Espíritas de esquerda rompem com maioria conservadora e preparam iniciativa de educação popular

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Brasil de Fato é um dos principais veículos da mídia progressista.
O Coletivo Espíritas à Esquerda ganhou destaque no jornal online Brasil de Fato e no Diário do Centro do Mundo – DCM, dois dos principais veículos da mídia progressista do país. A publicação enfatiza que o EàE “critica a interpretação reacionária da doutrina e aposta em trabalho de base nas periferias”. A publicação também ressalta que o Coletivo está presente em 17 estados e em Portugal “articulando os preceitos espíritas aos principais debates políticos contemporâneos, como o racismo, a desigualdade social, a questão de gênero, aos direitos da comunidade LGBTQI+”.

VEJA A ÍNTEGRA DA PUBLICAÇÃO NO BRASIL DE FATO AQUI.

VEJA A ÍNTEGRA DA PUBLICAÇÃO NO DCMAQUI.

 

A propriedade privada: Marx e Kardec

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A proposta socialista acerca da propriedade privada é sempre muito mal compreendida pelo vulgo. Além disso, a direita sempre buscou mal informar por interesse óbvio e mentir em relação a esse ponto importante da superação do sistema capitalista de produção.
Um exemplo sobre essa confusão é a acusação feita amiúde aos movimentos sociais, mormente MTST e MST, de que lutam para tomar sua terra ou sua casa. Não, isso não é verdade!
Foto: Hermes Rivera / Unsplash
Quando Marx e Engels falam em expropriação da propriedade privada não se referem à sua casinha suburbana nem ao seu carro financiado em 60 vezes. Não. A propriedade privada a ser expropriada é a que se transforma em capital, ou seja, aquela que está ligada de forma direta ao sistema de produção capitalista. Resumindo, os meios de produção devem ser coletivos.
Portanto, o sistema socialista de produção não pretende coletivizar sua casa nem quer tomar seu moderno telefone celular. Esses bens não são meios de produção. O que o socialismo pretende tomar, isso sim, são os meios de produção do capitalista, ou seja, a fábrica, o banco, o latifúndio, o maquinário de produção etc., para que a produção econômica da sociedade seja coletiva, bem como seus resultados, pois é a produção capitalista que explora o trabalho e o impede de usufruir dos bens produzidos.
Por isso Marx diz que nove décimos da sociedade não têm acesso à propriedade privada, porque a imensa parcela da população não possui bens de produção, apenas bens de consumo.
E o espiritismo? Bem, quando na questão 882 de “O livro dos espíritos” Kardec fala sobre a legitimidade da propriedade, é da propriedade dos bens de consumo e não dos bens de produção que trata, porque fala em propriedade advinda do resultado do trabalho. E, adiante, na questão 884, conclui da seguinte forma: “Propriedade legítima só é a que foi adquirida sem prejuízo de outrem.”
Ora, mas o mecanismo de reprodução do capital por meio da posse dos bens de produção é justamente a acumulação de mais capital, portanto propriedade, com enorme prejuízo aos trabalhadores explorados em seus direitos e em sua dignidade, afora a questão econômica da mais-valia.
Dessa forma, fica claro que não há interdição nas propostas de Kardec acerca daquilo que se entende como expropriação da propriedade privada nas propostas socialistas. Muito pelo contrário, entende-se que há uma grande aproximação entre o que as duas linhas de pensamento propõem.
No mais, fica a reflexão final sobre o tema colocada na questão 885:
“885. Será ilimitado o direito de propriedade?
É fora de dúvida que tudo o que legitimamente se adquire constitui uma propriedade. Mas, como havemos dito, a legislação dos homens, porque imperfeita, consagra muitos direitos convencionais, que a lei de justiça reprova. Essa a razão por que eles reformam suas leis, à medida que o progresso se efetua e que melhor compreendem a justiça. O que num século parece perfeito, afigura-se bárbaro no século seguinte.”

