Os líderes espíritas, seus percalços – vídeo

A nova coluna de Isabel Guimarães para a página “Espíritas à esquerda” traz uma novidade: em vez dum texto, Isabel nos fala em vídeo sobre os líderes espíritas, seus percalços e os problemas de quem os segue cegamente. Confira a coluna anterior: https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/986900418370949 Publicado no Facebook em 09 de Outubro de 2020. 

Partido da Lava jato

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Imagem: Arte elaborada a partir da arte original da Folha de S. Paulo.
A Lava-Jato é sabidamente um partido político, um partido que se aliou ao que existe de mais corrupto e criminoso em nossa republiqueta laranjeira, e com a única finalidade de colocar a extrema-direita protofascista no comando dessa infeliz e solapada nação. Juízes, procuradores, policiais e demais integrantes dessa farsa jurídica atuaram criminosamente apenas para impedir a volta da centro-esquerda ao poder após o golpe de 2016. E conseguiram, com o apoio do grande capital nacional e da grande imprensa cooptada e também corrupta. Agora que o trabalho já foi entregue, e alguns membros dessa farsa jurídica já fogem para o exterior (como não lembrar dum fascinado médium afirmando se tratar de um “venerando”?) para usufruir dos proventos de seus sórdidos serviços contra a sociedade brasileira, a marionete miliciana alçada ao poder por esse esquema corrupto e criminoso agora se sente à vontade para afirmar que essa “operação” acabou. Triste é ver esse farsante corrupto, rei das rachadinhas e do crime organizado no poder, afirmar que em seu (des)governo não há mais corrupção. Na verdade, essa quadrilha ora no comando federal tem quase todos os seus membros investigados por crimes diversos, golpes financeiros e associações com o crime organizado. É um pacote completo da mais pura corrupção e da mais abjeta imoralidade social. Será que os bolsoespíritas, também fascinados com a ação da “Farsa-Jato”, ainda consideram esse corrupto, misógino e racista um messias enviado? Como será que os “médiuns de direita”, como anunciado por grande revista de circulação nacional, veem agora a pilhagem organizada sobre os cofres federais? Nessa onda protofascista, apoiada por grande maioria dos “espíritas de bem”, esse governo federal, e muitos dos governos subnacionais, tornaram-se apenas escritórios do crime organizado. Arte elaborada a partir da arte original da Folha de S. Paulo. Publicado na Página do Facebook.

ExJuizeco

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O ex-juizeco tucano de Curitiba, também conhecido como o marreco de Maringá, anunciou pelas redes sociais que tem projetos para deixar o país e viver com sua família no exterior[1]. Sua missão está cumprida. O ex-ministro fascistoide fez aquilo que se propôs a fazer: destruir a indústria nacional e, em especial, a Petrobras. Suas ações sempre foram pautadas pelo interesse do Império e sua íntima relação com agências e prepostos estadunidenses jamais foi segredo[2]. Vale lembrar todo o seu “treinamento”[3] nos Estados Unidos anterior ao infame projeto de suicídio nacional conhecido como “Lava-Jato”. Seu papel na recentíssima história brasileira foi o de intermediário entre os objetivos do grande capital sobre o mercado e as riquezas nacionais e a agenda política para a construção dessa estratégia imperialista. Além de ter sido o instrumento para o afastamento do maior líder político popular dessas terras arrasadas pelo ódio plantado e pelo capital predador, o lacaio do Império, travestido de juíz e depois ministro, agiu como agente fomentador da destruição da maior empresa brasileira, a Petrobras, que agora, com o aval do STF –como não lembrar do “com o Supremo, com tudo”, do criminoso Jucá–, será vendida em fatias para o grande capital, impedindo o Brasil de continuar seu projeto político de independência econômica e de desenvolvimento social. A recente decisão do STF, após o sucesso absoluto do projeto entreguista a que se dedicou o lacaio ex-juizecobolsonarista, é uma pá de cal sobre os escombros duma sociedade sonhada para todos. Essa gente vendida, cooptada e desinteressada das questões nacionais agora pode receber seu pagamento vivendo no exterior. Publicado no Facebook em 07 de Outubro de 2020.  Notas: [1] https://www.brasil247.com/…/moro-ja-vai-tarde-diz-pml… [2] https://apublica.org/…/no-ministerio-da-justica-sergio…/ [3] https://www.brasildefato.com.br/…/wikileaks-eua-criou…/  

Jesus libertador

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Quando se fala na proposta libertadora de Jesus, deve-se colocá-la dentro do contexto em que ela foi anunciada, conforme se pode ler nos textos neotestamentários. Para melhor compreender a proposta da liberdade que se conquista a partir do conhecimento da verdade, é preciso buscar o fulcro do anúncio trazido por Jesus. Ao anunciar a verdade, o que propôs aquele homem há dois mil anos? O que se pode esperar a partir desse anúncio feito em meio a pobres, famélicos e deserdados? A alma da mensagem trazida por Jesus pode ser resumida pelo anúncio do “Reino”. O “Reino”, que não é desse mundo de miséria, exploração, opressão e injustiça, é o que move todos os discursos e ações feitos naquele cenário palestino de pobreza e desigualdade. E esse anúncio traz consigo, como um bom professor o faria, a motivação e os caminhos para a consecução desse “Reino” entre nós. Essa nova sociedade anunciada –porque “evangelho” é justamente o anúncio, a mensagem, a novidade– seria então um espaço de prática de justiça social e fraternidade, onde todos teriam o necessário e ninguém teria em excesso, onde a justiça reinaria e a mansidão se faria sua herdeira. Assim foi anunciado naquele momento em que ele subiu ao monte para falar. E esse é o ponto em que se pode então compreender a proposta da libertação trazida por aquele homem profundo e sábio: a libertação de todos a partir da transformação da realidade social que é responsável pela opressão e pela exploração do homem pelo homem. E só o fim desse sistema opressivo será capaz de efetivamente trazer a liberdade anunciada nos seus ensinos. A transformação da realidade social de opressora e exploradora para justa e fraterna é a libertação do homem. De todos os homens. E essa libertação só se efetivará a partir da tomada de consciência do oprimido e explorado do seu lugar nessa estrutura social que o impõe a subserviência e a iniquidade. Só a conscientização daquele que sofre as consequências cruéis da opressão, que se podem traduzir em fome, ignorância, doença e indignidade, será capaz de transformar a realidade, pois essa mudança jamais ocorrerá a partir daquele que oprime.
Imagem da Página: Espíritas a Esquerda
E a libertação do oprimido, por meio da superação da sua alienação social, é a condição para a libertação do opressor, que também se encontra, muitas vezes, alienado da sua condição de explorador. Assim, apenas por meio da conscientização do oprimido se é capaz de libertar todos os homens e mudar as estruturas que os reduzem a meras engrenagens produtivas. Por isso a mensagem de libertação de Jesus é dada aos pobres e desgraçados do mundo, pois é deles, e apenas deles, o papel revolucionário da conquista do “Reino”. Em sua tarefa iluminada, o homem Jesus dedicou seus momentos proféticos a falar com essa gente, a retirar dela o véu da ignorância que aliena as consciências submissas e conscientizá-las da sua árdua tarefa de lutas e mudanças, que seriam então traduzidas numa nova realidade, num novo “Reino” que não é desse mundo de dores, injustiças e opressão. Os espíritas, como seguidores dessa mensagem e aliados dessa proposta de transformação radical das estruturas que exploram e oprimem, devem-se sentir motivados a lutar pela implantação desse “Reino”, fazendo um pouco aquilo que o ilustrado professor há dois mil anos fez com tanto brilho: colocar-se como instrumento e ferramenta para conscientizar e libertar aqueles que são as vítimas desse mundo velho que insiste em fazer morada entre os homens. Não há caminho possível, e essa é a mensagem profunda e libertadora de Jesus, para a transformação humana que não seja por meio do trabalho, ao mesmo tempo miúdo e extenso, na luta pela conscientização do oprimido. Não, não há outro caminho, e é apenas nele que os espíritas e suas instituições deveriam atuar como seguidores dessa mensagem, preparando-se da melhor forma para essa tarefa libertadora. Publicado no Facebook em 15 de Outubro de 2020.

