O amor a uma pátria qualquer e a uma bandeira e suas cores que representam um estado é uma das muitas deformações que bem caracterizam um espírito ainda em estágios primários do processo evolutivo.
Os espíritos, e isso os espíritas trazem como uma unanimidade, independente se progressistas ou bolsoespíritas que defendem tortura e milícias, não são caracterizados por sexo ou origem geográfica, pois são livres dessas amarras, vivendo experiências diversas no longo processo do aprendizado encarnatório.
Diante dessa realidade transcendente, falar em patriotismo soa como um escárnio a um espírita que bem compreende a necessidade maior da vida no corpo: o aprendizado do amor.
Em nome do patriotismo e em defesa dum estado qualquer, muitas barbaridades inomináveis foram cometidas contra pessoas inocentes no transcurso da recente história humana.
Recente porque a noção de pátria, de estado nacional, é uma construção social nova e pode-se datá-la a partir do surgimento do sistema capitalista de produção. Cada sistema econômico na história dos homens forjou, a partir das necessidades de classe, suas instituições sociais e sua organização política. A transição entre o feudalismo e o capitalismo, época conhecida na história como Idade Moderna, fez surgir diversas novas estruturas sociais, como uma nova organização familiar, os estados nacionais, a escola como hoje conhecemos, a democracia parlamentar burguesa etc. Antes do capitalismo, nada disso existia, é importante frisar.
Entende-se, a partir da compreensão desse fenômeno econômico e social, que a organização da sociedade em que se vive é fortemente influenciada pela estrutura econômica em que está baseada. Da mesma forma, a organização social acaba por influenciar a própria estrutura econômica, num processo dialético dinâmico que faz com que a sociedade humana esteja em contínuo processo de transformação, um fenômeno muito bem explicado por Engels e Marx, e conhecido como materialismo dialético.
Portanto, defender a “família tradicional” ou as cores que representam temporariamente o país em que se nasceu é, obviamente, uma aberração histórica e social para todos aqueles que compreendem bem o papel das estruturas sociais no passar das eras e a longevidade do espírito imortal.
O sentimento de patriotismo é indefensável para um espírita, ele é uma chaga moral. Pois, como já dito, ele caracteriza a opção temporal de uma bandeira em detrimento do amor atemporal que, em última análise, deve ser o norte do espírito encarnado. Deve-se amar o outro, respeitar seres, independente de fronteiras nacionais, que são todas artificiais, culturais e não naturais, e independente de orientação sexual, identidade de gênero ou condição social. Devemos amar e o amor é uma experiência de respeito, de tolerância, de compreensão, não é sobre gostar ou não de alguém ou de algo.
Amar: é isso que estudamos aqui no corpo e essa é a nossa grande dificuldade. E todos os obstáculos a esse objetivo devem ser superados por nossos esforços pessoais e coletivos. O patriotismo, esse estanho sentimento que faz odiar indivíduos em prol duma ideia datada historicamente, é um dos mais severos obstáculos à realização plena do potencial do espírito imortal.
A partir dessa breve análise histórica e espírita, percebe-se o quão esdrúxulo é falar duma “pátria do evangelho”, pois o espírito viveu, vive e viverá muitas experiências em diversas realidades culturais e históricas e, em todas elas, será capaz de apreender novas práticas de amor e compreensão e nelas acrescer em si o tesouro que, segundo as palavras do nazareno, os ladrões não roubam e as traças e a ferrugem não destroem.
Conclui-se, enfim, que entre os esforços morais dos seres encarnados está a superação do tolo e abjeto sentimento de patriotismo. Ele nada mais tem a oferecer ao crescimento do espírito que vem à Terra aprender o amor incondicional.