Nota dos espíritas progressistas ante a crise institucional brasileira

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Foto: Gastão Cassel – EàE-SC

A sociedade brasileira vive um momento de crise aguda, uma crise que afeta gravemente a saúde e o emprego do seu povo, além do meio ambiente onde vive. A fome se alastra e a violência ameaça todos e, em especial, os mais vulneráveis. Esse seria, pois, o momento em que os poderes instituídos pela Constituição Federal de 1988 deveriam unir esforços no sentido de superar tamanha crise social e econômica. Entretanto, o que se viu e ainda se vê nesse período de longa pandemia é o Poder Executivo federal caminhar no sentido oposto ao que é necessário e urgente, abdicando de seu papel de buscar soluções, para, ao invés, transgredir leis e ameaçar uma sociedade já tão fragilizada pelo momento tormentoso que passa e com o luto coletivo em que está mergulhada.

O povo brasileiro está horrorizado diante da escalada de ameaças ao Estado democrático e às liberdades sociais e políticas, vindas de integrantes do Palácio do Planalto e das Forças Armadas. Dia após dia, verbalizam eles seu desprezo pela democracia e atentam contra as demais instituições do Estado brasileiro. Recentemente o Senado Federal e o Tribunal Superior Eleitoral tiveram que se manifestar contra essa verborragia autoritária e ameaçadora vinda dessa gente que ainda não aprendeu a conviver numa sociedade livre.

Nós, espíritas progressistas, reunidos em diversos grupos, associações e coletivos pelo Brasil, reiteramos nossos valores de luta por uma sociedade na qual a justiça social e a liberdade plena sejam conquistas permanentes. Nesse grave momento, conclamamos as diversas instituições de Estado, em todas as esferas de poder, a se manterem fiéis aos princípios constitucionais e unirem-se no sentido de garantir a completa apuração dos fatos que levaram à morte de mais de meio milhão de brasileiras e brasileiros; e de garantir a condução do processo eleitoral previsto para o próximo ano, sem sobressaltos e sem ameaças. E, assim, possam assegurar ao povo a esperança de dias melhores, com a superação das crises que nos assolam.

Há um longo caminho a ser percorrido para construirmos uma sociedade mais justa e igualitária, mas não podemos mais retroceder os passos que já tínhamos dado nesse sentido. Que todos os brasileiros e brasileiras conscientes, que estejam em cargos nas esferas dos poderes executivo, judiciário e legislativo possam ter coragem e empenho, para agirem no sentido de garantia de nossos direitos fundamentais e da democracia.

Assinam esse documento os seguintes coletivos, associações e grupos:

ABPE – Associação Brasileira de Pedagogia Espírita

Abrepaz – Associação Brasileira Espírita de Direitos Humanos e Cultura de Paz

Ágora Espírita

Blog Livre Pensadora

Cejus – Coletivo de Estudos Espiritismo e Justiça Social

CEPA – Associação Espírita Internacional

CEPABrasil – Associação Brasileira de Delegados e Amigos da CEPA

Cetrans – Coletivo Espírita pela Transformação Social

CPDoc – Centro de Pesquisa e Documentação Espírita

EàE – Espíritas à Esquerda

Espíritas Progressistas

Girassóis – Coletivo Girassóis, Espíritas pelo Bem Comum

Brasil, 12 de julho de 2021

Espíritas à Esquerda presente no #3JForaBolsonaro

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No último dia 3 de julho, brasileiras e brasileiros indignados com o governo da corrupção, da destruição ambiental e da morte saíram às ruas para protestar e pedir o afastamento definitivo do líder desse caos, que tem sua imagem e suas ações associadas à milícia e ao genocídio do povo brasileiro. A esquerda espírita, que luta por uma sociedade mais justa, igual e fraterna, também se sentiu chamada às manifestações e foi às ruas mostrar suas indignação e vontade de mudança dessa situação de sofrimento, dor e luto em que vive o povo, exigindo acesso rápido à vacina para todos e aumento no valor do auxílio emergencial, traduzidos pelo grito que ecoou em todos os lugares: “vacina no braço e comida no prato!” O EàE, representado por seus membros em muitas cidades brasileiras, esteve ao lado, nas ruas, daqueles que sonham transformar a triste realidade de completo caos no trabalho, na saúde pública, na educação e no meio ambiente. As muitas imagens apresentadas ilustram a participação sempre certa da esquerda espírita nessa luta por um Brasil melhor.  

Mortes morridas e mortes matadas no Espiritismo – E o “pessoal dos Direitos Humanos”?

Elizabeth Hernandes – EàE DF

Dia de execução de bandido famoso é dia de falar mal “desse pessoal dos direitos humanos”. Onde estavam na hora em que o bandido matava pais de família? Por que só aparecem quando a polícia executa os bandidos? Essa última pergunta talvez seja respondida pelo fato de que a polícia divulga com mais frequência as suas ações, enquanto os bandidos tentam escondê-las.