Por que socialismo?

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Num texto publicado originalmente em maio de 1949, na revista marxista estadunidense "Monthly Review", Albert Einstein, o grande físico alemão do séc. XX, apresentou a seus leitores importantes reflexões acerca do socialismo.

———————————— Será aconselhável que um não especialista em assuntos econômicos e sociais manifeste pontos de vista sobre o tema “socialismo”? Por várias razões, eu acredito que sim. Comecemos considerando a questão pelo ponto de vista epistemológico [isto é, que analisa o próprio conhecimento científico]. Poderia parecer que não houvesse diferenças metodológicas essenciais entre a Astronomia e a Ciência da Economia: nos dois campos, os cientistas tentam descobrir leis que sejam aceitáveis de modo generalizado para um determinado grupo de fenômenos, com a finalidade de tornar compreensível a interconexão desses fenômenos do modo mais claro possível.
Imagem: Albert Einstein (1959), desenho em carvão e aquarela de Alexander Dobkin.
Dobkin (1908-1975) foi um importante pintor da tradição realista americana de meados
do século XX, juntamente com outros artistas de esquerda como Jack Levine, Robert
Gwathmey, Philip Evergood, e Raphael e Moses Soyer. Estudante e colaborador do
muralista mexicano José Clemente Orozco, a sua obra encontra-se nas coleções
permanentes do Butler Art Institute, do Museum of Modern Art, do Brooklyn Museum,
do Whitney Museum of American Art, do Philadelphia Museum of Art, da Biblioteca do
Congresso estadunidense e do Smithsonian Institution.
Na realidade, diferenças metodológicas existem. No campo da Economia, a descoberta de leis gerais é dificultada pela circunstância de que os fenômenos econômicos observáveis são com frequência afetados por muitos fatores que é muito difícil avaliar separadamente. Além disso, como é bem sabido, a experiência acumulada desde o início do assim chamado período civilizado da história humana tem sido grandemente influenciada e limitada por fatores cuja natureza de nenhum modo é exclusivamente econômica. Por exemplo, a maioria dos grandes Estados da história deveu sua existência à conquista. Os povos conquistadores estabeleceram a si mesmos, legal e economicamente, como a classe privilegiada do território conquistado; apossaram-se do monopólio da propriedade da terra e designaram uma classe sacerdotal a partir de suas próprias fileiras. Os sacerdotes, no controle da educação, fizeram da divisão da sociedade em classes uma instituição permanente, criando um sistema de valores pelo qual o comportamento social das pessoas passou a ser guiado desde então, em grande medida em nível inconsciente. Mas a tradição histórica começou ontem, por assim dizer. Em nenhum lugar nós superamos de fato o que Thorstein Veblen chamou de “fase predatória” do desenvolvimento humano. Os fatos econômicos observáveis pertencem a essa fase, e as leis que podemos derivar deles não são aplicáveis a outras fases. Como o verdadeiro propósito do socialismo é precisamente superar a fase predatória do desenvolvimento humano e avançar para além dela, a Ciência Econômica em seu estado atual pode esclarecer bem pouco sobre a sociedade socialista do futuro. Em segundo lugar, o socialismo se direciona para uma finalidade socioética. A ciência, no entanto, não tem o poder de criar finalidades, e muito menos de instilá-las nos seres humanos; a ciência pode, no máximo, fornecer os meios com que atingir certas finalidades. As finalidades são concebidas por personalidades com ideais éticos elevados –ideais esses que, quando não são natimortos e sim cheios de vida e vigor– são adotados e levados adiante por aquela multitude de seres humanos que, de modo parcialmente inconsciente, terminam por determinar a evolução da sociedade. Por essas razões, deveríamos nos precaver no sentido de não superestimar a ciência e os métodos científicos quando o que está em questão são problemas humanos – e não deveríamos presumir que somente especialistas têm direito a se manifestar sobre as questões que afetam a organização da sociedade. Incontáveis vozes vêm afirmando, já desde há algum tempo, que a sociedade humana está passando por uma crise; que sua estabilidade foi gravemente abalada. É característico dessa situação que os indivíduos se sintam indiferentes ou até mesmo hostis ao grupo a que pertencem, seja o pequeno grupo ou ao grupo de maior escala. Permitam-me recordar aqui uma experiência pessoal para ilustrar o que quero dizer: não faz muito, eu debatia com um homem inteligente e de boa disposição sobre a ameaça de mais uma guerra –o que, na minha opinião, poria em sério perigo a existência da humanidade– e observei que somente uma organização supranacional ofereceria proteção contra esse perigo. Nesse ponto o meu visitante me disse, com toda calma e indiferença: “Mas por que você se opõe tão profundamente ao desaparecimento da raça humana?” Tenho certeza que apenas um século atrás ninguém teria declarado algo desse tipo com toda essa despreocupação. Temos aí uma declaração de um homem que lutou em vão para alcançar um equilíbrio interior e mais ou menos perdeu a esperança de alcançá-lo. É expressão de uma dolorosa solidão e isolamento, de que tanta gente sofre hoje em dia. Qual é a causa? Existe saída? É fácil levantar essas perguntas, mas é difícil respondê-las com qualquer grau de segurança. No entanto eu preciso tentar, o melhor que puder, embora esteja bem consciente de que nossos sentimentos e aspirações são muitas vezes contraditórios e obscuros, e não podem ser expressos em nenhuma fórmula simples e fácil. O homem é ao mesmo tempo um ser solitário e um ser social. Como ser solitário, ele tenta proteger sua própria existência e a dos que lhe são mais próximos, satisfazer seus desejos pessoais, desenvolver suas habilidades inatas. Como ser social, busca conquistar o reconhecimento e afeição dos seus companheiros de humanidade, compartilhar de seus prazeres, confortá-los em seus sofrimentos, melhorar suas condições de vida. Somente a existência dessas diferentes aspirações, muitas vezes conflitantes, já responde pelo caráter especial de uma pessoa, e sua combinação específica determina a medida em que o indivíduo consegue, por um lado, alcançar um equilíbrio interior e, por outro lado, consegue contribuir para o bem-estar da sociedade. É bem possível que a intensidade relativa desses dois impulsos seja, em seu principal, determinada pela hereditariedade – mas a personalidade que termina emergindo é formada em ampla medida pelo ambiente em que acontece de a pessoa se encontrar durante o seu desenvolvimento, pela estrutura da sociedade em que ela cresce, pela tradição daquela sociedade, e pelo valor que a sociedade atribui a este ou àquele tipo de comportamento. Para o indivíduo humano, o conceito abstrato “sociedade” significa a soma de suas relações diretas e indiretas com os seus contemporâneos e com todas as pessoas das gerações anteriores. O indivíduo é capaz de pensar, sentir, aspirar e trabalhar por si mesmo; mas [ao mesmo tempo] ele depende tanto da sociedade –em sua existência física, intelectual e emocional– que é impossível pensá-lo ou entendê-lo fora da moldura que é o contexto social. É “a sociedade” o que lhe proporciona comida, roupas, um lar, a ferramentas do seu trabalho, a linguagem, as formas de pensar, e a maior parte do conteúdo do pensamento; a sua vida se faz possível mediante o trabalho e realizações dos muitos milhões, passados e presentes, que estão escondidos por trás da pequena palavra “sociedade”. É evidente, portanto, que a dependência do indivíduo em relação à sociedade é um fato da natureza que não pode ser abolido –tanto quanto o é no caso das formigas e abelhas. No entanto, enquanto o inteiro processo de vida das formigas e abelhas é determinado nos mínimos detalhes por instintos hereditários rígidos, o padrão social e os inter-relacionamentos dos seres humanos são altamente variáveis e suscetíveis de mudanças. A memória, a capacidade de realizar novas combinações e o dom da comunicação verbal possibilitaram desenvolvimentos, entre os seres humanos, que não são ditados por necessidades biológicas. Tais desenvolvimentos se manifestam em tradições, instituições e organizações; em literatura; em realizações científicas e técnicas; em obras de arte. Isso explica como acontece de o ser humano ser capaz de, em certo sentido, influir em sua vida mediante a sua própria conduta, e de que nesse processo o pensamento e a vontade conscientes consigam desempenhar um papel. O ser humano adquire ao nascer, através da hereditariedade, uma constituição biológica que precisamos considerar determinada e inalterável, inclusive os impulsos naturais que são característicos da espécie humana. Em acréscimo, ao longo de sua vida ele adquire uma constituição cultural que ele adota da sociedade por meio da comunicação e de muitos outros tipos de influências. É a sua constituição cultural que está sujeita a mudanças com a passagem do tempo, e que determina em vasta medida a relação entre o indivíduo e a sociedade. A antropologia moderna nos ensinou, através da investigação comparativa das culturas chamadas de primitivas, que o comportamento social dos seres humanos pode diferir grandemente, dependendo dos padrões culturais e dos tipos de organização que predominam na