Os líderes espíritas, seus percalços – vídeo
A nova coluna de Isabel Guimarães para a página “Espíritas à esquerda” traz uma novidade: em vez dum texto, Isabel nos fala em vídeo sobre os líderes espíritas, seus percalços e os problemas de quem os segue cegamente.
Confira a coluna anterior:
https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/986900418370949
Publicado no Facebook em 09 de Outubro de 2020.
Partido da Lava jato
A Lava-Jato é sabidamente um partido político, um partido que se aliou ao que existe de mais corrupto e criminoso em nossa republiqueta laranjeira, e com a única finalidade de colocar a extrema-direita protofascista no comando dessa infeliz e solapada nação.
Juízes, procuradores, policiais e demais integrantes dessa farsa jurídica atuaram criminosamente apenas para impedir a volta da centro-esquerda ao poder após o golpe de 2016. E conseguiram, com o apoio do grande capital nacional e da grande imprensa cooptada e também corrupta.
Agora que o trabalho já foi entregue, e alguns membros dessa farsa jurídica já fogem para o exterior (como não lembrar dum fascinado médium afirmando se tratar de um “venerando”?) para usufruir dos proventos de seus sórdidos serviços contra a sociedade brasileira, a marionete miliciana alçada ao poder por esse esquema corrupto e criminoso agora se sente à vontade para afirmar que essa “operação” acabou.
Triste é ver esse farsante corrupto, rei das rachadinhas e do crime organizado no poder, afirmar que em seu (des)governo não há mais corrupção. Na verdade, essa quadrilha ora no comando federal tem quase todos os seus membros investigados por crimes diversos, golpes financeiros e associações com o crime organizado. É um pacote completo da mais pura corrupção e da mais abjeta imoralidade social.
Será que os bolsoespíritas, também fascinados com a ação da “Farsa-Jato”, ainda consideram esse corrupto, misógino e racista um messias enviado? Como será que os “médiuns de direita”, como anunciado por grande revista de circulação nacional, veem agora a pilhagem organizada sobre os cofres federais?
Nessa onda protofascista, apoiada por grande maioria dos “espíritas de bem”, esse governo federal, e muitos dos governos subnacionais, tornaram-se apenas escritórios do crime organizado.
Arte elaborada a partir da arte original da Folha de S. Paulo.
Publicado na Página do Facebook.
ExJuizeco
O ex-juizeco tucano de Curitiba, também conhecido como o marreco de Maringá, anunciou pelas redes sociais que tem projetos para deixar o país e viver com sua família no exterior[1].
Sua missão está cumprida. O ex-ministro fascistoide fez aquilo que se propôs a fazer: destruir a indústria nacional e, em especial, a Petrobras.
Suas ações sempre foram pautadas pelo interesse do Império e sua íntima relação com agências e prepostos estadunidenses jamais foi segredo[2]. Vale lembrar todo o seu “treinamento”[3] nos Estados Unidos anterior ao infame projeto de suicídio nacional conhecido como “Lava-Jato”. Seu papel na recentíssima história brasileira foi o de intermediário entre os objetivos do grande capital sobre o mercado e as riquezas nacionais e a agenda política para a construção dessa estratégia imperialista.
Além de ter sido o instrumento para o afastamento do maior líder político popular dessas terras arrasadas pelo ódio plantado e pelo capital predador, o lacaio do Império, travestido de juíz e depois ministro, agiu como agente fomentador da destruição da maior empresa brasileira, a Petrobras, que agora, com o aval do STF –como não lembrar do “com o Supremo, com tudo”, do criminoso Jucá–, será vendida em fatias para o grande capital, impedindo o Brasil de continuar seu projeto político de independência econômica e de desenvolvimento social.
A recente decisão do STF, após o sucesso absoluto do projeto entreguista a que se dedicou o lacaio ex-juizecobolsonarista, é uma pá de cal sobre os escombros duma sociedade sonhada para todos.
Essa gente vendida, cooptada e desinteressada das questões nacionais agora pode receber seu pagamento vivendo no exterior.
Publicado no Facebook em 07 de Outubro de 2020.
Notas:
[1] https://www.brasil247.com/…/moro-ja-vai-tarde-diz-pml…
[2] https://apublica.org/…/no-ministerio-da-justica-sergio…/
[3] https://www.brasildefato.com.br/…/wikileaks-eua-criou…/
Jesus libertador
Quando se fala na proposta libertadora de Jesus, deve-se colocá-la dentro do contexto em que ela foi anunciada, conforme se pode ler nos textos neotestamentários.
