A necessidade do impeachment

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A continuar com suas sandices e crimes, ao presidente não mais caberá apenas a perda do cargo, que jamais honrou ou respeitou, mas a condenação por estimular o genocídio do povo brasileiro.

Deixar a cadeira principal do Palácio do Planalto é muito pouco para esse contumaz irresponsável, que usa cadeia nacional de rádio e televisão para promover produtos produzidos por seus comparsas quadrilheiros, argumentando insensatamente ser uma cura do covid-19 não validada pela ciência farmacológica. Ou seja, mais um, entre vários, crime de responsabilidade e contra a saúde pública nacional. E tudo isso sob o silêncio mórbido e criminoso das tais instituições nacionais responsáveis em preservar a sociedade.

Defender essa quadrilha no poder, diante de tantas barbáries e horrores, é, no mínimo, um desvio moral de gravidade imensurável. E há, ainda e infelizmente, muitos bolsoespíritas expelindo seus piores sentimentos por meio do apoio a esse momento de inigualável catástrofe nacional.

O movimento espírita poderia estar contribuindo de forma efetiva e racional, auxiliando a minorar consequências e encontrar soluções perenes, mas suas celebridades preferem, nesse momento de dor e angústia, fazer palestrinhas virtuais sobre “transição planetária” ou escrever cartinhas mediúnicas com previsões proféticas e juízos morais.

O que fizemos, afinal, do espiritismo?

Publicado no Facebook em 9/4/2020.

A religião e o risco moral

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O ministro da Saúde de Israel, Yaakov Litzman, um judeu ultraortodoxo e líder do partido de extrema-direita “Judaísmo Unido da Torá”, que faz parte da base do governo nazifascista de Israel, resistiu às várias limitações de movimentos públicos que autoridades de alto escalão de seu próprio ministério queriam impor e também pediu que o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu permitisse que as sinagogas permanecessem abertas. Agora o religioso testou positivo para o covid-19, juntamente com sua esposa.

O rabino Litzman é conhecido por suas posições fundamentalistas e contrárias aos homossexuais. Em 2016, por exemplo, votou pela derrubada da permissão de uniões civis homoafetivas no seu país, foi também contra a legalização da adoção de crianças por casais homossexuais e contra a possibilidade de parceiros do mesmo sexo de soldados israelenses mortos receberem os mesmos benefícios de casais heterossexuais.

No Brasil, alguns médiuns espíritas afamados também têm manifestado intenção de reabrir suas casas espíritas, colocando em risco a saúde e a vida de frequentadores e trabalhadores. Esses são, coincidentemente, os mesmos que têm sistematicamente associado a doença causada pelo covid-19 a problemas morais ou a castigos divinos a almas desviadas e que, há pouco tempo, afirmaram ser a homossexualidade um “momento de alucinação psicológica da sociedade”, associando-a, ora vejam, ao “comunismo”(??).

Tudo isso ilustra um problema recorrente na institucionalização das religiões: a hipocrisia. E essa hipocrisia religiosa já foi, inclusive, objeto de censura de Jesus –“Ai de vós, hipócritas!”.

Tais indivíduos, como o ministro israelense, alguns médiuns espíritas, padres e pa$tore$ neopentecostais bem conhecidos, representam o que de pior a religião pode produzir, porque associam o mal moral que carregam em si à manifestação de espiritualidade do povo simples e sincero.

Notícia original no Times Of Israel.

Publicado no Facebook em 7/4/2020.

O direito é um instrumento de resolução de conflitos sociais ou de dominação de classe? Uma análise de Karl Marx acerca do fenômeno jurídico

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Nesse texto, o autor analisa o direito como “uma das formas resultantes e engendradas por uma sociedade capitalista que é dividida, fraturada, centralmente em duas principais classes diametralmente opostas, organizando-se para a produção e reprodução da sua vida material em relações de produção, consistentes em capital e trabalho, conforme o pensamento de Karl Marx”.

O direito é um instrumento de resolução de conflitos sociais ou de dominação de classe? Uma análise de Karl Marx acerca do fenômeno jurídico.

Caique de Oliveira Sobreira Cruz – no JusBrasil (texto integral aqui)

RESUMO:

O presente trabalho visa compreender o direito enquanto uma das “formas” resultantes e engendradas por uma sociedade capitalista que é dividida, fraturada, centralmente em duas principais classes diametralmente opostas, organizando-se para a produção e reprodução da sua vida material em “relações de produção”, consistentes em capital e trabalho, conforme o pensamento de Karl Marx. Entende-se por “relações de produção” as formas como os homens em sociedade se reúnem para, através do trabalho, alterar a natureza e produzir e reproduzir as condições materiais da sua própria existência. A partir da extração da “forma” jurídica do complexo social, buscar-se-á entender os mecanismos de dominação de classe exercidos pela classe dominante, a burguesia, e compreender como o direito pode se expressar como reflexo e parte integrante desta dominação, sendo um instrumento de busca de hegemonia contra a classe subalterna, excluindo-a, com o processo de criminalização da pobreza executado pelas ferramentas do capital que visam reproduzir tanto a condição de miséria generalizada da vida do trabalhador, quanto o controle hegemônico da sociedade, mantendo-a sob um domínio cultural, político, social e, especialmente, econômico, por meio de um aparelho estatal que detém o monopólio do uso da força e serve aos interesses dos dominantes. Por burguesia, compreende-se a classe dos capitalistas modernos, proprietários e detentores dos meios de produção social e que empregam o trabalho assalariado, os burgueses são aqueles que ficam com o excedente do que é produzido pela humanidade nesta sociedade analisada.

INTRODUÇÃO:

A dogmática jurídica majoritária compreende o Direito enquanto fenômeno predominantemente gnosiológico, ou seja, como expressão das representações abstratas dos teóricos, retirando, assim, do “conteúdo” do fenômeno a sua base essencialmente material e ontológica. Apartando-se da totalidade social e das relações sociais de produção, ocasionando um distanciamento da construção de uma compreensão crítica ao Direito, emergindo uma análise logicista e formal: “Os juristas profissionais comparam os sistemas jurídicos de povos diferentes não como expressões de condições econômicas com efeitos bastante particulares, mas como sistemas independentes e auto-suficientes” (MORRISON, 2006, p. 314).