sociedade. Os que se empenham em melhorar a condição humana podem fundamentar suas esperanças nisso: seres humanos não estão condenados por sua constituição biológica a aniquilarem uns aos outros, nem a estar à mercê de um destino cruel autoinfligido. Se nos perguntarmos de que modo a estrutura da sociedade e a atitude cultural do ser humano deveriam ser mudados para tornar a vida humana tão satisfatória quanto possível, deveríamos estar sempre conscientes de que há certas condições que somos incapazes de modificar. Como já foi mencionado, para todos os efeitos práticos a natureza biológica do ser humano não é modificável. Além disso, os desenvolvimentos tecnológicos e demográficos dos últimos séculos criaram condições que estão aqui para ficar. Em populações assentadas com considerável densidade, levando em conta os bens que são indispensáveis para a continuidade de sua existência, tornam-se absolutamente indispensáveis uma extrema divisão de trabalho e um aparato produtivo altamente centralizado. Foi-se para sempre o tempo –que, olhando- se para trás, parece tão idílico– em que indivíduos ou grupos relativamente pequenos podiam ser completamente autossuficientes. Há pouco exagero em dizer que a humanidade já constitui uma comunidade planetária de produção e consumo. Cheguei agora ao ponto em que posso indicar brevemente o que, para mim, constitui a essência da crise do nosso tempo: refere-se à relação do indivíduo com a sociedade. O indivíduo se tornou mais consciente do que nunca de sua dependência da sociedade –mas sua experiência dessa dependência não é a de um bem positivo, um laço orgânico, uma força protetora, e sim a de uma ameaça aos seus direitos naturais, ou até mesmo à sua existência econômica. Além disso, o indivíduo está posicionado na sociedade de modo tal, que os impulsos egoístas da sua constituição recebem reforço constante, enquanto que os seus impulsos sociais, que por natureza já são mais fracos, se deterioram progressivamente. Todos os seres humanos, qualquer que seja sua posição na sociedade, vêm sofrendo esse processo de deterioração. Prisioneiros de seu próprio egoísmo sem saber disso, sentem-se inseguros, sozinhos e privados de todo desfrute da vida que seja inocente, simples, não sofisticado. O ser humano somente pode encontrar sentido na vida, curta e arriscada como é, mediante sua dedicação à sociedade. A anarquia econômica da sociedade capitalista como existe hoje é, na minha opinião, a verdadeira fonte do mal. Vemos diante de nós uma enorme comunidade de produtores cujos membros se empenham sem cessar em privar uns aos outros dos frutos de seu trabalho coletivo – não por força, mas em inteiro e fiel cumprimento de regras estabelecidas legalmente. A respeito disso, é importante dar-se conta [do papel do fato] de que os meios de produção – quer dizer, tudo o que dá capacidade de produzir bens para os consumidores, bem como bens de capital adicionais – possam ser propriedade privada de indivíduos (e de fato o sejam, em sua maior parte). Pelo bem da simplicidade, na discussão a seguir chamarei de “trabalhadores” todos os que não têm parte na propriedade dos meios de produção –embora isso não corresponda com exatidão ao uso costumeiro do termo. O proprietário dos meios de produção está em posição de comprar a força de trabalho do trabalhador. Usando os meios de produção, o trabalhador produz novos bens que se tornam propriedade do capitalista. O ponto essencial deste processo é a relação entre o que o trabalhador produz e aquilo que lhe pagam, ambos medidos em termos de valor real. Na medida em que a contratação do trabalho é “livre”, o que o trabalhador recebe não é determinado pelo valor real dos bens que ele produz, e sim por quais são suas necessidade mínimas, bem como pela relação entre a demanda por força de trabalho por parte dos capitalistas e o número de trabalhadores que competem por empregos. É importante entender que nem mesmo na teoria o pagamento do trabalhador é determinado pelo valor do seu produto. Capital privado tende a se concentrar em poucas mãos, em parte devido à competição entre os capitalistas, em parte porque o desenvolvimento tecnológico e o crescimento da divisão do trabalho estimulam a formação de unidades de produção maiores, em prejuízo das menores. O resultado desses desenvolvimentos é uma oligarquia do capital privado, cujo enorme poder não pode ser efetivamente controlado sequer por uma sociedade política democraticamente organizada. Isso é assim porque os membros dos corpos legislativos são selecionados por partidos políticos, que são amplamente financiados, ou influenciados de algum outro modo, por capitalistas privados que, para todos os propósitos práticos, separam o eleitorado da legislatura. A consequência é que os representantes do povo não protegem de fato e de modo suficiente os interesses dos setores menos privilegiados da população. Além disso, nas condições atuais os capitalistas privados inevitavelmente controlam, direta ou indiretamente, as principais fontes de informação (imprensa, rádio, educação). Torna-se assim extremamente difícil para o cidadão individual, e de fato impossível na maioria dos casos, chegar a conclusões objetivas e fazer uso inteligente dos seus direitos políticos. A situação predominante em uma economia baseada na propriedade privada de capital caracteriza-se então por dois princípios centrais: primeiro, os meios de produção (capital) são possuídos privadamente, e os proprietários dispõem deles como acham melhor; segundo, a contratação de trabalho é livre [isto é, não regulada]. É claro que não há sociedade capitalista pura nesse sentido. Em especial, é preciso registar que os trabalhadores, através de longas e amargas lutas políticas, conseguiram assegurar uma forma um tanto melhorada de “livre contrato de trabalho” para algumas categorias de trabalhadores. Mas, tomada em seu conjunto, a economia atual não difere muito de um capitalismo “puro”. A produção é realizada com a finalidade do lucro, não com a do uso. Não existem disposições para garantir que todas as pessoas capazes e dispostas a trabalhar sempre consigam achar emprego; quase sempre existe um “exército de desempregados”. O trabalhador está perpetuamente com medo de perder seu emprego. Devido ao fato de que desempregados e trabalhadores mal pagos não formam um mercado rendoso, a produção de bens de consumo é restrita, o que resulta em grandes privações. O progresso tecnológico resulta com frequência em mais desemprego, em lugar de aliviar a carga de trabalho para todos. O lucro como motivação, em conjunto com a concorrência entre os capitalistas, é responsável por uma instabilidade na acumulação e utilização do capital, a qual leva a crises cada vez mais graves. A competição irrestrita leva a um gigantesco desperdício de força de trabalho, e também àquela deformação da consciência social dos indivíduos, que eu mencionei anteriormente. Essa deformação dos indivíduos, eu a considero o pior dos males do capitalismo. Nosso sistema educacional inteiro sofre desse mal. Uma atitude competitiva exagerada é inculcada no estudante, que, como preparação para sua futura carreira, é treinado para idolatrar um sucesso aquisitivo. Estou convencido de que existe apenas um caminho para eliminar esses graves males, e esse é o estabelecimento de uma economia socialista, acompanhada por um sistema educacional orientado para objetivos sociais. Em uma economia tal, os meios de produção são propriedade da própria sociedade, e utilizados de modo planejado. Uma economia planejada, que ajusta a produção às necessidades da comunidade, distribuiria o trabalho a ser feito entre todos os capazes de trabalhar, e garantiria o sustento de cada homem, mulher e criança. A educação do indivíduo, além de desenvolver suas próprias habilidades inatas, se empenharia em desenvolver nele um senso de responsabilidade por seus companheiros de humanidade, em lugar da glorificação do poder e do sucesso, como temos na sociedade atual. Contudo é preciso lembrar que uma economia planejada ainda não é socialismo. Uma economia planejada pode ser acompanhada por uma escravização completa do indivíduo. A realização do socialismo requer a solução de alguns problemas sociopolíticos extremamente difíceis: como é possível, em face da centralização abrangente do poder político e econômico, impedir que a burocracia se torne todo-poderosa e prepotente? Como se podem proteger os direitos do indivíduo e garantir com isso um contrapeso democrático ao poder da burocracia? A clareza quanto às metas e aos problemas do socialismo é da mais alta significação em nossa era de transição. Como, na conjuntura atual, a discussão livre e sem barreiras destes problemas se tornou um grande tabu, eu considero a fundação desta revista um relevante ato de interesse público. Publicado no Facebook em 03 de Outubro de 2020. Ref / Link:  Albert Einstein marxists.org O texto original em inglês pode ser lido em: http://monthlyreview.org/2009/05/01/why-socialism/ A tradução usada nessa postagem foi disponibilizada pela página marxists.org e está disponível em: https://www.marxists.org/…/einstein/1949/05/socialismo.htm Outras traduções disponíveis: Socialista Morena: https://www.socialistamorena.com.br/por-que-socialismo…/ Anabela Magalhães: http://resistir.info/mreview/porque_o_socialismo.html

