Uma revolução espírita

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O espiritismo traz consigo como ponto basilar a proposta da transformação da realidade concreta na qual mulheres e homens vivem encarnados. Não é possível, portanto, falar-se de mudança interior ou reforma íntima sem que haja a concomitante mudança da sociedade humana. A tão propagada “reforma íntima” nada mais é que discurso vazio se não acompanhada do movimento em direção a uma nova realidade, a uma nova estrutura social, a um novo “reino”, que não é desse mundo desigual, injusto, desumano e opressor.

No centro de toda a práxis de Jesus está exatamente o anúncio do novo reino, duma nova organização da sociedade na qual mulheres e homens não mais sofreriam as opressões várias a que estão submetidos e não mais estariam vivendo sob a insegurança material cotidiana de suas vidas, experimentando dificuldades extremas numa luta para apenas sobreviver.

Portanto, o espiritismo, como proposta revisitada da práxis de Jesus, deve ter como base de ação e reflexão o processo de transformação da sociedade. Toda prática e todo estudo espíritas devem-se pautar na luta por uma sociedade mais justa e fraterna, na busca da superação das estruturas sociais mantenedoras das condições opressivas que reproduzem a miséria, a fome, o desemprego, a moradia precária, as faltas de saúde e educação, e impedem mulheres e homens de viverem com dignidade e de serem sujeitos plenos de suas vidas e de suas possibilidades.

A ação social assistencialista –a sopa na rua, o farnel mensal, o pequeno hospital–, apesar de cumprir determinado papel emergencial, e apenas esse, não é uma ação que transforma a sociedade. Ao contrário, sustenta e reproduz o que há de mais cruel e indigno entre os indivíduos: a humilhação e a degradação humanas. Aliás, sobre isso, é sempre bom lembrar a questão 888 de “O livro dos espíritos”:

888. Que se deve pensar da esmola?

– ‘Condenando-se a pedir esmola, o homem se degrada física e moralmente: embrutece-se. Uma sociedade que se baseie na Lei de Deus e na justiça deve prover à vida do fraco, sem que haja para ele humilhação. Deve assegurar a existência dos que não podem trabalhar, sem lhes deixar a vida à mercê do acaso e da boa vontade de alguns.’”

Depreende-se disso que a ação assistencialista deve ser complementar a uma ação-reflexão mais profunda e mais transformadora, ou seja, sem que haja uma proposta maior de mudança objetiva da realidade, toda ação assistencialista não passa de diletantismo da classe média bem alimentada e bem formada, que mantém a condição de abandono social e econômico daqueles que se submetem a essa degradação física e moral.

Nesse ponto, vale destacar a resposta à questão 930, de “O livro dos espíritos”:

930. […]

– ‘Numa sociedade organizada segundo a lei do Cristo ninguém deve morrer de fome.’”

E, para que ninguém morra de fome, o simples assistencialismo não será capaz de garantir a proposta espírita que grita para todos a partir das obras kardecistas.

Essa gente que é a parte mais numerosa das sociedades periféricas do sistema econômico mundial, como o é a sociedade brasileira, não está “à margem de” ou “fora de”, como ensina Paulo Freire em seus escritos fundamentais; essa gente não está “marginalizada” por conta de sua pobreza, de sua fome, de seu analfabetismo, de seu desespero; essa gente está “no interior de”, numa estrutura social opressora que é diretamente responsável pelo estado em que essa gente se encontra.

Dessa forma, de nada adiantará, para aqueles que sonham com uma sociedade mais justa e humana, o simples atendimento às necessidades materiais mais básicas ou mesmo a inclusão de parcela dessa gente dentro da mesma estrutura que marginaliza, oprime e degrada; ou seja, numa linguagem simplória, seria como enxugar gelo.

Voltando a Paulo Freire, ele afirma que é preciso reconhecer a existência de uma realidade em relação à qual os oprimidos estão marginalizados, e “não somente no espaço físico, mas realidades históricas, sociais, culturais e econômicas; ou seja a dimensão estrutural da realidade”.

Esse ponto é importante para demarcar com exatidão aquilo que Freire considera como a estrutura social responsável pela condição marginal daqueles que vivem em situação sub-humana de completo abandono: espaço, tempo, sociedade, cultura e economia.

Como não há nenhuma possibilidade de mudança da condição opressiva da sociedade, mantidas as mesmas estruturas que a sustentam, a única forma de se viver numa sociedade pautada pela “lei do Cristo” na qual “ninguém deve morrer de fome”, como propõem os espíritos em resposta a Kardec, é, segundo Freire e em magnífica conclusão, “uma autêntica transformação da estrutura desumanizante” da sociedade. Portanto, não há outro caminho senão aquele que se propõe a transformar de forma radical a estrutura social, cultural e econômica que oprime, desumaniza e degrada a vida de mulheres e homens.