O fenômeno da especialização aprofundou essa perspectiva de afastamento que separou as ciências sociais em departamentos diferenciados e, assim, o direito ganhou status de ciência autônoma, neste sentido, para que seja possível oferecer uma antítese ao entendimento dominante, deve-se utilizar categorias que consigam explicar o Direito enquanto parte constitutiva de um todo social, contrapondo o instrumental apenas descritivo e de legitimação do fenômeno jurídico. Para alcançar o renascimento de uma proposição crítica e transformadora, é necessário o resgate do pensamento crítico acerca do Direito, e nos debruçaremos na interpretação do pensador alemão Karl Marx (1818-1883) para este objetivo, seja por meio de seus textos originais ou de interpretes das suas obras.

Este trabalho ganha dimensões importantes quando se faz uma análise bibliográfica sistemática e percebe-se que a doutrina majoritária e os autores mais destacados resumem-se à discussão jurídica e dogmática da temática, afastando da centralidade as noções sociais, de economia política, ciência política e sociologia que são imprescindíveis para a compreensão da problemática posta, pois as lentes jurídicas, embora necessárias nesta análise, mostram-se insuficientes se isoladas do objeto real em movimento. Este estudo tem como objetivo analisar o fenômeno jurídico e as suas interações com as classes sociais; capital e trabalho, visando a alcançar as relações de dominação que perpassam a sociabilidade capitalista através da esfera jurídica; identificar quais os segmentos da sociedade civil são mais abarcados dentro da ação de coerção e repressão estatal que é feita por intermédio do Direito; e, por fim, apreender a interdependência entre a “forma jurídica”, a “forma política” e a “forma mercadoria” de acordo com o pensamento de Karl Marx, para expor que o fenômeno jurídico não existe de modo isolado, como uma pretensa ciência que detém autonomia absoluta.

A pesquisa terá caráter bibliográfico que tem como interesse a realização de leitura e análise de textos de Karl Marx e dos comentadores de seus escritos referentes ao Direito que estão contidos em textos diversos não sistematizados. Portanto, trata-se de uma pesquisa teórica, realizada por meio de uma abordagem qualitativa, buscando um extenso esclarecimento acerca do problema, para que possam ser levantados os elementos críticos. Prezando pelas técnicas de revisão bibliográfica a partir de material já publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e materiais disponibilizados na Internet, sistematizações, análises documentais, as seguintes técnicas: das categorias, dos conceitos, da pesquisa e do fichamento. As conclusões do trabalho levarão em conta tudo o que for levantado pela revisão sistemática supracitada, seus conceitos básicos, ponderações, convergências e divergências, acertos e erros, mas principalmente suas propostas e reflexões.

No que concerne ao marco teórico, será utilizado o método cientifico de análise promovido por Karl Marx, o chamado ‘materialismo histórico’, sendo este fundamentado no método da reprodução ideal do movimento (processo) real, em conformidade com o entendimento do professor José Paulo Netto (2011): “a teoria é o movimento real do objeto transposto para o cérebro do pesquisador – é o real reproduzido e interpretado no plano ideal (do pensamento)”, já para Lênin: “A análise concreta da situação concreta é a alma viva, a essência do marxismo” (NETTO, 2007). Utilizaremos também as categorias fundamentais que são apreendidas da realidade pelo mesmo, como a dialética, buscando um amparo na ideia de que os fenômenos sociais estão interligados em interdependência a um todo social, ou seja, os fenômenos não são partes isoladas do todo que se “autoproduzem” e “autorreproduzem” de maneira independente. Para Engels (2008, p. 91), em sua obra, “Do Socialismo utópico ao socialismo cientifico” o materialismo é conceituado como:

“A concepção materialista da História parte da tese de que a produção, e com ela a troca dos produtos, é a base de toda a ordem social; de que em todas as sociedades que desfilam pela História, a distribuição dos produtos, e juntamente com ela a divisão social dos Homens em classes ou camadas, é determinada pelo que a sociedade produz e como produz, e pelo modo de trocar os seus produtos.”

Conectando essa concepção com o direito, a política e a filosofia, Engels (2012, p. 21) assevera:

“A classe trabalhadora – despojada da propriedade dos meios de produção […] não pode exprimir plenamente a própria condição de vida na ilusão jurídica da burguesia. Só pode conhecer plenamente essa condição de vida se enxergar a realidade das coisas, sem as coloridas lentes jurídicas. A concepção materialista da história de Marx ajuda a classe trabalhadora a compreender essa condição de vida, demonstrando que todas as representações dos homens – jurídicas, políticas, filosóficas, religiosas etc. – derivam, em última instância, de suas condições econômicas de vida, de seu modo de produzir e trocar os produtos.”

O filósofo Húngaro, Lukács (1965), ao falar sobre a concepção marxista, elucida que esta interpreta o tecido social como uma totalidade interligada e não como fragmentos de fenômenos que não encontram relações uns com os outros, sendo assim, o Direito estaria imbricado com a economia, a política, a cultura etc. Na frase de abertura do ensaio que escreveu sobre Rosa Luxemburgo, o referido autor diz: “É o ponto de vista da totalidade e não a predominância das causas econômicas na explicação da história o que distingue de forma decisiva o marxismo da ciência burguesa” (LUKÁCS, 1965, p. 47 apud NETTO, 2004).

Já o professor Wayne Morrison (2006, p. 295) argumenta que Marx não tem um “corpus teórico” específico sobre o direito: “A compreensão que Marx tem do direito é um subconjunto das abordagens intelectuais gerais da sociedade que ele adotou em diferentes momentos de sua vida”.

Identifica que não há como estudar em Marx questões apenas particulares que estejam à parte de todos os outros elementos sociais, mesmo com cada fenômeno social tendo as suas próprias especificidades, todos eles em algum grau estão interligados Morrison (2006, p. 294):

“A importância de qualquer entidade de estudo particular está no modo como ela se ajusta ao desenvolvimento do todo e o influencia. No caso do direito, assim como no de outros fenômenos sociais, é difícil isolar uma concepção marxista da entidade particular e criar um modelo teórico independente, uma vez que isso isola um aspecto particular do comportamento humano.”

Tendo isto sido posto, analisaremos a questão do Direito entrelaçada com as questões das classes sociais, por meio do entendimento do teórico Karl Marx de que a sociedade capitalista é dividida entre classes e que mediante o sistema da propriedade privada dos meios de produção gera desigualdades sociais, através da lei da acumulação do capital e da extração exploratória de excedente econômico, mais-valia. Partindo-se do “material”, da forma em que o Direito se estabelece concretamente enquanto um instrumento de dominação de classes, e não do seu arcabouço teórico abstrato e dos seus princípios formais, será dada primazia, portanto, à realidade como ela é e não como ela deveria ser, para compreender o fenômeno jurídico em seu “conteúdo”, em sua expressão real e não apenas em sua idealização formal.

