
O espiritismo será o que os homens fizerem dele

Desigualdade e luta de classes no Brasil

Pesquisa Datafolha sobre religião

A vez dos progressistas
A conjugação desses três fatores –crescimento dos evangélicos, diminuição dos católicos e aumento dos sem religião– permite vislumbrar um quadro animador para quem, como nós, sustenta uma filosofia livre pensadora, não religiosa, mas espiritualista. O catolicismo formatou a civilização ocidental e, ao curso destes dois milênios, apesar de resistências internas, mostrou-se hábil para acompanhar suas mudanças culturais. Especialmente a partir das últimas décadas do século XX, a Cúria Romana tem demonstrado capacidade de modernização, com a ação de líderes progressistas, como o é o atual pontífice. Palavras atribuídas a Francisco, em cena do filme “Os dois papas”, num diálogo com o conservador Bento XVI, traduzem essa preocupação: “Parece que já não pertencemos a este mundo. Uma igreja que não casa com sua era se tornará viúva na próxima era”. Ou seja: o atual chefe do catolicismo, por seu pensamento e ações, lidera um processo de secularização da Igreja, aproximando-a da sociedade laica, não religiosa.Católicos, mas nem tanto
Dentre os 10% que se dizem sem religião, muitos são espiritualistas laicos, que sustentam um pensamento progressista, apto a identificar na proposta espírita sua visão de mundo. Bastará, para tanto, que o espiritismo renuncie a seu perfil religioso e se torne capaz de “casar-se” com as tendências da nova era. Mesmo no seio do catolicismo, milhares de pessoas admitem os princípios espíritas. Uma pesquisa de 2007 da própria Datafolha registrava que 44% dos católicos brasileiros acreditavam na reencarnação. Costumo dizer que, hoje, se alguém se postar em frente a uma Igreja e perguntar, na saída da missa, se os fiéis creem na reencarnação obterá mais de 50% de respostas afirmativas. O próprio papa tem externado conceitos que se chocam com a tradicional doutrina cristã e coincidem com a teoria espírita. Recente artigo do teólogo Leonardo Boff reproduz esta frase atribuída a Francisco: “Deus não conhece uma condenação eterna, pois perderia para o mal. E Deus não pode perder”.Terreno neutro
Na mesma medida em que o catolicismo se seculariza e mantém em seus quadros almas abertas ao progresso, o fundamentalismo cristão migra para as religiões pentecostais e neopentecostais. Nessa polarização, deixa de existir espaço, no Brasil, para a “religião espirita”, surgida no meio católico e que herdou muito do conservadorismo do qual este busca se libertar. Conclusão: ou o espiritismo reassume o perfil que lhe foi delineado por Kardec, de “terreno neutro” entre as religiões, deixando de se apresentar como uma delas, ou continuará figurando com escassa pontuação estatística, mesmo nos países onde tem maior representatividade, como no Brasil. Seu potencial de crescimento está nos segmentos dos “sem religião” e dos católicos progressistas. (Texto publicado na coluna Opinião em Tópicos dos jornais OPINIÃO, do Centro Cultural Espírita de Porto Alegre, e ABERTURA, do Instituto Cultural Kardecista de Santos, edições de janeiro e fevereiro/2020)A cafajestagem bolsominion
Parece que a grande imprensa, aquela já bem conhecida como PIG (Partido da Imprensa Golpista), como dizia PHA no seu “Conversa Afiada”, está indignada com a situação política e econômica em que se encontra o país. Seus editoriais, comentários e opiniões convergem a um único ponto: a repulsa sistemática a tudo o que se relaciona ao abjeto bolsonarismo.
Esse movimento certamente não se dá por conta de pruridos morais ou preocupações sociais, mas tão-somente por causa de interesses econômicos da elite contrariados. O “Posto Ipiranga” não consegue entregar o combinado, enquanto seu chefe, o líder da quadrilha de milicianos, parece entreter-se em minar seu próprio (des)governo.
Nesse caos social, econômico e político, o país parece prestes a derrapar no abismo da insurreição e do enfrentamento de poderes. Com receio das consequências, a elite, sem solução imediata a suas demandas, e por meio do seu porta-voz, o PIG, prefere retirar do jogo político sua aposta anterior e arriscada, o fascismo, e lutar por mudanças. Só não contava com a resistência dos fascistas. Como diria Marx, também citado no texto abaixo, “a história se repete como farsa”, mas os que cabularam as aulas de história não perceberam isso…
Paulo Brondi – Blog do Juca Kfouri

