Mais um texto maravilhoso do nosso camarada Franklin Félix, no blogue “Diálogos da fé” na Carta Capital, que enfrenta os problemas que hoje grassam num movimento espírita que majoritariamente defende o ódio, a violência e a injustiça como prática política.
Publicado no Facebook em 27/1/2020.
Espiritismo não combina com armas, pena de morte, violência e discurso de ódio
A doutrina espírita, essencialmente educativa, tem como objetivo libertar e proclamar o reino de Deus – de justiça, amor e paz – para todos.
‘Jesus respondeu: amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento! Esse é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a esse: amarás ao teu próximo como a ti mesmo. Toda a lei e os profetas dependem desses dois mandamentos.’ Mateus 22:34-40
É raro o dia em que não recebo – de amigos/as ou anônimos, no privado ou público – mensagens de desencanto com o movimento espírita, com dirigentes, médiuns famosos ou palestrantes popstars. São sempre depoimentos muito doloridos, relatando perseguições, censuras e até expulsões.
Uma companheira partilhou que durante o passe – prática amplamente difundida entre os espíritas e que consiste na imposição de mãos, visando promover a doação de bioenergias de um indivíduo ao outro – o passista (que é a pessoa que aplica o passe) pediu a espiritualidade que ‘livrasse a irmãzinha das influências do comunismo’. Outra companheira desabafou que foi retirada de todos os trabalhos espirituais do centro espírita (que ela ajudou fundar) por conta de suas ideias sociais e progressistas. Um casal de amigos abandonou o centro espírita depois que foram impedidos pelos dirigentes de continuarem atuando na evangelização infantil (uma espécie de catecismo) para não influenciarem as crianças ‘com essas ideias esquerdistas antidoutrinárias’. Nós mesmos fomos expulsos da rádio espírita que fazíamos programa a mais de 13 anos por dizermos que o presidente – na época candidato – era machista, racista, LGBTfóbico e violento (continuamos afirmando e agora com mais motivos).
A sensação que tenho é que todos os violentos, hipócritas, cruéis, incluindo aí os religiosos, resolveram sair, de uma só vez, dos seus armários e tumbas. Estão se sentindo empoderados.
[…]
Uma das possibilidades que a doutrina espírita apresenta para o enfrentamento da violência é a educação em suas múltiplas interfaces. O espiritismo, essencialmente educativo, tem como objetivo libertar e proclamar o reino de Deus – de justiça, amor e paz – para todos/as, mas a sua missão não poderá ser realizada em um ambiente de acomodação e ‘paz’ que só atendem a alguns poucos.
[…]
As forças progressistas dentro da doutrina espírita serão o futuro de uma doutrina livre e que cada vez mais estará integrada com o povo e suas conquistas sociais.”
Nesses estranhos e sombrios tempos, em que algozes pouco elaborados da própria esquerda tentam manchar a trajetória de Lênin, o artigo da deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) vem trazer um pouco de luz e seriedade ao debate.
Publicado no Facebook em 25/1/2020.Lenin, líder da Revolução Russa de 1917.
Comunismo e nazismo são opostos. Os comunistas guardam sonhos!
Talíria Petrone – Deputada federal do PSOL-RJ
Muita confusão e mentira no debate sobre Lênin e a Revolução Russa. Resolvemos elevar o nível da discussão. Hitler era de direita, anticomunista. As direitas, para fugir dessa ligação, tentam igualar comunismo e nazismo, quando são justamente opostos.
A Revolução Russa não é obra de um só homem. Foi um acontecimento histórico que marcou o século XX. A Rússia concentrava enormes contradições. Mantinha um regime absolutista com um czar, se industrializava e criava uma classe operária e uma enorme massa de camponeses famintos.
Em fevereiro de 1905, após a reação ao massacre de manifestação pacífica (domingo sangrento), o czar faz concessões. Instala um parlamento (Duma), permite partidos e põe fim à guerra com o Japão. Surgem os sovietes (conselhos populares). Estava plantada a semente da revolução.
