Orgulho de ser

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Foto Mick De Paola/Unspkash

Por Jean Paul – @umgayespirita

Foi no dia 28 de junho de 1969, no bar nova-iorquino Stonewall Inn, que um grupo de pessoas gays, lésbicas, transexuais, travestis e drag queens se rebelaram contra a invasão, represália e prisão por parte das autoridades policiais. Dezenas de pessoas feridas apenas por lutarem pelo seu direito de existir e se divertir. A partir de então, dezenas de protestos foram organizados, nos dias seguintes, em favor dos direitos gays (exclusivamente chamado assim à época) em várias cidades norte-americanas. No ano seguinte (1970), foi realizada a Primeira Parada do Orgulho Gay para lembrar e fortalecer o movimento que vinha ganhando aderência pela comunidade e visibilidade. Assim, a rebelião de Stonewall ficou conhecida como o “marco zero” do movimento por igualdade civil da população LGBTQIAP+.

Foto Mick De Paola/Unsplash

De lá pra cá, muitos direitos foram garantidos, muitas teorias foram refutadas (como a de se tratar a homossexualidade e a transgeneridade como doenças), maior visibilidade e representatividade foram tomando conta das mídias. Ainda assim, a homossexualidade é tratada como crime em 69 países, dos quais 13 prevêem pena de morte para homossexuais; pelo 12º ano consecutivo (em 2020), o Brasil é considerado o país que mais assassina transexuais no mundo; a cada 36 horas uma pessoa LGBTQIAP+ é vítima de homicídio ou suicídio no Brasil; direitos fundamentais como o casamento, a doação de sangue e a mudança de nome social em documentos de identificação civil ainda são negados em inúmeros países à comunidade LGBTQIAP+.

A luta, portanto, está longe de terminar. Para quem se identifica como LGBTQIAP+, conhecer a história do movimento é compreender o quanto já conquistamos e também o quanto ainda precisamos conquistar; é respeitar as dores e lutas do passado, reconhecendo o privilégio de alguns direitos já garantidos no nosso país, sem deixar de ter a consciência de que ainda estamos distantes da igualdade civil plena; é saber que existir enquanto fora do padrão é resistir por si só. Para quem não se identifica como LGBTQIAP+, porém deseja um mundo onde todas as pessoas possam viver com justiça e liberdade, se posicionar enquanto aliado(a) deste movimento é uma grande oportunidade de provocar as transformações necessárias para a construção desse mundo desejado.

Enquanto espíritas, portanto, sabemos que “são chegados os tempos em que se hão de desenvolver as ideias, para que se realizem os progressos que estão nos desígnios de Deus. Têm elas de seguir a mesma rota que percorreram as ideias de liberdade, suas precursoras. Não se acredite, porém, que esse desenvolvimento se efetue sem lutas. Não; aquelas ideias precisam, para atingirem a maturidade, de abalos e discussões, a fim de que atraiam a atenção das massas”. (O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo I – Não vim destruir a Lei > Instruções dos Espíritos – A nova era.)  Assim, cabe a nós somar a essa luta, enquanto cristão, enquanto co-criadores e enquanto conscientes de que a missão de nós Espíritos na Terra é “melhorar as instituições, por meios diretos e materiais”. (O Livro dos Espíritos > Parte segunda – Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo X – Das ocupações e missões dos Espíritos – questão 573)

Enquanto LGBTQIAP+ espíritas, sabemos que nossa luta é também a de modificar as próprias instituições espíritas para que sejam verdadeiramente cristãs, acolhedoras a todas as pessoas, abertas à inclusão da diversidade nos seus postos de trabalho, aniquiladoras dos preconceitos e incompatíveis com os tabus. Sabemos, também, que a nossa existência é de orgulho, daquele que olha para si e se percebe igualmente capaz de amar e servir, trabalhar e abençoar, afirmando radicalmente a dignidade da nossa própria existência.

REFERÊNCIAS

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