O Coletivo Espíritas à Esquerda ganhou destaque no jornal online Brasil de Fato e no Diário do Centro do Mundo – DCM, dois dos principais veículos da mídia progressista do país. A publicação enfatiza que o EàE “critica a interpretação reacionária da doutrina e aposta em trabalho de base nas periferias”. A publicação também ressalta que o Coletivo está presente em 17 estados e em Portugal “articulando os preceitos espíritas aos principais debates políticos contemporâneos, como o racismo, a desigualdade social, a questão de gênero, aos direitos da comunidade LGBTQI+”.
A propriedade privada: Marx e Kardec
Nota dos espíritas progressistas ante a crise institucional brasileira
A sociedade brasileira vive um momento de crise aguda, uma crise que afeta gravemente a saúde e o emprego do seu povo, além do meio ambiente onde vive. A fome se alastra e a violência ameaça todos e, em especial, os mais vulneráveis. Esse seria, pois, o momento em que os poderes instituídos pela Constituição Federal de 1988 deveriam unir esforços no sentido de superar tamanha crise social e econômica. Entretanto, o que se viu e ainda se vê nesse período de longa pandemia é o Poder Executivo federal caminhar no sentido oposto ao que é necessário e urgente, abdicando de seu papel de buscar soluções, para, ao invés, transgredir leis e ameaçar uma sociedade já tão fragilizada pelo momento tormentoso que passa e com o luto coletivo em que está mergulhada.
O povo brasileiro está horrorizado diante da escalada de ameaças ao Estado democrático e às liberdades sociais e políticas, vindas de integrantes do Palácio do Planalto e das Forças Armadas. Dia após dia, verbalizam eles seu desprezo pela democracia e atentam contra as demais instituições do Estado brasileiro. Recentemente o Senado Federal e o Tribunal Superior Eleitoral tiveram que se manifestar contra essa verborragia autoritária e ameaçadora vinda dessa gente que ainda não aprendeu a conviver numa sociedade livre.
Nós, espíritas progressistas, reunidos em diversos grupos, associações e coletivos pelo Brasil, reiteramos nossos valores de luta por uma sociedade na qual a justiça social e a liberdade plena sejam conquistas permanentes. Nesse grave momento, conclamamos as diversas instituições de Estado, em todas as esferas de poder, a se manterem fiéis aos princípios constitucionais e unirem-se no sentido de garantir a completa apuração dos fatos que levaram à morte de mais de meio milhão de brasileiras e brasileiros; e de garantir a condução do processo eleitoral previsto para o próximo ano, sem sobressaltos e sem ameaças. E, assim, possam assegurar ao povo a esperança de dias melhores, com a superação das crises que nos assolam.
Há um longo caminho a ser percorrido para construirmos uma sociedade mais justa e igualitária, mas não podemos mais retroceder os passos que já tínhamos dado nesse sentido. Que todos os brasileiros e brasileiras conscientes, que estejam em cargos nas esferas dos poderes executivo, judiciário e legislativo possam ter coragem e empenho, para agirem no sentido de garantia de nossos direitos fundamentais e da democracia.
Assinam esse documento os seguintes coletivos, associações e grupos:
ABPE – Associação Brasileira de Pedagogia Espírita
Abrepaz – Associação Brasileira Espírita de Direitos Humanos e Cultura de Paz
Ágora Espírita
Blog Livre Pensadora
Cejus – Coletivo de Estudos Espiritismo e Justiça Social
CEPA – Associação Espírita Internacional
CEPABrasil – Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA
Cetrans – Coletivo Espírita pela Transformação Social
CPDoc – Centro de Pesquisa e Documentação Espírita
EàE – Espíritas à Esquerda
Espíritas Progressistas
Girassóis – Coletivo Girassóis, Espíritas pelo Bem Comum
Brasil, 12 de julho de 2021
Espíritas à Esquerda presente no #3JForaBolsonaro
Mortes morridas e mortes matadas no Espiritismo – E o “pessoal dos Direitos Humanos”?
Elizabeth Hernandes – EàE DF
Dia de execução de bandido famoso é dia de falar mal “desse pessoal dos direitos humanos”. Onde estavam na hora em que o bandido matava pais de família? Por que só aparecem quando a polícia executa os bandidos? Essa última pergunta talvez seja respondida pelo fato de que a polícia divulga com mais frequência as suas ações, enquanto os bandidos tentam escondê-las.
Os Direitos Humanos estão onde sempre estiveram: ao lado dos humanos, defendendo humanos valores e opondo-se à barbárie cometida por qualquer tipo de bandido.