Em 1914 a Rússia entra na I Guerra Mundial, perde metade das tropas e a fome se alastra. Declarada a guerra, a maioria do movimento socialista internacional adere ao nacionalismo e à guerra. Rosa Luxemburgo, Lênin, Alexandra Kollontai, Trótski e outros se mantêm contra a guerra.
Em fevereiro de 1917 eclode a Revolução na Rússia. A greve das mulheres tecelãs foi o estopim para o que foi chamada de Revolução de Fevereiro. Os soldados se recusam a reprimir as manifestações e no final de fevereiro um mar de trabalhadores e soldados ocupam a Duma.
Sem apoio, o czar é substituído por um governo provisório, liberal-burguês, que mantém o país na guerra. Do outro lado, os sovietes passam a se considerar o poder legítimo que emana do povo, forma uma Guarda Vermelha e emite ordens para as tropas. Vigora uma dualidade de poderes.
Lênin volta à Rússia do exílio com as ‘Teses de abril’, defendendo todo poder para os sovietes e como lema: ‘PAZ, PÃO E TERRA’. Em outubro, as teses de Lênin se tornam majoritárias e no dia 25 um grande movimento cerca a capital e o governo provisório cai, com pouquíssimas baixas.
As primeiras medidas foram o controle das fábricas pelos operários em regime de autogestão, a divulgação de todos os tratados secretos, a distribuição de terras aos camponeses, o pedido imediato de paz e o armistício, a declaração dos direitos nacionais dos povos minoritários.
As mulheres da Revolução foram responsáveis por inúmeros avanços na igualdade de gênero do país. Em 17, foi decretada a igualdade entre todos os cidadãos, o divórcio foi legalizado e mulheres tiveram o direito à terra. A Rússia foi o primeiro país do mundo a legalizar o aborto.
A Revolução era emancipatória, aprofundava liberdades existentes e criava outras. O congresso dos sovietes, após a Revolução, talvez seja o parlamento mais democrático da história. No livro ‘O estado e a revolução’, escrito em 1917, Lênin mira o fim do estado e a democracia plena.
A Revolução foi cercada pela aliança das potências capitalistas, os czaristas e latifundiários: o Exército Branco. Começa a guerra civil, milhares de pessoas morrem de ambos os lados. O Exército Vermelho, liderado por Trótski, vence e abre caminho para a República dos Sovietes.
Há erros na trajetória de Lênin e Trótski? Claro. Houve episódios de violência excessiva, Trótski iria reconhecer que sim, mais tarde. Mas é mentira o massacre de milhões, os confrontos principais eram episódios de guerra, que lamentavelmente a resistência czarista impôs ao país.
Muita gente fez confusão de Lênin com Stálin. Lênin morreu em 1924, não existiam gulags, por exemplo. A partir de 1926 cria-se uma Oposição Unificada no Partido Comunista da URSS, em que participava Krupskaia, companheira de Lênin, contestando a direção de Stálin.
Eu sou da IV Internacional, fundada em 1938. Stálin fecharia a III Internacional, de Rosa e Lênin, em 1942 para entrar na II Guerra. Em 1956, revelaram-se os expurgos e execuções ocorridos nos anos 30. A revolução foi traída e todo o comitê central bolchevique assassinado.
Pra quem quiser conhecer um pouco mais, sugiro a leitura de ‘Os dez dias que abalaram o mundo’ do jornalista estadunidense John Reed. Há também o filme ‘Reds’, que concorreu a três Oscar, incluindo o de melhor filme, que conta um pouco da vivência desse jornalista na Revolução.
Absurdo comparar Lênin a Hitler. Lênin está na história por declarar a paz, Hitler pela guerra. Lênin pelas obras de política e filosofia, Hitler pelo panfleto antissemita. Não faz sentido comparar a URSS com a Alemanha Nazista, pois foram os soviéticos que derrotaram o nazismo.