Os espíritas e o “Reino”

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“A filosofia espírita só estará definitivamente arraigada no mundo no dia em que se dedicar à consideração filosófica, social e religiosa da chamada luta de classes. O problema desta luta absorve quase toda a atenção do homem contemporâneo. Seria um erro não reconhecer que todo pensamento espiritualista dos novos tempos só avançará se souber enfrentar esse tremendo conflito, que se desenvolve entre as classes sociais. Não olvidemos que todo progresso da cultura só é possível no plano da consideração histórico-social. A filosofia espírita, se não tomar uma orientação desse caráter, realmente definida, tal como se deduz do kardecismo, ver-se-á diminuída e reduzida em sua ação, frente ao problema transcendental das questões sociais.”
Arquivo Espíritas a Esquerda no Facebook
Assim, o argentino Humberto Mariotti, em sua conhecida obra “Parapsicología y materialismo histórico”, de 1963, indica o caminho necessário à condução das propostas espíritas pelo movimento espírita. A ideia de levar as propostas espíritas de transformação social e individual, num enlace dialético contínuo, que se tem defendido nesse espaço, não é original, pois já foi levantada, e convenientemente esquecida e relegada à mera curiosidade histórica, por grandes nomes do movimento espírita nacional e internacional. Como explicita Mariotti no fragmento acima, não orientar as discussões espíritas ao necessário debate sobre as desigualdades econômicas, a injustiça social, as discriminações humanas, enfim, a luta de classes, é diminuir o alcance revolucionário das propostas espíritas, pois não é possível pensar em espiritismo sem suas óbvias consequências sociais e seu chamamento à ação transformadora. O que faz o espiritismo, nos textos trazidos pelos espíritos que auxiliaram Kardec, e que apenas ecoam as propostas de Jesus, é delinear os fundamentos do “Reino” anunciado por Jesus, descrito nos textos neotestamentários. Esse “Reino”, que traz como fundamentos a justiça, o amor, a fraternidade e a igualdade, só será alcançado quando os homens estiverem conscientes de sua condição de explorados e expropriados em seus direitos e dignidade. A opção de Jesus pelos pobres, deserdados, explorados, humilhados, oprimidos e desgraçados nessa transformação é muito clara e não permite compreensão distinta. Aos exploradores e detentores de privilégios sociais e econômicos, Jesus apenas os convida a participar, propondo o abandono de sua situação moral aviltante de opressor como “conditio sinequa non”. Como não lembrar das passagens em que o jovem rico é instado a doar seus bens para segui-lo, ou quando diz que é mais fácil um camelo passar pelo buraco duma agulha do que um rico alcançar o “Reino”? A proposta de Jesus, portanto, é clara: só será possível um “Reino” quando não existirem diferenças sociais que permita haver alguns privilegiados e muitos miseráveis. Cabe aos espíritas, que se dizem seguidores de Jesus, levar adiante tal proposta de viabilização e fundação do “Reino”. E o “Reino” nada mais seria do que essa sociedade de homens, nas condições material e espiritual, em que a justiça social seja o norte e orientada por propostas de libertação e conscientização do povo. Porque só um povo livre e consciente será capaz de manter uma sociedade fundada nos valores do amor e da fraternidade propostos há mais de dois mil anos. Um espiritismo insosso e inócuo, que se propõe apenas a discutir temas fúteis e comportamentais, não tem valor para a transformação em direção ao “Reino”, como indicado por Jesus. A construção desse “Reino” demanda verdadeiros espíritas que se proponham à ação-reflexão no sentido de promover a autolibertação e a autoconscientização do povo oprimido, conforme a clara escolha de Jesus. E isso só será possível com um novo movimento espírita transformado e construído a partir das reflexões já trazidas por muitos, como indicado no texto citado de Mariotti. Há muito a fazer. Há um novo movimento espírita justo e fraterno a ser construído. À ação, espíritas!