Foto de Clay Banks / Unsplash

Os Direitos Humanos estão onde sempre estiveram: ao lado dos humanos, defendendo humanos valores e opondo-se à barbárie cometida por qualquer tipo de bandido.

De onde saiu essa ideia de que defender direitos humanos significa ser a favor de atos ilícitos, imorais ou as duas coisas? Muito provavelmente essa ideia é difundida pelos que se beneficiam com a barbárie.

Certa vez, numa palestra de um advogado muito bem sucedido e fascinado pela cultura de “honestidade e horror à mentira” – palavras dele, dado que há controvérsias – vigente nos Estados Unidos, ele contava, orgulhosamente, que defendera o Estado contra um egresso do sistema carcerário que processou a Pátria, alegando que, no presídio, dormia com o rosto próximo à privada. “E onde mais deveria dormir um sentenciado? Por que o pessoal dos Direitos Humanos não leva pra dormir na casa deles?”

Quando você não defende direitos humanos, parte do princípio de que as pessoas se dividem em classes ou castas, talvez com variadas gradações, mas com a certeza de que você e os seus localizam-se num dos patamares superiores

Será impossível que um membro de uma família branca, abastada e letrada cometa um crime? De todo modo, se esse menino ou menina problemático (qualquer que seja a idade) vier a cometer um deslize, terá brilhantes causídicos à disposição.

Talvez um bacharel não cogite a hipótese de um parente vir a dormir – uma noite que seja – num cárcere. Mas é bom lembrar que a vida é imprevisível, doutor… E repleta de seres humanos com os quais temos de conviver. Melhor que esses “outros” tenham garantidos direitos fundamentais, como condições dignas de sobrevivência ou o devido processo legal.

É muita sorte da sociedade quando uma pessoa, que dormiu anos com a cara perto da privada, num equipamento estatal que está legalmente obrigado a preservar sua vida e integridade, está disposta a simplesmente processar o Estado. Haveria a probabilidade de essa pessoa sentir muito ódio. E tal sentimento ser jogado na cara ou na vida do primeiro que encontrasse, já que sentir ódio e concretizá-lo está tão fácil e acessível, nesse país.

Hoje todo mundo odeia alguém: políticos, empresários, blogueiros, a imprensa, os “comunistas”, o vizinho, os artistas etc. E alguns odeiam, de alma, coração, fígado e dedo indicador em posição de gatilho, o “pessoal dos Direitos Humanos”. E não vamos esquecer do ódio ao misterioso Lázaro, o assassino assassinado1, exemplo filmado de morte matada.

Por que não odiamos, por exemplo, Joseph Safra, bilionário libanês-brasileiro, morto em berço esplêndido, cuja fortuna fora estimada em US$ 18 bilhões? Ele controlava um conglomerado bancário e financeiro com ações em 19 países e foi acusado, numa operação da Polícia Federal, de pagar R$ 15,3 milhões em propinas.

De acordo com a imprensa, interceptações telefônicas e fotografias mostravam toda a movimentação de um provável preposto do grupo Safra, negociando a “gorjeta” que valeria a dispensa de 1,8 bilhão de reais em tributos. O bilionário foi inocentado. Não houve como provar sua relação com o corruptor, que aparece em fotos voltando para a sede do grupo Safra, após o conluio com os corrompidos. Embora o grupo Safra tenha-se beneficiado na negociata, caso ela tenha-se concluído, a Joseph Safra – que certamente não passará pelo buraco de uma agulha antes de um camelo – não se aplicou nem mesmo uma teoriazinha de “domínio do fato”. Ele tomara o cuidado de não ser sócio e nem empregador do negociador.2

Então um bilionário foi inocentado e… ninguém bateu panelas? Por quê? Seria porque “a conversa não chegou na cozinha, a plebe ignara não tomou conhecimento”?

E quantos direitos humanos poderiam ser garantidos com 1,8 bilhão de reais, se investidos em programas sociais? Só pra lembrar: saúde, educação e segurança são direitos humanos.

E o que diria o cidadão de bem?