A cafajestagem bolsominion
Bolsonaro é um cafajeste. Não há outro adjetivo que se lhe ajuste melhor. Cafajestes são também seus filhos, decrépitos e ignorantes. Cafajeste é também a maioria que o rodeia. Porém, não é só. E algo que se constata é pior. Fossem esses os únicos cafajestes, o problema seria menor. Mas, quantos outros cafajestes não há neste país que veem em Bolsonaro sua imagem e semelhança? Aquele tio idiota do churrasco, aquele vizinho pilantra, o amigo moralista e picareta, o companheiro de trabalho sem-vergonha… Bolsonaro, e não era segredo pra ninguém, reflete à perfeição aquele lado mequetrefe da sociedade. Sua eleição tirou do armário as criaturas mais escrotas, habitués do esgoto, que comumente rastejam às ocultas, longe dos olhos das gentes. Bolsonaro não é o criador, é tão apenas a criatura dessa escrotidão, que hoje representa não pela força, não pelo golpe, mas, pasmem, pelo voto direto. Não é, portanto, um sátrapa, no sentido primeiro do termo. Em 2018 o embate final não foi entre dois lados da mesma moeda. Foi, sim, entre civilização e barbárie. A barbárie venceu. 57 milhões de brasileiros a colocaram na banqueta do poder. Elementar, pois, a lição de Marx, sempre atual: ‘não basta dizer que sua nação foi surpreendida. Não se perdoa a uma nação o momento de desatenção em que o primeiro aventureiro conseguiu violentá-la’. Muitos se arrependeram, é verdade. No entanto, é mais verdadeiro que a grande maioria desse eleitorado ainda vibra a cada frase estúpida, cretina e vagabunda do imbecil-mor. Bolsonaro não é ‘avis rara’ da canalhice. Como ele, há toneladas Brasil afora. A claque bolsonarista, à semelhança dos ‘dezembristas’ de Luís Bonaparte, é aquela trupe de ‘lazzaroni’, muitos socialmente desajustados, aquela ‘coterie’ que aplaude os vitupérios, as estultices do seu ‘mito’. Gente da elite, da classe média, do lumpemproletariado. Autodenominam-se ‘politicamente incorretos’. Nada. É só engenharia gramatical para ‘gourmetizar’ o cretino. Jair Messias é um ‘macho’ de meia tigela. É frágil, quebradiço, fugidio. Nada tem em si de masculino. É um afetado inseguro de si próprio. E, como ele, há também outras toneladas por aí. O bolsonarismo reuniu diante de si um apanhado de fracassados, de marginais, de seres vazios de espírito, uma patuleia cuja existência carecia até então de algum significado útil. Uma gentalha ressentida, apodrecida, sem voz, que encontrou, agora, seu representante perfeito. O bolsonarismo ousou voar alto, mas o tombo poderá ser infinitamente mais doloroso, cedo ou tarde. Nem todo bolsonarista é canalha, mas todo canalha é bolsonarista. Jair Messias Bolsonaro é a parte podre de um país adoecido. Publicado no Facebook em 21/2/2020.Bolsonaro está fazendo as jornalistas de direita descobrirem que machismo não é mimimi
Todos ficamos horrorizados com as declarações e insinuações dos elementos da familícia em relação à jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de S. Paulo.
Muitas de suas colegas da grande imprensa, corretamente, manifestaram-se indignadas contra tal postura do clã miliciano.
Entretanto, esse posicionamento, por tão novo e específico, soa mais à hipocrisia corporativista do que exatamente à luta feminista.
Cynara Menezes, do blogue Socialista Morena, traz-nos algumas reflexões sobre essa “novidade feminista” entre as jornalistas da grande imprensa que, não podemos jamais esquecer, protagonizou os ataques misóginos à presidenta Dilma Rousseff e participou ativamente do golpe perpetrado contra seu governo.
Ou, como disse a própria Cynara em seu texto, o mundo dá voltas, mesmo que existam os que propaguem o terraplanismo…
Vale a leitura.