Homenagear Lênin não é culto à personalidade, ele repudiava isso. Seguimos o pedido de Krupskaia, sua companheira, em seu velório: ‘não deixem que o luto por Ilítch se transforme em veneração exterior à sua pessoa. Ele dava muito pouca importância pra tudo isso em vida’.
Sou militante ecossocialista. Lênin e a Revolução Russa ocupam lugar especial na tradição dos que lutam pela revolução da liberdade, igualdade, justiça e paz. Não aceitaremos a narrativa que criminaliza o comunismo. ‘Os comunistas guardam sonhos’. Os comunistas enxotam fascistas.”
Nesse vídeo dos anos 1980, o cientista político estadunidense Michael John Parenti fala sobre como percebe as experiências socialistas no mundo.
Foto Wikipedia
O socialismo, como proposta de transformação da organização da sociedade, pretende apenas levar pão aos famélicos, letra aos ignaros, casa aos desabrigados e, por fim, dignidade aos homens.
Esse é o nosso sonho, que foi também sonhado por um cara muito gente boa que viveu há pouco mais de dois mil anos, e que dizia:
“Senhor, quando te vimos com fome ou com sede ou estrangeiro ou necessitado de roupas ou enfermo ou preso, e não te ajudamos?
Digo a verdade: O que vocês deixaram de fazer a alguns destes mais pequeninos, também a mim deixaram de fazê-lo”
(Mateus 25,44-45).
Vídeo legendado por Leandro de Souza Pereira.
Foto Gaudium Press
Quando aqueles que se julgam no topo da sapiência teológica se referem ao espiritismo como território de maldição, podem em nós instigar o exercício da benevolência, para seguirmos atuando amorosamente, sob a luz da compreensão de que existe uma diversidade de olhares e ângulos de visão, aumentando assim a imunidade às formas arcaicas de intolerâncias, em cunho religioso, principalmente.
Porém, algumas reflexões nós precisamos fazer, pois além das coordenadas morais que nos movem, existem os contextos históricos e políticos que nos competem analisar, haja vista estarmos neles envolvidos. Até que ponto os espíritas eleitores e defensores do presidente percebem que somos todos alvos de intolerância religiosa por parte daqueles que empoderaram politicamente?
Ao contribuírem com o percentual de votantes brasileiros que elegeu Bolsonaro, muitos jornadeiros do meio espírita omitiram o uso da lucidez, fortalecendo um projeto totalitarista de base antiga, que mergulhado na ignorância arrogante referenda a posse de Deus a uma vertente religiosa única, embora retalhada em representatividades: o evangelismo.
Desde a nascente das intolerâncias, o espiritismo carrega a tarja de impuro ou maldito a ele imposta pelos segmentos arcaicos, que, com Bolsonaro na presidência, sentem-se não apenas representados, mas empoderados e sequiosos de aumentar a própria força, na luta por uma hegemonia evangélica no estado, que paulatinamente vai esquecendo a laicidade.
Desde as vigílias pelo presidente e envolvimento maciço na divulgação de “fake news” para manipular os mais simples na construção de um mito que também é de mentira, hordas de pastores participaram do processo eleitoral como “principados e potestades” em um reino de fé cega, com objetivos visionários de enriquecimento e domínio cultural.
Fascinados pela fanfarronice de ter “derrotado” um inimigo político fictício, os espíritas de direita continuam arrotando apoio ao algoz das liberdades.
Quantas perseguições serão necessárias para que despertem? Um estado evangélico respaldará as bases da codificação espírita? Acaso acreditam que apenas os “espiritualistas” serão alvejados? Onde estará a razão dos representantes arcaicos deste segmento espírita conservador? Estará no mesmo lugar onde esqueceram a caridade e o senso humanitário?
Por ora refletimos. Aos intolerantes, perdoamos. Mas amorosamente resistimos com Jesus e Kardec.