E essa deve ser a principal pauta da práxis de toda instituição espírita, e também de seus membros, na sua atuação cotidiana, porque, segundo ainda “O livro dos espíritos”, na questão 573:

573. Em que consiste a missão dos espíritos encarnados?

Em instruir os homens, em lhes auxiliar o progresso; em lhes melhorar as instituições, por meios diretos e materiais. […]’”

Como se pode apreender das obras espíritas e das reflexões de Paulo Freire, toda práxis que pretenda transformar a realidade deve ter como base fundamental de ação a educação libertadora do povo oprimido. É preciso “instruir os homens” e auxiliá-los no seu processo de autoconscientização e autolibertação por meio de práticas de educação popular, como o foram as experiências exitosas dos círculos de cultura freireanos e das comunidades eclesiais de base da igreja católica.

É preciso desconstruir a ideia de que a caridade assistencialista é o motor da evolução espiritual, essa construção meritocrática que passa pela chamada “reforma íntima”. A evolução espiritual se relaciona com desenvolvimento da consciência, com a percepção de si mesmo perante a realidade, com o desenvolvimento cognitivo e do sentido da existência, que é justamente a construção da ideia do “reino” em cada um. Pois, como ensina Paulo em famosa carta, “ainda que eu distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse o meu corpo às chamas, se não tivesse a caridade, isso nada me adiantaria”, e a verdadeira caridade é aquela que “não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade”, e, portanto, luta pela transformação desse mundo injusto e desumano.

Espíritas, essa é a tarefa histórica a que todos foram chamados. Sem esse engajamento nas propostas dum novo reino de justiça e amor, a ação espírita é inócua e reprodutora das condições de opressão. Só o engajamento na luta pela completa transformação das estruturas sociais, que condenam milhões de vidas ao desespero, à fome, ao desemprego e à indignidade, justifica a adesão às propostas espíritas. Os espíritas devem entender que sua ação-reflexão tem que ser necessariamente transformadora porque as propostas espíritas são revolucionárias, tal qual foi revolucionário o anúncio dum reino que não é desse mundo de caos e opressão.

O Espíritas à Esquerda entende a práxis espírita dessa forma e convida a todas e todos que queiram fazer parte desse projeto revolucionário que pretende, dentro dos seus limites de tamanho e atuação, contribuir para a transformação da sociedade e, em particular, do movimento espírita. O EàE, amparado pelos ensinos de Jesus e dos espíritos que auxiliaram Kardec, inspirado pela beleza das propostas de conscientização e libertação de Paulo Freire e da Teologia da Libertação e motivado pelo chamamento à ação revolucionária e transformadora, propõe justamente uma práxis que inclui estudos de obras sobre análise da realidade e sobre educação popular e a implantação de núcleos espíritas populares para atuarem como auxiliares nesse processo de autolibertação do povo oprimido.

O espiritismo é revolucionário. Faça parte desse projeto.

Espiritismo e umbanda: caridade, amor e libertação

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José Francisco da Conceição – Esmeraldas (MG)

É necessário que tudo se destrua, para renascer e se regenerar; porque isso a que chamais destruição não é mais que a transformação, cujo objetivo é a renovação e o melhoramento dos seres vivos. (Allan Kardec, O livro dos espíritos, questão 728)

Na umbanda e no espiritismo, a luta de classes é ideologicamente camuflada por discursos religiosos de suposto universalismo, coisas do tipo “somos todos filhos de Deus”, “a raça humana é uma só” ou “Zambi é pai de todos” e que sendo nós almas reencarnadas em processo evolutivo, automaticamente e mecanicamente, estamos no “mesmo barco”. Claro que somos todos filhos de Deus-Zambi, no entanto, o atravessamento do conflito social, as divergências de interesses e visões de mundo são nítidas para o observador mais atento, menos ingênuo. Em outras palavras, não estamos “todos no mesmo barco”, pois tem muita gente se afogando e sem boia.

umbanda soninha villDe fato, nas instituições espíritas e umbandistas, os que defendem os interesses das classes subalternizadas confrontam-se com os que defendem os interesses das classes dominantes. Há opressores e oprimidos que estão lado a lado nos centros e terreiros, mas em campos opostos na vida social e na maneira de interpretar o mundo. E isso se manifesta de diversas formas, mas para dar um exemplo, pense nas diferentes concepções de espiritualidade.

Na umbanda, por exemplo, as camadas médias e altas (muitos são profissionais liberais, militares, funcionários públicos, empresários etc.) tentam “expurgar” todas as influências negro-ameríndias, populares e afro-católicas, em nome de um universalismo puro e higiênico que é fundamentalmente branco e eurocêntrico (com ideias oriundas do kardecismo, esoterismo e teosofia).

Por outro lado, os negros, as mulheres pobres, pessoas LGBTQIA+ e a maioria de trabalhadores, muitos precarizados –as classes subalternizadas–, estão em outra sintonia nestes mesmos terreiros, pois permanecem na trincheira por uma espiritualidade ancestral, simples, de pés no chão e libertária. Estes querem a umbanda feita com velas, ervas e banhos, com cachimbo e defumador, instrumentos baratos e de grande poder para quem tem fé. Assim é a religião dos oprimidos em luta por uma vida digna e não aquela reprodução das crenças, valores e privilégios dos históricos opressores.

