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Nós, o lixo marxista
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Kardec: ciência, mediunidade e transformação social
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Kardec: ciência, mediunidade e transformação social
O recém-lançado filme “Kardec: a história por trás do nome” é uma brilhante obra cinematográfica, bastante fiel aos fundamentos do legado do mestre lionês. Um importante interregno da vida do professor Rivail –que passou a adotar o pseudônimo Allan Kardec ao ter conhecimento de uma encarnação anterior como sacerdote druida– é retratado, demonstrando a verve de educador e de intelectual combativo do fundador do espiritismo. Interessante notar que a estreia ocorreu em momento extremamente oportuno da história nacional e mundial. Em um período no qual conservadorismo e reacionarismo campeiam, o filme apresenta com primor o espírito iluminista e científico de Kardec. Coincidentemente, 16 de maio de 2019 foi o dia seguinte às históricas manifestações pela educação em nosso país e o filme inicia justamente apresentando o professor Rivail indignado com os rumos que a educação estava tomando na França, sob o governo de Napoleão III. O espiritismo, diferentemente do que muitos pensam, não se trata de um movimento iniciado por um caráter religioso, mas sim eminentemente científico. O cético Rivail ficou bastante intrigado com os fenômenos das “mesas girantes”, na época bastante comuns nos salões franceses. De início, ele acreditou tratar-se de pura prestidigitação, no entanto, ao investigar com cuidado, percebeu que as mesas, na realidade, eram comandadas por inteligências desencarnadas, mediante o concurso de médiuns. Daí surgiu todo o edifício teórico do espiritismo. O rigor científico de Kardec em suas pesquisas era notável e não deixava espaço para embustes e fanatismos. O culto aos médiuns e as tolas crendices –tão comuns, infelizmente, no movimento espírita brasileiro– não pertenciam ao horizonte do mestre lionês. A comunicação de espíritos por meio de apenas um médium não era suficiente para embasar os avanços teóricos da codificação espírita. Kardec recorria a diversos médiuns, das mais diferentes idades e formações e em localidades distintas, indagando as mesmas questões e obtendo as mesmas respostas e esse era um critério importante, ao lado do cuidado metodológico, para que os textos fossem publicados. Em uma época anterior às descobertas de Freud, Kardec pode, em certa medida, ser considerado uma espécie de precursor da psicanálise, por se dedicar ao estudo de manifestações obtidas de maneira inconsciente. Enquanto a psicanálise limita sua abordagem ao horizonte materialista, a perspectiva espírita avança no estudo das manifestações de inteligências desencarnadas, sem desconsiderar os aspectos psíquicos dos médiuns. Por outro lado, na época, Kardec ainda não dispunha do ferramental teórico da psicanálise, o que, em alguma medida, impossibilitou que ainda maiores avanços fossem obtidos. A partir daí já podemos perceber a fecundidade e a importância fundamental de um diálogo entre espiritismo e psicanálise, o qual, contudo, em geral, é negligenciado. O movimento espírita, cuja maior expansão ocorreu no Brasil, mostrou-se, em larga medida, marcado por atavismos religiosos, por uma veneração aos médiuns, por argumentos de autoridade, e por indivíduos que buscam promoção pessoal às custas do espiritismo, buscando vender uma imagem de “seres espiritualizados” e privilegiados, narrando constante contato com espíritos superiores, satisfazendo, dessa maneira, o próprio orgulho ao se sentirem superiores aos demais. Há ainda aqueles que procuram vantagens de ordem material, disfarçados de beneméritos, de médiuns ou de intelectuais, vivendo às custas do espiritismo, mercantilizando a mediunidade e os ensinamentos espíritas. Nesse cenário de horrores, o resgate da cientificidade que sempre pautou as atitudes de Kardec é indispensável. É necessário que o estudo das manifestações espíritas seja feito com rigor e cuidado. O edifício teórico do espiritismo precisa se consolidar e avançar cada vez mais, tanto em seu aspecto científico quanto filosófico, pois, como dizia Kardec, “fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão face a face, em todas as épocas da humanidade”. A transformação social é um horizonte que igualmente deve pautar os caminhos do espiritismo, haja vista que os incômodos diante das desigualdades e das injustiças sociais estiveram presentes no pensamento espírita desde sua origem. O filme é muito feliz ao mostrar a preocupação social de Kardec. Contemporâneo de Karl Marx, o célebre descobridor do materialismo histórico, Rivail descortinou para nós o continente da espiritualidade, demonstrando que, ao lado das determinações materiais, a realidade espiritual também exerce influência considerável nos rumos da humanidade terrena. Espiritismo e marxismo, embora com ferramentas distintas, apontam para o mesmo norte de ruptura com as explorações e opressões que se apresentam em nosso mundo. Há um belo diálogo no filme, no qual uma das jovens médiuns que colaboravam com Kardec lhe diz: “não se pode apagar uma luz que já foi acesa”. Trata-se de uma sublime verdade. Contudo, diante dos rumos que a grande massa dos espíritas tem tomado na atualidade, é forçoso constatar que o combustível dessa luz talvez não tenha condições de vir do movimento espírita, mas de cientistas, filósofos, intelectuais e lutadores das causas sociais tão céticos quanto o professor Rivail… Publicado no Facebook em 24 de maio, 2019. Coluna Espiritismo, filosofia e sociedade por Juliana Paula MagalhãesRazão, emoção, espírito…
Para além do bem e do mal
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Nova ordem espiritual
A página “Espíritas à esquerda” passará a trazer colunas periódicas de opinião de alguns nomes ligados ao espiritismo e à política. Nossa primeira aquisição é Isabel Guimarães, nascida em Itajuípe, na Bahia, formou-se em medicina veterinária pela UFBA e fez especializações em psicologia analítica pela APPJ-SP e em saúde coletiva pela UFBA. É mestre em medicina e saúde pela UFBA e doutora em ciências da saúde também pela UFBA. Terapeuta junguiana, atualmente atende na sua clínica Espaço Ísis, em Salvador. Também atua como palestrante e expositora espírita e tem um programa de rádio na Rádio Farol FM. Foi candidata ao cargo de deputada estadual nas eleições de 2018 pelo PT da Bahia.