Para melhor compreender a proposta da liberdade que se conquista a partir do conhecimento da verdade, é preciso buscar o fulcro do anúncio trazido por Jesus. Ao anunciar a verdade, o que propôs aquele homem há dois mil anos? O que se pode esperar a partir desse anúncio feito em meio a pobres, famélicos e deserdados?
A alma da mensagem trazida por Jesus pode ser resumida pelo anúncio do “Reino”. O “Reino”, que não é desse mundo de miséria, exploração, opressão e injustiça, é o que move todos os discursos e ações feitos naquele cenário palestino de pobreza e desigualdade.
E esse anúncio traz consigo, como um bom professor o faria, a motivação e os caminhos para a consecução desse “Reino” entre nós. Essa nova sociedade anunciada –porque “evangelho” é justamente o anúncio, a mensagem, a novidade– seria então um espaço de prática de justiça social e fraternidade, onde todos teriam o necessário e ninguém teria em excesso, onde a justiça reinaria e a mansidão se faria sua herdeira. Assim foi anunciado naquele momento em que ele subiu ao monte para falar.
E esse é o ponto em que se pode então compreender a proposta da libertação trazida por aquele homem profundo e sábio: a libertação de todos a partir da transformação da realidade social que é responsável pela opressão e pela exploração do homem pelo homem. E só o fim desse sistema opressivo será capaz de efetivamente trazer a liberdade anunciada nos seus ensinos.
A transformação da realidade social de opressora e exploradora para justa e fraterna é a libertação do homem. De todos os homens. E essa libertação só se efetivará a partir da tomada de consciência do oprimido e explorado do seu lugar nessa estrutura social que o impõe a subserviência e a iniquidade. Só a conscientização daquele que sofre as consequências cruéis da opressão, que se podem traduzir em fome, ignorância, doença e indignidade, será capaz de transformar a realidade, pois essa mudança jamais ocorrerá a partir daquele que oprime.
E a libertação do oprimido, por meio da superação da sua alienação social, é a condição para a libertação do opressor, que também se encontra, muitas vezes, alienado da sua condição de explorador. Assim, apenas por meio da conscientização do oprimido se é capaz de libertar todos os homens e mudar as estruturas que os reduzem a meras engrenagens produtivas.
Por isso a mensagem de libertação de Jesus é dada aos pobres e desgraçados do mundo, pois é deles, e apenas deles, o papel revolucionário da conquista do “Reino”.
Em sua tarefa iluminada, o homem Jesus dedicou seus momentos proféticos a falar com essa gente, a retirar dela o véu da ignorância que aliena as consciências submissas e conscientizá-las da sua árdua tarefa de lutas e mudanças, que seriam então traduzidas numa nova realidade, num novo “Reino” que não é desse mundo de dores, injustiças e opressão.
Os espíritas, como seguidores dessa mensagem e aliados dessa proposta de transformação radical das estruturas que exploram e oprimem, devem-se sentir motivados a lutar pela implantação desse “Reino”, fazendo um pouco aquilo que o ilustrado professor há dois mil anos fez com tanto brilho: colocar-se como instrumento e ferramenta para conscientizar e libertar aqueles que são as vítimas desse mundo velho que insiste em fazer morada entre os homens.
Não há caminho possível, e essa é a mensagem profunda e libertadora de Jesus, para a transformação humana que não seja por meio do trabalho, ao mesmo tempo miúdo e extenso, na luta pela conscientização do oprimido. Não, não há outro caminho, e é apenas nele que os espíritas e suas instituições deveriam atuar como seguidores dessa mensagem, preparando-se da melhor forma para essa tarefa libertadora.
Publicado no Facebook em 15 de Outubro de 2020.
Os espíritas e o “Reino”
“A filosofia espírita só estará definitivamente arraigada no mundo no dia em que se dedicar à consideração filosófica, social e religiosa da chamada luta de classes. O problema desta luta absorve quase toda a atenção do homem contemporâneo. Seria um erro não reconhecer que todo pensamento espiritualista dos novos tempos só avançará se souber enfrentar esse tremendo conflito, que se desenvolve entre as classes sociais. Não olvidemos que todo progresso da cultura só é possível no plano da consideração histórico-social. A filosofia espírita, se não tomar uma orientação desse caráter, realmente definida, tal como se deduz do kardecismo, ver-se-á diminuída e reduzida em sua ação, frente ao problema transcendental das questões sociais.”