O mesmo acontece no campo espírita kardequiano. De um lado, é possível ver a classe média e alta, com boa escolaridade, majoritariamente branca e reacionária, defensora de uma sociedade hierarquizada e de governos autoritários. Para estas, os centros espíritas não são lugares para negros, pobres ou gays. No máximo, estes podem participar apenas como instrumentos do assistencialismo e da piedade dos dirigentes, isso quando não são vistos como obsidiados.

Este tipo de kardecista –como são conhecidos os espíritas– tem horror ao socialismo e defende uma concepção alienadora e quietista de religião. Querem uma espiritualidade apassivadora, descontextualizada e de positividade tóxica e cega diante dos problemas concretos do mundo. São estes espíritas conservadores que, na sua maioria, votaram em Bolsonaro, em 2018, elegendo o neofascismo.

De outro lado, nestes centros espíritas, também há uma resistência importante e que cresce com as redes sociais. Podemos perceber setores mais conscientes das classes trabalhadoras e médias, além de jovens estudantes universitários, que frequentam as casas kardequianas, mas consideram que o espiritismo é uma mensagem de esperança e luta, de igualdade e fé raciocinada. Para estes, o espiritismo não é alienação, mas fonte de consolação e coragem para quem está na luta por um mundo melhor para todos, para os que defendem autêntica libertação, para quem se engaja pelo progresso social. Estes querem o fim da pobreza e de uma desigualdade estúpida, iníqua e abissal.

Tanto nos centros espíritas –de matriz kardequiana– como nos terreiros de umbanda, é importante percebermos essas diferenças sociais e de visão de mundo. Porque sendo de classes sociais diferentes é plausível que tenhamos interesses, objetivos e sonhos distintos, quando não são capturadas e “formatadas” pela ideologia das classes dominantes.

Claro que estou fazendo aqui uma análise social tipológica e classista, consciente de que há exceções aqui e acolá. Há, por exemplos, brancos kardecistas de classe média que são progressistas como há também negros umbandistas reacionários e defensores da ditadura empresarial-militar. Em geral, estas exceções não anulam os pressupostos generalistas de uma análise estrutural. Dito isso, concluo o seguinte.

É preciso notar quem está ao lado das lutas do povo brasileiro por justiça e igualdade, tecendo uma espiritualidade contra-hegemônica, e quem defende a manutenção da ordem do capital, do conservadorismo moral, do conformismo, dos preconceitos e das velhas hierarquias sociais.

É preciso estar atento para aquelas e aqueles que, dentro dos centros espíritas e dos terreiros umbandistas, representam os interesses da casa-grande, pois chegou o tempo de nos libertarmos das senzalas que nos impõem ainda hoje.

O Brasil precisa mudar, mas as casas espíritas e os terreiros umbandistas também, pois estes são atravessados pelos mesmos conflitos estruturais que encontramos na sociedade brasileira, o que inclui a luta de classes, mas também o machismo, o sexismo, o racismo, a LGBTfobia. Como bem disse Allan Kardec, “o progresso social ainda deixa muito a desejar” (O livro dos espíritos, comentário da questão 760).

É preciso unir espíritas e umbandistas, além de outros setores religiosos contra-hegemônicos, para coletivamente nos organizarmos e lutarmos por uma sociedade justa e fraterna, igualitária e realmente democrática. Conscientes de que não há caridade maior do que nos engajarmos coletivamente para melhorarmos a vida de milhões de pessoas neste país, quiçá neste lindo Planeta Azul.

Não é este o sentido profundo e grandioso da caridade, tão pregada pelo judeu-cristianismo –mas também por outros saberes religiosos?

Não é esta caridade que foi reafirmada como bússola redentora no século XIX por Allan Kardec –“Fora da caridade não há salvação”– e no século XX, na umbanda, pelo Caboclo das 7 Encruzilhadas –“Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da caridade”?

Como nos diz Conceição Evaristo, “quero contagiar de esperanças outras bocas”1. Então, roguemos à Divindade e aos espíritos de luz que nos derramem coragem para contagiarmos de esperanças tantas bocas neste Brasil, para juntos lutarmos e criarmos este novo mundo onde não haverá mais espaço para o machismo, o racismo, a LGBTfobia, a exploração do ser humano, a destruição ambiental, a intolerância religiosa e a dominação de classe burguesa do grande capital.

E para que a utopia se torne realidade, comecemos esse “bom combate”, como dizia o apóstolo Paulo, hoje, dentro das nossas casas espíritas, em nossos terreiros, no nosso bairro, em nossa cidade, na nossa amada pátria brasileira, pois, como já cantava Beto Guedes, “vamos precisar de todo mundo para banir do mundo a opressão” e “um mais um é sempre mais que dois”.

Que assim seja!

Axé!

Saravá!

Namastê!

1 “Olhos d’água”. Rio de Janeiro: Pallas: Fundação Biblioteca Nacional, 2016.