Bolsonaro está fazendo as jornalistas de direita descobrirem que machismo não é mimimi.
Cynara Menezes – Socialista Morena (Veja publicação original e completa aqui) O mundo dá voltas, e não é porque agora existe gente que acredita ser a Terra plana que ele irá parar de girar. Há um aspecto convenientemente pouco comentado no golpe jurídico-midiático que derrubou Dilma Rousseff em 2016: a misoginia. Dilma se tornara, em 2010, a primeira mulher presidenta do Brasil, após uma campanha suja em que chegou a ser chamada de ‘assassina de criancinhas’ pela mulher do rival, José Serra. Digo presidenta? Pois: o primeiro ato de machismo contra Dilma na imprensa comercial foi se recusarem a reconhecer o termo, perfeitamente dicionarizado tanto em língua portuguesa quanto em língua espanhola. […] Na posse de Dilma para o segundo mandato, Miriam Leitão e Cora Rónai, do jornal O Globo, se divertiram zombando do vestido e até do ‘andar’ da presidenta. […] Parece incrível, mas são as mesmas jornalistas que agora mostram indignação e surpresa com esta triste figura ocupando o lugar que já foi de Dilma. ‘Onde está a reação das instituições?’, bradava a colunista Vera Magalhães, do Estadão, sobre as insinuações de Bolsonaro em relação à repórter Patricia Campos Mello, da Folha, atacada pelo mitômano Hans River na CPMI das Fake News. Nem parecia a mesma Vera que chamava de ‘mimimi’ as queixas de mulheres da esquerda sobre machismo e que participou ativamente do golpe que fragilizou as instituições democráticas do país –e agora cobra ‘reação delas’. Que instituições, querida? Thais Herédia, da CNN Brasil, se espantava: ‘Como chegamos até aqui?’ É sério que jornalistas com anos de profissão nas costas foram tão ingênuas para não prever como seria um governo Bolsonaro, que já dava mil pistas de quem era durante os 28 anos em que foi parlamentar? Até a Madonna sabia e vocês não? […] O presidente de extrema direita conseguiu curar do antifeminismo furioso até Rachel Sheherazade. Quem te viu… […] O mais absurdo dessa história é que, alvo do preconceito de gênero, as jornalistas de direita continuam a se insurgir contra… as feministas. ‘Cadê as feministas?’, provocam, cada vez que sua indignação seletiva é ativada por algum sinal de machismo, mas apenas no campo adversário, a esquerda. Como se o machismo, exatamente como defende a esquerda, não fosse estrutural da sociedade. Parem de cobrar das feministas ação contra o machismo que vocês mesmas ajudaram a levar ao poder. Nós sempre estaremos lá, do lado das vítimas, nunca dos algozes. Não é porque mulheres se alinharam a machistas para golpear outra mulher que iremos abandoná-las quando se tornarem vítimas deles. Mas não deixa de ser uma lição e tanto. Publicado no Facebook em 21/02/2020.Demofobia

A necropolítica em estado puro

As notícias:
Renúncia de impostos de venenos e o orçamento previsto para o meio ambiente. Orçamento do “Minha Casa, Minha Vida”. Programa Cisternas Publicado no Facebook em 12/2/2020Apenas uma carta
O camarada Elton Rodrigues escreveu na página do Coletivo Espírita Anísio Spínola Teixeira uma carta com reflexões acerca dos caminhos da esquerda e que é reproduzida a seguir. Vale a leitura.

Apenas uma carta
Elton Rodrigues – Coletivo Espírita Anísio Spínola Teixeira Camaradas, irmãs e irmãos, escrevo essa carta aos que almejam uma real transformação do movimento espírita. Hoje, talvez mais agudo do que qualquer outro momento da história pós-ditadura do espiritismo brasileiro, há uma divisão entre os que defendem o status quo e os que querem mudanças significativas na sociedade. Realizando um recorte e visualizando de mais perto o grupo dos insatisfeitos veremos, nitidamente, estratificações multivariadas. Reflexões sobre como alcançar tão sonhada união entre essas estratificações é antiga, e pouco conseguimos avançar nessa área. Muitas teorias, muitos textos e poucas ações reais. Não quero ser mais um falando sobre a importância da união dos progressistas, para o freio das ideias e práticas conservadoras, sem sugerir formas para que esse objetivo seja alcançado. Gostaria de indicar sugestões para que os espíritas progressistas, dos que se localizam ao centro até aos mais radicais – na melhor interpretação da palavra, possam trabalhar juntos. 1) É necessário que haja amadurecimento intelectual de todos sobre o termo radical. Ser radical, por exemplo, não significa que este grupo deseja a luta armada. Análises superficiais, sobre a história das lutas da esquerda mundial, não ajudam em uma possível aproximação. 2) Defender a importância das eleições não significa que há passividade ou ingenuidade. Como proposta de reflexão, imaginemos o Congresso Nacional atual sem as bancadas dos partidos mais à esquerda. O estrago seria bem maior. 3) O estudo é importante, mas não podemos ficar apenas nas reflexões históricas buscando contextualizações com o tempo presente. O mundo não mudará apenas com análises. É necessária e fundamental a aproximação com o povo, com os trabalhadores urbanos e rurais! E como fazer essa aproximação?- a) Só conseguiremos abrindo espaços. O movimento deve ser nosso. Não adianta achar que depois de várias horas de trabalho, de engarrafamento, de alimentação fugaz, o povo, em grande número, terá forças para novos deslocamentos, buscando estudos aprofundados sobre a luta contra o capitalismo.
- b) Nós é que devemos buscar o povo! Favelas, mangues, ruas, onde o povo estiver, temos que estar. Apoiando, ouvindo, auxiliando no que for possível. E sem catequizar!
- c) A aproximação sempre será profícua se estiver atrelada ao afeto. Afeto verdadeiro. Acredito que esse seja o ponto mais importante.
Os vendilhões do templo

O que os espíritas sabem sobre ditadura militar e sofrimento?
Nesse texto sensível da Ana Cláudia para o Repórter Nordeste, ela nos fala sobre a necessidade de se conhecer o tenebroso momento histórico vivido pelo país durante a ditadura militar e a incoerência dos bolsoespíritas em relação a esse período.
