o novo coronavírus?”, “o que o espiritismo pensa sobre queda de avião?”, “o que o espiritismo afirma sobre crianças índigos?”, “como o espiritismo interpreta os tsunâmis?”, “o que o espiritismo fala sobre política?”, “previsões espíritas sobre 2020”, “como o espiritismo vê os LGBTs?”. Não é incomum ver –com muita tristeza– afirmações para esse tipo de perguntas, do tipo: “quem está morrendo de coronavírus é por que não está vibrando no amor”, “morreu todos juntos no avião por que os irmãozinhos eram romanos que jogavam cristãos na fogueira e estavam resgatando coletivamente um débito de vida passada” ou “LGBTs estão pagando débitos de vidas anteriores”. Com a crueldade de corações bem distantes das vivências do evangelho de Jesus e com a profundidade de um pires, negando todo o rigor metodológico de Kardec, esses são apenas alguns dos exemplos de textos, vídeos no Youtube, palestras e mais uma porção de convites à desinformação (fakenews) que alguns espiritas andam divulgando. Enquanto escrevia esse artigo, chegou mais uma dessas tristes pérolas. Perguntado sobre corrupção e política, um famoso palestrante espírita e que, por coincidência, também é juiz, tergiversou, enrolou e se manteve em cima do muro, local confortável para alguns desses famosos. Ora, qualquer cidadão (e não precisa ser religioso, as vezes é até melhor que não seja), com o mínimo de senso ético, será contra qualquer tipo de corrupção dentro ou fora da política, inclusive aquela diária, travestida de “jeitinho brasileiro”, como furar fila, estacionar em local proibido ou mesmo, usurpando a fé e a fragilidade das pessoas, oferecer palestras, workshops, treinamentos, respostas milagrosas, cobrando caro por isso. Para começo de conversa, o espiritismo não diz nada sobre as questões acima. Quem diz são espíritas que, baseados em suas ideologias (eu também tenho as minhas) e visões de mundo, interpretam, na maioria das vezes, de maneira bem catastrófica, punitivista e sensacionalista. Como diz Paulo Freire: “Não existe imparcialidade. Todos são orientados por uma base ideológica. A questão é: sua base ideológica é inclusiva ou excludente?” Por que devemos terceirizar nossas opiniões, nossos valores e nossa capacidade de julgamento?
Os espíritas não sabem todas as coisas, muito menos os espíritos. Os espíritos são as almas dos seres humanos que já perderam o corpo físico.
O espiritismo não acredita em gurus, escolhidos, profetas, pelo contrário, nos incentiva, constantemente, a uma fé racional e ao estudo constante. Espírita nenhum, que estuda e pratica os ensinamentos dos espíritos, acredita em profecias, psicografias proféticas e mensagens aterrorizantes. Nós não somos uma “experiência” de Deus, tampouco, suas marionetes. Indagados sobre isso, os espíritos responderam à Kardec: “Devem, além disso, considerar-se suspeitas, logo à primeira vista, as predições com época determinada, assim como todas as indicações precisas, relativas a interesses materiais.” Os espíritas não sabem todas as coisas, muito menos os espíritos. Os espíritos são as almas dos seres humanos que já perderam o corpo físico. A exemplo do que observamos na humanidade encarnada, o conhecimento que eles têm é correspondente ao seu grau de adiantamento moral e intelectual. A morte é uma passagem para a vida espiritual e não dá valores morais ou de inteligência a quem não os tem. Para o espiritismo, a evolução envolve aspectos distintos e plurais, com infinitas trajetórias possíveis. Não é um processo linear, não há um caminho certo. A evolução não é apenas individual, mas do grupo de pessoas, encarnadas e desencarnadas, ao qual se está ligado. Evoluir implica em mudar a mentalidade e a massa crítica do grupo social. Segundo os ensinamentos dos espíritos, evoluir significa modificarmos alguns comportamentos, por meio das sucessivas experiências (e vidas), ultrapassando limites pessoais, desenvolvendo potencialidades e ampliando a nossa capacidade de fazermos para os outros aquilo que gostaríamos que os outros nos fizessem. Jesus é o nosso modelo e guia. O espiritismo não faz milagres, nem prodígios. Propicia aos seres humanos o conhecimento de algumas leis espirituais, também leis da natureza, causadoras de muitos fatos, considerados extraordinários, apenas por desconhecimento de sua origem. Ensina o ser humano a usar esses conhecimentos no exercício da sua transformação moral, por meio de um entendimento melhor dos ensinos de Jesus. Percebam que temos muito trabalho pela frente, dentro e fora do movimento espírita: disputando narrativas, denunciando abusos cometidos por representantes espíritas, eliminando velhos paradigmas, construindo pontes em vez de muros, ensinando, didaticamente, conceitos de bem viver e justiça social e, sobretudo, resgatando os preceitos de amor e diálogo de Kardec, esquecidos pelos pseudomédiuns midiáticos, pelos dirigentes fanáticos e pelos expositores ensimesmados. Por Franklin Félix para o Blogue “Diálogos da fé” da CartaCapital Compartilhado no Facebook em 04 de agosto de 2020.      