Assim, o argentino Humberto Mariotti, em sua conhecida obra “Parapsicología y materialismo histórico”, de 1963, indica o caminho necessário à condução das propostas espíritas pelo movimento espírita.
A ideia de levar as propostas espíritas de transformação social e individual, num enlace dialético contínuo, que se tem defendido nesse espaço, não é original, pois já foi levantada, e convenientemente esquecida e relegada à mera curiosidade histórica, por grandes nomes do movimento espírita nacional e internacional.
Como explicita Mariotti no fragmento acima, não orientar as discussões espíritas ao necessário debate sobre as desigualdades econômicas, a injustiça social, as discriminações humanas, enfim, a luta de classes, é diminuir o alcance revolucionário das propostas espíritas, pois não é possível pensar em espiritismo sem suas óbvias consequências sociais e seu chamamento à ação transformadora.
O que faz o espiritismo, nos textos trazidos pelos espíritos que auxiliaram Kardec, e que apenas ecoam as propostas de Jesus, é delinear os fundamentos do “Reino” anunciado por Jesus, descrito nos textos neotestamentários. Esse “Reino”, que traz como fundamentos a justiça, o amor, a fraternidade e a igualdade, só será alcançado quando os homens estiverem conscientes de sua condição de explorados e expropriados em seus direitos e dignidade.
A opção de Jesus pelos pobres, deserdados, explorados, humilhados, oprimidos e desgraçados nessa transformação é muito clara e não permite compreensão distinta. Aos exploradores e detentores de privilégios sociais e econômicos, Jesus apenas os convida a participar, propondo o abandono de sua situação moral aviltante de opressor como “conditio sinequa non”. Como não lembrar das passagens em que o jovem rico é instado a doar seus bens para segui-lo, ou quando diz que é mais fácil um camelo passar pelo buraco duma agulha do que um rico alcançar o “Reino”?
A proposta de Jesus, portanto, é clara: só será possível um “Reino” quando não existirem diferenças sociais que permita haver alguns privilegiados e muitos miseráveis.
Cabe aos espíritas, que se dizem seguidores de Jesus, levar adiante tal proposta de viabilização e fundação do “Reino”. E o “Reino” nada mais seria do que essa sociedade de homens, nas condições material e espiritual, em que a justiça social seja o norte e orientada por propostas de libertação e conscientização do povo. Porque só um povo livre e consciente será capaz de manter uma sociedade fundada nos valores do amor e da fraternidade propostos há mais de dois mil anos.
Um espiritismo insosso e inócuo, que se propõe apenas a discutir temas fúteis e comportamentais, não tem valor para a transformação em direção ao “Reino”, como indicado por Jesus. A construção desse “Reino” demanda verdadeiros espíritas que se proponham à ação-reflexão no sentido de promover a autolibertação e a autoconscientização do povo oprimido, conforme a clara escolha de Jesus. E isso só será possível com um novo movimento espírita transformado e construído a partir das reflexões já trazidas por muitos, como indicado no texto citado de Mariotti.
Há muito a fazer. Há um novo movimento espírita justo e fraterno a ser construído. À ação, espíritas!
Sobre calopsitas, mulheres e espiritismo
Este artigo, como indica o título, é sobre calopsitas, mulheres e espiritismo. E é possível estabelecer tal relação estranha inicialmente? Só lendo pra saber, né? E a relação começa lá atrás, muito lá atrás quando surgiram os primeiros animais e os primeiros seres humanos aqui no nosso planeta Terra. Mas não se preocupe, pois o salto de lá pra cá é grande e chega rápido a hoje, 2020, ano de pandemia.
Brasil, desigualdades de todos os tipos agravadas. Sofrimentos, inúmeros deles incluindo o desencarne (que poderia ter sido prorrogado) e o luto para 130 mil famílias (até o momento)[1]. Tristeza, tenho sentido uma tristeza profunda intercalada com sentimentos de impotência e indignação por um lado; esperança e resistência por outro, junto com a aprendizagem, dura.
Em meio a tudo isto, uma pequena alegria caseira: o piado bem baixinho como indício de que um filhotinho de calopsita havia nascido. Alegria que se transformou em força extra para parir este texto há dias sendo gestado sobre a dramática situação da mulher dentro de nossa sociedade, com ênfase na postura de espíritas.
Este filhotinho (que, espero, consiga sobreviver assim como os outros quatro que ainda não eclodiram dos ovos) é resultado de uma história composta por alguns capítulos e personagens.