Allan Kardec: defensor da Bíblia e das tradições sagradas do passado

COLUNA – Releituras Kardecistas – com Marcio Sales Saraiva

Pode parecer estranho para alguns, mas o fundador do espiritismo nunca fez um ataque ao conteúdo dos livros da Bíblia judaico-cristã. Há diversas passagens em que ele faz reflexões respeitosas sobre as Escrituras. Sendo assim, qual é a divergência entre o kardecismo e os que julgam seguir rigorosamente a Bíblia?
Foto: Timothy Eberly/Unsplash
Ao se referir ao mito ou alegoria de Adão (questão 51), confrontado com as explicações dos espíritos sobre um longo passado de presença humana na Terra, Kardec comenta na questão 59: “A objeção que se pode fazer a essa teoria [de que o ser humano é muito anterior ao mito adâmico] é a de estar em contradição com os textos dos livros sagrados. Mas um exame sério nos leva a reconhecer que essa contradição é mais aparente que real, resultante da interpretação dada a passagens que, em geral, só possuíam sentido alegórico.” A evolução das espécies não está em desacordo com a Bíblia, desde que possamos fazer uma hermenêutica séria das Escrituras, compreendendo seu sentido poético, alegórico e simbólico, ao invés de fazermos como os fundamentalistas que ficam presos na letra. O apóstolo Paulo já ensinava que “a letra mata, mas o Espírito vivifica” (2 Coríntios 3:6, Bíblia NVI). O comentário de Herculano Pires vai na mesma direção do que estamos dizendo aqui. Diz o filósofo espírita que “os textos sagrados das grandes religiões, como a Bíblia e os Vedas [hinduísmo], os sistemas de antigos filósofos, as doutrinas de velhas ordens ocultas ou esotéricas, todos encerram grandes verdades, nas suas contradições aparentes.” Assim sendo, quando os espíritas encontram erros ou contradições na Bíblia, como a criação em seis dias, isso quer dizer que “a Bíblia é um erro? Não; mas que os homens se enganaram na sua interpretação”, dirá Kardec. Em outras palavras, o problema com a Bíblia e outros textos considerados sagrados ou revelações divinas é sua idolatria cega que não permite uma hermenêutica alegórica, poética e simbólica, capaz de retirar das aparentes palavras de contradição o mel da sabedoria eterna oculta nas entrelinhas. Encerro este artigo com um belíssimo e profundo comentário de Allan Kardec que se encontra na questão 628 de “O livro dos espíritos”, farol da filosofia espírita e de sua concepção macroecumênica. Nos diz o grande professor: “Não há, entretanto, para o homem de estudo, nenhum antigo sistema filosófico, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque todos encerram os germens de grandes verdades, que embora pareçam contraditórias entre si, espalhadas que se acham entre acessórios sem fundamento, são hoje muito fáceis de coordenar, graças à chave que vos dá o espiritismo de uma infinidade de coisas que até aqui vos pareciam sem razão, e cuja realidade vos é agora demonstrada de maneira irrecusável. Não deixeis de tirar temas de estudo desses materiais. São eles muito ricos e podem contribuir poderosamente para a vossa instrução.” Dito de outra maneira, Kardec nos explica o espiritismo como uma “chave de interpretação”, uma bússola hermenêutica, que poderá nos ajudar a ler e entender a filosofia grega, medieval e moderna, os diversos sistemas religiosos, as diversas concepções de mundo das mais variadas tradições culturais. Porque não sendo o espírita uma pessoa fanática ou fundamentalista, ele estará aberto para descobrir, com as chaves fornecidas pelo próprio kardecismo, as “grandes verdades” que se encontram espalhadas pelo mundo, pelas religiões e pelas filosofias. Assim sendo, o espiritismo respeita a Bíblia —bem como todos os livros considerados sagrados, como a Torá, Alcorão etc.— e nela buscará as grandes verdades escondidas e mortas sob a letra fria das interpretações literais e empobrecedoras. Isso quer dizer que o espiritismo sempre esteve na vanguarda do respeito ao pluralismo religioso e na busca sincera de uma convergência onde o essencial prevaleça sobre o que é periférico nas grandes filosofias e religiões da humanidade.

15 de outubro: o poder libertador da educação para todas as pessoas

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COLUNA Feminismos com Paula Lau (EàE-RS)

Antonieta de Barros é homenageada em mural no centro de Florianópolis. Foto Reprodução
Uma das três primeiras mulheres eleitas no Brasil (a primeira negra), sua bandeira política era o poder libertador da educação para todas as pessoas: Antonieta de Barros (1901-1952), a parlamentar negra pioneira que criou o Dia das/dos Professoras e Professores. Em um país que tem Paulo Freire como patrono da educação, é necessário e justo dar visibilidade e ecoar vozes para mulheres como Antonieta de Barros e Lélia Gonzalez, invisibilizadas e silenciadas pelo patriarcado e pelo racismo. O marco do 15 de outubro é resultado do trabalho, persistência e rompimento de barreiras raciais, de gênero e de classe de uma filha de ex-escravos (Antonieta foi eleita menos de meio século após a abolição da escravatura), que acreditava que a educação era o caminho para o futuro. A professora, jornalista, escritora e política Antonieta de Barros instituiu o dia para que educadoras e educadores ganhassem visibilidade como importantes agentes das necessárias mudanças na sociedade. Ela foi inicialmente eleita deputada em 1934 para a Assembleia Legislativa de Santa Catarina, sendo natural de Florianópolis. Escreveu dois capítulos da constituição catarinense, sobre Educação e Cultura e Funcionalismo, até ser destituída do cargo pelo golpe de Getúlio Vargas. Pela Lei nº 145, de 12 de outubro de 1948, Antonieta criou o Dia da/do Professora e Professor, para em outubro de 1963, o então presidente João Goulart, tornar a lei nacional. Sua defesa pela educação fez com que ocupasse as páginas dos jornais. Além de professora, virou cronista. Em 23 anos de trabalho para a imprensa escreveu mais de mil artigos em oito veículos e criou a revista Vida Ilhoa. Era respeitada e admirada por seu espírito de justiça. Além de um dia para celebrar a importância de valorizar educadoras e educadores, Antonieta de Barros criou outras leis importantes, como bolsas de cursos superiores para alunas e alunos em situação de vulnerabilidade social e concursos para o magistério, para elevar o ensino público e evitar apadrinhamentos. “A grandeza da vida, a magnitude da vida, gira em torno da educação.” Antonieta de Barros, uma ser humana visionária! #antonietadebarros #educação #cultura #politicapublica #mulher