Sobre calopsitas, mulheres e espiritismo

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Autora: Mariléia Dionísio
Este artigo, como indica o título, é sobre calopsitas, mulheres e espiritismo. E é possível estabelecer tal relação estranha inicialmente? Só lendo pra saber, né? E a relação começa lá atrás, muito lá atrás quando surgiram os primeiros animais e os primeiros seres humanos aqui no nosso planeta Terra. Mas não se preocupe, pois o salto de lá pra cá é grande e chega rápido a hoje, 2020, ano de pandemia. Brasil, desigualdades de todos os tipos agravadas. Sofrimentos, inúmeros deles incluindo o desencarne (que poderia ter sido prorrogado) e o luto para 130 mil famílias (até o momento)[1]. Tristeza, tenho sentido uma tristeza profunda intercalada com sentimentos de impotência e indignação por um lado; esperança e resistência por outro, junto com a aprendizagem, dura. Em meio a tudo isto, uma pequena alegria caseira: o piado bem baixinho como indício de que um filhotinho de calopsita havia nascido. Alegria que se transformou em força extra para parir este texto há dias sendo gestado sobre a dramática situação da mulher dentro de nossa sociedade, com ênfase na postura de espíritas. Este filhotinho (que, espero, consiga sobreviver assim como os outros quatro que ainda não eclodiram dos ovos) é resultado de uma história composta por alguns capítulos e personagens. Um dos capítulos que merece destaque corresponde aos episódios “entre tapas e beijos” que do sofá de meu ap’e’rtamento assistíamos praticamente todos os dias nesses oito anos do casalzinho de calopsitas. Na verdade, os “beijos” não eram beijos, mas cafunés que Derpina (a fêmea) fazia na cabeça de Derpi (o macho). Normalmente, logo depois do almoço, ele abaixava a cabeça aos pouquinhos, tocando-a levemente e aguardava que ela, num gesto de carinho, passasse o bico gentilmente nas peninhas do pescoço/cabeça dele. E ela assim fez várias e várias e várias e várias vezes. O enredo ganha uma singularidade: quando ele queria carinho e ela, por alguma razão que desconheço, não estava disposta, ele a bicava. Sim, batia até que ela fizesse o “carinho” ou cafuné que ele exigia unilateralmente. E se ela se negava e fugia, ele ia atrás, a perseguia, insistia até conseguir, com mais violência. Outro ponto: nunca vi Derpi retribuir carinho nos mesmos moldes. “Ah, mas são animais”, você diria! Sim, são animais. E cada espécie animal tem comportamentos próprios desde que foram criados lá atrás e habitam este nosso mundo. Tem sido assim há milhares de anos. É a natureza, não é? Agem por instinto. Dentro do entendimento espírita (pelo menos do meu), são seres cada qual em uma determinada escala evolutiva e todos em desenvolvimento contínuo. E nós, espíritas, será que alguma vez nos comportamos como Derpi e Derpina? Será que, mesmo que já não sejamos simples animais, conseguimos agir como seres espirituais e perfectíveis que somos nos respeitando mutuamente aqui e agora sem precisar esperar “nosso lar” ou o “mundo regenerado”? Será que as violências sofridas pelas mulheres dentro de seus próprios lares em várias formas (psicológica, física, moral e sexual, incluindo o estupro marital) são reconhecidas por nós como agressões que devem ser banidas? Será que as violências das quais as mulheres têm sido vítimas ao longo da história são pautas nos grupos de estudo, reuniões, evangelização, juventude e palestras nas casas espíritas? É tema de algum livro ou pesquisa que busca investigar as inter-relações ao longo das encarnações com alternância do espírito que violenta e é violentado em corpos ora de mulher ora de homem? O 180 foi acionado por você alguma vez como gesto de caridade para uma mulher em sofrimento? Conseguiu orientar uma companheira fragilizada a buscar proteção e amparo nos órgãos do estado? Meteu sua colher ressignificando na prática o dito popular ao defender a vida de uma mulher? Participou de alguma ação para garantir que a Lei Maria da Penha fosse implementada? Lutou pela abertura de delegacias especializadas em sua cidade? Está se sentindo ofendidx com tais perguntas? Mais uma: votou em um determinado ser espiritual (você sabe a quem me refiro) que faz apologia do estupro, tem ódio a mulheres e foi eleito por milhões de brasileirxs que o apoiam e/ou se omitem em cumplicidade? Derpina e Derpi formavam um casal de calopsitas adultas e viviam em dupla. Não participavam de uma sociedade (des)organizada como as nossas e nenhum dos dois estava na fase infantil. Quantas meninas, mulheres em sua infância agredida, espíritas ou não, foram obrigadas a fazer cafuné, carinho e sexo? Os números e estatísticas são assustadores. Temos tido coragem de olhar de frente para cada número e ver ali um ser espiritual –encarnado e vivenciando a fase infantil, adulta ou velhice– que carrega em sua jornada esta tragédia? Você se sente responsável como parte de uma sociedade que joga tantas meninas em situações de vulnerabilidade quando negam a suas famílias condições dignas de emprego, escola, alimentação, saúde, cultura, esporte, lazer, moradia, por fim, proteção e segurança? “Amar ao próximo” também pode significar individual –para você– e coletivamente –para as pessoas que participam da sua casa espírita– um “basta” à violência cometida contra as mulheres e, principalmente, aquelas que têm sido mais penalizadas como as mulheres pobres, as negras, as periféricas, as indígenas, as trabalhadoras em ocupações desvalorizadas e precarizadas, as portadoras de necessidades especiais, as mulheres do campo, enfim, as “minorias”, embora quantitativamente maiorias? Quantas vezes situações de violência aconteceram desde que animais e seres espirituais encarnados como nós habitamos este