[…]

Publicado no Facebook em 5/4/2020

As máscaras da economia

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A pandemia do novo coronavírus fez o Brasil ver-se agora diante duma triste realidade: um país que já produziu navios, plataformas de petróleo e satélites de comunicação não consegue sequer produzir ventiladores pulmonares para UTIs e máscaras de proteção respiratória.

Por conta da falta desses produtos, a União, alguns entes federados subnacionais e empresas privadas tentaram importar alguns desses itens médicos, principalmente da China, mas tiveram suas cargas retidas em portos e aeroportos espalhados pelo mundo, com a justificativa de que os países que retiveram as cargas também necessitavam dos produtos para superar suas próprias dificuldades diante da pandemia.

Afora o grave problema de desabastecimento desses produtos no mercado justo nesse momento de crise na saúde, esse fato revela uma escolha infeliz que vem sendo feita pelos sucessivos governos brasileiros: há em andamento um projeto de desindustrialização da economia nacional e a indústria brasileira já não é sequer capaz de produzir… máscaras de pano.

O problema da desindustrialização da economia iniciou-se a partir da segunda metade dos anos 1980 e continuou piorando sistematicamente até os dias de hoje, com ligeira melhora durante a transição do milênio. Ou seja, já se vão cerca de 35 anos de contínua queda da participação da indústria nacional na formação do PIB brasileiro, conforme se pode ver no gráfico que acompanha essa postagem.

Até mesmo os pouco mais de 13 anos de governos progressistas não foram capazes de superar esse problema. Ao contrário, esse período acentuou o processo de apequenamento da participação da indústria na economia nacional.

Em 2018, a indústria brasileira alcançou seu mais baixo índice de participação no PIB desde 1948: 11,3%!

É claro que esse processo de desindustrialização do país, que já dura mais de três décadas, é um reflexo do papel do Brasil no quadro da economia mundial. O Brasil tem-se tornado apenas um fornecedor de matérias-primas para a economia global, sendo alijado da possibilidade de desenvolvimento da sua indústria.

Ao capital internacional não interessa ter um país com tão vasto território e farta mão de obra tendo outro papel que não o de fornecedor de itens econômicos primários. Como disse recentemente um professor da UFRJ, referindo-se à indústria do agronegócio, a “situação é tão alarmante que o fertilizante é produzido fora e o produto agropecuário também é beneficiado fora. Nossa missão nessa cadeia é cada vez mais emprestar o solo e o sol”. E, importa frisar, o Brasil é um dos maiores jogadores do mercado mundial do agronegócio, e nem nesse mercado o país consegue participação significativa da sua indústria.

O Brasil tem feito há décadas sua escolha: apequenar-se economicamente, destruindo sua indústria, sua ciência e sua pesquisa e privilegiando o fornecimento de mercadorias primárias, como minérios, grãos e animais.

E, no momento em que se precisa duma indústria para fornecimento de itens tão simples e de baixa tecnologia como máscaras de pano e ventiladores pulmonares, o país não tem mais condições industriais de prover essa demanda emergencial e passa a depender exclusivamente da importação desses produtos.

Todas as consequências e dramas hoje vividos são reflexos de escolhas políticas feitas pela própria população brasileira. Escolhas que vão desde a eleição de governos populistas que se omitiram sobre ou auxiliaram a desindustrialização da economia, até a eleição dum governo fascista que retira direitos do trabalho, da educação e da saúde do povo brasileiro.

Publicado no Facebook em 4/4/2020.

Leia mais sobre a desindustrialização brasileira.

Vídeo sobre o comentário do professor da UFRJ, José Carlos Pinto, acerca do problema da indústria nacional:

A pandemia e as comunicações mediúnicas

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“Os médiuns levianos e pouco sérios atraem, pois, espíritos da mesma natureza; por isso é que suas comunicações se mostram cheias de banalidades, frivolidades, ideias truncadas e, não raro, muito heterodoxas, espiriticamente falando. Certamente, podem eles dizer, e às vezes dizem, coisas aproveitáveis; mas, nesse caso, principalmente, é que um exame severo e escrupuloso se faz necessário, porquanto, de envolta com essas coisas aproveitáveis, espíritos hipócritas insinuam, com habilidade e preconcebida perfídia, fatos de pura invencionice, asserções mentirosas, a fim de iludir a boa-fé dos que lhes dispensam atenção. Devem riscar-se, então, sem piedade, toda palavra, toda frase equívoca e só conservar do ditado o que a lógica possa aceitar, ou o que a doutrina já ensinou. As comunicações desta natureza só são de temer para os espíritas que trabalham isolados, para os grupos novos, ou pouco esclarecidos, visto que, nas reuniões onde os adeptos estão adiantados e já adquiriram experiência, a gralha perde o seu tempo a se adornar com as penas do pavão: acaba sempre desmascarada.”

KARDEC, Allan. “O livro dos médiuns”, parte II, cap. XX, item 230.

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Nesses tempos difíceis de pandemia do novo coronavírus, que tem levado desespero, dor e morte ao mundo, os espíritas têm sido bombardeados com mensagens mediúnicas diversas.

E, muitas delas, infelizmente, fazem referências a uma possível transição planetária e a julgamentos morais de doentes e mortos.

Primeiro, associar essa pandemia à transição planetária é de uma insipiência racional extrema, haja vista a grande quantidade de outras pandemias que já assolaram o planeta na sua história e a falta de relação com qualquer mudança significativa da postura humana diante do outro.

Por exemplo, a maior pandemia do século XX, a gripe espanhola (um subtipo do vírus Influenza A/H1N1) ocorrida no final da década de 1910, matou mais de 50 milhões de pessoas pelo mundo. No Brasil, estimam-se mais de 35 mil mortos. O mundo tinha acabado de viver o horror da I Guerra Mundial e, duas décadas depois, viveu um horror ainda maior: a II Guerra Mundial. Ou seja, não foi a pandemia mortal que barrou a sandice cruel do homem, mostrando que esse tipo de situação catastrófica da saúde não é capaz, por si só, de fazer o homem melhor.

O segundo ponto, o do julgamento moral de mortos e doentes, é muito cruel. Muitas dessas mensagens insinuam, covardemente, que os infectados são aqueles que não tinham “boa sintonia” ou corpos “incompatíveis com a vibração do amor”.