Ora, ora, ora. Lá vêm esses comunistas a falar em programas sociais. A continuar nessa toada, logo vão chamar de genocídio a mortandade de mais de meio milhão de brasileiros só porque o governo atrasou a compra de vacinas, desmontou o sistema de vacinação3, que era referência internacional e não adotou estratégias efetivas para o fechamento de cidades, como ocorreu em países que já estão voltando a um modo de vida sem pandemia. Ora, ora, ora, direitos humanos. Só servem para beneficiar ‘os pês’: pretos, pobres, preguiçosos, petistas…”

Será que nós, os brasileiros, somos assim tão “brancos”, ”ricos”, “diligentes e civilizados”, a ponto de poder dispensar o trabalho desse “pessoal dos direitos humanos”? E será que acreditamos em teorias deterministas para a hora da morte, mesmo quando mais de meio milhão de compatriotas morre por uma doença para a qual há vacina e medidas outras de prevenção?

Há espíritas argumentando que “cada um tem sua hora” e citando os casos de desencarnações coletivas previamente combinadas etc. Sobre isso, um artigo de Carlos Augusto Parchen4 analisa questões, de O Livro dos Espíritos, que tratam da determinação da duração da vida. O articulista conclui que “Pode-se, portanto, afirmar que existe “um momento da morte” (ela ocorrerá inexoravelmente), mas não “o momento da morte” (ou seja, que ela está determinada e programada previamente).

A hora de morrer também é sobre direitos humanos. O direito de fruir a vida em toda a sua extensão e não ter a encarnação abreviada por fatores externos à responsabilidade pessoal. Na literatura científica, tais fatores são classificados como Determinantes sociais de Saúde.5

Direitos Humanos – e o respectivo “pessoal” – não seriam necessários num país que vivesse deitado eternamente em berço esplêndido, ao som do mar e à luz do céu profundo, em pleno estado de ordem e progresso. Não é o caso do Brasil.

É preciso valorizar o “pessoal dos direitos humanos” porque eles costumam empenhar a própria vida para defender as nossas vidas e, às vezes, perdem as vidas deles ou a de pessoas que lhes são caras.6

O Espiritismo não permite atitudes à moda do avestruz. Há vasta literatura que impede o impulso de enfiar a cabeça sob a terra, quando a realidade está feia de se encarar.

Se alguém aprova execuções sumárias – mesmo de perigosos assassinos – está relativizando o valor da vida, está aceitando que mortes matadas e mortes morridas são a mesma coisa. Se acredita em sintonia espiritual, está vibrando na mesma faixa da pessoa executada, bem como da dos executores. Se contribuiu, por ação ou omissão, para a constituição das autoridades que carregam nas costas a conta de mais de meio milhão de mortes que poderiam ser evitadas, é corresponsável. E se, depois de constatados tais sentimentos, continua se dizendo cristão, não entendeu nada sobre a religião inspirada nos ensinamentos de um palestino inocente, que foi denunciado, torturado e executado dentro de um processo legal conduzido pelas autoridades da época.

A boa notícia é a lição de misericórdia que nos deixou o Palestino. Reconcilie-se, principalmente consigo mesmo, enquanto está a caminho.