planeta? Normal? Crime? …? É a natureza? Agimos por instinto? Somos diferentes dos animais? Em quê? Derpina e Derpi se acasalavam e, junto a outros fatores, como consequência, tiveram mais uma ninhada, desta vez com 5 ovinhos. Para minha tristeza, Derpina ficou doente e morreu um dia antes da eclosão do 1º ovinho. Nunca esquecerei a data: 7 e 8 de setembro, dias da Independência do Brasil e da cidade de Vitória. Fiquei triste por Derpina e sigo em luto pela morte de 130 mil brasileiros, pelo desmanche do nosso país que continua dependente se não mais de Portugal e do império inglês, agora do capital/rentista transnacional conjugado com subserviência ao império estadunidense. Derpi, o pai e agora “viúvo”, segue no choco e espero consiga cuidar bem dos filhotinhos que vingarem. Pai-mãe ou pãe. A natureza lhe dá oportunidades. De maneira menos romantizada, a vida e a sociedade nossa de cada dia tem transformado muitas mulheres em “mãe-e-pai”. Pais negligenciam e abandonam as mulheres-mães e os filhos-órfãos, mas, raramente os “pais-abortadores” são assim denominados e criminalizados por isto. Na história das calopsitas, não entrou o capítulo do aborto nem a fase de perseguição e acusação de serem criminosos. Não se pode dizer o mesmo da menina de 10 anos de São Mateus/ES, perseguida e chamada de criminosa por cidadãos do “bem”, “cristãos” e “espíritas”. Confesso que, como a grande maioria dos espíritas, eu também entendia e defendia que a vida é dádiva de Deus, só a Ele cabe dar e tirar de acordo com seu amor, justiça e sabedoria infinitos. Continuo defendendo. Mas junto a isto, refletindo sobre as inúmeras violências pelas quais as mulheres passam cotidianamente em uma sociedade estruturalmente desumana e injusta, relendo textos kardequianos, estudando junto a outrxscompanheirxs espíritas progressistas, revi meu entendimento e posição há alguns anos. Talvez isto signifique algo a você, ou não. Passei a considerar também que, por mais que na questão 358 de “O livro dos espíritos” se encontre a afirmação ampla e geral “existe sempre crime quanto transgredis a lei de Deus”, em nenhuma outra passagem se aponta que cabe a nós, seres humanos, criminalizar quem vivencia a complexa experiência do aborto provocado. Ao contrário. O que se espera de nós é que criemos condições sociais gerais de vida digna para que toda e qualquer mulher-mãe-por-ser seja capaz de levar adiante sua decisão seja ela qual for, como ser espiritual que é responsável pelos seus atos, sujeito a “erros e acertos” numa infinita caminhada de aprendizagem e superação. Outro ponto que merece destacar é que a codificação está repleta de situações nas quais nós, seres espirituais criados simples e ignorantes porém perfectíveis, agimos com base em “falhas”, “erros”, “desconhecimento”, “injustiça”, “maldade”, “perversidade”, “atrocidade”, enfim, uma gama de posturas negativas, sobretudo nestas fases iniciais, tendo em vista o longo tempo de evolução espiritual, e em várias áreas da vida individual e social. Nem por isto há grupos “pró-vida espíritas” criminalizando os “transgressores da lei de Deus”, sabidamente em sua maioria homens ricos, brancos, das elites e heteronormativos. Pior, no caso de mulheres ricas e brancas que escolhem o aborto provocado, podem fazê-lo em clínicas protegidas pela justiça dos homens, de maneira segura evitando complicações e morte. Estas privilegiadas não são nem perseguidas nem vistas como criminosas. Que postura espírita é esta? Por fim, entre calopsitas, mulheres e espiritismo neste quase conto, apresento uma última relação-capítulo conjugados: machismo e uma homenagem. Na espécie das calopsitas, somente o macho tem características que permitem a ele assoviar. Pois não é que Derpi aprendeu um repertório incrível de MPB? Seria cômico se não fosse trágico que na nossa sociedade patriarcal e machista, a maior parte de tudo que a humanidade conseguiu desenvolver é atribuído de antemão aos homens e não às mulheres. Não deixa de ser uma violência e preconceito na maior parte das vezes que recebo alguém em casa, ao ouvir o assobio, perguntar já com uma resposta antecipada afirmando que foi meu marido quem o ensinou. Não, não foi. Nem preciso dizer quem fui, né? A homenagem vai para as 130 mil famílias enlutadas ao resgatar a letra de uma das canções que Derpi assobia, letra tão necessária por seu caráter revigorador nestes momentos duros que todos vivemos de pandemia e fascismo tupiniquim. Também, representadas simbolicamente por Derpina, homenagem para as mulheres espíritas com a esperança de que, de algum modo, este texto contribua um pouquinho para nos tornarmos mulheres e espíritas melhores. Segue a letra da música: “Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração. Toda vez que o adulto balança, ele vem pra me dar a mão. Há um passado no meu presente, um sol bem quente lá no meu quintal. Toda vez que a bruxa me assombra, o menino me dá a mão. E me fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir: amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor. Pois não posso, não devo, não quero viver como toda essa gente insiste em viver. E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal. Bola de meia, bola de gude. O solidário não quer solidão. Toda vez que a tristeza me alcança o menino me dá a mão. Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração. Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão.” (querido Milton). Mariléia, mãe, cidadã brasileira e do universo. Nota: [1] O número oficial de mortos por covid-19 no Brasil já ultrapassou a trágica marca de 140 mil. Publicado no Facebook em 26 de Setembro de 2020. Ref / Link: https://jornalcriticaespirita.files.wordpress.com/…/cri… Autora: Mariléia Dionísio