Apenas parem com isso! Por favor, médiuns, parem!

Isso é simplesmente um horror moral disfarçado por palavras melífluas para punir ainda mais os doentes dessa pandemia, incutindo-lhes uma culpa inexistente.

Tais mensagens são fruto da inconsequência mediúnica e da falta de racionalidade na hora da crítica daquilo que se recebe.

Na verdade, parece que os problemáticos moralmente não são os doentes da pandemia, mas os doentes da alma que espalham esse tipo de lixo moral e intelectual pelas redes sociais.

Publicado no Facebook em 3/4/2020.

Espiritismo e a micropolítica do cotidiano

Nesse novo texto exclusivo de Kelly Saturno para a página “Espíritas à esquerda”, a autora reflete sobre alguns impactos da pandemia do coronavírus na vida social e política nacional.

Agência Fotográfica de Macau

Espiritismo e a micropolítica do cotidiano

Por Kelly Saturno

Esta semana reencontrei nas redes sociais uma “fake news” espírita, compartilhada há pouco, como se fosse nova. Segundo a mesma, Chico Xavier teria profetizado que a Pátria do Evangelho conheceria um soldado destemido para ajustar o adiantamento moral da nação. Alguém montado sobre um cavalo branco, que teria mesma inicial do nosso país em seu nome. Imagino que todos se lembrem disso…

Ao reler esta postagem, voltei a sentir aquele mesmo embrulho que me tomou o estômago durante a última campanha eleitoral. Porque foi quando percebi que havia, no movimento espírita, muita gente mal intencionada. E esse foi um dos meus maiores desgostos.

Vários escritores espiritualistas, a esta altura, já haviam se perdido em obsessões evidentes, e passaram a gravar vídeos e a psicografar textos com assinatura de pessoas famosas, polêmicas ou carismáticas, cujas mensagens não faziam relação àquele mesmo ser que habitou a Terra, nem em termos de estilo nem de linha de pensamento.

Sabemos que no mundo espiritual, revemos nossos conceitos a fim de corrigir a rota para uma próxima oportunidade reencarnatória. Reconhecemos erros, padrões e procuramos estudar para evoluir. Ou seja, espíritos podem “mudar de ideia”. Mas não a este ponto. Nossa essência e nossa personalidade não se alteram com o desenlace.

Estes médiuns envaidecidos venderam cópias e mais cópias de seus textos repletos de instruções subliminares nocivas para as suas centenas de leitores, que, esquecidos de Kardec, confiaram cegamente em tudo aquilo que lhes caiu em mãos, sedentos por um novo redentor e recusando o crivo eficiente da razão.

Com esse resultado, veio também o fanatismo político. Este foi um projeto muito bem calculado.

Precisamos crer que há algo maior por trás dessa questão. Não posso me acostumar com imagens de cristãos em várias igrejas e centros espíritas fazendo sinal de arma com as mãos e ainda usando crianças para tal. Eram demonstrações de total desconexão com o ideal religioso de amor ao próximo e exaltação da violência com o diferente.

Depois disso, tudo degringolou. Inclusive o bom senso restante, que deu lugar às mais ridículas situações, nas quais muita gente boa e inteligente das nossas relações pessoais acreditou.

De quanta gente precisamos nos afastar neste período?

Edir Macedo, empresário e bispo evangélico, tem um livro chamado “Projeto de Poder”. Título que não disfarça a intenção de domínio que se pretende alcançar em todos os aspectos. Estes líderes, hoje, possuem profundas alianças com todas as esferas da vida pública, além de terem um canal na TV aberta, um jornal e outros tantos serviços formadores de opinião.

Nos sentimos pequenos, cansados e sem esperança diante de tantas aberrações que se sucederam nos últimos anos desde o impeachment fraudulento de Dilma Rousseff.

O então eleito presidente, o menos qualificado dos candidatos, que tem como ídolo um psicopata torturador e assassino, e que sempre demonstrou falta de equilíbrio emocional, de empatia e de conhecimentos técnicos, junto com seus ministros escolhidos por valores semelhantes aos seus, desafia a razão mais uma vez, submetendo seu povo, já tão humilhado e entregue, à doença, à miséria e à morte.

Ele não apenas convocou a população às ruas, mas também, de forma irresponsável, assumiu o risco de contaminar seus próprios seguidores diante da aglomeração provocada, com um vírus sobre o qual quase nada sabemos.

Não conhecemos as causas, as sequelas e a devastação que esta pandemia vai deixar para trás. E, ao contrário do que a OMS e o seu próprio ministro da Saúde recomendam, ele continua estimulando conflito, a desobediência e desordem, quando deveria tranquilizar e oferecer à população aquilo de que mais precisam: segurança.

Não podemos esperar que Bolsonaro tome as rédeas da situação de maneira equilibrada e racional, pensando em governar para todos e não apenas para as igrejas e os milionários. Alguém que sempre foi agressivo, que fugia dos debates por não saber dialogar, que não contribuiu em 30 anos de vida pública com nada de útil, não poderia, agora, fazer diferente.

A população está compreendendo diante do sofrimento aquilo que semeou nas urnas.

Hoje mesmo, diante de tantas preocupações com a estrutura dos nossos hospitais que não conseguirão atender a todos por falta de espaço, de recursos humanos e de equipamentos, caso a pandemia nos alcance da mesma forma devastadora que atingiu outros países, o Governo Federal pretende investir o valor de R$ 4,8 milhões para lançar a campanha: “O Brasil Não Pode Parar”, com o intuito de interromper o isolamento e trazer as pessoas de volta às ruas, ignorando o perigo de alto contágio da covid-19.

Assim como há carreatas em defesa do posicionamento inconsequente deste indivíduo, também há aqueles centros religiosos (inclusive espíritas) que vergonhosamente se curvam ao mal, abrindo as portas que deveriam estar fechadas a fim de proteger os fiéis, para receber fanáticos que apostam a própria vida e a dos outros para conservar o seu orgulho e vaidade.

Acredito, com firmeza, que tudo isso foi cuidadosamente arquitetado por encarnados e desencarnados que não têm interesse que as coisas mudem para melhor. Desejam que a marcha do progresso que estávamos alcançando a duras penas, estacione. Mas, progresso é lei divina. Ele não pode ser contido. Seja por interesses financeiros ou quaisquer outros.

Quem não precisava de artistas para nada, agora, isolado, não pode mais ir a shows, a teatros, a cinemas.