Dignidade Menstrual: o sangue ainda sangra

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COLUNA – Feminismos com Paula Lau (EàE-RS) colaboraram Elizabeth Hernandes (EàE-DF) e Mariela Bier (EàE-RS)

A misoginia nunca esteve tão explícita. No mais poderoso cargo político do país e nas decisões perversas de um judiciário estruturado a partir do patriarcado (que inocenta estupradores sistematicamente, matando compulsivamente as mulheres várias vezes em uma mesma ‘vida’).

Ao mesmo tempo em que todas estas aberrações contra a vida de quem gera vidas acontecem (lembrem, lembrem sempre: todas, todos e todes chegamos à Terra pelo ventre de uma mulher), nunca estivemos tão fortes, unidas e conscientes, além de termos ferramentas de comunicação e decisões potentes em mãos (mesmo que os algoritmos, também criados pelo machismo estrutural, teimem em tentar nos silenciar).

Estamos ruindo esta estrutura ultrapassada, violenta e letal por dentro. Não tem mais volta. A vida prevalecerá, afinal, nossa luta é regida pela potência de nossos úteros, machucados e adoecidos por esta estrutura forjada pela masculinidade frágil, descompensada e desconectada do amor e do afeto que tenta, de toda e qualquer forma mais perversa se manter, ao mesmo tempo e proporção em que se esvai.

É uma questão de tempo, de ação agora, firme e urgente para tentar reduzir o número de vidas ceifadas pelo modus operandis do ‘patriarcapital’.

E nós aqui, seguimos sonhando com o dia em que as políticas públicas proporcionarão possibilidades para que todas nós façamos uso dos nossos absorventes de pano com dignidade, tranquilidade e afeto. A vida prevalecerá.

Menstruação foi (e ainda é) assunto tabu rodeado de dogmas e mitos. Falar sobre educação, higiene e saúde menstrual tem impacto direto na saúde (ginecológica, psicológica, mental, emocional e espiritual) de meninas e mulheres.

Um olhar de acolhimento e informativo por parte da família, da sociedade para com seres menstruantes e suas demandas e necessidades, junto à responsabilização do poder público, são fundamentais, assim como quando falamos sobre educação sexual (outro assunto que seres pervertidos, abusadores, desinformados, pedófilos, misóginos e estupradores abominam).

Ver o ciclo menstrual como um aspecto positivo, de vida, de sabedoria, de saúde, muito além da possibilidade de reprodução, desmistifica, desconectando da ideia de sujeira, impureza, doença, perda e falha, aspectos estes trazidos pela cultura patriarcal para diminuir e fragilizar mulheres e meninas no decorrer dos tempos e que, incutidos em nossa psique, tornaram-se causas de dores, desconfortos e até doenças.

Dignidade menstrual, educação menstrual, distribuição de absorventes em espaços e banheiros públicos e nas escolas é política pública de primeira necessidade em qualquer sociedade minimamente evoluída e deve envolver, além das mulheres e meninas, todas as pessoas. Tudo isto mexe na estrutura da cultura e do sistema vigente, abrindo novas e saudáveis narrativas sobre a menstruação, inclusive compreendendo-se aspectos psicológicos, emocionais e fisiológicos que causam TPMs, enxaquecas, cólicas, miomas, SOPs, candidíase…

Desmistificar a menstruação torna meninas-mulheres mais confiantes e com propriedade sobre o próprio corpo, e meninos-homens mais empáticos e envolvidos com questões de saúde, planejamento familiar, responsabilidade afetiva e sexual.

A falta de acesso a informação, saneamento e produtos para o cuidado menstrual afeta milhões de seres menstruantes no Brasil, física e emocionalmente, fazendo com que corram riscos, desenvolvam baixa autoestima e não aceitação do próprio corpo, tenham problemas e doenças uroginecológicas, parem de ir à escola, tenham suas possibilidades de desenvolvimento limitadas. A quem interessa que isso aconteça senão à manutenção do patriarcado?

O poder público tem a responsabilidade de oferecer meios para que os cuidados sejam viáveis: projetos de lei são uma das formas mais concretas de se realizar essa transformação, desembrutecendo e mudando o ritmo do acontecer das coisas.