Quando se lê o texto de Hannah Arendt sobre a banalidade do mal, entende-se a razão pela qual sujeitos que se autodenominam “cidadãos de bem” são capazes dum horror sem par. Basta, para isso, que estejam imbuídos dum ideal qualquer e que por ele tenham uma consideração quase sagrada.
Assim tem sido a nova experiência fascista, que já tangencia o nazismo, aqui no Brasil. Pessoas que antes estavam imersas na mediocridade de suas vidas veem seus preconceitos e dificuldades morais ecoados no poder e se entregam ao mal de forma inteira, e sem o considerarem como um “mal”. Aderem à violência explícita e pregam, sem pudor algum, o extermínio dos diferentes.
Aquele tio simpático torna-se, de repente, uma estranha figura que propala o ódio e a violência contra o diferente. A cândida vozinha passa a ser, ao se ver no espelho do horror, o aríete do preconceito e da pregação da eugenia moral. Todos, afinal, trazem em si a flama do mal, que se acende ao ser provocada pelo gás da raivosa intolerância.
Daí a máxima de Jesus: manter-se em eterno estado de vigília contra seus monstros interiores, pois só assim se é capaz de lutar contra a banalidade do mal que ainda existe e resiste no âmago de todos os seres.
Abaixo segue postagem da página “Iconografia da História” sobre a banalidade do mal. (LINK ORIGINAL AQUI)
Publicado no Fabebook em 20/1/2020.
A Banalidade do Mal: o que levou o cidadão comum a aderir ao Nazismo
O que levou o cidadão de bem a aderir ao nazismo e fechar os olhos aos absurdos que ocorreram na Alemanha, durante o governo de Adolf Hitler?
Adolf Eichmann, o homem que enviou milhões de judeus para encontrar com a morte em Campos de Concentração.
Como o conceito de banalidade do mal alterou significativamente a forma de entender como a maldade ganha força nas sociedades contemporâneas, através de indivíduos comum.
Adolf Eichmann, o homem comum que enviou milhões de judeus para encontrar com a morte em campos de concentração, aguarda sua execução no corredor da morte.
Foi através da história desse burocrata alemão, que a filosofa Hannah Arendt criou o conceito de ‘banalidade do mal’, para explicar como um cidadão comum foi capaz de cometer maldades terríveis, a partir da perda da capacidade de reflexão.
O período do nazismo na Alemanha é considerado como produtor de uma das maiores tragédias da história da humanidade. Conhecido como holocausto, o evento consistia em separação, submissão ao trabalho forçado, e extermínio de judeus em massa. Os locais escolhidos para realizar essas barbáries foram os campos de concentração. Eichmann, filho de um bibliotecário e de uma empregada doméstica, foi um dos principais responsáveis por organizar a logística e viabilizar as viagens dos vagões da morte. Em um serviço que propiciou o start para o processo de extermínio dos judeus.
Após a queda do Reich, e ocupação das tropas aliadas em Berlim, Eichmann conseguiu fugir para a Argentina, onde mudou de nome, e arrumou um emprego na Mercedes Benz. Após 15 anos vivendo na surdina da falsa identidade, foi capturado, em 1960, por uma equipe do Serviço Secreto Israelense. Levado até o Tribunal Internacional, Eichmann era tratado como um homem monstruoso, até o inicio do julgamento.
A ideia da monstruosidade do burocrata só foi desconstruída quando a Judia Hannah Arendt, que foi obrigada a se exilar nos Estados Unidos após ascensão do nazismo, foi enviada por uma revista norte-americana, para escrever sobre o processo de julgamento do alemão.