Sua coluna de opinião na nossa página se chamará “Dialogando com Isabel Guimarães”. Bem vinda, Isabel.
—————————————————————-Nova ordem espiritual
Nos últimos anos uma inquietação tem-me provocado incômodo, às vezes até insônia. Essa inquietação tem como principal gênese meus questionamentos em relação ao movimento espírita, em especial nas duas últimas eleições gerais de 2014 e 2018, por perceber que a interpretação de muitos conceitos consagrados no movimento espírita não mais respondia às grandes questões enfrentadas pelo espírito no século XXI. Ícones consagrados do espiritismo se mostraram dogmáticos, sectários, preconceituosos e absurdamente ignorantes em relação a certos temas, em especial à ideologia política. Confesso que me tomou um misto de perplexidade e decepção difícil de ser digerido, um desejo de abandonar tudo se apoderou de mim e só com muita disciplina, meditação e reflexão me mantive firme, compreendendo que não se pode confundir o conteúdo com a forma ou embalagem. Então me dispus a sair da zona de conforto e me posicionar firmemente, em relação ao que considerava uma deturpação da essência do Cristianismo, base ética dos pilares do espiritismo.![](https://espiritasaesquerda.com.br/wp-content/uploads/2021/03/balance-esoterik-even-pebbles.jpg)
Machismo no espiritismo
Machismo no espiritismo
Falar sobre machismo no movimento espirita parece ser ainda um tabu para muitos adeptos. No entanto, as mulheres espiritas necessitam assumir o protagonismo dessa discussão como provocadoras de reflexões e críticas ao modelo machista presente no espiritismo, que tem entre seus postulados a afirmação que espíritos não têm sexo e encarnam no corpo físico que melhor serve aos seus propósitos evolutivos. Trazer à luz aquilo que está nas sombras é debater criticamente a invisibilidade das mulheres na direção dos centros espíritas e sua quase ausência entre os palestrantes nos grandes eventos espiritas sejam eles locais ou nacionais. Minha inquietação sobre o tema em tela começou porque me chamaram a atenção duas coisas: primeiro, a maciça presença de mulheres nos centros espiritas em relação à presença de homens, em palestras, grupos de estudo e demais atividades a esmagadora maioria de frequentadores e trabalhadores é do sexo feminino; em segundo lugar, observando material de divulgação de eventos espiritas locais e nacionais percebo a ausência de palestrantes mulheres e, mesmo quando presentes, elas são em quantidade infinitamente menor que os homens. A questão posta que precisamos discutir e responder é: o que ocorre no trajeto da participação das mulheres no movimento espirita que provoca essa lógica inversa? Muitas mulheres fazendo os centros espiritas existirem de fato e poucas presentes nos espaços de poder que dão o tom e a direção do movimento. A moral que sustenta o espiritismo é a moral cristã, a base é a ética proposta por Jesus, que foi profundamente revolucionária na época em que esteve encarnado na terra e o é até hoje. Sua proposta não tem nada de machista, bem ao contrário, em um época em que as mulheres não tinham valor, ele andava com elas, tinha discípulas e, em várias passagens narradas nos Evangelhos, ele se dirigia às mulheres sem distinção em relação aos homens, porém nos centros espíritas parece que o machismo fortemente presente no Velho Testamento e nos escritos de Paulo de Tarso atuam com mais força que o seu legado, quando se tratam das desigualdades de gênero. Começando pela Gênesis e a história da “maçã” que Eva, inadvertidamente, experimenta da árvore do conhecimento e Adão a acompanha, mas, questionado por Deus, ele responde que foi a mulher que o levou a experimentar o fruto proibido, ou seja, desde Adão que os homens tendem a culpar a mulher por suas escolhas que dão errado, esse roteiro é conhecido por 11 entre 10 mulheres. É comum ver homens culpando as mulheres por seus fracassos, inclusive na cama e até as responsabilizando pelo ato de violência do estupro por exemplo. Até que ponto essa cultura judaico-cristã, extremamente machista, está impregnada no modelo de organização centrado na falta de equidade entre gêneros que o espiritismo adota em sua prática? Na carta que Paulo escreveu ao jovem pastor Timóteo (I Timóteo 2, 11 a 15) sobre como ordenar um culto, lemos: “A mulher aprenda em silêncio, com toda a sujeição. Não permito, porém, que a mulher ensine, nem use de autoridade sobre o marido, mas que esteja em silêncio. Porque primeiro foi formado Adão, depois Eva. E Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão. Salvar-se-á, porém, dando à luz filhos, se permanecer com modéstia na fé, no amor