É uma questão de humanidade e civilidade derrubar o veto do necropresidente ‘cristão’ defensor da política corrupta da morte em nome de ‘deus’ e contamos com parlamentares capacitadas/capacitados/capacitades para isso.

É questão que afeta todas, todes e todos. A vida das mulheres que menstruam, que não menstruam ou que ainda vão menstruar sofre ameaças todos os dias. Defender a dignidade das mulheres é defender a humanidade.

A vida vai prevalecer.

#essasmulheres #mulher #mulheres #feminismo #filhas #cultura #educação #dignidade #mães #dignidademenstrual #pobrezamenstrual #livreparamenstruar

Filme Je suis Karl alerta para os perigos neonazistas

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Por Gastão Cassel, Espíritas à Esquerda SC

O filme Je suis Karl, lançado recentemente no catálogo da Netflix, traz mais uma vez para as telas o debate sobre movimentos neofascistas e seus métodos para cooptar e fanatizar jovens. A produção alemã e tcheca, dirigida por Christian Schwochow, ambienta-se na Europa e tem como pano de fundo a fobia aos imigrantes com fortes elementos de supremacia branca. O enredo conta a história da jovem estudante Maxi que teve a mãe e dois irmãos mortos em um atentado a bomba. Ela é abordada por um jovem sedutor, Karl, que a convida para um seminário de verão cujo lema é “assuma o controle”.
Cena do filme em que protagonista faz discurso pela “regeneração” da Europa.
A organização de Karl assedia a juventude com um discurso sobre segurança erguido sobre a xenofobia e sobre a proposta de destruição do sistema como um todo, já que este “não faz nada por nós”. O seminário tem todos os requintes de um culto, com depoimentos testemunhais (alguns falsos, inclusive), muita música temática, discursos extremistas e o compromisso coletivo de ocupar vagas nos legislativos e postos de docência para minar o sistema. Outra característica da organização é que ela se diz “nem de direita, nem de esquerda” para dizer que são conceitos ultrapassados. Mas defendem a pena de morte, a expulsão de imigrantes e falam até em “raça superior” quando um suposto rapper aparece cantando: “Foda-se a sociedade e suas regras que nos causam desconforto. Nossa raça é superior. Falamos do fundo do coração. Raça Branca Primeiro”. O uso das redes sociais como forma e método de difusão dos discursos de ódio também é escancarado no filme. O próprio nome do filme faz alusão às hashtags #eusou #somostodos largamente usadas mundo afora. Tudo é midiatizado, inclusive atentados, como os que matam a família da personagem Maxi, são planejados pelo grupo para culpar imigrantes islâmicos e gerar mártires de pele clara. O repertório estético e discursivo de sedução dos jovens é igual ao de qualquer seita ou religião obtusa: apelos afetivos, vitimização, chamados a fazer a diferença e assumir o controle, repulsa a um sistema como um todo, destruição de referências e criação da noção de pertencimento pelo discurso, vestimentas, símbolos e gestuais. Em resumo, é um filme muito atual. Fala de coisas que vemos no nosso quintal nas milícias físicas ou digitais, nos métodos bolsonaristas, nas más igrejas neopentecostais (que não são todas). É o discurso da “escola sem partido”, da desconfiança sobre o sistema eleitoral e das instituições democráticas. O filme é um alerta sobre facilidade de como o neonazismo e o neofascismo se apresentam e operam. Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.

VEJA O TRAILER OFICIAL

 

Ativista Antônio Isupério, da coordenação do EàE, recebe ameaça de morte de supremacistas

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isupério
Antônio Isupério

O ativista LGBT+ e Antirracista Antônio Isupério, membro da Coordenação do Coletivo Espíritas à Esquerda foi ameaçado de morte pelo supremacista Aristides Braga no Instagram. “O que a gente vai fazer contigo é do tamanho patamar de aqueles vídeos dos chilenos cortando cabeças”, ameaçou Braga.

O fúria foi deflagrada após Isupério ter denunciado uma postagem em que Israel Soares faz declarações e saudações nazistas. Três dias depois da denúncia a polícia executou um mandado de busca e apreensão na casa de Israel quando foram apreendidos equipamentos eletrônicos. O suspeito de apologia ao nazismo continua em liberdade.

 
 
 
 
 
 
 
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Uma publicação compartilhada por LGBT ANTIRACIST ✊??️‍? (@isuperio)

O post de Israel foi foi excluído pelo Instagram, mas Isupério fez a repostagem com comentários. Imediatamente, no dia 31 de agosto de 2021, o ativista começou a receber comentários, mas entre eles destacou-se o de Aristides Braga:

“Cara, faz agora mas tu faz agora o BO porque o tanto de gente que tá atrás de ti. A gente vai te achar e oque a gente vai fazer contigo é do tamanho patamar de aqueles vídeos dos chilenos cortando a cabeça dos caras. Ouve bem, tu não ta mecendo com 2 3 pessoas tu ta mechendo com um vespeiro de mais de 5 mil pessoas que ODEIAM judeus e agora sabem que tu é judeu.”