A filósofa, após ler as quase 4 mil páginas de inquérito policial e as peças de acusação e defesa, acabou se deparando com um homem terrivelmente comum. Eichmann era um pai de família exemplar, daqueles que olhava os cadernos dos filhos, que tratava a esposa com respeito e carinho, cultivava crença religiosa protestante, frequentava igreja e cumpria ordens sem questionamentos. Sua principal preocupação era executar suas funções com a maior eficiência possível. Hannah percebeu que o alemão não se considerava parte do assassinato em massa, que em sua mente o errado seria não ter realizado os atos de sua função. Durante o interrogatório, o ex-burocrata se sentia mal quando confrontado, pelas partes, que suas ações foram responsáveis pela morte de milhões de Judeus, que seu respeito às ordens do governo alemão foi responsável por levar parte significativa de um povo para câmara de gás.
Arendt foi pressionada de todos os lados para descrever Eichmann como o satanás, mas em respeito à honestidade intelectual, viu ali a oportunidade de criar um novo conceito para entender a maldade do século XX. Foi nessa ocasião que nasce um dos pontos altos de sua obra: ‘A banalidade do mal’.
Foi a partir do acompanhamento do julgamento que a filósofa teorizou que o pior mal é realizado pelo cidadão comum, o homem médio, pessoas que estão inseridas em um sistema onde a maldade é difundida por todos os lados, principalmente quando esses perderam a capacidade de reflexão crítica e a habilidade de dizer não e se indignar perante a anti-ética do sistema. Os monstros estão mais próximos de nós do que pensamos e todo homem pode reproduzir o mal sem entender o que está fazendo como um absurdo.
Os textos de Arendt, que receberam duras críticas pela comunidade internacional, foram publicados no livro ‘Eichmann em Jerusalém’, e alterou significativamente a visão da comunidade internacional sobre como os crimes contra humanidade ocorrem. A autora chegou a conclusão que o mal é difuso na sociedade, e que quando ele se banaliza, as barbaridades mais terríveis passam a ocorrer.
O conceito de banalidade do mal contribuiu para que os estados e as universidades passassem a se preocupar com o ensino reflexivo crítico, pautado nos direitos humanos e priorizassem a formação dos alunos através do ensino da maior pluralidade de ideias possível, para que eles não percam a capacidade de se indignar nas situações em que a ética humana é colocada em xeque.
O mal, se descuidado, passa de exceção para a regra, e os seus malfeitores não percebem a gravidade da maldade que estão perpetrando.
Deixar de ensinar nas escolas a pluralidade de ideias é contribuir para reforçar a banalização do mal entre nós.
P.S.: Um pouco antes do enforcamento, Eichmman enviou uma carta à corte que o julgou pedindo clemência, ele alegou que era apenas uma peça no sistema, e que os verdadeiros responsáveis pelas mortes foram os líderes do governo alemão.”
Referências:
AGUIAR, O. A. Violência e banalidade do mal. Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/…/violencia-e…/. Acesso em 10/03/2019.
ANDRADE, Marcelo. A banalidade do mal e as possibilidades da educação moral: contribuições arendtianas. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbedu/v15n43/a08v15n43.pdf. Acesso em 11/03/2019.
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém: um relato sobre a banalidade do mal. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
As ovelhas, guiadas por seus pa$tore$ fundamentalistas e nada cristãos, seguem inertes ao abate físico, psíquico e social. E vão balindo seus brados ignaros e preconceituosos contra tudo e contra todos que ousarem retirar seus antolhos de fé e de dor.
Autor da charge não identificado, se alguém souber, avisa pra gente dar crédito.
Da mesma forma, bolsoespíritas seguem enaltecendo e seguindo seus “médiuns de direita”, que os conduzem ao abismo moral e cognitivo, sem perceber que numa teocracia fundamentalista cristã, que se vislumbra no sombrio horizonte, essa gente que fala com os mortos em reuniões fechadas estará no início da lista de hereges e inimigos a serem combatidos e exterminados, e tudo em nome do amor.
Os espíritas, sendo progressistas ou não, estarão, todos, nessa tenebrosa e iminente teocracia, marcados, tal qual judeus sob o nazismo, como não cristãos e serão conduzidos à violência social da ignomínia e da desonra pessoal e familiar.