Uma vergonha perante o mundo

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Em novo e patético discurso feito na Assembleia Geral da ONU, em seu 75° aniversário, o energúmeno miliciano envergonhou mais uma vez o povo brasileiro perante o mundo. Seu discurso, recheado de baboseiras e mentiras, como sempre, acusa “caboclos e índios” pelas queimadas na Amazônia e no Pantanal e pede ajuda para o combate à “cristofobia”[1], seja lá o que isso for na mente doente dessa gente criminosa, preconceituosa e fundamentalista. Além dessas idiotices, o genocida afirmou ainda que o Brasil é um país “cristão e conservador”. Desde quando? Vale lembrar desse trecho da Constituição Federal: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: […] VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; […]” Ou seja, o estado brasileiro é laico[2] e isso está explícito na sua lei maior. É certo que o mundo todo agora ri desse país entregue ao crime organizado, mas por aqui a comédia se transformou numa das maiores tragédias recentes que já se viveu em terras tupiniquins: genocídio, destruição ambiental, direitos roubados e teocracia em implantação sob o silêncio cúmplice dos demais poderes e da imprensa cooptados. É triste, para os espíritas, saber que essa situação encontrou, e ainda encontra, apoio entre muitas pessoas e instituições espíritas: é o bolsoespiritismo, de infeliz e forte presença dentro do movimento espírita. Além da vergonha por conta dessa quadrilha no governo federal, os espíritas vivem uma dupla vergonha pela presença desse bolsoespiritismo, que mancha as propostas espíritas e dilacera sua reputação. O povo brasileiro precisa urgentemente lutar por sua vida, pelo seu ambiente e por seus direitos e liberdades. E só há um jeito para isso: Uma vergonha perante o mundo. Em novo e patético discurso feito na Assembleia Geral da ONU, em seu 75° aniversário, o energúmeno miliciano envergonhou mais uma vez o povo brasileiro perante o mundo. Seu discurso, recheado de baboseiras e mentiras, como sempre, acusa “caboclos e índios” pelas queimadas na Amazônia e no Pantanal e pede ajuda para o combate à “cristofobia”[1], seja lá o que isso for na mente doente dessa gente criminosa, preconceituosa e fundamentalista. Além dessas idiotices, o genocida afirmou ainda que o Brasil é um país “cristão e conservador”. Desde quando? Vale lembrar desse trecho da Constituição Federal: “Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: […] VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias; […]” Ou seja, o estado brasileiro é laico[2] e isso está explícito na sua lei maior. É certo que o mundo todo agora ri desse país entregue ao crime organizado, mas por aqui a comédia se transformou numa das maiores tragédias recentes que já se viveu em terras tupiniquins: genocídio, destruição ambiental, direitos roubados e teocracia em implantação sob o silêncio cúmplice dos demais poderes e da imprensa cooptados. É triste, para os espíritas, saber que essa situação encontrou, e ainda encontra, apoio entre muitas pessoas e instituições espíritas: é o bolsoespiritismo, de infeliz e forte presença dentro do movimento espírita. Além da vergonha por conta dessa quadrilha no governo federal, os espíritas vivem uma dupla vergonha pela presença desse bolsoespiritismo, que mancha as propostas espíritas e dilacera sua reputação. O povo brasileiro precisa urgentemente lutar por sua vida, pelo seu ambiente e por seus direitos e liberdades. E só há um jeito para isso: #ForaBolsonaro!  Publicado no Facebook em 22 de Setembro de 2020. Ref/Link: Notas: [1] https://www.diariodocentrodomundo.com.br/…/marina-se…/ [2] https://www.justificando.com/…/o-principio-da…/

Missão dos Espíritos Encarnados

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No capítulo que trata “das ocupações e missões dos espíritos”, Kardec, em “O livro dos espíritos”, recebe essa instigante resposta à sua pergunta sobre o propósito das encarnações na vida material. E a resposta não poderia ser mais sugestiva: “Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais. […]” De significado profundo, a resposta apresentada pelos espíritos que o auxiliaram aponta para um objetivo primordial nas nossas existências terrenas: auxiliar o progresso humano e suas instituições, lançando mão dos meios diretos e materiais. Não há como tergiversar sobre essa resposta ou buscar escamotear seu conteúdo relevante. Aqui estamos, todos, para melhorar a sociedade pelos meios que nos foram dispostos pela própria vida material. E melhorar a sociedade, ou seja, suas instituições, é justamente o conhecer-se e melhorar-se, é a transformação proposta pelos espíritos que insinuam que esse objetivo não é alcançado de forma individual, mas necessariamente coletiva. Portanto, não se deve falar em “reforma íntima”, que não passa de recurso erístico meritocrático, mas em luta pela transformação da realidade que nos cerca, que, por fim, transformar-nos-á a todos em pessoas melhores, mais humanas e fraternas. As propostas espíritas são transformadoras e revolucionárias, precisamos colocá-las em prática! Publicado no Facebook em 20 de setembro de 2020. Ref.: O Livro dos Espíritos

E o espiritismo se faz povo

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“E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.”

Mateus, 4, 23.