 

Braga mora em Novo Hamburgo, no RS, e é filho de um comissário de polícia. Isupério tem um outro vídeo postado em que Braga tenta falar alemão, num possível indício indício de ligação com células neonazistas, especialmente pelo conteúdo antissemita da mensagem.

Segundo a pesquisadora Adriana Dias, há cerca de 530 células supremacistas que cresceram desde 2019 no Brasil.

Antonio Isupério utiliza seu Instagram como plataforma de exposição dos casos de violência e discriminação nas redes sociais. Foi ele que expôs Victor Sorrentino (o médico que foi preso no Egito) por sua fala misógina contra uma balconista. O apresentador Sikera Júnior também teve suas falas homofóbicas denunciadas no seu perfil.

Isupério relatou a ameaça de morte ao Ministério Público (protocolo MPF 20210079114) e aguarda por uma reposta da instituição.

Suspensão temporária

Coluna Feminismos com Elizabeth Hernandes (EàE-DF)

No dois de outubro de 2021 foi dia de sair às ruas –outra vez– para defender o de sempre. Democracia, oxigênio, floresta, povos originários; terra, comida e teto; saúde, educação, arte, cultura (não necessariamente em ordem ou hierarquia). O direito de permanecermos vivas e lindas, vivos e lindos, vives e lindes, qualquer que seja nossa cor de pele, nosso jeito de bem querer corpos ou venerar almas. Foi dia de dizer que essas coisas não são precificáveis, não estão à venda e nem serão trocadas por quinquilharias. Não se respira ouro, não se come dólar e ninguém transa com o Mercado. Peraí. Acho que tem gente que transa com o Mercado, sim, mas esses ficam lá na Faria Lima, em horário comercial e ontem era sábado. Fomos dizer àquela gente que gosta de produzir lixo que, nós, preferimos viver.
Espíritas à Esquerda presente nas manifestações em Brasília.
Nunca foi fácil e, agora, menos ainda. Estamos no meio de uma pandemia causada por um vírus que se espalha de modo sub-reptício. Uma praga tão relacionada à essência do conservadorismo que, para nos defendermos, temos que tomar atitudes e cuidados semelhantes aos da época da teoria dos miasmas. E, além de abrir janelas e arejar a casa (de quem tem uma), a gente precisa se movimentar e interagir o mínimo possível, fazer o essencial e se aquietar, porque a peste tá solta. Mas têm dias que o único jeito de a enfrentar é indo à rua. Viver é mesmo essa rebeldia todo dia. Daí saímos nós, os divergentes, jurando que vamos nos cuidar mutuamente, afinal, temos experiência e gosto pelo ato. Mas é tanta coisa nova, tanto protocolo sanitário que… às vezes a gente esquece e… se descuida. Aqui, na parte do descuido, talvez alguém vá lembrar que a esquerda não se cuida e só se une na cadeia. Reconheço um pouco de verdade no chavão. Somos assim como irmãos em uma família meio “disfuncional”. Alguém aí me informe onde residem as “funcionais”, por favor? Se tudo funcionasse perfeitamente, por que teríamos de nos agrupar em pequenos bandos? Então tá. Somos irmãos que se estapeiam mesmo, porém, só quem pode bater no meu irmão, sou eu, tá certo? Tá, não. O ideal é ninguém bater em ninguém. A gente chega lá. Um dia. Eu estava na Esplanada dos Ministérios com o meu novo e chiquérrimo cartaz do Espíritas à Esquerda, “Fora da justiça social não há salvação”, patrocinado por mim mesma, feito em gráfica e tudo. Tudo dentro do normal: cumprimentos com distanciamento, beijinhos mascarados jogados de longe, fotos com gente conhecida e com gente se conhecendo, discursos, aplausos, vaias, risadas, crianças e cachorros. Havia treze partidos de esquerda (não resisti ao número!) e diversos movimentos e coletivos. Todos tentavam manter o tal do distanciamento obrigatório, afinal, esperar é resistir e vice-versa. A gente não vai facilitar para um vírus que acha que aqui é o século XIX! Não mesmo! De repente me apareceu uma mana cujo sorriso não podia ser ignorado porque estava nos olhos e no corpo todo, gritando: “Meu Deus, eu não acredito! Tem espírita aqui! Eu tô tão feliz! Tira uma foto comigo!” Fizemos a foto e ela partiu para o abraço, literalmente. E de repente se deu conta dos protocolos e cuidados, soltou rápido, ficou sem graça: “Desculpa! Fiquei tão alegre que esqueci que não pode abraçar” E sumiu na multidão, constrangida e feliz. E eu fiquei ali, contaminada. De amor. Meu cérebro afirma, com base em literatura científica, que todas as vezes que saímos à rua aumentamos sim, a “odds ratio” para o desfecho covid, comparando com o grupo que ficou em casa. (Aqui é só pra falar difícil e impressionar os epidemiologistas.) É assim: qualquer interação, seja ir à padaria ou protestar pelo preço do pão, pode ser medida em termos de risco de adoecer. Mesmo com as vacinas e com a obediência aos protocolos sanitários prescritos com base em evidências. Mas o meu coração me assegura, com base em evidências sentimentais que, em certos momentos, durante alguns segundos, a pandemia é suspensa. Durante alguns segundos ninguém se contamina. Esse momento de ser abraçada por uma desconhecida foi um deles. Como estaríamos aqui se não houvesse uma trégua de vez em quando?