Quem achou que pesquisa universitária era bobagem, que fazia pouco dos profissionais da educação, agora suplica por uma vacina que contenha o avanço do vírus impiedoso.

Quem chamou os médicos cubanos de guerrilheiros infiltrados, de aproveitadores, agora implora pelo seu retorno, pois o programa que pretendia preencher as suas vagas com profissionais brasileiros, falhou miseravelmente.

Somos convidados a refletir sobre a importância de profissionais, acusados por alguns de serem irrelevantes, dispensáveis. E muitos dos que vociferavam contra programas sociais e políticas afirmativas, hoje dorme nas ruas, sem emprego, sem perspectiva, sem direitos trabalhistas e previdenciários, e muitos sequer têm com o que se alimentar.

Quem achou que os discursos ambientalistas eram bobagens, que não levou a sério os incêndios devastadores no Brasil e ao redor do mundo, que não sofreu pelas vítimas de Mariana e Brumadinho, que não se importou com as tragédias das últimas enchentes, que não se comoveu com o óleo contaminando os mares e praias… agora precisará deixar o mundo respirar, em quarentena. E ele está respirando, retomando a integridade.

Bastou retirar de circuito o elemento nocivo: nós, que consumimos e depredamos sem cessar e ainda não entendemos que fazemos parte de um todo.

Negligenciamos as tomadas violentas de terras e assassinatos de índios, de quilombolas, de negros, de pobres, de crianças das comunidades, de uma vereadora símbolo da militância dos direitos humanos, como se nada disso nos atingisse diretamente.

Não é apenas a ganância capitalista. Trata-se de algo maior, que tomou corpo e espaço. Um véu extenso que ainda cobre a visão de muitos.

Entretanto, há luz no fim do túnel.

Começamos a ouvir panelaços e arrependimentos. Está cada vez mais claro o abandono da população, a desonestidade, a incompetência, os ideais vulgares, como um castelo de cartas que desmorona em câmera lenta. Mas os responsáveis não ficarão impunes.

Devemos lembrar que se existe um médico justo e misericordioso a olhar por nós, existe cura, embora o antídoto esteja sendo mais amargo do que pensávamos.

Que o Mestre amado, portanto, nos auxilie, nos guie ao progresso que viemos buscar. Que consigamos reconhecer os equívocos para corrigi-los a tempo. Que juntos, possamos caminhar com mais segurança pela estrada do bem comum, e que isso seja da vontade de todos.

Não há mal que dure para sempre.

Tenhamos fé, oremos, mas não deixemos de agir quando a oportunidade se apresentar.

“Bata à porta e ela se abrirá.”

Ouçam os cientistas, aqueles que estudaram e que têm autoridade para fazer recomendações. Ouçam os médicos, que estão dentro dos hospitais, dia após dia, testemunhando vidas serem perdidas por conta da falta de amor e de proteção do Estado.

Espírita que nega a ciência, não pode ser chamado de espírita. Ela constitui a base da doutrina. Um dos três pilares fundamentais que sustenta nossos ideais de vida.

Peço a todos, portanto, que se cuidem, que cuidem dos seus e dos mais vulneráveis. Fiquem em casa o máximo que puderem.

Nosso modelo e guia é apenas um, e será sempre o mesmo: Jesus.

Nós vamos virar esse jogo.

Muita paz!

Publicado no Facebook em 31/3/2020

Espiritismo e a práxis política

Novo texto exclusivo de Elton Rodrigues para sua coluna na página “Espíritas à esquerda”.

praxis

As oportunidades que Deus nos traz

Elton Rodrigues Camaradas, é com grande satisfação que comemoramos o terceiro decênio da Grande Agitação Normativa dos Direitos Humanos-Indiscriminados. Ah, camaradas, lembro-me como se fosse hoje! Os fanáticos religiosos, os fascistas, os liberais inescrupulosos e parte dos que deveriam lutar pelo povo –vejam só!– concluíram que o melhor era a permanência de Bolsonaro no poder, pessoa que representava a encarnação do que havia de pior no espírito do povo brasileiro. A gota d’água foi um pronunciamento em rede nacional, em que Bolsonaro aconselhava a população a ignorar os cientistas, dizendo que o coronavírus –vírus que gerou uma pandemia mundial– não era nada demais, e que as escolas deveriam voltar a funcionar normalmente. Jovens começaram a ficar doentes, assim como seus familiares e os profissionais da educação. O sistema de saúde da época, o público e o privado –isso ainda existia– não conseguiu comportar tamanha demanda. Jovens começaram a morrer. Pais enlouquecidos tentavam enterrar seus amores, mas sem sucesso. Mais loucura em suas vidas. Não mais se preocupavam com a saúde. Empresas de cigarro e bebida alcoólica nunca lucraram tanto. Mais mortes. Os defensores de Bolsonaro afirmavam que tudo era culpa da China. Os liberais justificavam as mortes dizendo que o Brasil estava próximo a ser o maior produtor de cigarros e bebidas e que muitos empregos estavam sendo ofertados. Mais mortes. A esquerda liberal buscava maneiras de entregar flores ao presidente, além de uma carta com reflexões religiosas, pedindo moderação em suas atitudes. Enquanto os trabalhadores saudáveis eram forçados a girar a roda do deus Mercado, essa ‘esquerda’ pedia calma, pois um dia o tempo de sofrimento iria passar, naturalmente. Mais mortes. Os mais jovens lutavam para esclarecer a população que só com uma mobilização completa dos subalternos, dos marginalizados e dos sofridos a situação iria mudar. Houve resistência por parte de alguns pensadores. Talvez a mobilização poderia transformar-se em uma guerra civil e, por isso, pediram calma, tempo para pensar. Mais mortes. Os jovens ignoraram os filósofos e sociólogos de sofá, velhacos cristalizados em um Brasil colonizado e agitaram as primeiras manifestações. Pessoas de todas as idades, de todas as classes, de todas as formações se juntaram e foram às ruas. A repressão por parte dos soldados de cristo e da milícia bolsonárica brasileira foi grande, mas a força do povo foi maior. Pais, mães, professores, médicos se transformaram em generais, em estrategistas, em seguranças dos idosos, das crianças. O povo brasileiro nunca esteve tão unido. Todos estavam lutando, por fim, por aquele Brasil feliz, acolhedor, tão divulgado à época, mas que só existia nos panfletos turísticos. O povo venceu. Governos comunitários foram implantados. Centros médicos, espaços coletivos para alimentação e higienização criados. Psicólogos fortaleceram as mentes fragilizadas por aquele período difícil. Todos estavam cansados, mas felizes. Com o tempo, todo o sistema de saúde, de educação e de alimentação eram públicos. Em dez anos já não havia fome, pessoas morando nas ruas, idosos e crianças sem amparo. Todos os saudáveis trabalhavam e ganhavam a partir de suas necessidades. Em vinte anos as prisões estavam com 80% de suas vagas inocupadas, quando comparadas com os dados de 2020. O meio ambiente estava amparado por cientistas incansáveis e por uma população consciente de que não havia separação entre homem e Natureza. Ah, camaradas, e hoje, trinta anos depois da Grande Agitação, o que vemos? A utopia dos revolucionários de todas as épocas concretizada. Nós que já ultrapassamos –há muito tempo– a juventude, entregamos a responsabilidade para essa primeira geração formada com a nova estrutura governamental. Vocês receberam formação cultural e política. A educação de vocês é emancipadora, crítica e, para isso, não precisaram trabalhar, não sentiram fome, não ficaram sem amparo médico. Suas famílias, nas diversas configurações possíveis, são estruturadas. Vocês sabem, meus queridos jovens, que antigamente a educação era o caminho sugerido para termos um país melhor, mas poucos falavam da necessidade de todo um aparato, de toda uma sustentação para que a educação fosse realmente eficiente. Contamos com vocês! Permaneçam fortes e unidos para que os parasitas e vermes do passado não tenham, nunca mais, abrigo nas mentes e nos corações do povo.” *** Acordei, com esperança e lágrimas nos olhos, e pensei: O que falta para aproveitarmos as oportunidades que Deus nos traz? O que falta para termos uma grande agitação? Publicado no Facebook em 30/3/2020.