O bolsoespiritismo é vergonhoso e deixará profundas marcas na história do movimento espírita

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Um famoso ator global, muito ligado ao movimento espírita conservador e reacionário, manifestou, mais uma vez, suas dificuldades morais e cognitivas em episódio recente e já bem conhecido da campanha do dia dos pais duma grande empresa de cosméticos. A celebridade bolsoespírita –que agora se diz arrependida e contrária ao miliciano genocida que ajudou a eleger– disse: “é o dia dos pais, não o dia das trans”[1]. E não se limitou a isso. Quis também dar um ar intelectualizado às suas toscas e insensatas colocações, tentando teorizar sobre a “Escola de Frankfurt”[2]: “Como todo comunista eles não tinham pressa: a ideia era criar uma série de movimentos ou ativismos, que ‘comessem’ as democracias por dentro, com a gradual erosão de seus valores. Uma dessas propostas era a pasteurização das identidades de gênero, a destruição da família tradicional, pedra angular do Manifesto Comunista, a estigmatização da religião, resultando daí, por corolário, a destruição do sistema capitalista. Os vários ativismos, a transsexualização como dado ‘moderno’ de comportamento sexual, a criação das ‘novas famílias’ em substituição da família ‘careta’; a divisão da sociedade em oposições radicais e antagônicas, e, lastbutnotlast, a diminuição da população através da assexualização da juventude.”
Thammy Miranda e seu filho Bento Ferreira de Miranda, fruto do casamento com Andressa Ferreira
Sim, essas tolices infundadas –porque mostram completo desconhecimento da “Escola de Frankfurt”– e preconceituosas –porque se alinham ao que de pior existe na sociedade humana, como os asquerosos pastores televisivos– expõem de forma cabal a afronta a todas as propostas de amor, respeito e acolhimento das obras kardecistas e dos ensinos de Jesus contidos nos textos evangélicos. Não se pretende aqui, a partir desse fato singular que foi a citada campanha do dia dos pais, ovacionar ou apoiar tal ou qual empresa, pois se sabe bem que todas elas usam esse tipo de posicionamento exclusivamente para conquistar mais mercado e ampliar seu lucro a partir da exploração dos trabalhadores, todos os trabalhadores: sejam heterossexuais, LGBTs, homens, mulheres, negros, brancos, índios etc. No sistema capitalista, nenhum detentor dos meios de produção age para beneficiar a sociedade e todas as suas medidas e campanhas visam a ampliar o estoque do capital em cima dos ombros suados e cansados dos trabalhadores, até que se esgotem e sejam substituídos. O destaque dado aqui, portanto, é o do alinhamento do bolsoespiritismo ao que há de mais reacionário, conservador e hipócrita na sociedade brasileira, mostrando que, talvez, o movimento espírita ainda não tenha chegado ao fundo do poço moral, apesar dos contundentes esforços dos seus muitos representantes, como médiuns, dirigentes e palestrantes, além, claro, de celebridades globais. Todas as famílias, sejam de qual tipo for, devem ser respeitadas e acolhidas. Ser pai ou mãe significa algo muito além do que a mera contingência da presença de determinado sexo biológico no corpo, pois hoje se tem conhecimento da complexidade que envolve as questões de gênero, que não se resumem à fisiologia e se estendem por diversos outros campos do conhecimento humano. O movimento espírita precisa urgentemente promover esse tipo de debate dentro de suas instituições. É preciso quebrar essa postura retrógrada que ainda insiste em sujar as propostas espíritas com esse bolorento discurso de ódio conservador. Publicado no Facebook em 02 de agosto de 2019. Ref.: [1] https://www.tvprime.com.br/…/ator-carlos-vereza-solta-o… [2] https://www.facebook.com/carlos.vereza.33/posts/1028179914264482        