Carta a Kardec nos seus 217 anos

Por Dora Incontri
 
Querido mestre! 217 anos de teu nascimento e o quanto a face do mundo se transformou! Nesse lapso tempo, o planeta teve mais mudanças do que os últimos 2 mil anos. No rio da história, que se mostrou tão violento e turvo, lançaste algumas ideias transformadoras. Elas quase se perderam diante de tantas turbulências por que passamos. Abriste a porta da mediunidade de forma racional e investigativa, ética e desmistificadora. Entregaste-nos algumas chaves importantes para lidar com o mundo espiritual e sonhaste com uma filosofia moral que pudesse ajudar a transformar a terra.
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Allan Kardec – Foto Divulgação/Instituto IDEAK
Propunhas métodos científicos, dentro das possibilidades restritas do teu momento histórico e criaste novos caminhos de espiritualidade, sem hierarquia, sem sacerdócio, sem dogmas, sem instituição – uma espiritualidade livre, crítica, sem amarras e que se ancorasse em pesquisa e racionalidade.
Fizeste um esforço hercúleo, um trabalho exaustivo, em poucos anos, gastando tua saúde, enfrentando aluviões de críticas e traições, sempre em meio a extrema dificuldade financeira.
E eras “apenas” um professor, de classe média, bem média, sempre às voltas com finanças precárias, sempre idealista pela educação do povo. Discípulo honrado do grande mestre Pestalozzi.
Hasteaste bem alta a ideia da reencarnação, para que ela nos restituísse a gestão de nós mesmos, num processo de autoeducação, pelo qual somos os responsáveis na passagem dos séculos, nas múltiplas vidas.
Tudo em tuas obras nos oferece equilíbrio, liberdade, caminhos novos, frescura de espírito…
Mas é claro que eras um ser humano, tiveste teus limites, pertencias a uma época. Qualquer homem ou mulher, em qualquer século da história, tem suas raízes em seu tempo e não pode ser julgado pelo futuro, sob a perspectiva dos avanços que o tempo traz. Deve antes ser reconhecido pelo que lhe foi dado vislumbrar desse futuro, e em que se adiantou em seu tempo.
Dói-me, mestre, que muitos te abandonam hoje, depois de terem se saciado de tuas sábias orientações, envergonhados de se proclamarem teus discípulos. Para muitos, não passas de tacanho e limitado professor primário que teve pretensões positivistas em relação a uma pseudociência ou um autoproclamado missionário com ilusões de reforma do cristianismo.
E ainda por acréscimo, justamente o país que mais te conhece, que mais te aclimatou – o Brasil – é também o que mais te desfigura e te trai.
Quero aqui apenas te agradecer e proclamar, como tenho sempre feito, a minha lealdade ao teu projeto, que aliás foi inspirado pelo próprio Cristo. Para isso, não é preciso que eu abandone meu espírito crítico, minha capacidade de análise histórica – coisas aliás que desenvolvi justamente em contato com a leitura de tuas obras. Tu mesmo nos ofereces os instrumentos e nos pedes para fazermos uma leitura aberta e não dogmática de teus escritos.
Sei que continuas inspirando aqueles que sinceramente se identificam com teus ideais superiores e se comprometem a continuar tua semeadura! Sei que me inspiras também e sinto-me conectada ao teu coração amoroso, desconhecido pelos que te supõem erroneamente dono de uma austeridade fria. Distribuíste esse teu coração para centenas de alunos, milhares de leitores, inúmeros espíritos e hoje o vemos impresso nessas cartas tuas que estão vindo vagarosamente a público!
Obrigada pelo teu nascimento, mestre! Obrigada pela tua vida e tua missão bem cumprida! E inspira-nos ainda com teu bom senso, com tua profunda espiritualidade e com tua retidão!
 

EàE e ABPE lançam pré-venda do livro “Espiritismo, sociedade e política: projetos de transformação”

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Uma maravilhosa novidade: o pré-lançamento do livro “Espiritismo, sociedade e política: projetos de transformação”, organizado por Dora Incontri e Sergio Mauricio.  O Espíritas à Esquerda (EàE) e a Associação Brasileira de Pedagogia Espírita (ABPE) juntaram-se para produzir a obra que será lançada pela Editora Comenius. Nesse livro, com 15 autores diferentes, são feitas reflexões sobre as relações entre o espiritismo, a sociedade e a política. Haverá duas “lives” de pré-lançamento: na segunda-feira, 4 de outubro, 17:30h, no canal do YouTube da ABPE, e outra, na sexta-feira, 8 de outubro, 20h, nas redes sociais do Espíritas à Esquerda. Ambas as “lives” terão a presença dos dois organizadores do livro. Esse livro é mais um grande esforço no caminho da produção teórica, dando aos espíritas progressistas mais material de análise e reflexão sobre essas importantes questões. Outras novidades ainda virão, mas esse primeiro passo, tão significativo para nós, deve ser comemorado e divulgado entre os espíritas progressistas.