Como disse Jesus a seus seguidores:
“Eu vos envio como ovelhas no meio de lobos. Sede, pois, prudentes como as serpentes, mas simples como as pombas.” Mateus, 10, 16.
Arte de Jornalistas Livres.
Muitos bolsoespíritas ainda tentam tergiversar sobre o caráter desse (des)governo de milicianos e corruptos, mas não há mais outro nome a ser dado a isso: fascismo da pior espécie, que começa a brincar com o horror nazista.
Essa estranha gente, que certamente estará para sempre no lixo mais fétido da história, poderá ainda causar muitos estragos na sociedade brasileira, conforme suas falas têm demonstrado.
Nossa tarefa histórica é resistir e lutar contra essa podridão moral e cognitiva. Não há mais outra palavra de ordem a ser bradada por todos os cidadãos progressistas: Fora Bolsonaro!
A notícia que chocou o mundo está na íntegra aqui.
Publicado no Facebook no dia 17/01/2020.
O blogue “Biblioteca Base” disponibiliza para baixar a obra completa do historiador marxista britânico Eric Hobsbawm: “História do marxismo”. AQUI segue o endereço para descarregar os arquivos dos 12 volumes. Abaixo, também, breve resenha da obra feita por Carlos Nelson Coutinho.
História do marxismo de Eric Hobsbawm (completa)
Vol. 1 – O marxismo no tempo de Marx
Vol. 2 – O marxismo na época da Segunda Internacional, parte 1
Vol. 3 – O marxismo na época da Segunda Internacional, parte 2
Vol. 4 – O marxismo na época da Segunda Internacional, parte 3
Vol. 5 – O marxismo na época da Terceira Internacional – a Revolução de Outubro, o austromarxismo
Vol. 6 – O marxismo na época da Terceira Internacional – da Internacional Comunista de 1919 às frentes populares
Vol. 7 – O marxismo na época da Terceira Internacional – a URSS da construção do socialismo ao stalinismo
Vol. 8 – O marxismo na época da Terceira Internacional – o novo capitalismo, o imperialismo, o terceiro mundo
Vol. 9 – O marxismo na época da Terceira Internacional – problemas da cultura e da ideologia
Vol. 10 – O marxismo na época da Terceira Internacional – de Gramsci à crise do stalinismo
Vol. 11 – O marxismo hoje, parte 1
Vol. 12 – O marxismo hoje, parte 2
Publicado no pagina EàE em 15/1/2020
Resenha de Carlos Nelson Coutinho
Uma das maiores comprovações do valor científico do materialismo histórico, da teoria marxista da sociedade, é sua capacidade de aplicar-se a si mesmo: como todas as manifestações do pensamento humano, também o marxismo é fruto de constelações históricas concretas. E revela sua vitalidade porque evolui, se enriquece e se modifica na tentativa incessante de compreender e responder adequadamente aos novos problemas colocados pela evolução histórico-social.
Ainda são poucas, ao que eu saiba, as tentativas de elaborar uma história global do marxismo à luz do próprio marxismo. As amplas e importantes monografias sobre períodos e autores concretos, independentemente do seu eventual valor autônomo, são um material preparatório indispensável, mas não anulam a necessidade dessa história global; uma história que, por ser marxista, não pode se limitar a reproduzir a evolução das ideais, mas deve também indicar as raízes sociais dessas ideias e sua influência concreta nos movimentos políticos e sociais que nelas se inspiram.
Tão-somente uma história desse tipo pode indicar a resposta para uma questão decisiva: o marxismo foi capaz, em suas inúmeras ramificações e “escolas”, em suas várias etapas e correntes, de se conservar ao mesmo tempo fiel aos princípios básicos do materialismo histórico e à complexidade de uma realidade dinâmica e em permanente evolução?