Esquerda e fundamentalismo

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As esquerdas e seus fundamentalismos passionais são, por vezes, cansativos e deprimentes. A página “Espíritas à esquerda” já foi acusada de ser “cirista” ou de ser “esquerda cirandeira” quando fez críticas ao PT e ao Lula. Já foi acusada de ser “lulopetista” quando fez críticas a Ciro Gomes e ao seu PDT. Já foi acusada de ser “reacionária” quando fez críticas ao movimento identitário descolado da luta de classes. E agora, surpreendentemente –ou não!–, é acusada de ser “fascista” e “lulopetista” (de novo?) porque pede às esquerdas atenção às posições políticas de… Felipe Neto, aquele que disse estar entre Ciro e Amoêdo.
Ciro Gomes e a ex Presidenta Dilma Rousseff
Seria apenas engraçado se não fosse trágico, porque revela um fundamentalismo passional incompatível com as posições racionais que se esperam de quem se diz de esquerda. Enfim, é vida que segue. E, à revelia das crises e dos melindres de quem quer que seja –lulopetistas, psolistas, ciristas e até mesmo “filipistas”–, a página continuará a se posicionar sempre criticamente em relação a fatos, personalidades, partidos e acontecimentos que tenham impactos políticos. Não há aqui nenhum –absolutamente nenhum!– compromisso com partidos ou figurões das esquerdas. O compromisso da página é com a ideia de transformação da sociedade desigual em que se vive no Brasil, portanto, discute-se, critica-se e posiciona-se com a total liberdade que se espera num espaço autenticamente de esquerda. Publicado no Facebook em 01 de agosto de 2019.  

Um país virando pó

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Onde houver alguma demanda, aí estará o deus-mercado, com sua mão bem visível, a suprir tais necessidades. E da oportunidade de mercado retirará todo o lucro possível, explorando os recursos humanos e naturais que atendam ao seu único objetivo.
Charge de Ribs.
Não é diferente com o mercado de drogas. Como há demanda, e muita, certamente o dono do negócio, aquele que detém os meios de produção necessários à sua viabilidade econômica, não é o favelado, não é o jovem negro da comunidade, pois esse é apenas mais um explorado ao limite da liberdade ou da morte para azeitar a engrenagem de tão rico e lucrativo mercado. É assim que funciona o capitalismo. E enquanto a polícia ataca e mata o “pequeno-burguês” do mercado das drogas, o pequeno traficante das quebradas, o lucro, os grandes investimentos, o mercado, enfim, está nas mãos dos grandes produtores e comerciantes, que se vestem bem, têm carros e propriedades caros e usam de meios inusitados para fazer prosperar seu mercado ilegal, inclusive aviões presidenciais, desde que seus ocupantes sejam, por exemplo, milicianos bem conhecidos. Enquanto a riqueza de tão lucrativo mercado enche as burras dos engravatados, os demais sofrem a repressão inclemente do aparelho estatal apropriado, garantindo assim que os lucros continuem nas mãos dos mesmos engravatados de sempre. Ou seja, a polícia é parte da engrenagem desse narcomercado. E o que se vê nesse (des)governo, a partir da denúncia vergonhosa do uso do avião presidencial para o tráfico internacional de drogas, é a confirmação daquilo que dele já se esperava, afinal, uma equipe montada a partir de amigos e comparsas ligados às milícias fluminenses não se poderia mesmo ter outro resultado. Mas também evidencia ao povo brasileiro que o crime organizado se instalou definitivamente na cúpula do governo federal. Nosso país está-se esfarelando em pó…   Publicado no Facebook 26 de junho de 2019.