Orgulho de ser

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Por Jean Paul – @umgayespirita Foi no dia 28 de junho de 1969, no bar nova-iorquino Stonewall Inn, que um grupo de pessoas gays, lésbicas, transexuais, travestis e drag queens se rebelaram contra a invasão, represália e prisão por parte das autoridades policiais. Dezenas de pessoas feridas apenas por lutarem pelo seu direito de existir e se divertir. A partir de então, dezenas de protestos foram organizados, nos dias seguintes, em favor dos direitos gays (exclusivamente chamado assim à época) em várias cidades norte-americanas. No ano seguinte (1970), foi realizada a Primeira Parada do Orgulho Gay para lembrar e fortalecer o movimento que vinha ganhando aderência pela comunidade e visibilidade. Assim, a rebelião de Stonewall ficou conhecida como o “marco zero” do movimento por igualdade civil da população LGBTQIAP+.
Foto Mick De Paola/Unsplash
De lá pra cá, muitos direitos foram garantidos, muitas teorias foram refutadas (como a de se tratar a homossexualidade e a transgeneridade como doenças), maior visibilidade e representatividade foram tomando conta das mídias. Ainda assim, a homossexualidade é tratada como crime em 69 países, dos quais 13 prevêem pena de morte para homossexuais; pelo 12º ano consecutivo (em 2020), o Brasil é considerado o país que mais assassina transexuais no mundo; a cada 36 horas uma pessoa LGBTQIAP+ é vítima de homicídio ou suicídio no Brasil; direitos fundamentais como o casamento, a doação de sangue e a mudança de nome social em documentos de identificação civil ainda são negados em inúmeros países à comunidade LGBTQIAP+. A luta, portanto, está longe de terminar. Para quem se identifica como LGBTQIAP+, conhecer a história do movimento é compreender o quanto já conquistamos e também o quanto ainda precisamos conquistar; é respeitar as dores e lutas do passado, reconhecendo o privilégio de alguns direitos já garantidos no nosso país, sem deixar de ter a consciência de que ainda estamos distantes da igualdade civil plena; é saber que existir enquanto fora do padrão é resistir por si só. Para quem não se identifica como LGBTQIAP+, porém deseja um mundo onde todas as pessoas possam viver com justiça e liberdade, se posicionar enquanto aliado(a) deste movimento é uma grande oportunidade de provocar as transformações necessárias para a construção desse mundo desejado. Enquanto espíritas, portanto, sabemos que “são chegados os tempos em que se hão de desenvolver as ideias, para que se realizem os progressos que estão nos desígnios de Deus. Têm elas de seguir a mesma rota que percorreram as ideias de liberdade, suas precursoras. Não se acredite, porém, que esse desenvolvimento se efetue sem lutas. Não; aquelas ideias precisam, para atingirem a maturidade, de abalos e discussões, a fim de que atraiam a atenção das massas”. (O Evangelho segundo o Espiritismo > Capítulo I – Não vim destruir a Lei > Instruções dos Espíritos – A nova era.)  Assim, cabe a nós somar a essa luta, enquanto cristão, enquanto co-criadores e enquanto conscientes de que a missão de nós Espíritos na Terra é “melhorar as instituições, por meios diretos e materiais”. (O Livro dos Espíritos > Parte segunda – Do mundo espírita ou mundo dos Espíritos > Capítulo X – Das ocupações e missões dos Espíritos – questão 573) Enquanto LGBTQIAP+ espíritas, sabemos que nossa luta é também a de modificar as próprias instituições espíritas para que sejam verdadeiramente cristãs, acolhedoras a todas as pessoas, abertas à inclusão da diversidade nos seus postos de trabalho, aniquiladoras dos preconceitos e incompatíveis com os tabus. Sabemos, também, que a nossa existência é de orgulho, daquele que olha para si e se percebe igualmente capaz de amar e servir, trabalhar e abençoar, afirmando radicalmente a dignidade da nossa própria existência. REFERÊNCIAS

Tem cordel espírita no nosso programa de literatura

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Na quarta-feira, dia 30 de junho, 20h, acontece mais uma edição do nosso programa de entrevista LITERATURA ESPÍRITA. O programa é transmitido ao vivo pelas nossas redes sociais: Facebook, Twitter e YouTube.
Nessa nova edição entrevistamos o autor de inúmeros cordéis espíritas e não espíritas, Hélio Gomes Soares.
Hélio Gomes Soares, que é membro do EàE-RN, é artista completo, pois desenhista, pintor, letrista de músicas, poeta e, claro, autor de inúmeros volumes de literatura de cordel sobre espiritismo, educação, política, saúde e entretenimento de forma geral. É também um dos fundadores da Academia Norte-Rio-Grandense de Literatura de Cordel (ANLIC) e da Associação Cultural Casa do Cordel. Hélio é formado em Ciências da Religião pela UFRN e lá também fez especialização em Educação Holística e Qualidade de Vida.

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Em live sobre Prática da Educação Popular, EàE lança site e projeto de organização popular

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Na noite do dia 26 de junho o Coletivo Espíritas à Esquerda lançou oficialmente seu site e seu projeto de educação e organização popular, os NEPs, Núcleos Espíritas Populares. O evento online contou com a participação da Deputada Federal Natália Bonavides (PT/RN), das vereadoras de Natal/RN Brisa Bracchi e Divaneide Basílio, ambas do PT, além de Kelli Mafort , membro da Coordenação do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra – MST.leve espiritas a esquerda

As convidadas abordaram o tema cotejando seu conhecimento das concepções de Paulo Freire com as suas experiências nos mandatos parlamentares e nos movimentos populares. Em todas as manifestações houve referências à importância do ato de ouvir como ponto de partida para uma ação construtora da autonomia, da solidariedade como valor central do processo, e da esperança como ingrediente humanizante e agregador.