Coronavírus um olhar científico e espiritual

Eis a mais nova coluna de Isabel Guimarães para a página “Espíritas à esquerda”. Nesse texto exclusivo para nossa página, Isabel fala sobre a pandemia do novo coronavírus e as oportunidades de crescimento da humanidade.

Coronavírus um olhar científico e espiritual

Isabel Guimarães Que Deus nos livre da ignorância que mata e das religiões que mistificam. Em 30 de janeiro de 2020 A Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII) em decorrência da infecção humana pelo novo coronavírus (Covid-19). Imediatamente o mundo se voltou para este assunto, nas redes sociais, nas rodas de conversas e em dezenas de vídeos publicados na internet, por profissionais renomados e por leigos, que de repente se tornaram “especialistas” em infectologia, então o coronavírus passou de um ilustre desconhecido para a maioria da população à condição de “pop star”. Neste exato momento em que escrevo essa pequena reflexão, certamente, centenas de vídeos, áudios e textos estão sendo freneticamente editados e lançados na terra de ninguém, que se chama internet, espaço no qual as pessoas se sentem à vontade para se expressar, com ou sem compromisso com a verdade dos fatos, com ou sem compromisso com a ciência, valendo a lei da “achologia”, ciência livre na qual cada um acha o que bem entende. O problema aqui é que se trata de um novo vírus e com um grande potencial de disseminação, e conhecer o que realmente está acontecendo é fundamental na proteção à saúde e na preservação da vida das pessoas. Então cabe a reflexão em torno da responsabilidade na divulgação e disseminação de informações falsas, por ignorância ou má fé. Assim como cabe também a disposição de compartilhar informações que possam reduzir danos e evitar mortes. Reduzir a velocidade de transmissão é o grande desafio da saúde pública, pois significa reduzir sobrecarga dos hospitais e unidades de saúde, reduzir a carga de trabalho dos profissionais de saúde e sua exposição ao vírus, ganhar tempo para que se entenda melhor a doença e se descubram tratamentos adequados e, finalmente, desenvolva-se uma vacina eficaz. Na perspectiva dessas reduções é que as medidas de controle, que podem parecer drásticas, estão-se pautando. Quando me refiro a um olhar espiritual, quero deixar claro que não estou falando em nome do espiritismo, mas em meu próprio nome como espirita há mais de 25 anos, pois a nossa leitura dos acontecimentos esbarra nas limitações permitidas pela nossa existência atual, circunscrita em um espaço e um tempo. Por conta do Covid-19, bolsas de valores despencaram, o tal do mercado enlouqueceu, fronteiras fechadas, bares, restaurantes, shoppings esvaziados ou lacrados, eventos cancelados, pessoas desesperadas dominadas pelo medo. Qual o significado social, psicológico e espiritual desse cenário? — Os mercadores da fé, com seu deus mercantilista procuram responder com o de sempre, pague e receba a graça; — Os neoliberais, com seu deus mercado, sem preocupação com as pessoas, apenas contabilizam os prejuízos e os possíveis lucros; — Os grandes empresários, com seu deus dinheiro, pensam apenas em suas perdas ou tentam lucrar com o desespero dos outros; — Os políticos, com seu deus eleitoreiro, pensam apenas em como usar esse flagelo para derrotar seus adversários nas próximas eleições; — A classe média, com seu deus ignorância e egoísmo, pensa em fazer estoque de alimentos e desinfetantes, sem nenhuma preocupação com os outros que também precisam; — Os religiosos fundamentalistas, com seu deus vingativo e cruel, pensam em atrair mais adeptos através do medo, colocando-se como porta-vozes do todo poderoso. Cada um diz que sua igreja é a porta da salvação, desde que se pague o dizimo é claro; — Os religiosos não fundamentalistas, que se dizem adeptos de religiões progressistas, com seu deus ego, não resistem em buscar explicações ufanistas e rebuscadas evocando anjos vingadores e determinismos que parecem ter saído do misticismo da idade média; — Os pobres, cada um com seu deus, esperam que no final dê tudo certo e eles sobrevivam. O flagelo tão pequeno, que nem podemos enxergá-lo a olho nu, como uma caixa de Pandora do século XXI, revela todos os males do capitalismo, arranca-lhe as máscaras, convida-nos a refletir sobre os valores que sustentam uma sociedade individualista e competitiva, na qual as coisas valem mais do que as pessoas e estas são classificadas de acordo com sua capacidade de consumir. Talvez o convite seja para uma reflexão profunda a respeito do que realmente importa nessa vida. O isolamento social forçado, quem sabe, pode-nos levar a valorizarmos o que realmente importa: os afetos, os abraços, a conivência amiga, a conversação edificante, a contemplação da criação divina em sua infinita beleza que nos passa despercebida, porque estamos correndo muito. E para quê? Para onde? A política neoliberal, sustentada pelo deus mercado, não sabe o que fazer, nem como responder ao caos instalado. Os defensores do estado mínimo e mercado máximo correm atrás do estado para lhes tirar da bancarrota, as empresas se preparam para demissão em massa, a pobreza crescente aumenta os riscos de contaminação e, junto, cresce também a violência urbana, porque a teoria capitalista é: os lucros são meus e os prejuízos são nossos. Como os governos do mundo inteiro vão responder à profunda crise que se aproxima? O pequeno vírus agora demonstra a importância da ciência. E aqueles que nos últimos dois anos aplaudiram um governo que atacou as universidades públicas, berço da pesquisa de qualidade no país, desconsiderou os cientistas e reduziu drasticamente os investimentos em saúde e educação, anseiam agora que a ciência os salve. Parece ironia do destino, mas há uma sabedoria universal em tudo isso, a salvação não está nos templos religiosos, mas na saúde e na educação. E do ponto de vista psicológico, o que está acontecendo com as pessoas? As mazelas também aprecem, o medo arranca à força as máscaras, elas entram em contado com seus anjos e demônios que dormem abraçados no seu mundo interno, a sombra pede passagem e se apresenta com força na consciência. Muito difícil para quem usa a máscara do cidadão de bem encarar seus demônios, mas, do ponto de vista da saúde psíquica, esse contato pode ser numinoso, pode derrubar muita gente do pedestal da arrogância, desconstruindo suas ilusões e ao mesmo tempo humanizando e tornando melhores os seres humanos. Um olhar espiritual para tudo isso nos leva a conclusão que há sim u’a mão invisível, colocando as coisas no lugar devido e demonstrando nossos equívocos, não como castigo ou aniquilação, mas que, de forma pedagógica, convida-nos a rever a forma que constituímos e sustentamos as sociedades humanas. A sobrevivência da humanidade e sua multiplicação se deu pela força da união, em uma terra inóspita e com nossa fragilidade física frente aos outros habitantes do planeta, e não teria sido possível sem a união e a inteligência da raça humana. Espero que esse pequeno vírus reabilite nossa humanidade e união. O momento vai passar, o vírus não vai aniquilar a raça humana, vamos sobreviver a mais esse drama, como sobrevivemos a tantos outros ao longo da nossa história na Terra, mas espero que a resultante da experiência seja perene, que de tudo isso possamos sair melhores, mais despertos para a realidade da nossa existência como espíritos imortais vivendo uma realidade compartilhada e aprendendo com ela. Não permitamos que o medo seja o fio condutor dessa rica experiência, cultivemos a paz e o equilíbrio interior, sejamos solidários(as), fraternos(as), pois a saída está na união, na irmandade, na ruptura de um sistema individualista e na construção de um sistema cuja base fundamental seja o bem coletivo. Publicado no Facebook em 28/3/2020.