Um dos capítulos que merece destaque corresponde aos episódios “entre tapas e beijos” que do sofá de meu ap’e’rtamento assistíamos praticamente todos os dias nesses oito anos do casalzinho de calopsitas. Na verdade, os “beijos” não eram beijos, mas cafunés que Derpina (a fêmea) fazia na cabeça de Derpi (o macho).
Normalmente, logo depois do almoço, ele abaixava a cabeça aos pouquinhos, tocando-a levemente e aguardava que ela, num gesto de carinho, passasse o bico gentilmente nas peninhas do pescoço/cabeça dele. E ela assim fez várias e várias e várias e várias vezes.
O enredo ganha uma singularidade: quando ele queria carinho e ela, por alguma razão que desconheço, não estava disposta, ele a bicava. Sim, batia até que ela fizesse o “carinho” ou cafuné que ele exigia unilateralmente. E se ela se negava e fugia, ele ia atrás, a perseguia, insistia até conseguir, com mais violência. Outro ponto: nunca vi Derpi retribuir carinho nos mesmos moldes.
“Ah, mas são animais”, você diria! Sim, são animais. E cada espécie animal tem comportamentos próprios desde que foram criados lá atrás e habitam este nosso mundo. Tem sido assim há milhares de anos. É a natureza, não é? Agem por instinto. Dentro do entendimento espírita (pelo menos do meu), são seres cada qual em uma determinada escala evolutiva e todos em desenvolvimento contínuo.
E nós, espíritas, será que alguma vez nos comportamos como Derpi e Derpina?
Será que, mesmo que já não sejamos simples animais, conseguimos agir como seres espirituais e perfectíveis que somos nos respeitando mutuamente aqui e agora sem precisar esperar “nosso lar” ou o “mundo regenerado”?
Será que as violências sofridas pelas mulheres dentro de seus próprios lares em várias formas (psicológica, física, moral e sexual, incluindo o estupro marital) são reconhecidas por nós como agressões que devem ser banidas?
Será que as violências das quais as mulheres têm sido vítimas ao longo da história são pautas nos grupos de estudo, reuniões, evangelização, juventude e palestras nas casas espíritas?
É tema de algum livro ou pesquisa que busca investigar as inter-relações ao longo das encarnações com alternância do espírito que violenta e é violentado em corpos ora de mulher ora de homem?
O 180 foi acionado por você alguma vez como gesto de caridade para uma mulher em sofrimento? Conseguiu orientar uma companheira fragilizada a buscar proteção e amparo nos órgãos do estado? Meteu sua colher ressignificando na prática o dito popular ao defender a vida de uma mulher? Participou de alguma ação para garantir que a Lei Maria da Penha fosse implementada? Lutou pela abertura de delegacias especializadas em sua cidade? Está se sentindo ofendidx com tais perguntas? Mais uma: votou em um determinado ser espiritual (você sabe a quem me refiro) que faz apologia do estupro, tem ódio a mulheres e foi eleito por milhões de brasileirxs que o apoiam e/ou se omitem em cumplicidade?
Derpina e Derpi formavam um casal de calopsitas adultas e viviam em dupla. Não participavam de uma sociedade (des)organizada como as nossas e nenhum dos dois estava na fase infantil.
Quantas meninas, mulheres em sua infância agredida, espíritas ou não, foram obrigadas a fazer cafuné, carinho e sexo?
Os números e estatísticas são assustadores. Temos tido coragem de olhar de frente para cada número e ver ali um ser espiritual –encarnado e vivenciando a fase infantil, adulta ou velhice– que carrega em sua jornada esta tragédia?
Você se sente responsável como parte de uma sociedade que joga tantas meninas em situações de vulnerabilidade quando negam a suas famílias condições dignas de emprego, escola, alimentação, saúde, cultura, esporte, lazer, moradia, por fim, proteção e segurança?
“Amar ao próximo” também pode significar individual –para você– e coletivamente –para as pessoas que participam da sua casa espírita– um “basta” à violência cometida contra as mulheres e, principalmente, aquelas que têm sido mais penalizadas como as mulheres pobres, as negras, as periféricas, as indígenas, as trabalhadoras em ocupações desvalorizadas e precarizadas, as portadoras de necessidades especiais, as mulheres do campo, enfim, as “minorias”, embora quantitativamente maiorias?
Quantas vezes situações de violência aconteceram desde que animais e seres espirituais encarnados como nós habitamos este planeta? Normal? Crime? …?
É a natureza? Agimos por instinto? Somos diferentes dos animais? Em quê?