Para uma concepção dogmática do marxismo, uma história assim concebida seria impossível. Marx e Engels (e Lênin) já teriam formulado um corpo doutrinário completo e acabado, que caberia aos novos marxistas apenas “aplicar” à realidade; tudo o que aparentemente diverge desse pretenso corpo acabado – definido, ademais, de modo estreito e dogmático – não passaria de “revisionismo”, de abandono ou traição do verdadeiro “marxismo” (ou “marxismo-leninismo”); e, por conseguinte, estaria fora de uma história do marxismo enquanto tal.
A posição que Eric J. Hobsbawm e seus colaboradores assumiram na programação e realização dessa “História do marxismo” (da qual é publicada agora o primeiro volume) diverge fundamentalmente dessa posição dogmática.
A presente “História” parte da existência de uma “pluralidade” de leituras do marxismo; mas, ao mesmo tempo, mostra como a teoria marxista conserva um núcleo unitário em meio às necessárias concretizações e variações. Por isso, Hobsbawm tem a preocupação de não convocar para a redação dos diversos capítulos da obra (projetada para quatro volumes) apenas marxistas, digamos, de uma mesma orientação. E já essa variedade de abordagens indica ao leitor a abertura dialética de um pensamento que, longe de se contentar com a mera repetição escolástica dos seus “clássicos”, revela-se tanto mais fiel aos ensinamentos dos mesmos quanto mais é capaz, ao mesmo tempo, de se manter fiel à realidade histórica em seu incessante devir.
Dando espaço em sua “História” ao que poderíamos chamar de “pluralismo” marxista, Hobsbawm não pretende dizer que todas essas “escolas” e correntes têm o mesmo valor de cientificidade ou a mesma fidelidade ao marxismo. Ao admitir o fato real do pluralismo nas investigações marxistas, não se está admitindo um relativismo vulgar ou um ecletismo anticientífico. O que se está é constatando um outro fato real que, também no interior do marxismo, a busca da verdade não pode fugir à explicitação ampla e democrática de um debate aberto, de um livre confronto de ideias.
Por que as lutas enfrentadas por Jesus não são colocadas como prioritárias pelos autodenominados cristãos? E por que, afinal, esses mesmos autodenominados cristãos importam-se muito mais com a forma do que com o conteúdo dos ensinos do seu líder maior? Onde estão, nas lides cotidianas dessa gente, as práticas da fraternidade, do acolhimento e da justiça?
Não, essa estranha gente está mais preocupada com a intimidade sexual alheia, e não com a prática da caridade. Essa estranha gente diz-se chocada com uma paródia cômica mas não se abala com a fome que grassa na sua cidade, no país e no mundo. Essa estranha gente escreve textões irados sobre o respeito à fé mas sequer entende o núcleo primacial da fé proposta por Jesus.
Ver espíritas de escol defendendo o horror fascista da censura e a barbárie da perseguição às artes e à cultura é um lembrete a todos de que o orgulho e o egoísmo são as chagas que fazem um indivíduo falir em sua tarefa pessoal de transformação evolutiva.
Nesse momento de terror social que a sociedade brasileira adentra, é preciso que todos, mulheres e homens, posicionem-se contrários a essa situação social de censura e perseguição construída pelo ódio e pelo projeto de poder fascista já posto. É preciso que a parte da sociedade ainda não cooptada pela mentira e pela farsa solte sua voz, apontando sem medo esses desvios que afastam todos dos sonhos de liberdade, fraternidade e justiça social.
A leitura do texto abaixo de Dora Incontri é mais um grito que se precisa ecoar dentro do movimento espírita contrário àqueles que se posicionam favoráveis à política do horror que se instala na sociedade em nome dum cristianismo incoerente e insensato.
Publicado no Facebook em 13/1/2020
O especial de Natal do Porta dos Fundos é uma blasfêmia?
Dora Incontri – Jornal GGN
“A polêmica sobre o especial de Natal do Porta dos Fundos, a Primeira Tentação de Cristo, veiculado pela Netflix, segue firme. Eu mesma recebi de várias pessoas o convite para cancelar a assinatura do canal por conta da ‘blasfêmia’, cometida pelo grupo.