Autodestruição

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suicida
“O suicida”, pintura a óleo feita por Édouard Manet, entre 1877 e 1881.
Morrer pelo coronavírus ou morrer pelos crimes do energúmeno presidente: uma difícil escolha para o trabalhador brasileiro. Enquanto alguns países tomam medidas para garantir a renda do trabalhador, o presidente eleito pela mentira e pelo ódio segue em sua mórbida jornada em direção ao extermínio da dignidade e da vida dos trabalhadores. Essa estranha gente aproveita-se da situação de caos em que o mundo se encontra por causa da pandemia viral e toma medidas que levarão o povo trabalhador ao desespero, à indignidade e, claro, à morte. É a continuidade da necropolítica fascista em pleno vigor. O (des)governo de milicianos e corruptos publicou ontem à noite a Medida Provisória nº 927, que concede ainda mais benefícios ao capital enquanto, por outro lado, retira o único meio de sobrevivência do trabalhador: seu salário. O que essa gente cruel acha que ocorrerá à família trabalhadora sem 4 meses de salário? Não há adjetivos que possam classificar essa medida. É tão estúpida e cruel que até os mais insensatos e doentes seguidores dessa seita necropolítica devem ter ficado ruborizados. Mas, acreditem, haverá bolsoespíritas que ainda terão a desfaçatez de, pelas redes sociais, apoiar tal medonha decisão, argumentando que isso “preservará os empregos”. Ora, senhores médiuns e dirigentes espíritas afamados, ninguém quer emprego preservado sem renda para comer e sobreviver. Tenham um mínimo de compostura e dignidade. Esses espíritas de fancaria, muitos aboletados em importantes casas e federações espíritas pelo país, têm-se mostrado uma vergonha para qualquer pessoa que se diga minimamente cristã, quiçá para o movimento espírita. O povo brasileiro escolheu o caminho da autodestruição. Um dia, num futuro não tão distante, caberá a historiadores, sociólogos e cientistas políticos explicarem as consequências nefastas dessa escolha. E caberá a psiquiatras e psicólogos entenderem os traumas que levaram o povo brasileiro ao suicídio coletivo. A MPV n° 927, de 22 de março de 2020 pode ser lida aqui. Publicado no Facebook em 23/3/2020.

Um inepto no comando da nau em plena tempestade.

O Brasil foi pego no contrapé. Em plena tempestade social e econômica causada pela pandemia do coronavírus, tem-se um presidente completamente inepto e inapto às funções que lhe foram dadas pelas últimas eleições, quando, na oportunidade, o povo brasileiro escolheu dar um tiro no seu próprio pé. Ao eleger para liderá-lo um líder miliciano ligado à corrupção, às práticas imorais nas sombras dos gabinetes legislativos e à baixíssima produtividade nas três décadas no parlamento, a sociedade brasileira escolheu o risco óbvio de transitar na beira do abismo. Bastaria um vento mais forte para jogar o país ao caos, imagina uma tempestade perfeita como uma pandemia e uma catástrofe na saúde pública. Não há saída para o Brasil que não passe pelo impedimento do atual (des)governo. A destituição do energúmeno presidente, e toda a sua quadrilha, é premente e salvará vidas. Um inepto no comando da nau em plena tempestade.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