Derpina e Derpi se acasalavam e, junto a outros fatores, como consequência, tiveram mais uma ninhada, desta vez com 5 ovinhos. Para minha tristeza, Derpina ficou doente e morreu um dia antes da
eclosão do 1º ovinho.
Nunca esquecerei a data: 7 e 8 de setembro, dias da Independência do Brasil e da cidade de Vitória. Fiquei triste por Derpina e sigo em luto pela morte de 130 mil brasileiros, pelo desmanche do nosso país que continua dependente se não mais de Portugal e do império inglês, agora do capital/rentista transnacional conjugado com subserviência ao império estadunidense.
Derpi, o pai e agora “viúvo”, segue no choco e espero consiga cuidar bem dos filhotinhos que vingarem. Pai-mãe ou pãe. A natureza lhe dá oportunidades. De maneira menos romantizada, a vida e a sociedade nossa de cada dia tem transformado muitas mulheres em “mãe-e-pai”. Pais negligenciam e abandonam as mulheres-mães e os filhos-órfãos, mas, raramente os “pais-abortadores” são assim denominados e criminalizados por isto.
Na história das calopsitas, não entrou o capítulo do aborto nem a fase de perseguição e acusação de serem criminosos. Não se pode dizer o mesmo da menina de 10 anos de São Mateus/ES, perseguida e chamada de criminosa por cidadãos do “bem”, “cristãos” e “espíritas”.
Confesso que, como a grande maioria dos espíritas, eu também entendia e defendia que a vida é dádiva de Deus, só a Ele cabe dar e tirar de acordo com seu amor, justiça e sabedoria infinitos. Continuo defendendo.
Mas junto a isto, refletindo sobre as inúmeras violências pelas quais as mulheres passam cotidianamente em uma sociedade estruturalmente desumana e injusta, relendo textos kardequianos, estudando junto a outrxscompanheirxs espíritas progressistas, revi meu entendimento e posição há alguns anos. Talvez isto signifique algo a você, ou não.
Passei a considerar também que, por mais que na questão 358 de “O livro dos espíritos” se encontre a afirmação ampla e geral “existe sempre crime quanto transgredis a lei de Deus”, em nenhuma outra passagem se aponta que cabe a nós, seres humanos, criminalizar quem vivencia a complexa experiência do aborto provocado. Ao contrário. O que se espera de nós é que criemos condições sociais gerais de vida digna para que toda e qualquer mulher-mãe-por-ser seja capaz de levar adiante sua decisão seja ela qual for, como ser espiritual que é responsável pelos seus atos, sujeito a “erros e acertos” numa infinita caminhada de aprendizagem e superação.
Outro ponto que merece destacar é que a codificação está repleta de situações nas quais nós, seres espirituais criados simples e ignorantes porém perfectíveis, agimos com base em “falhas”, “erros”, “desconhecimento”, “injustiça”, “maldade”, “perversidade”, “atrocidade”, enfim, uma gama de posturas negativas, sobretudo nestas fases iniciais, tendo em vista o longo tempo de evolução espiritual, e em várias áreas da vida individual e social. Nem por isto há grupos “pró-vida espíritas” criminalizando os “transgressores da lei de Deus”, sabidamente em sua maioria homens ricos, brancos, das elites e heteronormativos.
Pior, no caso de mulheres ricas e brancas que escolhem o aborto provocado, podem fazê-lo em clínicas protegidas pela justiça dos homens, de maneira segura evitando complicações e morte. Estas privilegiadas não são nem perseguidas nem vistas como criminosas. Que postura espírita é esta?
Por fim, entre calopsitas, mulheres e espiritismo neste quase conto, apresento uma última relação-capítulo conjugados: machismo e uma homenagem.
Na espécie das calopsitas, somente o macho tem características que permitem a ele assoviar. Pois não é que Derpi aprendeu um repertório incrível de MPB? Seria cômico se não fosse trágico que na nossa sociedade patriarcal e machista, a maior parte de tudo que a humanidade conseguiu desenvolver é atribuído de antemão aos homens e não às mulheres. Não deixa de ser uma violência e preconceito na maior parte das vezes que recebo alguém em casa, ao ouvir o assobio, perguntar já com uma resposta antecipada afirmando que foi meu marido quem o ensinou. Não, não foi. Nem preciso dizer quem fui, né?