A íntegra do debate está disponível aí abaixo e vale cada segundo. Além do debate, houve uma breve apresentação dos membros da coordenação do Coletivo Espíritas à Esquerda. E uma breve apresentação do projeto dos Núcleos Espíritas Populares -NEPs.

Agradecimento aos participantes da live

Agradecemos ao Mestre Paulo Freire por estar presente na transmissão do evento de inauguração deste portal, por meio das experiências, lutas e juventudes de Nátália Bonavides, Brisa Bracchi, Divaneide Basílio e Kelli Mafort.

Poderíamos remeter uma cartinha formal e individual, mas o movimento Espíritas à Esquerda é do informal e do coletivo.

Estamos felizes por iniciar o portal falando de educação popular e da imortalidade de Paulo Freire que vive, inclusive, em quem tenta combater o seu legado. Seria esse o sentido de amar aos inimigos?

O fato é que o pensador brasileiro mais citado no mundo, tem sido lembrado em nossas terras, por bons e por maus motivos. Mas o seu legado, a partilha amorosa do conhecimento, será honrado por todos e todas que almejam um mundo melhor.

Estamos esperançados. Seja pela juventude das palestrantes ou pelo compartilhamento de saberes dos que são jovens há mais tempo.

Seguimos juntos numa luta inspirada por justa raiva e jamais por ódio.

O ódio paralisa e traz estagnação. A justa raiva nos impulsiona a interferir no mundo, que está sempre sendo, como nos disse o Professor Freire.

Pois que seja justo e bom para todes, acolhendo as singularidades de cada ser.

Gratidão ao mestre Freire que nos falou por meio dessas bravas mulheres.

ASSISTA AO VÍDEO COMPLETO

O espiritismo é nada

Por Marcio Sales Saraiva Já ouvi alguns palestrantes, em casas espíritas, afirmarem que o espiritismo “explica todas as coisas”. E isso não é verdade, aliás, seria impossível. No universo em que vivemos existe uma dimensão de mistério que somos incapazes de explicar porque nem mesmo entendemos. Em “O livro dos espíritos”, por diversas vezes, Allan Kardec esbarrou no desconhecimento que os espíritos luminosos apresentavam sobre certas questões colocadas. E isso significa que os espíritos, somente por terem desencarnado, não se transformam em sabe-tudo. Eles são apenas o velho ser humano, sem a casca da carne, apodrecida no túmulo. A questão dezessete é um exemplo do que estou dizendo. Kardec pergunta se os seres humanos podem conhecer “o princípio das coisas”, isto é, a origem de si mesmo, o começo do universo material, a origem do mal etc. A resposta foi simples e direta: “Não”. E os espíritos colocaram na conta de Deus, uma concessão ao antropomorfismo, talvez para ficar mais fácil de entender. Disseram que isso não é possível porque “Deus não permite que tudo seja revelado” para os seres deste mundo em que estamos. Há um limite. Mesmo quando os espíritos dizem que “o véu se levanta” à medida que os seres vão evoluindo, ainda assim, há um problema de equipamento orgânico e cognitivo que sempre nos traz limitações e fronteiras impenetráveis. Para entendermos a origem de todas as coisas e desvendarmos todos os mistérios do mundo, teríamos que ter “faculdades” (veja a questão 18), i.e., capacidades que ainda não possuímos. Então, nossa compreensão sobre as raízes do ser e do mundo, sobre os mistérios do bem e do mal, sobre o problema do destino e da dor, é bem limitada. Ainda assim, podemos questionar e pesquisar muitas coisas, descobrir maravilhas, avançar tecnologias. A ciência está aí para isso e o espiritismo, na visão de Kardec, deve caminhar com a ciência e não com mitos e “fake news”. Sendo assim, poderemos avançar muito em conhecimento e amor através da investigação filosófica e científica. É verdade, dirão os espíritos luminosos, pois “a ciência lhe foi dada para o seu adiantamento em todas as coisas”, ou seja, a ciência é instrumento de evolução espiritual holística, em “todas as coisas”. Por outro lado, nem mesmo a ciência e todas as escolas filosóficas poderão ultrapassar os limites cognitivos que os seres humanos possuem, os “limites fixados por Deus” [ou pela lei cósmica], como dizem os espíritos na questão dezenove. Além disso, em casos especiais, através da mediunidade (ou “profecia”) —conhecida pelos estudos paranormais como clarividência ou precognição—, a divindade, usando os espíritos comunicantes, poderá revelar aos seres humanos aquilo que a ciência ignora, mas que em algum momento, ela, a ciência, poderá apreender. A reencarnação, por exemplo, é uma dessas revelações que ainda não encontra consenso na ciência, mesmo tendo um forte arsenal de casos sugestivos e evidências estudadas por alguns cientistas. Este ponto é esclarecido na questão vinte de “O livro dos espíritos”. Para terminar, saber que somos seres limitados em conhecimento é uma das formas de desenvolvermos a humildade contra todo tipo de arrogância, dogmatismo e fanatismo. E isso é muito bom, pois toda a sabedoria autêntica é fruto desta humildade do não-saber. Alguém já disse, no passado: “Só sei que nada sei”. E é deste “nada” que poderemos compartilhar algumas sementes, trocarmos pequenos saberes e experiências entre nós, mas nada de bancarmos os donos da verdade. Para lembrar Sartre, o espiritismo kardequiano é nada, por isso mesmo, é tudo o que precisamos nesse contexto, pois menos é mais.