De onde saiu essa ideia de que defender direitos humanos significa ser a favor de atos ilícitos, imorais ou as duas coisas? Muito provavelmente essa ideia é difundida pelos que se beneficiam com a barbárie.
Certa vez, numa palestra de um advogado muito bem sucedido e fascinado pela cultura de “honestidade e horror à mentira” – palavras dele, dado que há controvérsias – vigente nos Estados Unidos, ele contava, orgulhosamente, que defendera o Estado contra um egresso do sistema carcerário que processou a Pátria, alegando que, no presídio, dormia com o rosto próximo à privada. “E onde mais deveria dormir um sentenciado? Por que o pessoal dos Direitos Humanos não leva pra dormir na casa deles?”
Quando você não defende direitos humanos, parte do princípio de que as pessoas se dividem em classes ou castas, talvez com variadas gradações, mas com a certeza de que você e os seus localizam-se num dos patamares superiores
Será impossível que um membro de uma família branca, abastada e letrada cometa um crime? De todo modo, se esse menino ou menina problemático (qualquer que seja a idade) vier a cometer um deslize, terá brilhantes causídicos à disposição.
Talvez um bacharel não cogite a hipótese de um parente vir a dormir – uma noite que seja – num cárcere. Mas é bom lembrar que a vida é imprevisível, doutor… E repleta de seres humanos com os quais temos de conviver. Melhor que esses “outros” tenham garantidos direitos fundamentais, como condições dignas de sobrevivência ou o devido processo legal.
É muita sorte da sociedade quando uma pessoa, que dormiu anos com a cara perto da privada, num equipamento estatal que está legalmente obrigado a preservar sua vida e integridade, está disposta a simplesmente processar o Estado. Haveria a probabilidade de essa pessoa sentir muito ódio. E tal sentimento ser jogado na cara ou na vida do primeiro que encontrasse, já que sentir ódio e concretizá-lo está tão fácil e acessível, nesse país.
Hoje todo mundo odeia alguém: políticos, empresários, blogueiros, a imprensa, os “comunistas”, o vizinho, os artistas etc. E alguns odeiam, de alma, coração, fígado e dedo indicador em posição de gatilho, o “pessoal dos Direitos Humanos”. E não vamos esquecer do ódio ao misterioso Lázaro, o assassino assassinado1, exemplo filmado de morte matada.
Por que não odiamos, por exemplo, Joseph Safra, bilionário libanês-brasileiro, morto em berço esplêndido, cuja fortuna fora estimada em US$ 18 bilhões? Ele controlava um conglomerado bancário e financeiro com ações em 19 países e foi acusado, numa operação da Polícia Federal, de pagar R$ 15,3 milhões em propinas.
De acordo com a imprensa, interceptações telefônicas e fotografias mostravam toda a movimentação de um provável preposto do grupo Safra, negociando a “gorjeta” que valeria a dispensa de 1,8 bilhão de reais em tributos. O bilionário foi inocentado. Não houve como provar sua relação com o corruptor, que aparece em fotos voltando para a sede do grupo Safra, após o conluio com os corrompidos. Embora o grupo Safra tenha-se beneficiado na negociata, caso ela tenha-se concluído, a Joseph Safra – que certamente não passará pelo buraco de uma agulha antes de um camelo – não se aplicou nem mesmo uma teoriazinha de “domínio do fato”. Ele tomara o cuidado de não ser sócio e nem empregador do negociador.2
Então um bilionário foi inocentado e… ninguém bateu panelas? Por quê? Seria porque “a conversa não chegou na cozinha, a plebe ignara não tomou conhecimento”?
E quantos direitos humanos poderiam ser garantidos com 1,8 bilhão de reais, se investidos em programas sociais? Só pra lembrar: saúde, educação e segurança são direitos humanos.
E o que diria o cidadão de bem?
“Ora, ora, ora. Lá vêm esses comunistas a falar em programas sociais. A continuar nessa toada, logo vão chamar de genocídio a mortandade de mais de meio milhão de brasileiros só porque o governo atrasou a compra de vacinas, desmontou o sistema de vacinação3, que era referência internacional e não adotou estratégias efetivas para o fechamento de cidades, como ocorreu em países que já estão voltando a um modo de vida sem pandemia. Ora, ora, ora, direitos humanos. Só servem para beneficiar ‘os pês’: pretos, pobres, preguiçosos, petistas…”
Será que nós, os brasileiros, somos assim tão “brancos”, ”ricos”, “diligentes e civilizados”, a ponto de poder dispensar o trabalho desse “pessoal dos direitos humanos”? E será que acreditamos em teorias deterministas para a hora da morte, mesmo quando mais de meio milhão de compatriotas morre por uma doença para a qual há vacina e medidas outras de prevenção?
