“Encontrou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e cambistas assentados negociando; tendo feito um chicote de cordas, expulsou todos do templo, bem como as ovelhas e os bois, espalhou pelo chão o dinheiro dos cambistas e virou as mesas; e disse aos que vendiam as pombas: ‘Tirai essas coisas daqui; não façais da casa de meu Pai, casa de comércio’.”
João, 2, 14-16.
E, depois de ter feito isso, sofreu represália de muitos. Um mais ortodoxo chegou a repreendê-lo, dizendo: “Por que não fez uma nota de repúdio e a entregou às autoridades competentes?”. Já outro, menos legalista, admoestou-o aos brados: “vai pra Cuba! Para agir assim, deve estar chapado!”. Um terceiro lembrou, ao autor daquela cena, que em vez de chicotear e derrubar e empurrar, ele deveria tentar um movimento pela paz mundial pautado na não violência, encerrando com uma frase emblemática: “Mas Ghandi…”. Ouviu-se ainda de outro indignado com o vandalismo a seguinte exaração: “Não foi esse que disse que não veio trazer a paz, mas a espada?”.
Diz-se, à moda de Foucault, que essa fábula sem serventia, posto prestar-se tão-somente à reflexão, foi ensinada nalguma esquina das ruas empoeiradas duma cidade palestina qualquer. Mas dizem, após o estranho evento, que tudo isso foi feito porque o protagonista tinha autoridade moral para tanto. Diz-se também, outrossim, que só não se conseguiram convencer dessa evidente verdade abatidos e empurrados.