Do primarismo à esperança

O presente momento nos conclama a afiar os olhares, porque é hora de colocar em prática as teorias assimiladas no Evangelho, e ter olhos de ver.
A esperança do Brasil. Foto de Ricardo Stuckert.
O globo oscila entre erros e acertos, deixando legados de ensinamentos a partir dos resultados palpáveis das escolhas humanas, entre o bem e o mal existem inúmeras variáveis; chamemos consequências, descobertas, aprendizados, e percebamos a evolução buscando a humanidade nestes ciclos históricos, ou seja, a divindade está aqui, mas nem sempre temos visto dessa forma. Vendo este Brasil que se desnuda primário, recuperemos a trajetória interrompida para valorizarmos ainda mais os acertos, em benefício irrestrito à vida. Não é possível falar em caminhada evolutiva no mundo material sem levar em conta os aspectos políticos dessa movimentação sociológica, antropológica, econômica, científica, espiritual. De território colonizado a país civilizado, sofre o Brasil grandes assédios morais oriundos das marcas de predação profundamente retalhadas na representação psicossocial de sua construção formal. Mas a vontade do seu povo é elemento decisivo no avanço ou no retrocesso das mentalidades. Quando Luís Inácio da Silva vestiu a pobreza de esperança, houve rugir de dentes nas profundezas dos oligopólios e as potestades se aproximaram para interferir, usando para isso forças armazenadas nas estruturas. Um único homem não poderia governar um país e modificá-lo na raiz secular, mas teve determinação suficiente para possibilitar a um povo, ascensão intelectual, que por mínima que possa ter sido, moveu placas internas nas bases do inconsciente coletivo. Houve um tempo, e eu vivi para escrever sobre ele como testemunha, no qual o povo brasileiro não resumia sua vida e sua energia apenas à manutenção das necessidades primárias. Este passo é demasiado significativo no resumo cultural e vibracional de um povo. Esta brecha de iluminação político-cultural permitiu que olhássemos com atenção especial para as mazelas históricas, e cuidássemos não apenas de aplacar as feridas abertas, mas evitar abrir feridas novas. Os direitos humanos se tornaram respeitados. Chegando, inclusive, muito perto de possuir peso legítimo nos processos sociais complexos, merecendo investimentos públicos e incentivos. Neste desenrolar, minorias cresceram a representatividade e as energias contrárias a este perfil evolutivo articularam o retorno ao cenário condutor, utilizando os instrumentos que há cinco séculos aprenderam a manejar, coagindo e usurpando. Eis que a base esteve mal alimentada, e o maná do conhecimento não saciou a contento as fomes ontológicas. As referências mais fortes ainda são as mais violentas. Os condutores do atraso sabem reabrir feridas identitárias e plantar medo, porque dominam as técnicas do obscurantismo, fanatismo e servilismo. Queda política. Voltamos a acender o fogo a lenha e lamentar. Mas já não somos o mesmo povo de antes. Aquelas placas remexidas não voltarão ao lugar superado e a sede de futuro impulsionará uma movimentação mais firme, e o que não é possível prever com segurança ainda é a capacidade de retrocesso dos que estão no poder formal, pois são afeitos ao uso de recursos sanguinários e talvez, por isso, seja tempo de olharmos com mais intensidade para os caminhos passados, identificando os acertos entre os muitos erros. A esperança ainda mora no Brasil. Coluna Sociologia espírita por Ana Claudia Laurindo Leia a coluna anterior clicando aqui. Publicado no Facebook em 23 de junho de 2019.