Há espíritas argumentando que “cada um tem sua hora” e citando os casos de desencarnações coletivas previamente combinadas etc. Sobre isso, um artigo de Carlos Augusto Parchen4 analisa questões, de O Livro dos Espíritos, que tratam da determinação da duração da vida. O articulista conclui que “Pode-se, portanto, afirmar que existe “um momento da morte” (ela ocorrerá inexoravelmente), mas não “o momento da morte” (ou seja, que ela está determinada e programada previamente).
A hora de morrer também é sobre direitos humanos. O direito de fruir a vida em toda a sua extensão e não ter a encarnação abreviada por fatores externos à responsabilidade pessoal. Na literatura científica, tais fatores são classificados como Determinantes sociais de Saúde.5
Direitos Humanos – e o respectivo “pessoal” – não seriam necessários num país que vivesse deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo, em pleno estado de ordem e progresso. Não é o caso do Brasil.
É preciso valorizar o “pessoal dos direitos humanos” porque eles costumam empenhar a própria vida para defender as nossas vidas e, às vezes, perdem as vidas deles ou a de pessoas que lhes são caras.6
O Espiritismo não permite atitudes à moda do avestruz. Há vasta literatura que impede o impulso de enfiar a cabeça sob a terra, quando a realidade está feia de se encarar.
Se alguém aprova execuções sumárias – mesmo de perigosos assassinos – está relativizando o valor da vida, está aceitando que mortes matadas e mortes morridas são a mesma coisa. Se acredita em sintonia espiritual, está vibrando na mesma faixa da pessoa executada, bem como da dos executores. Se contribuiu, por ação ou omissão, para a constituição das autoridades que carregam nas costas a conta de mais de meio milhão de mortes que poderiam ser evitadas, é corresponsável. E se, depois de constatados tais sentimentos, continua se dizendo cristão, não entendeu nada sobre a religião inspirada nos ensinamentos de um palestino inocente, que foi denunciado, torturado e executado dentro de um processo legal conduzido pelas autoridades da época.
A boa notícia é a lição de misericórdia que nos deixou o Palestino. Reconcilie-se, principalmente consigo mesmo, enquanto está a caminho.
Orgulho de ser
- https://www.calendarr.com/brasil/dia-internacional-do-orgulho-gay/
- https://www.istoedinheiro.com.br/direito-dos-homossexuais-avanca-mas-ainda-e-crime-em-69-paises/
- https://queer.ig.com.br/2021-03-13/lista-aponta-72-paises-do-mundo-perigosos-para-ser-gay-veja-quais.html
- https://exame.com/brasil/pelo-12o-ano-consecutivo-brasil-e-pais-que-mais-mata-transexuais-no-mundo/
- https://agenciaaids.com.br/noticia/relatorio-de-violencia-contra-lgbts-mostra-queda-nas-mortes-por-homofobia-em-2020/
- https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/887/o-evangelho-segundo-o-espiritismo/2135/capitulo-i-nao-vim-destruir-a-lei/instrucoes-dos-espiritos-a-nova-era
- https://kardecpedia.com/roteiro-de-estudos/2/o-livro-dos-espiritos/77/parte-segunda-do-mundo-espirita-ou-mundo-dos-espiritos/capitulo-x-das-ocupacoes-e-missoes-dos-espiritos
Tem cordel espírita no nosso programa de literatura
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Em live sobre Prática da Educação Popular, EàE lança site e projeto de organização popular
Na noite do dia 26 de junho o Coletivo Espíritas à Esquerda lançou oficialmente seu site e seu projeto de educação e organização popular, os NEPs, Núcleos Espíritas Populares. O evento online contou com a participação da Deputada Federal Natália Bonavides (PT/RN), das vereadoras de Natal/RN Brisa Bracchi e Divaneide Basílio, ambas do PT, além de Kelli Mafort , membro da Coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST.
As convidadas abordaram o tema cotejando seu conhecimento das concepções de Paulo Freire com as suas experiências nos mandatos parlamentares e nos movimentos populares. Em todas as manifestações houve referências à importância do ato de ouvir como ponto de partida para uma ação construtora da autonomia, da solidariedade como valor central do processo, e da esperança como ingrediente humanizante e agregador.
A íntegra do debate está disponível aí abaixo e vale cada segundo. Além do debate, houve uma breve apresentação dos membros da coordenação do Coletivo Espíritas à Esquerda. E uma breve apresentação do projeto dos Núcleos Espíritas Populares -NEPs.