Imagem da postagem: Garota com balões, originalmente pintada por Bansky em Shoreditch, no leste de Londres, e replicada pelo próprio autor em muro construído por Israel na Palestina invadida. Simboliza a superação dos limites humanos.

Necropolítica é demanda do capitalismo financista

Por Gastão Cassel

Necropolítica não é um termo aleatório que serve apenas para denominar o conjunto de maldades e desprezo à vida do governo brasileiro. Tão pouco é um fenômeno local, embora aqui se imponha de forma mais grotesca e cruel do que em outros lugares. A necropolítica é uma demanda do capitalismo de estágio presente de extremo predomínio do capital financeiro, do rentismo, em detrimento do capital industrial.

Vou tentar explicar de forma simples: no capitalismo “clássico” em que a riqueza (e sua acumulação) era produzida pelo trabalho nas fábricas havia sempre o “exército de reserva”, que era o contingente da população que não ocupava lugar nas linhas de produção, os desempregados que precisavam fazer à vida à margem do sistema. Este exército de reserva servia para manter os salários arrochados (“tem gente lá fora querendo teu emprego”) e para assumir o trabalho em momentos de aquecimento da economia.

O avanço da financeirização, do predomínio dos bancos, do dinheiro eletrônico, da riqueza sem lastro de valor efetivo, criou um cenário em que a riqueza se reproduz por si própria pela especulação financeira, prescindindo em larga escala do trabalho fabril. Não se trata de revogar conceitos clássicos como capital e trabalho e sua eterna contradição, mas de compreender um novo estágio do capitalismo.

Este novo estágio não precisa do exército de reserva, pelo menos em grande escala. Surgem então massas de cidadãos “desnecessários”: migrantes, refugiados, aposentados, deficientes, minorias étnicas, povos originários. Gente que, para o capitalismo financista, não tem utilidade, não serve nem para ser explorada. A necropolítica é o mecanismo de extermínio deste excedente incômodo para o sistema rentista. Uma política pública “necessária” para dar seguimento à marcha de acumulação de riqueza por muito poucos.

De alguma forma os movimentos de extrema direita, geralmente militarizados, que pipocam em várias partes do mundo, incluindo o Brasil, chegam para implantar a necropolítica e abrir caminho para uma sociedade “livre” dos “estorvos sociais” que podem custar aos Estados e limitar a concentração de riquezas.

O que assistimos no Brasil na forma de sabotagem à vacinação, liberação da violência policial nas periferias, massacres de indígenas e sucateamento da proteção social não são arroubos de um governo desorientado ou meramente incompetente. São ações deliberadas a serviço de seus financiadores: os rentistas, o mercado financeiro, os bancos e todos os que criticam o governo na sua forma, mas se aproveitam da política econômica que lhes favorece.

Se compreendermos isso, entenderemos com facilidade a conivência de vários setores, especialmente da mídia que blinda o ministro da economia e sua política socialmente nefasta. A necropolítica tem mais adeptos e financiadores do que imagina.

Foto: Photo by Leonardo Yip on Unsplash