[…]
Apesar desses questionamentos, que o artista pode fazer a si mesmo, considero que a arte tem que ser livre sempre. Não podemos colocar limites, porque ela usa as armas que dispuser, que puder, para justamente desconstruir sacralidades, relativizar coisas absolutistas, usar reflexões provocativas, que nos levem a um estranhamento da realidade.
Assisti ao Especial de Natal e apesar de me considerar cristã e amar profundamente Jesus, não me senti em nada ofendida.
Primeiro, porque mesmo no campo teológico, histórico, houve e há inúmeras discussões sobre a figura de Jesus. Teria sido ele mais humano ou mais divino ou apenas humano? Teria conhecido as ‘tentações’ da carne? Estaria ele seguro de sua missão?
Outra coisa interessante que até muitos cristãos primitivos chegaram a considerar: o Deus do Velho Testamento era o mesmo Deus ensinado por Jesus? Um Deus guerreiro, punitivo, vingativo – que manda Abrahão matar seu filho, como prova de fidelidade – coisa aliás citada por Gregório no especial… Havia, por exemplo, os marcionitas, uma corrente de ‘heréticos’, – ou que foram assim considerados por divergirem do credo católico – que achavam que o Novo Testamento não deveria ser incorporado, ligado ou submetido ao Velho. Hoje vemos o acerto dessa proposição, quando evangélicos radicais citam mandamentos absurdos do Velho Testamento, que aliás, se opõem frontalmente à visão amorosa de Jesus.
Então, no reino da liberdade, que deve ser o horizonte que todos queremos para o mundo, não há nada que não possa ser discutido, questionado ou refutado.
[…]
Como anarquista, defendo a liberdade sempre. Se não gosto de algo, não vejo, desligo o canal e pronto.
Assim, não achei graça no Especial de Natal do Porta dos Fundos, mas lembrando Voltaire, defenderei até a morte, o direito de expressão da arte.”
O inominável, em mais uma demonstração de completa incapacidade de compreensão da realidade que o cerca, afirmou, em novo vídeo ao vivo, que:
“O patrão quando manda embora não é por maldade, é porque a pessoa não está trabalhando, está dando prejuízo, ou quer contratar alguém melhor.”
Tal frase foi dita num contexto em que o líder da quadrilha miliciana ora instalada no governo federal tentava explicar que para aumentar o nível de emprego no país seria necessário reduzir direitos dos trabalhadores.
Para o energúmeno presidente, emprego e direitos são coisas incompatíveis e, portanto, são justificáveis as “reformas” legais que buscam reduzir direitos trabalhistas.
A farsa argumentativa dessa gente torpe é facilmente desmontada por meio dos números de desemprego alcançados pelo Brasil no final de 2014, quando chegou-se ao número de 4,8% de desemprego, menor índice da história brasileira, quando nenhuma das atuais reformas ainda existia.
Se foi possível alcançar índices tão baixos de desemprego com todos os direitos trabalhistas ainda vigentes, logo não são esses direitos os culpados pelo desemprego. A dicotomia emprego x direitos, repetida pelo inominável miliciano, é falsa e atenta contra a razão, os fatos e a dignidade do trabalhador.
No mais, como diria João Grilo, numa versão moderna do clássico de Suassuna, a fala do presidente eleito pela farsa e pelo ódio apenas corrobora a incompetência da elite empresarial nacional, que, além de explorar o trabalho de forma cruel, é incapaz de gerir seus negócios sem o apoio do estado capitalista.
O Brasil talvez precisasse duma burguesia melhor, mais capaz. Mas o que o país precisa mesmo é de superar o sistema capitalista de produção e acabar com a sociedade de classes.
A notícia original saiu no site 247.
Publicado originalmente no Facebook em 10/1/2020.