Agradecimento aos participantes da live
Agradecemos ao Mestre Paulo Freire por estar presente na transmissão do evento de inauguração deste portal, por meio das experiências, lutas e juventudes de Nátália Bonavides, Brisa Bracchi, Divaneide Basílio e Kelli Mafort.
Poderíamos remeter uma cartinha formal e individual, mas o movimento Espíritas à Esquerda é do informal e do coletivo.
Estamos felizes por iniciar o portal falando de educação popular e da imortalidade de Paulo Freire que vive, inclusive, em quem tenta combater o seu legado. Seria esse o sentido de amar aos inimigos?
O fato é que o pensador brasileiro mais citado no mundo, tem sido lembrado em nossas terras, por bons e por maus motivos. Mas o seu legado, a partilha amorosa do conhecimento, será honrado por todos e todas que almejam um mundo melhor.
Estamos esperançados. Seja pela juventude das palestrantes ou pelo compartilhamento de saberes dos que são jovens há mais tempo.
Seguimos juntos numa luta inspirada por justa raiva e jamais por ódio.
O ódio paralisa e traz estagnação. A justa raiva nos impulsiona a interferir no mundo, que está sempre sendo, como nos disse o Professor Freire.
Pois que seja justo e bom para todes, acolhendo as singularidades de cada ser.
Gratidão ao mestre Freire que nos falou por meio dessas bravas mulheres.
ASSISTA AO VÍDEO COMPLETO
O espiritismo é nada
Imagem da postagem: Garota com balões, originalmente pintada por Bansky em Shoreditch, no leste de Londres, e replicada pelo próprio autor em muro construído por Israel na Palestina invadida. Simboliza a superação dos limites humanos.
Necropolítica é demanda do capitalismo financista
Necropolítica não é um termo aleatório que serve apenas para denominar o conjunto de maldades e desprezo à vida do governo brasileiro. Tão pouco é um fenômeno local, embora aqui se imponha de forma mais grotesca e cruel do que em outros lugares. A necropolítica é uma demanda do capitalismo de estágio presente de extremo predomínio do capital financeiro, do rentismo, em detrimento do capital industrial.
Vou tentar explicar de forma simples: no capitalismo “clássico” em que a riqueza (e sua acumulação) era produzida pelo trabalho nas fábricas havia sempre o “exército de reserva”, que era o contingente da população que não ocupava lugar nas linhas de produção, os desempregados que precisavam fazer à vida à margem do sistema. Este exército de reserva servia para manter os salários arrochados (“tem gente lá fora querendo teu emprego”) e para assumir o trabalho em momentos de aquecimento da economia.
O avanço da financeirização, do predomínio dos bancos, do dinheiro eletrônico, da riqueza sem lastro de valor efetivo, criou um cenário em que a riqueza se reproduz por si própria pela especulação financeira, prescindindo em larga escala do trabalho fabril. Não se trata de revogar conceitos clássicos como capital e trabalho e sua eterna contradição, mas de compreender um novo estágio do capitalismo.
Este novo estágio não precisa do exército de reserva, pelo menos em grande escala. Surgem então massas de cidadãos “desnecessários”: migrantes, refugiados, aposentados, deficientes, minorias étnicas, povos originários. Gente que, para o capitalismo financista, não tem utilidade, não serve nem para ser explorada. A necropolítica é o mecanismo de extermínio deste excedente incômodo para o sistema rentista. Uma política pública “necessária” para dar seguimento à marcha de acumulação de riqueza por muito poucos.
De alguma forma os movimentos de extrema direita, geralmente militarizados, que pipocam em várias partes do mundo, incluindo o Brasil, chegam para implantar a necropolítica e abrir caminho para uma sociedade “livre” dos “estorvos sociais” que podem custar aos Estados e limitar a concentração de riquezas.
O que assistimos no Brasil na forma de sabotagem à vacinação, liberação da violência policial nas periferias, massacres de indígenas e sucateamento da proteção social não são arroubos de um governo desorientado ou meramente incompetente. São ações deliberadas a serviço de seus financiadores: os rentistas, o mercado financeiro, os bancos e todos os que criticam o governo na sua forma, mas se aproveitam da política econômica que lhes favorece.
Se compreendermos isso, entenderemos com facilidade a conivência de vários setores, especialmente da mídia que blinda o ministro da economia e sua política socialmente nefasta. A necropolítica tem mais adeptos e financiadores do que imagina.
Foto: Photo by Leonardo Yip on Unsplash