A homenagem vai para as 130 mil famílias enlutadas ao resgatar a letra de uma das canções que Derpi assobia, letra tão necessária por seu caráter revigorador nestes momentos duros que todos vivemos de pandemia e fascismo tupiniquim. Também, representadas simbolicamente por Derpina, homenagem para as mulheres espíritas com a esperança de que, de algum modo, este texto contribua um pouquinho para nos tornarmos mulheres e espíritas melhores. Segue a letra da música:
“Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração. Toda vez que o adulto balança, ele vem pra me dar a mão. Há um passado no meu presente, um sol bem quente lá no meu quintal. Toda vez que a bruxa me assombra, o menino me dá a mão. E me fala de coisas bonitas que eu acredito que não deixarão de existir: amizade, palavra, respeito, caráter, bondade, alegria e amor. Pois não posso, não devo, não quero viver como toda essa gente insiste em viver. E não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal. Bola de meia, bola de gude. O solidário não quer solidão. Toda vez que a tristeza me alcança o menino me dá a mão. Há um menino, há um moleque morando sempre no meu coração. Toda vez que o adulto balança ele vem pra me dar a mão.” (querido Milton).
Mariléia, mãe, cidadã brasileira e do universo.
Nota:
[1] O número oficial de mortos por covid-19 no Brasil já ultrapassou a trágica marca de 140 mil.
Publicado no Facebook em 26 de Setembro de 2020.
Ref / Link: https://jornalcriticaespirita.files.wordpress.com/…/cri…
Autora: Mariléia Dionísio
Uma vergonha perante o mundo
Em novo e patético discurso feito na Assembleia Geral da ONU, em seu 75° aniversário, o energúmeno miliciano envergonhou mais uma vez o povo brasileiro perante o mundo.
Seu discurso, recheado de baboseiras e mentiras, como sempre, acusa “caboclos e índios” pelas queimadas na Amazônia e no Pantanal e pede ajuda para o combate à “cristofobia”[1], seja lá o que isso for na mente doente dessa gente criminosa, preconceituosa e fundamentalista.
Além dessas idiotices, o genocida afirmou ainda que o Brasil é um país “cristão e conservador”. Desde quando? Vale lembrar desse trecho da Constituição Federal:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[…]
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
[…]”
Ou seja, o estado brasileiro é laico[2] e isso está explícito na sua lei maior.
É certo que o mundo todo agora ri desse país entregue ao crime organizado, mas por aqui a comédia se transformou numa das maiores tragédias recentes que já se viveu em terras tupiniquins: genocídio, destruição ambiental, direitos roubados e teocracia em implantação sob o silêncio cúmplice dos demais poderes e da imprensa cooptados.
É triste, para os espíritas, saber que essa situação encontrou, e ainda encontra, apoio entre muitas pessoas e instituições espíritas: é o bolsoespiritismo, de infeliz e forte presença dentro do movimento espírita. Além da vergonha por conta dessa quadrilha no governo federal, os espíritas vivem uma dupla vergonha pela presença desse bolsoespiritismo, que mancha as propostas espíritas e dilacera sua reputação.
O povo brasileiro precisa urgentemente lutar por sua vida, pelo seu ambiente e por seus direitos e liberdades. E só há um jeito para isso:
Uma vergonha perante o mundo.
Em novo e patético discurso feito na Assembleia Geral da ONU, em seu 75° aniversário, o energúmeno miliciano envergonhou mais uma vez o povo brasileiro perante o mundo.
Seu discurso, recheado de baboseiras e mentiras, como sempre, acusa “caboclos e índios” pelas queimadas na Amazônia e no Pantanal e pede ajuda para o combate à “cristofobia”[1], seja lá o que isso for na mente doente dessa gente criminosa, preconceituosa e fundamentalista.
Além dessas idiotices, o genocida afirmou ainda que o Brasil é um país “cristão e conservador”. Desde quando? Vale lembrar desse trecho da Constituição Federal:
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
[…]
VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;
[…]”
Ou seja, o estado brasileiro é laico[2] e isso está explícito na sua lei maior.
É certo que o mundo todo agora ri desse país entregue ao crime organizado, mas por aqui a comédia se transformou numa das maiores tragédias recentes que já se viveu em terras tupiniquins: genocídio, destruição ambiental, direitos roubados e teocracia em implantação sob o silêncio cúmplice dos demais poderes e da imprensa cooptados.
É triste, para os espíritas, saber que essa situação encontrou, e ainda encontra, apoio entre muitas pessoas e instituições espíritas: é o bolsoespiritismo, de infeliz e forte presença dentro do movimento espírita. Além da vergonha por conta dessa quadrilha no governo federal, os espíritas vivem uma dupla vergonha pela presença desse bolsoespiritismo, que mancha as propostas espíritas e dilacera sua reputação.