Em sequência aos textos propositivos duma nova realidade de ação-reflexão do movimento espírita, discutem-se algumas formas para sua atuação. Destaca-se que esse é o terceiro texto com reflexões e aprofundamentos sobre essa proposta. Os outros dois podem ser lidos nos endereços abaixo: “Por um novo movimento espírita” https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/1058329021228088 “O que fazer? Ou uma proposta inicial para encaminhamentos dos ‘problemas candentes do nosso movimento'” https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/1073049716422685 Pretende-se aqui esmiuçar um pouco as propostas rascunhadas no segundo texto, em que se afirma: “Esses novos grupos e instituições devem ter como objetivo primacial a construção da estratégia de sua inserção na luta pela superação da cruel realidade social existente. Suas reuniões, estudos, conferências e ação social devem ter esse maior propósito colocado como horizonte, como meta à sua atuação, exemplificando o poder revolucionário da filosofia espírita. Afinal, de que adianta decorar perguntas e respostas de livros e não ser capaz de usar esse tipo de conhecimento para transformar a realidade ao seu redor? E transformar não é apenas dar o pão no momento de fome extrema, que também é importante, mas construir uma sociedade em que mulheres e homens não tenham mais que sentir fome.” A partir do claro entendimento do objetivo transformador das propostas espíritas, não no sentido individual, mas coletivo, porque não é possível transformar-se sem a transformação de toda a sociedade, o que se propõe é a mudança da atuação do movimento espírita no sentido de se tornar instrumento na busca das mudanças da sociedade desigual e injusta em que se vive. E isso é radical e revolucionário, pois não se parte da proposta de evangelização, no sentido clássico, apartada do contexto vivido por todos, que pretende apenas formar prosélitos de classe média e experienciar a prática da caridade como simples entrega de fardos e itens aos pobres, como se esses fizessem parte duma outra realidade, dum outro mundo. Os ensinos de Jesus e dos espíritos que auxiliaram Kardec são recursos valiosos que podem, e devem, compor um mosaico de ações que promovam a construção da autoconsciência transformadora do povo, pois um povo alheio à sua realidade social, econômica e ambiental e à sua identidade jamais conseguirá dar passos no sentido da superação de suas mazelas e dificuldades. Portanto, se se pretende verdadeiramente promover a transformação proposta nos ensinos evangélicos e espíritas, é preciso antes de tudo atuar no sentido de possibilitar ao povo a elaboração de sua autoconsciência, ou seja, o foco do novo movimento espírita dever ser o trabalho de conscientização. E aqui não há nenhuma pretensão de protagonismo nessa tarefa, pois a conscientização é uma conquista de determinado grupo ou de toda a sociedade. Ela não é algo dado por um terceiro, mas construída a partir da própria realidade em que se vive, pois só quem a vive é capaz de dela tomar consciência. Caberá, portanto, ao novo movimento espírita entender seu papel de ferramenta, de meio, de instrumento, de mero auxiliar que facilita a conquista dessa consciência social. Os núcleos espíritas desse novo movimento devem, preferencialmente, estar vinculados a comunidades populares, de trabalhadores, para, junto com eles –e jamais para eles–, promover atividades e reflexões, com o apoio indispensável dos ensinos evangélicos e espíritas, que contribuam para a construção da consciência crítica de todos os envolvidos. Portanto, não haveria espaço nessa nova proposta de ação-reflexão para palestras evangélicas alienantes ou reuniões de estudos de caráter dogmático e ortodoxo. Isso porque não há uma doutrina a ser ensinada, não há um fiel a ser conquistado, mas uma tarefa de construção de consciência coletiva a ser feita por meio das transformadoras propostas espíritas, já que o que se objetiva não é um profitente espírita, mas um homem liberto e consciente. Reuniões, estudos, eventos devem então se pautar pelo diálogo e pela participação intensiva de todos. E qualquer reflexão de caráter espiritual e evangélico deve partir da realidade concreta em que vive a comunidade que se insere o núcleo espírita. Muitas reflexões, diálogos e estudos espíritas podem ser feitos a partir das condições concretas da vida do povo, como as dificuldades das relações de trabalho, as condições objetivas do bairro em que se vive, a moradia, as dificuldades enfrentadas pelas famílias trabalhadoras no acesso à educação e à saúde, os problemas enfrentados por negros, mulheres e LGBTs da comunidade, a violência urbana, as drogas etc. E, a partir da análise desse contexto socioeconômico e da reflexão dos textos espíritas, será possível encontrar não só o consolo proposto por esses textos, mas a força para transformar a situação concreta, que é o valor maior dos ensinos evangélicos. Esses novos núcleos espíritas devem também promover incansavelmente a auto-organização em todos os sentidos. Primeiro, a auto-organização do trabalho, motivando o trabalhador a participar de cooperativas, movimentos sociais, organizações de bairro e sindicatos profissionais, mostrando que é por meio da luta coletiva que se conseguirá transformar a realidade, jogando por terra o discurso hegemônico e falacioso da meritocracia individual. Segundo, é preciso também fazer com que o próprio núcleo espírita seja auto-organizado, que a própria comunidade dirija e decida os rumos desse novo movimento espírita. A classe média, maioria dentro do carunchoso movimento espírita retrógrado e conservador, precisa abdicar de seu protagonismo e ser mero instrumento da promoção da participação popular na organização desses novos núcleos. Por fim, as atividades de caridade material, necessárias dentro das comunidades pobres onde vive o povo trabalhador, devem-se nortear pela reflexão e decisão conjuntas e pelo auxílio mútuo. Ou seja, é a leitura da realidade concreta, feita com a participação de todos, que deverá pautar as ações a serem tomadas por todos, incluindo obrigatoriamente a própria comunidade. Não há simplesmente doação de cestas básicas, roupas ou que tais sem que toda a comunidade participe da definição de suas necessidades e também da própria atividade de auxílio mútuo. Portanto, não é apenas um doar alienante, mas uma ação que constrói relações coletivas e promove a consciência libertadora. As propostas espíritas trazem consigo esse poder transformador revolucionário. O que se precisa é colocá-lo em ação. Essas propostas foram trazidas há mais de cento e sessenta anos por uma miríade de espíritos como ferramenta de auxílio nesse processo que, como se sabe pela lei de evolução, ocorrerá de qualquer forma, “conosco, sem nós ou contra nós”[1]. E o que aqui, pois, propõe-se é que se coloque o movimento espírita a favor desse processo, mudando o triste rumo em que hoje se encontra. Nota: [1] Frei Inocêncio Engelke, em carta pastoral à pequenina cidade mineira de Campanha, em 1950, mostrando sua preocupação sobre a ausência da Igreja Católica no processo de libertação do povo camponês. Publicado no Facebook em 05 de setembro de 2020.