A única saída é o impeachment

Vladimir Safatle – EL PAÍS Brasil Esse gesto tem força civilizadora. O Brasil não pode ter duas crises a gerenciar, a saber, o coronavírus e Bolsonaro. No dia 18 deste mês, três combativos deputados federais (Fernanda Melchionna, Sâmia Bonfim e David Miranda) protocolaram um pedido de impeachment contra Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Este pedido foi assinado por vários membros da sociedade civil, entre eles por mim. A este grupo, somaram-se mais de 100.000 assinaturas de apoio. O pedido motivou algumas críticas vindas, inclusive, da própria direção do partido de tais deputados, abrindo um debate importante a respeito das estratégias da oposição neste momento. Por isto, gostaria de aproveitar este espaço a fim de insistir que tais críticas estão profundamente equivocadas e expressam, na verdade, falta de clareza e direção em momento tão dramático de nosso país. Duas questões se colocam a respeito de tal problema. Primeiro, se devemos ou não devemos lutar pelo impeachment de Jair Bolsonaro. Segundo, caso a primeira resposta seja afirmativa, há de se discutir quando um pedido desta natureza deveria ser feito. Sobre o primeiro ponto, normalmente os que recusam a tese do impeachment afirmam que de nada adiantaria trocar Bolsonaro por seu vice, o general Mourão. Tal troca, na verdade, equivaleria a entregar de vez o controle do estado ao Exército, com consequências catastróficas. Há ainda aqueles que dizem ser miopia política e irresponsabilidade administrativa lutar pelo impeachment em meio a maior crise sanitária que o mundo conheceu desde há muito. Melhor seria aproveitar o enfraquecimento de Bolsonaro e levar o estado brasileiro a retomar investimentos no SUS, a revogar o teto de gastos, entre outras ações. Aos que dizem nada adiantar trocar Bolsonaro por seu vice gostaria de dizer que o foco de análise talvez esteja equivocado. A questão coloca pelo impeachment não é ‘quem assume’. Antes, trata-se de mostrar claramente que o país repudia de forma veemente quem age a todo momento para solapar os espaços mínimos de conflito político e que demonstrou irresponsabilidade e incapacidade absoluta de gerenciar forças para preparar o país para lidar com uma epidemia devastadora. Bolsonaro é um agitador fascista e um chefe de gangue narcísico que zombou do povo brasileiro e de sua vulnerabilidade no momento em que devia ter baixado as armas, convocado um governo de união nacional, sentado com a oposição e convergido forças para colocar a sobrevivência das pessoas à frente das preocupações econômicas imediatas e das preocupações políticas de seu grupo. Neste sentido, um impeachment neste momento teria um valor civilizatório, pois deixaria claro que a sociedade brasileira não admite ser comandada por alguém que se demonstra tão inepto e com interesses exclusivos de autopreservação. Bolsonaro demonstrou nos últimos dias como é capaz de produzir ações que desmobilizam as tentativas da sociedade em conscientizar todos da situação em que nos encontramos. Suas ações custam vidas. A questão sobre quem ocupará o lugar de Bolsonaro é um cortina de fumaça que demonstra desconfiança na força destituinte da soberania popular. Este mesmo argumento foi usado quando Michel Temer estava nas cordas, na ocasião da greve dos caminhoneiros. Dizia-se que não fazia sentido troca-lo por Maia. Hoje, Maia é endeusado por alguns como o esteio da racionalidade no Estado brasileiro. Já aos que afirmam que o momento é de lutar para empurrar o Estado a aplicar políticas de proteção social, eu diria que os últimos dias mostraram que isto é algo da ordem do delírio. Pois o Governo aproveita a situação de caos para permitir às empresas cortarem jornada de trabalho e salários pela metade, permitir licenciamentos sem custos, usar os parcos recursos públicos para salvar empresas aéreas monopolistas especializada em espoliar consumidores e pressionar pelas mesmas ‘reformas’ que destruíram a capacidade do Estado de operar em larga escala em situações de risco biopolítico com esta. Ou seja, achar que é possível negociar com quem procura toda oportunidade para preservar seus ganhos, com quem se serve do Estado para espoliar o povo em qualquer situação que seja, demonstra incapacidade de saber contra quem lutamos. Que aprendam de uma vez por todas: neoliberais não choram. Eles fazem conta, mesmo quando as pessoas estão a morrer à sua volta. Engana-se quem espera que Bolsonaro faça alguma forma de reconhecimento da necessidade de políticas públicas fortes, como fez o presidente francês Emmanuel Macron em momento de desespero. Isto apenas demonstra como há setores da esquerda brasileira que nada aprenderam a respeito de nossos inimigos. A eles, devemos insistir que a única maneira de realmente combater a pandemia é afastando Bolsonaro do poder em um movimento que mostraria, ao resto da classe política, o caminho da guilhotina diante da cólera popular pela inação e irresponsabilidade do governo diante das nossas mortes. Volto a insistir, esse gesto tem força civilizadora. O Brasil não pode ter duas crises a gerenciar, a saber, o coronavírus e Bolsonaro. Já os que falam que o momento é cedo para um pedido de impeachment, que é necessário compor calmamente com todas as forças, diria que isto nunca ocorrerá. A esquerda brasileira já se demonstrou, mais de uma vez, estar em uma posição de paralisia e esquizofrenia. Ela grita que sofreu um golpe enquanto se prepara rapidamente para a próxima eleição, sem querer ver a contradição entre os dois gestos. Ela luta contra a reforma previdenciária enquanto a aplica em casa. Ela não encontrará unidade para um pedido de impeachment ou só encontrará muito tarde, quando setores da centro-direita e da direita já tiverem monopolizado a pauta do impeachment. Por outro lado, 45% da população é a favor do impeachment de Bolsonaro (Atlas Político), a população manifesta-se cotidianamente através de panelaços em bairros até então solidamente ancorados no apoio a Bolsonaro, grupos que o apoiavam entrar em rota de colisão com ele. Se este não é um bom momento para a apresentação do pedido, alguém poderia me explicar o que significa exatamente ‘bom momento’? Quando estivermos todos mortos? Nestas circunstâncias, melhor respeitar um princípio autonomista de grande sabedoria estratégica. Em um campo comum, baseado na ausência de hierarquia e na confiança entre todos os que partilham os mesmos horizontes de luta, todos têm autonomia de ação e decisão. Ninguém precisa de autorização para fazer uma ação política efetiva. Dentro do campo comum ou seus membros implicam-se nas ações feitas de forma autônoma ou quem não concorda não atrapalha. Fora disto, é a posição subserviente de esperar que o líder (que não existe mais) dê sinal verde ou aponte o caminho para os demais. O que significa uma forma de submissão que nunca poderia fazer parte das estratégias daqueles que lutam por uma emancipação real. Publicado no Facebook em 21/3/2020.