O povo brasileiro precisa urgentemente lutar por sua vida, pelo seu ambiente e por seus direitos e liberdades. E só há um jeito para isso:
#ForaBolsonaro!
Publicado no Facebook em 22 de Setembro de 2020.
Ref/Link:
Notas:
[1] https://www.diariodocentrodomundo.com.br/…/marina-se…/
[2] https://www.justificando.com/…/o-principio-da…/
Missão dos Espíritos Encarnados
No capítulo que trata “das ocupações e missões dos espíritos”, Kardec, em “O livro dos espíritos”, recebe essa instigante resposta à sua pergunta sobre o propósito das encarnações na vida material. E a resposta não poderia ser mais sugestiva:
“Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais. […]”
De significado profundo, a resposta apresentada pelos espíritos que o auxiliaram aponta para um objetivo primordial nas nossas existências terrenas: auxiliar o progresso humano e suas instituições, lançando mão dos meios diretos e materiais.
Não há como tergiversar sobre essa resposta ou buscar escamotear seu conteúdo relevante. Aqui estamos, todos, para melhorar a sociedade pelos meios que nos foram dispostos pela própria vida material. E melhorar a sociedade, ou seja, suas instituições, é justamente o conhecer-se e melhorar-se, é a transformação proposta pelos espíritos que insinuam que esse objetivo não é alcançado de forma individual, mas necessariamente coletiva. Portanto, não se deve falar em “reforma íntima”, que não passa de recurso erístico meritocrático, mas em luta pela transformação da realidade que nos cerca, que, por fim, transformar-nos-á a todos em pessoas melhores, mais humanas e fraternas.
As propostas espíritas são transformadoras e revolucionárias, precisamos colocá-las em prática!
Publicado no Facebook em 20 de setembro de 2020.
Ref.: O Livro dos Espíritos
E o espiritismo se faz povo
“E percorria Jesus toda a Galileia, ensinando nas suas sinagogas e pregando o evangelho do reino, e curando todas as enfermidades e moléstias entre o povo.”
Mateus, 4, 23.
Em sequência aos textos propositivos duma nova realidade de ação-reflexão do movimento espírita, discutem-se algumas formas para sua atuação. Destaca-se que esse é o terceiro texto com reflexões e aprofundamentos sobre essa proposta. Os outros dois podem ser lidos nos endereços abaixo: “Por um novo movimento espírita” https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/1058329021228088 “O que fazer? Ou uma proposta inicial para encaminhamentos dos ‘problemas candentes do nosso movimento'” https://www.facebook.com/espiritasaesquerda/posts/1073049716422685 Pretende-se aqui esmiuçar um pouco as propostas rascunhadas no segundo texto, em que se afirma: “Esses novos grupos e instituições devem ter como objetivo primacial a construção da estratégia de sua inserção na luta pela superação da cruel realidade social existente. Suas reuniões, estudos, conferências e ação social devem ter esse maior propósito colocado como horizonte, como meta à sua atuação, exemplificando o poder revolucionário da filosofia espírita. Afinal, de que adianta decorar perguntas e respostas de livros e não ser capaz de usar esse tipo de conhecimento para transformar a realidade ao seu redor? E transformar não é apenas dar o pão no momento de fome extrema, que também é importante, mas construir uma sociedade em que mulheres e homens não tenham mais que sentir fome.” A partir do claro entendimento do objetivo transformador das propostas espíritas, não no sentido individual, mas coletivo, porque não é possível transformar-se sem a transformação de toda a sociedade, o que se propõe é a mudança da atuação do movimento espírita no sentido de se tornar instrumento na busca das mudanças da sociedade desigual e injusta em que se vive. E isso é radical e revolucionário, pois não se parte da proposta de evangelização, no sentido clássico, apartada do contexto vivido por todos, que pretende apenas formar prosélitos de classe média e experienciar a prática da caridade como simples entrega de fardos e itens aos pobres, como se esses fizessem parte duma outra realidade, dum outro mundo. Os ensinos de Jesus e dos espíritos que auxiliaram Kardec são recursos valiosos que podem, e devem, compor um mosaico de ações que promovam a construção da autoconsciência transformadora do povo, pois um povo alheio à sua realidade social, econômica e ambiental e à sua identidade jamais conseguirá dar passos no sentido da superação de suas mazelas e dificuldades. Portanto, se se pretende verdadeiramente promover a transformação proposta nos ensinos evangélicos e espíritas, é preciso antes de tudo atuar no sentido de possibilitar