e na santificação.” São muitos os exemplos bíblicos de situações que evidenciam o sentimento de superioridade dos homens em relação às mulheres, sentimento esse que está na gênese da cultura machista, profundamente arraigada em todas as religiões cristãs, e no movimento espírita não é diferente. Talvez algumas ou muitas pessoas considerem que no espiritismo não existe machismo, talvez tragam exemplos de centros comandados por mulheres, e de mulheres que fazem palestras em grandes eventos, mas, vejam, não vamos cair no reducionismo que leva as pessoas a interpretar um fenômeno coletivo apenas a partir de sua experiência pessoal ou a partir das exceções. Sim, existem centros espíritas comandados por mulheres. Sim, existem mulheres que conseguiram se destacar como palestrantes, entretanto chamo atenção à proporcionalidade entre a quantidade delas no movimento e as que conseguem ocupar esses lugares. Parece ser muito mais fácil para os homens alcançarem espaços de poder no movimento espírita e quando digo poder não é no sentindo de mando, mas no sentido de se fazer ouvir e contribuir na direção do movimento. Conheço mulheres que são profundas conhecedoras do espiritismo e outras que são médiuns excepcionais, mas não alcançam o mesmo destaque dos homens na mesma condição. Quando falamos de machismo no espiritismo, não podemos deixar de destacar o quanto as próprias mulheres acabam contribuindo para a perpetuação desse estado. Faço palestras e ministro aulas em centros há muito tempo, e algo que sempre me chamou atenção é como em momentos que proponho dinâmicas de grupo e divido a turma procurando sempre distribuir os homens presentes, sempre minoria, para que tenha pelo menos um em cada grupo, o que ocorre é que, na hora de os grupos apresentarem o resultado da atividade solicitada, a escolha do relator ou relatora, apesar de os grupos terem mais mulheres do que homens, o mais comum é que o único homem do grupo seja escolhido para representá-los. É perceptível que o machismos está tão impregnado, faz parte de forma tão poderosa na vida cotidiana, que aquelas mulheres não percebem que, ao passarem a representação de um grupo composto por maioria feminina para um homem, estão fazendo por acreditarem em sua inferioridade, por acreditarem que um homem fará melhor do que qualquer uma delas, por acreditarem que o homem sabe mais do que elas. Podemos enumerar outras razões, mas essas são suficientes para ilustrar o quanto é necessário fomentar a discussão em torno do machismo no espaço religioso, pois é quase certo que as mulheres, ao procederam assim, não estão conscientes de sua contribuição para fortalecer o machismo e a exclusão das mulheres nos espaços de poder e direção do movimento espírita. Esse é um tema muito complexo e espinhoso, não tenho pretensão de, nessas poucas linhas, esgotar todos os aspectos da questão, acredito que terei que escrever outros textos em torno dessa temática, mas espero que esse artigo inicial, seja provocador de um debate mais amplo, no qual homens e mulheres espíritas possam refletir, discutir e propor caminhos para desconstrução do machismo e construção de um movimento que contemple as habilidades e competências do espírito, independente do gênero que esteja utilizando nesta encarnação. Vale destacar que o propósito de trazer este tema para discussão não tem como objetivo uma guerra ou disputa entre gêneros, mas evidenciar uma prática comum que muitas vezes passa despercebida pela naturalização da cultura machista que está impregnada em todos os espaços, inclusive e principalmente nos espaços de pratica religiosa. A ideia é evidenciar e trazer para o campo da discussão consciente e responsável, tendo como meta a elaboração de uma nova ordem espiritual, onde não caiba mais o machismo, fruto da ignorância e do atraso. Leia a coluna anterior clicando aqui. Publicado no Facebook em 10 de julho de 2019.Espiritismo sem templo, é possível vivenciar?
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Espíritas, Rio de Janeiro e as guerras coloniais – parte I
Espíritas, Rio de Janeiro e as guerras coloniais – parte I
“Sendo a justiça uma lei da natureza, como se explica que os homens a entendam de modos tão diferentes, considerando uns justo o que a outros parece injusto?
‘É porque a esse sentimento se misturam paixões que o alteram, como sucede à maior parte dos outros sentimentos naturais, fazendo que os homens vejam as coisas por um prisma falso’.”
O livro dos espíritos, questão 874.
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Espiritismo e militância política
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