ao povo a elaboração de sua autoconsciência, ou seja, o foco do novo movimento espírita dever ser o trabalho de conscientização. E aqui não há nenhuma pretensão de protagonismo nessa tarefa, pois a conscientização é uma conquista de determinado grupo ou de toda a sociedade. Ela não é algo dado por um terceiro, mas construída a partir da própria realidade em que se vive, pois só quem a vive é capaz de dela tomar consciência. Caberá, portanto, ao novo movimento espírita entender seu papel de ferramenta, de meio, de instrumento, de mero auxiliar que facilita a conquista dessa consciência social. Os núcleos espíritas desse novo movimento devem, preferencialmente, estar vinculados a comunidades populares, de trabalhadores, para, junto com eles –e jamais para eles–, promover atividades e reflexões, com o apoio indispensável dos ensinos evangélicos e espíritas, que contribuam para a construção da consciência crítica de todos os envolvidos. Portanto, não haveria espaço nessa nova proposta de ação-reflexão para palestras evangélicas alienantes ou reuniões de estudos de caráter dogmático e ortodoxo. Isso porque não há uma doutrina a ser ensinada, não há um fiel a ser conquistado, mas uma tarefa de construção de consciência coletiva a ser feita por meio das transformadoras propostas espíritas, já que o que se objetiva não é um profitente espírita, mas um homem liberto e consciente. Reuniões, estudos, eventos devem então se pautar pelo diálogo e pela participação intensiva de todos. E qualquer reflexão de caráter espiritual e evangélico deve partir da realidade concreta em que vive a comunidade que se insere o núcleo espírita. Muitas reflexões, diálogos e estudos espíritas podem ser feitos a partir das condições concretas da vida do povo, como as dificuldades das relações de trabalho, as condições objetivas do bairro em que se vive, a moradia, as dificuldades enfrentadas pelas famílias trabalhadoras no acesso à educação e à saúde, os problemas enfrentados por negros, mulheres e LGBTs da comunidade, a violência urbana, as drogas etc. E, a partir da análise desse contexto socioeconômico e da reflexão dos textos espíritas, será possível encontrar não só o consolo proposto por esses textos, mas a força para transformar a situação concreta, que é o valor maior dos ensinos evangélicos. Esses novos núcleos espíritas devem também promover incansavelmente a auto-organização em todos os sentidos. Primeiro, a auto-organização do trabalho, motivando o trabalhador a participar de cooperativas, movimentos sociais, organizações de bairro e sindicatos profissionais, mostrando que é por meio da luta coletiva que se conseguirá transformar a realidade, jogando por terra o discurso hegemônico e falacioso da meritocracia individual. Segundo, é preciso também fazer com que o próprio núcleo espírita seja auto-organizado, que a própria comunidade dirija e decida os rumos desse novo movimento espírita. A classe média, maioria dentro do carunchoso movimento espírita retrógrado e conservador, precisa abdicar de seu protagonismo e ser mero instrumento da promoção da participação popular na organização desses novos núcleos. Por fim, as atividades de caridade material, necessárias dentro das comunidades pobres onde vive o povo trabalhador, devem-se nortear pela reflexão e decisão conjuntas e pelo auxílio mútuo. Ou seja, é a leitura da realidade concreta, feita com a participação de todos, que deverá pautar as ações a serem tomadas por todos, incluindo obrigatoriamente a própria comunidade. Não há simplesmente doação de cestas básicas, roupas ou que tais sem que toda a comunidade participe da definição de suas necessidades e também da própria atividade de auxílio mútuo. Portanto, não é apenas um doar alienante, mas uma ação que constrói relações coletivas e promove a consciência libertadora. As propostas espíritas trazem consigo esse poder transformador revolucionário. O que se precisa é colocá-lo em ação. Essas propostas foram trazidas há mais de cento e sessenta anos por uma miríade de espíritos como ferramenta de auxílio nesse processo que, como se sabe pela lei de evolução, ocorrerá de qualquer forma, “conosco, sem nós ou contra nós”[1]. E o que aqui, pois, propõe-se é que se coloque o movimento espírita a favor desse processo, mudando o triste rumo em que hoje se encontra. Nota: [1] Frei Inocêncio Engelke, em carta pastoral à pequenina cidade mineira de Campanha, em 1950, mostrando sua preocupação sobre a ausência da Igreja Católica no processo de libertação do povo camponês. Publicado no Facebook em 05 de setembro de 2020.